Texto para Animar uma Pessoa
"A superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador extrai da vida um prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de ação. Em melhores e mais diretas palavras, o sonhador é que é o homem de ação. Nunca pretendi ser senão um sonhador”.
( Bernardo Soares [Semi-heterônimo de Fernando Pessoa].)
"Cada um tem a sua vaidade, e a vaidade de cada um é o seu esquecimento de que há outros
com alma igual. A minha vaidade são algumas páginas, uns trechos, certas dúvidas...
Releio?Menti! Não ouso reler. Não posso reler. De que me serve reler? O que está ali é outro.
Já não compreendo nada”...
(Do Livro do Desassossego - Bernardo Soares
Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)
“Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso”.
( in "Autobiografia sem Factos". Assírio e Alvim, Lisboa, 2006, p. 128.)
Os Meus Sonhos São Mais Belos que a Conversa Alheia
Não faço visitas, nem ando em sociedade alguma - nem de salas, nem de cafés. Fazê-lo seria sacrificar a minha unidade interior, entregar-me a conversas inúteis, furtar tempo senão aos meus raciocínios e aos meus projectos, pelo menos aos meus sonhos, que sempre são mais belos que a conversa alheia.
Devo-me a humanidade futura. Quanto me desperdiçar desperdiço do divino património possível dos homens de amanhã; diminuo-lhes a felicidade que lhes posso dar e diminuo-me a mim-próprio, não só aos meus olhos reais, mas aos olhos possíveis de Deus.
Isto pode não ser assim, mas sinto que é meu dever crê-lo.
Fernando Pessoa, 'Inéditos'
Há tantos deuses!
“Há tantos deuses!
São como os livros — não se pode ler tudo, nunca se sabe nada.
Feliz quem conhece só um deus, e o guarda em segredo.
Tenho todos os dias crenças diferentes”...
( Álvaro de Campos [Heterônimo de Fernando Pessoa], (escrito em 9.3.1930), In Poesia, Assírio e Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002. (trecho))
Na noite terrível, substância natural de todas as noites
Na noite de insônia, substância natural de todas as minhas noites
Relembro, velando em modorra incômoda
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!
Relembro, e uma angústia. Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures.
Na ilusão do espaço e do tempo,
Mas o que eu não fui, o que eu não fiz, o que nem sequer sonhei.
O que só agora vejo que deveria ter feito Na falsidade do decorrer.
O que só agora claramente vejo que deveria ter sido
Isso é que é morto para além de todos os Deuses
Se em certo momento.
Tivesse dito sim em vez de não, ou não em vez de sim;
Isso e foi afinal o melhor de mim é que nem os Deuses fazem viver ...
Se em certa altura
Tivesse voltado para a esquerda em vez de para a direita;
Se em certa conversa.
Tivesse tido as frases que só agora, no meio-sono, elaboro.
Mas não virei para o lado irreparavelmente perdido.
Se tudo isso tivesse sido assim.
Seria outro hoje, e talvez o universo inteiro.
Seria insensivelmente levado a ser outro também...
Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas,
Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse
Não virei nem pensei em virar, e só agora o percebo
A conversa fechada concludentemente
Claras, inevitáveis, naturais...
A matéria toda resolvida...
O que falhei deveras não tem esperança nenhuma
Mas só agora o que nunca foi, nem será para trás, me dói.
Mas poderei eu levar para outro mundo o que me esqueci de sonhar?
Em sistema metafísico nenhum.
Pode ser que para outro mundo eu possa levar o que sonhei,
Enterro-o no meu coração para sempre, para todo o tempo, para todos os universos.
Esses sim, os sonhos por haver, é que são o cadáver.
Como uma verdade de que não partilho,
Nesta noite em que não durmo, e o sossego me cerca.
E lá fora o luar, como a esperança que não tenho, é invisível pra mim.
Fernando Pessoa
Quando Eu Não Te Tinha
Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor –
Tu não me tiraste a Natureza...
Tu mudaste a Natureza...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as coisas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
CONSELHO
Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.
Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim como lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.
Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és —
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...
Como um vento na floresta,
Como um vento na floresta,
Minha emoção não tem fim.
Nada sou, nada me resta.
Não sei quem sou para mim.
E como entre os arvoredos
Há grandes sons de folhagem,
Também agito segredos
No fundo da minha imagem.
E o grande ruído do vento
Que as folhas cobrem de som
Despe-me do pensamento:
Sou ninguém, temo ser bom.
Eu sou o disfarçado, a máscara insuspeita.
Entre o trivial e o vil m[inha] alma insatisfeita
Indescoberta passa, e para eles tem
Um outro aspecto, porque, vendo-o, não a vêem,
Porque adopto o seu gesto, afim que […]
Julga o vil que sou vil, e, porque não me
No meandro interior por onde é vil quem é
Julga-me o inábil na vileza que me vê.
Assim postiço igual dos inferiores meus,
Passo, príncipe oculto, alheio aos próprios véus,
Porque os véus que me impõe a urgência de viver,
São outro modo, e outra (...), e outro ser:
Porque não tenho a veste e a púrpura visível
Como régio meu ser não é aceite ou crível;
Mas como qualquer em meu gesto se trai
Da grandeza nativa que irreprimível sai
Um momento de si e assoma ao meu ser falso,
Isso, porque desmancha a inferioridade a que me alço,
Em vez de grande, surge aos outros inferior.
E aí no que me cerca o desconhecedor
Que me sente diferente e não me pode ver
Superior, julga-me abaixo do seu ser.
Mas eu guardo secreto e indiferente o vulto
Do meu régio futuro, o meu destino oculto
Aos olhos do Presente, o Futuro o escreveu
No Destino Essencial que fez meu ser ser eu.
Por isso indiferente entre os triviais e os vis
Passo, guardado em mim. Os olhares subtis
Apenas decompõem em postiças verdades
O que de mim se vê nas exterioridades.
Os que mais me conhecem ignoram-me de todo.
Houve um dia em que subi esta rua pensando alegremente no futuro.
Pois Deus dá licença que o que não existe seja fortemente iluminado.
Hoje, descendo esta rua, nem no passado penso alegremente.
Quando muito, nem penso...
Tenho a impressão que as duas figuras se cruzaram na rua, nem então nem agora,
Mas aqui mesmo, sem tempo a perturbar o cruzamento.
Olhámos indiferentemente um para o outro.
E eu o antigo lá subi a rua imaginando um futuro girassol.
E eu o moderno lá desci a rua não imaginando nada.
Guardo ainda, como um pasmo
Em que a infância sobrevive,
Metade do entusiasmo
Que tenho porque já tive.
Quase às vezes me envergonho
De crer tanto em que não creio.
É uma espécie de sonho
Com a realidade ao meio.
Girassol do falso agrado
Em torno do centro mudo
Fala, amarelo, pasmado
Do negro centro que é tudo.
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Talvez eu não tenha sido feito para experimentos.
Talvez eu tenha de viver somente
o que muitos chamam de "presente".
Talvez, eu deva me negar a desfrutar de certos momentos.
ㅤㅤ
Estou quase certo de que minha vida
não é como deveria ser, mas assim tem sido;
de que, a cada frase expelida, menos tenho crido
em uma - ao meu ver, real - expectativa.
ㅤㅤ
Estou quase certo de que não há
o que fazer, senão permanecer parado;
de que já não tenho mais reparado
em que o tão pouco amado presente tem a me dar.
ㅤㅤ
Disso, estou certo: não,
não há mais o que fazer;
não há para onde correr,
a não ser para si.
ㅤㅤ
Não,
não me resta, do meu coração, o arder;
não há mais, em mim, um bem querer
que seja recebido por ti.
ㅤㅤ
ㅤㅤ
Talvez eu não tenha sido feito para os seus experimentos.
Quando te vi, amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há coisa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que não o fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro,
E com essas alegrias e esse prazer
Eu viria depois a amar-te.
Vi carro pipa passando
Com água para matar
A sede que é de lascar
Vi muita gente chorando
Eu vi a seca acabando
Com o pasto dos animais
Deixando o povo incapaz
Isto num tempo moderno
No ano que falta inverno
O pobre sofre demais.
Mote: Crispiniano Neto
Glosa: Gélson Pessoa
Santo Antônio do Salto da Onça RN
Quadras
Morto hei de estar ao teu lado
sem o sentir nem saber
mesmo assim isso me basta
para ver um bem em morrer
Quando passo o dia inteiro
sem ver o meu amorzinho
corre um frio de janeiro
no junho do meu carinho
Teus olhos tristes parados
coisa nenhuma a fitar
ah meu amor,meu amor
se eu fora nenhum lugar
Adivinhei o que pensas
só por saber que não era
qualquer das coisas imensas
que a minha alma de ti espera
Vai alta a nuvem que passa
vai alto meu pensamento
que é escravo da tua alma]
como a lua o é do vento
Ambos á beira do poço
achamos que é muito fundo
deita-se a pedra e o que ouço
teu olhar que é meu mundo
todas as coisas que dizem
afinal não são verdades
mas se nos fazem felizes
isso é felicidade
Mensagem de adeus a você, meu amor
É com uma dor no meu peito que hoje escrevo esta mensagem de adeus. Tudo na vida tem limites, tudo na vida tem um propósito, tudo na vida tem um começo e um fim. Aprendi com o tempo que nada é para sempre, que o pra sempre, sempre acaba. Com você eu vivi, com você aprendi, com você eu amei, com você eu mudei, com você eu tentei. Tentei de todas as formas lutar, lutar pelo nosso amor, mas percebi que esse amor já não existe e que eu estava lutando sozinho. Eu tentei de todas as formas para que esse amor não tivesse um fim, mas você escolheu assim, então assim vai ser. Estou lhe escrevendo hoje como um amigo para lhe desejar tudo de bom em sua nova jornada. Espero que um dia você possa me perdoar por tudo de ruim que te fiz passar. E, se te machuquei, me desculpa. Não era minha intenção. Às vezes erramos e isso é normal, somos seres humanos. Quem disser que nunca errou está mentindo. Saiba que você fez parte da minha história e que, se um dia precisar de alguma coisa, pode contar comigo. Meus parabéns por mais uma conquista sua e um sonho realizado. Que Deus, nosso Pai, te proteja sempre e nunca falte saúde alegria e amor. Adeus!
Da Escuridão à luz: Navegando a Vida Após uma Notícia ruim
Quando uma notícia devastadora atinge você, desarruma completamente sua vida e faz um filme de todas as suas escolhas passar diante de seus olhos. É como se cada fragmento de sua existência estivesse sendo desmantelado sem sentido em um dia em que você mal consegue encontrar espaço para respirar e absorver toda a agonia daquele momento.
Você retorna à multidão de suas tarefas diárias sem compreender o espaço, as pessoas, ou o que está realmente acontecendo. Sua ficha parece não cair, o mundo continua a girar, mas para você, tudo segue inalterado, a rotina incessante ameaça engolir você no abismo de suas responsabilidades.
Porém, sua mente começa a apontar o dedo para você, a culpar suas próprias mãos, e quando o silêncio finalmente chega, você desaba, permitindo-se ser consumido pela terrível notícia. Finalmente, a ficha cai, a notícia devora suas emoções, e agora você está só consigo mesmo, nesse sistema implacável que o consome. Você entra em um território desconhecido, onde precisa reiniciar sua vida a partir do zero, para evitar enlouquecer ainda mais.
E agora?
A criança que você foi, lá da sua infância, confronta o adulto que você se tornou e pergunta:
"Por que você permitiu que isso acontecesse?"
Você se culpa, entra em colapso, e sabe que agora só existe um caminho sem retorno: permitir-se ser totalmente engolido pela notícia e esperar pelo amanhecer do dia seguinte com a seguinte reflexão.
Agora, você precisa aprender a viver um dia de cada vez.
À medida que cada dia passa, você percebe que a única opção é viver um dia de cada vez. É um caminho longo e árduo, mas gradualmente, as feridas começam a cicatrizar e a dor se transformará em um espinho na sua própria carne.
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