Texto para Animar uma Pessoa
Os Meus Nove Anos —
O que aqueles anos me traziam?
Bem,
eram dias e tardes e, muitas vezes, noites preenchidos por brincadeiras.
Evidentemente
havia horários para outras coisas:
uma coisa ou outra em casa,
escola, igreja.
Mas a maior parte do tempo era gasta mesmo com brincadeiras: jogo de botão, futebol na rua, pega ladrão... e, em especial, uma brincadeira com carrinhos e bonecos, em que revivíamos personagens de uma novela.
Eram os meus nove anos e, quando se
é criança, naturalmente, esquece-se
de se observar sendo.
Fantasiamos outras idades:
a juventude, a vida adulta, e só assim podemos, verdadeiramente ser
e estar criança.
Nós, adultos, emburrecemos: perdemos a capacidade legítima de sonhar, de divertir-se verdadeiramente.
O que aqueles anos me traziam?
Bem,
traziam-me a mim.
Contra o Desespero —
Dizer,
como uma confissão,
que eu já sei que essa pequena
chama de ânimo e esperança
logo se apagará, e assim
eu terei de, mais
uma vez,
buscar algo para tentar inflamá-la
contra o desespero,
é só uma parte da lucidez sobre
a realidade. — minha realidade.
A outra parte, dentre tantas outras,
e o que, constantemente, em mim falta,
é suportar essa realidade sem alarde,
com alguma decência — íntegro.
Gestos Nobres —
Quais gestos traduzem melhor
o amor?
Minha mãe costuma fazer tudo por nós
aqui em casa:
O essencial;
O necessário;
O exagerado. — progressivamente
(que eu me lembre), sempre
foi assim.
Dizemos: "não é preciso tudo isso,
mãe! — acabará adoecendo."
"É o certo: se eu não o fizer é que
adoeço." — responde-nos.
Na infância e na adolescência,
naturalmente, não percebemos tais
gestos nobres (muitas vezes
sacrificantes), de amor,
vindos dos nossos pais, nossos avós.
A Luz Maior veio-me depois que eu
me tornei pai, tornando-a vó.
E é aí que está a magia:
Num processo, aparentemente
natural, de renovação do espírito humano, dando-lhes a sabedoria infantil de,
outra vez, tornarem-se puros,
dotados de mais cuidados
e mais afeto e mais amor,
"Deus" — com ternura — (como para as
crianças e para os animais), olha
muito mais para os avós.
Mudados —
Depois de mais de dois anos
ausentes — numa distância que nos aproximou por um tempo,
enquanto afastava-nos
para sempre (talvez) —,
estávamos, outra vez, sob o mesmo
céu, o mesmo cep. — (e sem que eu soubesse): mudados.
Então,
naquela tarde de brisa e sol suaves,
num casual encontro-despedida,
ao perceber-me e eu ela,
viramo-nos as costas,
e o Universo a
página,
e a Vida continuou (normalmente),
um piscar de olhos
depois.
DOMINGO
“Essa é a vida”, eu escuto dela. Não é o que meus ouvidos ansiosos querem escutar... Ao mesmo tempo eu sei que ela está certa. Algo ainda me incomoda, no entanto: a forma como ela disse isso. A naturalidade, com seu ar indolente típico. Como se ela tivesse, há muito tempo, descoberto o segredo da vida e, ainda, que este fosse óbvio. Tudo isso me aborrece e faz com que a dor que aperta meu peito aumente ao mesmo tempo em que concluo que tudo o que eu sinto não significa nada e, ainda, que eu perdi a aula em que contam o segredo da vida em uma matéria que não vai, nunca mais, ser lecionada.
“Essa é a vida... “ diz ela, como se a coisa óbvia a fazer fosse jogar um balde cheio desta afirmação em cima da chama dos meus pensamentos e esperar, inocentemente, que isto a apague. No entanto, a casualidade com que ela solta esta observação funciona como lenha para a fogueira de pensamentos e sentimentos que queima em altas temperaturas dentro de mim.
Sua pessoa se mostra feliz, tranquila e transparente, um livro aberto todo encapado em uma inocência indestrutível. O oceano do seu ser não possui grande profundidade, e ela permite que eu explore suas águas rasas e agradáveis sem objeções, com uma liberdade inconcebível para minha confusa e trancada cabeça, a qual falha em entender a facilidade com que ela cede sua chave. Meu cérebro não consegue conceber como ela possui janelas tão transparentes quanto o vidro pode ser, sem cortinas. Parece ser exatamente o que é; é exatamente o que parece ser. Demonstra ser tão fácil de ler quanto uma desgastada revista de consultório médico. Ela é rasa e grande; eu, profundo e pequeno.
O impacto do choque paradoxal causado por tal ser soltar uma frase tão profunda com tamanha naturalidade ressoa na minha cabeça, fazendo-a doer. Sinto-me atordoado; perdido, sem rumo. A vida é tão óbvia assim? Sou eu que estou usando os óculos com as lentes erradas?
“A vida é assim... se fosse fácil...”
Ela disse, ao se virar pra dormir. Poderia ter dito qualquer coisa.
Amanhã é segunda-feira.
Será difícil acordar cedo.
A semana será longa.
Ao invés das tradicionais aspas de domingo, ela escolheu martelar minha cabeça, que segue tonta até agora.
As pessoas soltam esta frase como se não soubessem do seu tamanho. De fato, absorver tudo o que ela significa é uma tarefa inútil. Não existe alma grande o suficiente para captar o real significado dela. É impossível percorrer todos os ramos de cenários que ela abre e entender exatamente as consequências de tomar estas palavras como verdade absoluta. As ondas desta afirmação com frequência ressoam nos ares e ouvidos de todo o mundo, como se estas tivessem uma validade curta e fosse necessário relembrar nossos cérebros e corações todo ano, todo mês ou todo dia.
São palavras que as pessoas transformaram em uma espécie de boia salva-vidas, a qual foi, em algum momento de suas jornadas, lançada por outro alguém; um objeto que foi repassado por todas as pessoas que já pisaram nesta Terra, mas que nunca foi guardado na história, por ninguém.
“Essa é a vida, é difícil”
Vejo impresso na boia que ela joga para mim, enquanto me afogo no universo de tudo o que significa existir.
Aceito-a, agarro-a, mas sem guardá-la; não cabe em mim. No mais, levá-la-ei comigo para, quem sabe um dia, jogar a algum banhista desesperado.
Mal Alcanço —
O mundo — este mesmo, feio,
feito de gente — roubou minha
doçura auroreal;
Meu olhar afetuoso e admirado;
Minha essência nobre e
esperançosa.
Agora, tenho tido raiva de ser bom,
de ser amoroso, de ser gentil...
sentimental.
Deixei de acreditar nos fins
de tardes dos sábados;
Nas manhãs amenas
dos domingos;
Nos dias cinza de chuva
e frio. — ah, que desperdício!
O mundo — este mesmo, feio,
feito de gente — poupou-se
esgotando-me.
Hoje, quase tudo que me faz bem
é passado, distante, antigo — mal alcanço.
Não Identificado —
E,
de repente,
contra a única luz que ali havia,
surge-me um objeto voador logo ou,
melhor, não identificado.
"Um pernilongo! Por onde
entrara?" — pensei aos berros na minha
cabeça —, erguendo-me num impulso
até a luz do quarto, para confirmar
e expulsar o invasor
inconveniente.
Com o auxílio de luz intensa
não se via inseto algum.
Mexia pra lá, sacudia pra cá.
Confere, percorrendo detalhadamente,
cada centímetro de pele e roupa e cabelos
do outro eu — meu filhote —,
e nada da iminente ameaça. — "então,
na escuridão do vazio da escuridão de um
quarto escuro e uma mente
obscura e cheia,
contra a luz na escuridão do vazio
da escuridão de uma mente
obscura e cheia,
o tal delinquente — gigante — neste
meu universo — subjetivo —,
era só um inseto menor — bem menor,
ínfimo — alongado pela pouca luz
na grande escuridão (do vazio da
escuridão de um quarto escuro
e uma mente obscura e cheia),
sem arma, sem fama, sem
alma de pernilongo?"
(...)
Como um zumbido ouvi
(vindo de fora):
Apaga a luz e dorme!
Abismos —
Há um abismo entre cada
um de nós.
Entre alguns, há uma ponte — larga
na ignorância, na mediocridade, na superficialidade. — raramente
sólida, segura.
Decerto, entre distintos e sublimes,
quase sempre, estreita, irregular,
arriscada, que, vez ou outra,
balança e assusta — ainda
assim, uma ponte:
um acesso, um alcance,
uma conexão,
ligando solidões, medos,
sonhos — vidas.
Mas entre a maioria
— a grande maioria —
e a parte que salva, só há o abismo:
enorme, sem ponte, sem pontos
de conexão, nem acesso, nem alcance.
Do raso ao profundo;
Do descartável ao raro;
Do extremo vazio à poesia:
Um Abismo.
Não quero pensar. — pensar abre abismos.
Degustar —
Ainda que haja no coração de quem planta e cuida e colhe,
o nobre sentimento pelo o ofício,
pela terra, pela Vida (tal como a
epopeia do espermatozoide
que vingou e criou-a),
a uva — a mais nobre das uvas —
para o mais nobre dos vinhos,
antes da taça,
é só (ainda que fundamental),
um processo, exclusivamente
químico, matemático — científico.
A poesia começa a ser escrita
ao se servir a taça.
A partir do primeiro degustar,
fecha-se o cálculo e, então,
abre-se um Universo
inteiro.
Só nós
Vamos nos amar em silêncio,
nunca ninguém saberá
desse amor.
Será só nosso,
dirás à mim coisas de amor
guardadas em teu coração,
e o mesmo eu farei.
Seremos únicos.
Entre tantos que assim vivem,
o seremos.
por que amar, não se escolhe
a quem, mas sim, aquela pessoa
que nos fala, mesmo sem nada dizer.
Roldão Aires
Membro Honorário da Academia Cabista, R.Jj
Membro Honorário da Academia de Letras do Brasil
Membro da.U.B.E.
Acadêmico Acilbras - Roldão Aires
Cadeira 681 -
Patrono- Armando Caaraüra- Presidente
De Cinza –
Era, quem sabe,
aquele dia ou aquela
semana ou aquele mês.
Era, talvez, o ano, talvez a década...
a vida.
Ainda que haja — e há — motivos
e motivos para sorrir, cantar,
brindar à vida,
aqueles que me conhecem
sabem:
Ao me encontrar, há de haver
sempre alguma coisa
vestida de cinza.
Seja
o dia,
o corpo
ou a alma.
Uma Fotografia —
Era só uma fotografia,
e eu fiquei ali, irreversivelmente
parado, fitando-a.
Uma simples foto como,
aparentemente tantas outras,
mas que, a mim, trazia o Ônus:
Um cálido meio sorriso,
olhos pontiagudos e anoitecidos,
de um amor utópico, contínuo,
antigo. — jamais começado,
tampouco esquecido.
Aos Sete –
Quando estou diante do meu filho,
acontece algo que, talvez, o Tempo
e outros deuses, não o concebam
muito bem. — até mesmo eles.
Como uma sensação, como um desejo,
e mais, como uma evolução, diante
do meu filho, eu costumo inverter
a ordem, aparentemente
natural da vida:
Eu quero ser como ele.
"Um Detalhe" –
Todo mundo anda meio quebrado.
Cada um com sua parte solta — suas angústias, seus medos, suas dores.
E sinto que, quase sempre, é só
"um detalhe".
Um simples e transformador "detalhe",
por todos os outros ignorado.
É um desemprego, um pai ausente,
um sentimento não correspondido.
"Um detalhe" que faria toda a diferença.
Não para resolver todos os problemas,
mas para fortalecer-nos contra
todos eles.
É preciso ânimo, é preciso força,
é preciso luz — uma luz sábia, quente,
acolhedora —, mas os sensores
de luminosidade, às vezes
falham em alguns
dias cinzas.
Um Novo Eu –
Deixarei de escrever até que encontre
novos nomes,
novos motivos, novos
rumos — um novo sentido, uma
nova vontade, uma nova inspiração.
Até lá,
queimarei cartas,
rasgarei fotos, apagarei
versos.
Até lá,
jogarei fora poemas,
presentes, canções.
Até lá,
esquecerei olhos, vozes,
gestos, gostos, manias, cheiro,
sorrisos.
Matarei lembranças, desejos, sonhos.
E quem sabe assim, um novo
eu apareça.
Ainda que reduzido, um pouco
mais leve de alma.
Ainda que esquecido, um pouco mais consciente da vida.
Ainda que sozinho,
um pouco mais perto de
si próprio. — com novos motivos
para escrever à vida, e sobre
ela novos temas, talvez
novas cores, novos
sonhos.
Um Quase Amor (Eterno?) –
Estou tentando me desfazer
do sonho do quase-amor-eterno
que fomos.
Porque fomos linhas de um quase
poema (imortal);
Fomos versos de uma quase canção
(atemporal);
E fomos sonhos de um quase amor
(eterno?).
É estranho:
Às vezes eu sinto, eu sinto, como
num susto, que a gente está
tão perto, tão mais perto.
Tão perto como nunca, ainda que tão
longe como sempre.
Ainda ontem,
a brisa do fim de tarde
me trouxe o teu cheiro, e eu lembrei
o teu rosto, o teu riso, o teu gosto,
o tom da tua voz.
Eu te amo! — e isso dói.
Uma vez eu conheci uma pessoa
E até de madrugada fluía conversa boa
Sempre que eu perguntava, ei ce tá fazendo o quê?
Falava, eu tô fazendo nada só falando com você
Vários papos de futuro altas horas na ligação,
Pensava Deus e muito bom boto na minha vida um mozão
Tinha um sorriso perfeito,uma beleza indescritível,
Falei dela pra minha mãe
Olha aonde chegou o nível
Do nada ela fica estranha, sentimento mo profundo
Demorando a responder
E eu respondendo em 3 segundos
Um Belo dia ela sumiu, me bloqueou em tudo,
Achei que era a pessoa certa
Novamente eu me iludo
A Esperança Morreu —
Era um amor (assim eu o chamava),
e quando se fez tormenta — de anos —, onde se queria paz,
parecia insuportavelmente insuperável,
e a saída intransponível.
Então, a esperança que (tantas vezes
é sonho e liberdade,
mas também âncora e abismo;
Que alimenta-se de sonhos e grandezas,
assim como de correntes e migalhas;
Que sustenta tal como aprisiona-nos),
essa mesma — a esperança — um dia, num choque, morreu e, estranhamente
aliviou-me.
Como explicar o que aconteceu?
Não sei. — nem antes
nem depois.
Seja uma pessoa do bem
Você é muito bonit@? Legal, mas seja uma pessoa do bem.
Você é ric@? Legal, mas seja uma pessoa do bem.
Você conseguiu adquirir muitos bens esse ano? Legal, mas seja uma pessoa do bem.
Você é popular, conhecid@ ou coisa e tal? Legal, mas seja uma pessoa do bem.
Você conseguiu realizar alguns pequenos sonhos ao longo da sua vida? Legal, mas seja uma pessoa do bem.
Não importa a sua beleza física, o seu dinheiro, os seus bens acumulados ou a sua popularidade... Tudo perde o sentido quando você não é uma pessoa do bem.
Seja gentil, elogie, dê apoio, se importe com os outros. Empatia é uma qualidade que enriquece o ser humano.
A vida é linda, uma dádiva de Deus, mas ela precisa de pessoas que façam a diferença no mundo.
Seja um ocitocinado! Faça o bem e em troca terá picos de felicidade.
Feliz 2022!
O Peso do Vazio –
Os dias de dor e solidão em
que eu ainda encontro
a luz da escrita,
são dias ruins,
mas não são
os piores.
Os piores dias são aqueles
em que há a angústia,
o sofrimento,
e falta-me a ideia,
a palavra.
Nesses dias
eu meio que sinto um
gosto precoce da morte
ou, talvez,
do processo de morrer.
Uma espécie de erro:
um espaço não habitável,
habitado por algo — ao mesmo
tempo íntimo e desconhecido.
Um estranho peso:
o peso do
vazio.
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