Texto para Animar uma Pessoa
Onde Eu Tanto Quis Estar -
Eu sei,
agora é só questão de tempo
até que ela anuncie um novo
romance,
antes de outros que,
possivelmente, ainda
virão.
Sim,
provavelmente nem será,
de fato,
o seu grande amor ou o seu
último romance.
Mas eles serão, por um
tempo,
somente um do outro
(imagina-se).
Trocarão mensagens antes
de dormir e ao
acordar;
passearão de mãos dadas em
shoppings e praças e
festas;
assistirão filmes e
séries e ouvirão
músicas no modo aleatório ou
não,
boas ou não,
dividindo um pote de chocolate
e
fones de ouvido já gastos,
num sofá na sala a meia
luz, sob um cobertor
macio nos dias
mais frios.
Contudo,
haverá esforço e
cuidados de um mais do que
do outro e, ainda
assim:
beijos, abraços e carícias
serão deles para
eles.
E eu estarei aqui,
assim: distante, mais
distante ainda.
Só.
A observar e lembrar e pensar:
olha só que cara de
sorte - está exatamente
onde eu tanto quis
estar.
Gente Grande é Mesmo Idiota -
Ontem,
enquanto brincávamos no
quarto,
meu filho e eu,
lembrei de certas
coisas corrosivas que, hora ou
outra,
ainda me alfinetam o peito,
me tiram a calma.
E então,
junto àquelas lembranças,
eu fiz aquele som com a
boca, que denuncia
alguma insatisfação, algum
lamento ou incômodo.
Meu filho,
que agora está com quatro
anos e meio,
ouvindo aquele estalo
me questionou:
"o que foi, pai?"
"Nada". Eu o respondi.
"E por que essa cara feia,
então?!" Ele outra vez.
Eu,
sem graça,
pensei:
gente grande é mesmo
muito idiota - desperdiça o pouco
tempo que lhe resta,
sofrendo por coisas e pessoas
estúpidas.
O Cinza é a Minha Cor Preferida -
Eu esqueci,
durante alguns segundos,
esta tristeza profunda
que bagunça minha morada
interna.
Nestes poucos segundos de
desatenção, eu respirei livre,
sem dor, sem angústia.
Neste breve estar de leveza,
eu não fiz quase
nada.
Serviu apenas
para lembrar-me que, apesar
de muito difícil,
hora ou outra, sem muita explicação,
a vida nos traz traços de felicidade
em pequenas e raras porções de paz e tranquilidade.
Aproveite para aprender:
há uma saída, ainda que a gente morra
no final.
Sim,
meu universo já voltou
ao normal.
O Último Não, Será o Meu -
Eu estava errado quando
na primeira oportunidade de
deixá-la eu não a deixei.
Havia chance... (?!)
E veio a segunda, a quinta,
a décima-quarta e eu
continuei errando.
Me transformei em uma
máquina de colecionar
derrotas e mais
derrotas.
Logo
eu era a própria derrota.
Fui ao inferno, vi o diabo de ser
humano de perto,
mais de perto ainda, algumas
outras vezes.
(Perdido, eu só era mais um
entre tantos).
Mas eu estava certo quando,
certa vez,
com lágrimas de sangue nos
olhos e um coração de
calos endurecidos,
me virei para ela e em claro
e grave som disse-lhe:
Não!
E o último não, será o
meu.
Distância -
É sempre muito,
muito complicado quando
amamos alguém que
está longe.
Longe o suficiente para sentirmo-nos
inúteis, impotentes diante
da sinuosa e fria
distância.
É um troço meio esquisito:
é a coisa amada lá - longe -
e os sentimentos
explodindo cá - dentro.
Um aperto sem toque;
um sentir sem cheiro;
uma saudade sem
tamanho.
Fecho, abro os olhos
e tudo é deserto,
vazio, distante.
Tudo, menos o teu
nome.
Esse...
ah, esse é segredo!
Não Há Escapatória -
Eu entendo:
não há escapatória.
Não posso estar muito
longe do cinza das
tempestades,
da névoa da melancolia,
do abismo da rejeição - da tristeza.
A maior parte da minha poesia
morreria.
Assim como não posso viver
totalmente
mergulhado nesse
caos,
nessa escuridão sombria,
sem um pouco de luz quente,
gestos leves, alegria
genuína.
Minha cabeça explodiria.
Morreria, então,
o poeta.
Eu sei parte dos motivos
e escolhas
e consequências.
E,
independentemente
da cor do dia,
do estado meteorológico,
mental, físico,
tudo que eu preciso é
escrever,
somente escrever.
Nada além de
escrever.
Tortura Sentimental -
Não acredito mais
na conquista sentimental
do outro
através de uma longa
insistência.
Não.
A grande maioria das pessoas
hoje,
faz disso um jogo, e desse
jogo
alimento para inflar seus
egos cebosos e
gordurosos.
Essas pessoas nunca dizem
um "não" categórico.
Elas costumam colocar certos
limites,
fazer certas restrições,
mas estão sempre deixando
cair migalhas de reciprocidade,
aproveitando-se do nobre sentimento
do outro,
para mantê-lo por perto (acorrentado, rastejando),
aprisionado a esse caos psicológico,
a essa condição humilhante
em que se perde paz, dignidade,
tempo - vida.
E tudo isso,
para alimentar desejos egocêntricos,
gostos superficiais,
vaidades fúteis,
através de uma maldosa, dolorosa
e traumatizante tortura
sentimental.
Não há,
certamente,
uma verdade absoluta
para isso,
mas:
ou tudo acontece
de maneira natural (claro, com todos os esforços e entraves naturais das relações interpessoais),
ou,
naturalmente, não
acontece.
(Não como deveria
acontecer).
Correndo -
Às vezes,
eu fico olhando adolescentes
à toa, se divertindo como
jovens que são
e acho graça da maneira como fazem as coisas.
É tudo tão tosco e bobo e
besta,
e nada é tão sério e tudo
tão necessário.
E então,
me percebo rindo
e logo me sinto velho, triste
e bobo e besta,
e agora tudo é tão sério
e nada mais tão
necessário.
(Contaram-nos a história
errada?).
Desabafo Inútil –
Sem cerimônia,
fui expulso do “Paraíso”
de escolhas e consequências.
Então,
me vi na necessidade
de uma releitura da vida,
para novos rumos,
novos sentidos, novos caminhos,
mas agora,
através de uma outra perspectiva,
um novo momento,
um novo olhar:
dúbio.
Com novos personagens à volta,
cama e cômodos diferentes,
vozes diferentes,
cheiros e sons diferentes.
Um outro endereço,
na mesma rua, em direção ao
nada
eu fui e voltei
e não mais voltei para casa
ou nunca fui.
Acúmulos de expectativas
e decepções
tão inerentes a
mim.
Um novo dia nasceu (turvo),
poeticamente cinzento e
dolorosamente ensolarado,
com cicatrizes e possibilidades,
velhas novidades, novos ciclos
de amizade,
encontro e reencontros e
desencontros e
perdas.
Alguns raros sorrisos – quase
uma volta à adolescência – um
filme em dias frios,
cobertas e pele e um moleque
inquieto – dono de tudo ali – sonho
e realidade para novas,
velhas lágrimas.
O real e o desejável;
o medo e a experiência;
a sorte e o hiato;
a saudade e a necessidade
do seguir em frente... a poesia e o
vazio.
Entendo: não volta mais!
Não pude fazer escolhas,
simplesmente, fiquei de fora
delas.
Não aceitei, nunca aceitarei
(hei de me adaptar), mas o
que ainda restou de mim
– inútil poeta –
são restos essenciais de
batalhas que,
enfim,
venci, derrotado.
A Lua -
Hoje cedo
lembrei aquele teu riso fácil
e olhar adolescente de quase
meio-dia.
Lembrei de coisas
que nem pensei que faziam falta
como: a tua falta de jeito ao derrubar
coisas.
Lembrei teu espaço rebelde,
teus traços e passos
e trejeitos - jeito moleque.
Manias - tão tuas - que nem sei
se existem em outras.
Agora,
neste exato momento,
estou em total silêncio
buscando algo da tua fala.
(...)
Em vão.
Por favor, pequena:
não me chames como tu chamas
a todos os outros.
Tu sabes, né?!
Ah!
Mas quando foi que tudo escureceu,
afinal?
Sim,
eu amo a noite,
mas não esta - sem teu canto,
sem teu colo, teu encanto,
tua luz.
Se,
ao menos, como antes,
me restasse a lua.
Ah, a lua...
no céu da tua boca.
Amanheças aqui!
*Ser humano*
Ser que se importa, pensa, crê
Empático, simpático ou diz ser
Que ama com e sem porquê
Odeia apenas por querer
Ser que vê e finge que não vê
Gosta de quem lhe desgosta
E que adora ver
Ver e saber história dos outros
Apenas por curiosidade em conhecer
Ah meu bem, porque isso
Humano gosta de fazer
Procurar, descobrir, conversar
Pra encontrar
Algo que nem sempre sabe o quê
Mas gosta de saber
Ser que sorri por estar perto de um você
Você amigo, pai, irmão, namorado
Amor que há de amar
Doa o que doer
Ser que abraça e briga
Que pode ou não
Tentar te compreender
Ser que não é perfeito
Egoísta, egocêntrico, ego
Alter ego
Mas ser que também
Se esforça pra enxergar outro ser
Ser que não vê ser suficiente
Mas que é mais do que outro alguém Imaginou que merecia ter
Pessoa que nem sempre sabe como ser
Mas que é todo dia
Possibilidade, mudança
História que Deus criou
E acaba ou não por florescer
Nasceu _hermano_
De tudo, de todos, de cada ser
Mas que na correria do mundo
Triste de se dizer...
Acaba por se perder
Confuso e Certo -
Agora é um encontra e vai embora; sem toques, sem gestos: triste.
É um vê, mas não olha; com medo, com pressa: tenso.
Um percebe, mas disfarça; sem lógica, sem graça: falta.
E, assim, o que antes (confuso e incerto), parecia tanta coisa, agora (claro e certo), parece nada.
O que é uma pessoa ‘especial’, nos dias de hoje?
São as com “necessidades especiais”, que requerem cuidados que atendam às suas diferenças, seja visando a sobrevivência em seu cotidiano, ou relativas ao seu desenvolvimento físico e mental. Porém e acima de tudo, é essencial que recebam muito carinho, muito amor e, diante disso, uma família que abriga em seu seio tal pessoa, criança, adulto, idoso, forçosamente as pessoas que compõem essa família, tornam-se muito melhores do que seriam, se não tivessem esse ser ‘especial’.
É essa a maior recompensa que se pode ter: tornar-se melhor, ser também especial no sentido amplo.
Em primeiro lugar, o ‘tornar-se melhor’ significa buscar conhecimentos suficientes para compreender as causas, e os efeitos, daquela pessoa que nasceu ‘especial’, tanto a síndrome acidental quanto qualquer outro fator adquirido no decorrer da existência, consequência de idade ou circunstancial da vida no dia a dia.
Se assim não for entendido, essa família se aniquila, e fracassa.
O Peso -
O peso da idade é sentido nas costas, ombros, braços, pernas, ossos e articulações doloridas.
Na falta de força e resistência e vitalidade de outrora.
Os restos acumulados de esforços repetitivos, horas extras, noites maldormidas, estresse, e a fragilidade natural do corpo no passar dos anos denunciam: estamos ficando velhos (ainda que tenhamos um espírito jovem).
Mas o verdadeiro peso da idade sente-se mesmo é na consciência: na realidade de todas as decisões e escolhas feitas.
O Calendário -
Em cima da mesa uma bandeja com ovos, uma cesta com algumas frutas, uma lata de óleo, remédios, pães e biscoitos.
Ainda na mesa à esquerda, uma garrafa de vinho tinto pela metade e uma de café cheia.
No centro facas e garfos e colheres dentro de um prato transparente, ao lado de um copo com água.
À direita um maço de cigarros, uma caixa de fósforos e um calendário na beira, meio que suspenso, quase para fora.
Nos rótulos informações nutricionais, composições químicas e advertências.
De tudo ali, o mais cruel, silencioso e implacável era o Calendário - que tudo conhecia, tudo abraçava, tudo devorava - tão certo e tão simples, no Tempo de ser: passado, presente e futuro.
Princípio, meio e fim.
Sendo apenas uma folha qualquer, numa mesa qualquer, numa tarde qualquer, de um dia qualquer, no cruel e silencioso e implacável Tempo de uma vida cronometrada (regressivamente).
Lucidez -
Eu vejo e sinto e pressinto, detalhadamente, a vida e seus sabores e dissabores.
Em cores e sons e sentidos.
Recordo e revivo, com intensidade e nitidez, tudo, ao extremo.
Sinto o Tempo presente no ranger dos ossos e suor da pele;
No medo do desconhecido;
Na poesia dos gestos simples e nobres do meu filho.
Ouço o som do agora no vento que me assanha os cabelos e, neste instante, ameniza o calor do sol, em um quase fim de tarde, de uma quarta-feira qualquer de novembro.
Tenho anseios presentes que deuses me antecipam em pensamentos complexos, desordenados que disparam sinais e alarmes de alerta constantes.
Por quê?
A vida me chega em realidade e sonhos lúcidos:
E é esse o grande desafio; o grande duelo.
Se não, o grande mal.
Para os homens que acreditam
Você é meio louco né?
Que ótimo! Acreditar requer metade de loucura para buscar e metade de loucura para viver.
Eu sei, é difícil, você se entrega quando acredita que encontrou a pessoa certa, sonha, faz planos, imagina uma vida com ela, e quando resolve expor o que sente muitas vezes ela se assusta e se afasta. Normal, não tente entender uma mulher, apesar da maioria reclamar que todos os homens são iguais, quando aparece um diferente elas são bastante analíticas, ficam com medo de viver ou reviver uma ilusão.
Entenda você, não busque a mulher dos seus sonhos, ela só existe lá. Matenha o foco, seja inteiramente, intensamente você. Seja paciente, seja bondoso, seja verdadeiro, seja carinhoso, não olhe para o próprio umbigo, veja nela além do que os outros já viram, olhe-a nos olhos, toque-a no rosto, beije-a na alma, se ela for a pessoa certa haverá reciprocidade, se não for, entenda, não culpe-a, mas se afaste, você não merece ter um coração banhado em lágrimas de expectativas frustradas.
Se a tentativa não deu certo, volte à acreditar novamente.
Perto da Perfeição -
Recordo-me o dia
em que ela havia esquecido
sua garrafa d'água
aqui em casa.
E já depois das cinco horas da tarde
(bem perto daquele instante mágico),
numa quarta-feira chuvosa e fria,
enquanto eu preparava um café,
ela me aparece.
Vem até a cozinha,
onde estou,
e pega sua garrafa.
Olha o horizonte pela janela
enquanto jogamos algumas palavras fora
e se vira
em direção ao corredor.
Então,
de súbito,
eu a pego pelo braço
e a abraço.
Alguns segundos ali:
ela,
eu,
aquele abraço,
sua risada,
seu cheiro,
seus cabelos,
meus pensamentos e desejos,
a chuva e o frio,
o café quentinho,
a Tardezinha...
E ela se vai.
Me deixando a seria impressão de que eu cheguei muito perto da perfeição.
Somos Escravos das Nossas Necessidades -
Eu precisaria ignorar tudo,
tudo que me faz escravo
pela pele,
pela vontade,
pelo desejo.
Junto com esse sentimentalismo escancarado,
descontrolado
por coisas e pessoas.
Isso,
durante,
talvez, uma semana,
duas, um mês, quem sabe.
E talvez assim,
eu encontrasse as respostas necessárias
para me ter de volta primeiro
e poder, enfim,
me dar por inteiro
e são.
Dias Ruins -
Neste instante,
olho pela janela e verifico que
hoje
o sol se pôs sem cerimônia.
E o meu olhar está a fitar
o horizonte
sem graça.
(Salvo erro, claro)...
Há o canto e o voo
dos pássaros.
Há,
ainda,
uma bela mistura de cores
e luzes
e o que eu não vejo.
Mas hoje (triste),
o sol se pôs sem cerimônia.
E enquanto fecho olhos e janelas e cortinas,
abro-me para dentro:
Até os mais soberanos têm dias ruins.
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