Texto de Solidão
Chorão -
Ao pé daquela casa onde vivo
há uma árvore em vetusta solidão
da qual se escuta, ao passar, tanto gemido,
como se fora de um Poeta o coração...
Ninguém sabe de onde veio nem porquê!
O que faz ali num estático sossego?
Além da árvore que é árvore ninguém vê
que ela traz dentro de si a Poesia por apego.
Espalha pela rua a magia de um sorriso,
triste, só, ao vento, seja noite ou seja dia,
em diáfana presença procura alguém perdido
e seu corpo de silêncio embala tanta melodia.
E o que faz aquela árvore calada rodeada pela Era
no meio de uma rotunda ao pé da minha casa?!
Presença cinzelada que nada diz nem me revela,
que apenas sinto, na voz de um silêncio que me abraça ...
Que encanto dá à minha rua a alegria daquele mágico Chorão,
dança todo o dia, chora toda a noite e canta, canta e encanta ...
E minh'Alma, pejada de espanto, vê numa parede, alinhada com o chão
uma lápide de mármore que nos diz: Praceta Florbela Espanca!
Minha Vida é Solidão -
Minha vida é solidão
no cansaço da navegar
nela afogo o coração
como um náufrago no mar.
E mal cheguei à vida
não sabia que era assim
tanta gente, só, perdida
num caminho sem ter fim.
Fui galgando como um rio
tive pressa de chegar,
tantas dores, tanto frio
na loucura de m'encontrar.
Mal disse a minha vida
na procura de uma luz
alma aberta, alma ferida,
sob o peso de uma cruz.
Decisão da Morte -
De suspirar a cada dia já cansado
deitando no meu leito a solidão
eis que junto a mim pegando a mão
senti um toque longo e velado!
Era a Senhora dona Morte
mensageira de todas as nortadas
espalhando pela noite a cor do nada
trazia um tal silêncio no seu porte!
Tinha olhos frios e desgarrados
trajava negro luto sobre o corpo
vi-lhe traços pálidos d'um morto
passos lentos, tristes e pesados!
Falou da solidão onde me afundo
falou da dor que visto no meu corpo
disse que sou vivo mas estou morto
por isso não me leva deste mundo!
Gangrenas -
Ó empedernida solidão, estática, parada
num jardim desta cidade, sobre o busto que levanta
uma espera imortal! Fitando a luz do nada
ergue-se do chão, Florbela Espanca!
Minha vida é cor da sua! E ninguém me peça
pausa ou silêncio! Que a vida que me deram,
cor dos olhos dos mortos que morreram
é fria, porque os mortos arrefecem depressa ...
Só não arrefece a minha eterna e profunda solidão
cor da mágoa das Gangrenas do Senhor,
meu espelho ou ilusão de Ser nas necroses do coração
num sentir que está parado neste imenso mar de dor!
No Jardim Público de Évora frente ao busto da Poetisa.
Mudanças...
Podemos na vida até caminhar
sentido uma dor igual a solidão.
Enfrentar passageiros dias de frio
em vazias andanças sem direção.
Contudo, não somos obrigados
a viver neste mundo cercados,
pela presença vil desta escuridão.
É necessário tão bem contemplar
Com tenacidade este caminho trilhado,
Contemplados de sublime perseverança.
Estarmos aos detalhes preparados,
para pequenas e grandes mudanças
Paraíso colorido
Tudo tudo mais tudo vazio nas ruas,
O maramos de solidão queima os pensamentos em vão...
O colorido se perder na areia do chão,
E o coração só esperando você chegar!
Ando pouco feliz nas ruas procurando solução.
Imagino dentro das casas,
Pessoas se amando de alma e paixão.
E fico a pensar nesse teu pequeno olhar...
Que poderia sair pela janela e vir me namorar.
Nem que fosse um segundo antes da lua se esconder.
Eu só queria ter o poder de beija-la por inteira.
Fazer brincadeiras sérias de amor a noite inteira...
Pois sentir você é da inocência verdadeira,
O brilho a quimica de uma vida inteira...
Lançado nos braços da esperança a fé
que ela me alcança no calor dos seus abraços mulher!
Eih! acelere o seu tempo deixe de brincadeira.
Vai que você está aí sozinha de bobeira,
Precisando de um cheiro de um afeto.
Louca de amor pronta pra fazer uma besteira comigo algo certo!
Não tenhas medo de se apaixonar por mim?
Esse nosso segredo ele é infinito e morre comigo...
Eu te deixo livre para sentir ir e vir quando quiser.
Meu desejo é só ama-lá se assim puder...
Se assim desabrochar para o meu nobre coração de fé...
Que a sua alma e seu corpo me revele seu mistério de mulher.
Pacífico, indico e atlântico nossos beijos renascem novos oceanos.
Eu cantaria te amo e como é doce sua boca que me calas...
Essa melodia meu poema falaria do seus olhos cheios de estrelas.
Eu adoro vê-la o paraíso cheio de brilho e coloridos.
17.11.2022
Saudade e Desamor -
A saudade vem de longe
como vem a solidão
vem à pressa, vem a monte
no pulsar de um coração.
A saudade é coisa rara
é vazio em pedra fria
é um berço que m'embala
nesta dor em triste dia.
Traz saudade o teu amor
traz silêncio o teu olhar
da saudade ao desamor
é traçado o meu penar.
Não me esqueço da saudade
por não ter saudade tua
já não tenho liberdade
que a saudade continua.
'TE QUERO'
Te peço por favor leva contigo
Esse coração que vive na solidão e sonha com seu amor,
Me leva me abraça,
Não sou de ouro nem prata
Mas te quero com fervor !
Quero te para sempre
Não te quero te para aventuras,
Quero seu amor e toda sua.
ternura .
Te quero em meu lavouro
De frutas doces como caqui
Não me deixe só no caminho
Eu cuidarei de ti ,
Enquanto cuidas de mim
juntos até o fim
Interrogação -
Percorrem-me ainda
no sangue-dos-sentidos
células-de-solidão.
Cavalgam-me medos,
lentas e poderosas dores ...
... agonias ...
Todas as veias do corpo
se me entopem de lamentos!
Sinto-me ainda desgarrado,
distante de um porto de abrigo
onde a face-de-Deus
como límpida água
sacia qualquer sede,
liberta toda a dor.
Onde, neste Universo tão dual,
poderei Eu encontrar
a verdadeira Natureza
do Coração-de-Deus?! Onde?!
Suprema Ângustia -
Sinto que ausência é falta,
lástima, vazio,
solidão aconchegada!
Sinto que morte é nada,
e que nada é saudade,
angustia, silêncio e nostalgia!
E nada falta na ausência,
só o que não dói!
E o que dói sempre está em mim,
tão presente na ausência
num nada que não tem fim ...
Mas se o vazio fosse nada
não teria escrito estes versos!
Porque estes versos estavam contidos
na nostalgia do nada
que há em mim.
E sempre fico num vazio poético
de intima ternura, intensa espera
que m'aglutina os sentidos ...
E sou ferida fera que consome
aos poucos em fria espera
tantos Poemas perdidos ...
(Sobre as angustias que nos povoam os sentidos da Alma ...)
Passo de Solidão -
Eu sou no mundo
um intenso respirar d'angustias!
Sou na vida um imenso passo-de-solidão...
E rasgo a noite sem dizer que vou ...
Choro e escrevo poemas de dentro da Alma.
Mas ninguém me vê como realmente sou
porque eu só passo á hora estranha
de ninguém!
Sou aquele que está onde ninguém passa ...
Sou o que passa onde ninguém está!
Eu sou no mundo um intenso respirar d'ângustias!
Sou na vida um imenso passo-de-solidão!
Suspiro o meu último pensamento,
A ideia da solidão cessa por fim,
Da descrença naquilo que aparento,
Desapareço nos sonhos que há só em mim.
E esta locomotiva fugaz que passa
Desperta o que mais rotineiramente temo,
O demonstrar de um vazio sem graça
E faz morrer um pouco mais do que é supremo,
O sentimento que marca o enredo
E esmorece correndo do relógio,
Me afasta da infância que pela ilusão entendo,
Que me vê em lágrimas, feliz, ao som d’um mau presságio.
Solidão a dois -
Perto de Ti são frios e espinhosos os caminhos,
longe de Ti as roseiras mansas não dão Rosas,
porém, juntas, nossas bocas silenciosas,
são como pássaros erráticos sem ninhos ...
Vejo um cão, perdido, triste, abandonado e só!
"- Cão vadio vem que te faça uma festa,
já que somos desta raça - que dó -
ser vadio é o que nos resta ..."
E que dor tão funda no meu peito!
Solidão-a-dois que nos ultrapassa,
juntos e tão sós, tudo desfeito ...
E sinto que há em mim algo que morre!
Do Amor que nos foge, nada fica, tudo passa ...
Adormece Solidão, que o Tempo corre ...
A cada Jovem que morre -
Jaz morto e inerte
num campo de solidão ...
Tão novo!
Rodeado de lirios,
doces e brancos como Ele ...
Ele, um suspiro,
esperança-fria
que o Tempo alteia,
louco e apodrecido.
E grita o vento, destemido:
"-É morto! É morto!
Triste, só e absorto...
É morto! É morto!"
Seu corpo, agridoce-veneno,
jaz sepulto, em repouso,
num campo d'açucenas,
rodeado de pombas,
coroado de penas ...
"-É morto! É morto!
Triste, só e absorto...
É morto! É morto!"
Um jovem, tão novo,
Poeta, ignoto ...
Tão jovem, tão morto,
tão morto e tão jovem,
seu corpo, ignoto ...
É morto! É morto!
"-É morto! É morto!
Triste, só e absorto...
É morto! É morto!"
Sua Mãe, amarga e singela,
ferida, desgrenhada, assentida ...
É perdida, além-da-Vida,
tão pobre e tão sofrida.
É vencida! É vencida!
É Só! Tão Só! Tão contida ...
"-É morto! É morto!
Triste, só e absorto...
É morto! É morto!"
E em tudo, a cova que o recebe,
sua dor ignora - ó Deus,
que triste sina, desce à Terra!
A separação! É hora! ...
"-É morto! É morto!
Triste, só e absorto...
É morto! É morto!"
Resumo de a Solidão...
Silêncio quando a noite cai.
Silêncio quando a noite vai em busca...de alguém e em resposta o vazio, A madrugada é fria não perdoa, e a mente trabalha 24 horas. O medo se aconchega ao seu lado e você se cala.
O final de um Desejo se vai.... Tantos sonhos.. e lá se foi, Sem Boa noite e sem Bom dia.
Demora -
Tua partida foi em vão,
meu corpo anseia os beijos teus,
sem ti, em solidão,
não há nada, não há Deus ...
Recordo o teu sorriso,
o paladar da tua boca,
triste, só e impreciso,
nada mais me toca ...
Talvez não penses mais em mim
ou não esqueças quem te ama,
pode ser um triste-fim
ou renascer de outra chama ...
Passa a Vida hora-a-hora,
eu perdido neste cais,
escrevo frágil à demora
pois não sei se voltas mais...
De Mim -
Saio à noite pelas ruas da cidade,
imerso em tristeza, mil horas de solidão!
Ai minha curta mocidade,
já sem orgulho ou ilusão ...
Ausente, alguém me vem à Alma,
e meu triste coração, pensa sempre e sempre em vão,
nesse Amor que grita, clama,
pelas ruas da cidade, pisando folhas pelo chão ...
E o vento chega sem perdão,
deixa sempre um lastro,
gelando o corpo e a solidão ...
Este Outono não tem fim,
já não passa outro Astro,
o que virá a ser de Mim?!...
Évora de Sal -
Évora cheira a solidão,
frágil, doce como um punhal,
que nos enche o Coração
de pó e cinza, cinza e sal ...
Pó e cinza, cinza e nada
à deriva p'las vielas,
Évora triste, amargurada
na sacada das janelas ...
E um suspiro em plena Praça,
das entranhas da cidade,
paira do Geraldo à Igreja da Graça ...
Que de graça nos enlaça
no rescaldo das Idades,
Évora de Sal, qu'eterna nos abraça!
Misticos Cemitérios -
Tudo em torno é silêncio e solidão.
Junto às sepulturas inda há gente que s’inclina,
buscando ouvir palavras, que em surdina,
os mortos, ao ouvido, lhes dirão – é vão!
Aqui, junto às sepulturas, apenas oração
que o caminho das Almas ilumine,
numa Espiral-de-Fé que as “fulmine”,
elevando-as ao alto em mística Ascensão!
Diáfano silêncio! A Voz-de-Deus
ressoando do Além, Paz vindoura d’outros Ceus,
sombreada por ciprestes e cedros de saudade.
Naquele Espaço-Etéreo há um doce encantamento,
uma Paz Religiosa, um puro sentimento,
Portal-de-Vida que vai da Morte à Eternidade …
Triste Desengano -
O pior Tempo que vivi foi a Juventude ...
Impasses de solidão, expectativas e desejos,
tudo informe, deformado, sem plenitude,
num Tempo de fantasia e ensejo!
Sou mais antigo que o meu corpo ...
Não encaixo nesta Vida, intensa, concebida
além de mim, tão perto e tão longe, morto
numa infância, juventude deprimida!
Sou cadáver exumado, pronto a sepultar,
num chão salgado, sem destino,
p'ra não correr o risco de tornar ...
Alma viva em corpo morto - triste desengano!
Ó Deus é tão triste o meu destino
que o meu destino só pode ser engano ...