Texto de Saudade Profunda

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⁠*O coração que ama e não é amado*

Sofre, geme e chora
O coração que ama e não é amado
Vive sozinho e amargurado
Abandonado pelo seu amor, peregrino e sofredor
Sentindo sempre uma grande dor.

Dor que só é aliviada com uma linda canção
Canção que vai ao íntimo do coração
Tirando toda a tristeza
Trazendo de volta a beleza
E a paz a este pobre coração.

Coração que um dia já sofreu
E que bastante viveu
Amando e não sendo amado
Sofrendo e sendo humilhado
Vivendo como o culpado de viver nesta solidão.

Mas o verdadeiro culpado
Foi aquele amor do passado
Este sim, deveria ser condenado e maltratado
Por quem tanto ele humilhou
E também maltratou
Para saber como é doloroso
Sofrer por um grande amor.

Inserida por marilia_lima_4

Peço a paz e o silêncio

A paz dos frutos
e a música
de suas sementes
abertas ao vento.

Peço a paz
e meus pulsos

traçam na chuva
um rosto e um pão.

Peço a paz
silenciosamente
a paz, a madrugada

em cada ovo aberto
aos passos leves da morte.

A paz peço, a paz apenas
o repouso da luta no barro das mãos
uma língua sensível ao sabor do vinho
a paz clara, a paz quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e sol.

Peço a paz e o silêncio.

Casimiro de Brito.
BRITO, C., Jardins de Guerra, 1966
Inserida por NewtonJayme

MARIA DE NAZARETH,

Não me desampare teu amparo,
não me falte a tua piedade,
não me esqueça a tua memória.

Se tu, Senhora, me deixas,
quem me sustentará?

Se tu me esqueces,
quem se lembrará de mim?

Se tu, que és Estrela do Mar
e guia dos desencaminhados,
não me iluminar, onde irei parar?

Não me deixes tentar pelo inimigo,
e se me tentar, não me deixe cair,
e se cair, ajuda me a levantar.

Quem te invocou, Senhora,
que não tenha sido ouvido?
Quem te pediu que não tenha atendido?

Inserida por NewtonJayme

Sorte

Existem 2 trilhões de galáxias e, até este momento, foram descobertos cerca de 150 planetas, pertencendo 8 nosso sistema Solar. Já em nosso planeta, há 6 continentes, 193 países e por volta de 7 bilhões de pessoas. Em aproximadamente 4,54 bilhões de anos de história eu nasci na mesma época, galáxia, planeta, continente e país que você, qual a probabilidade? Meu amor por ti não caberia no Aglomerado de Virgem.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠O Eremita

Com lentes tingidas de um brilho sombrio,
Meus olhos, embotados de dor e lágrimas,
Veem o que outros não percebem, no silêncio confinado.
Com olhos que ultrapassam o véu da realidade,
Sou um estranho em minha terra, sem lugar para pertencer,
Amei com a quietude de estrelas esquecidas,
Sonhei com a vastidão de galáxias perdidas,
Mas meu coração é um relicário de esperanças defuntas,
Um navio sem ancoradouro, perdido em um oceano de solitária penúria.
Sou um homem que, em suas próprias marés, se consome e se afoga
E, nas profundezas da mente, se perdeu.

Inserida por GabrieldeArruda

Marginal

Às margens profundas do meu ser, vagueio como um rio agitado sem leito. As palavras, como pesadas pedras, afundam no abissal silêncio impenetrável.

As pobres almas que toquei, como folhas secas outonais, desprendem-se e voam para longe. Desaparecem na bruma do cruel tempo.

Ó rio, sem rumo, sem destino, és espelho da minha própria existência.

Rio sou. E fluí.

Leva-me para além.

Que eu seja a folha seca que flutua em tuas correntezas, que se despede, e que o tempo, implacável, me leve para a outra margem.⁠

Inserida por GabrieldeArruda

⁠⁠Impermanência

Quão alegres são as chegadas, loquazes,
E os prazeres que consigo trazem,
O espírito se incendeia, dança,
Quão tristes são as partidas, silentes,
E os prazeres que consigo levam,
O espírito se dilacera, despedaça.
Ah, estou farto, meu tolo coração, tantas vezes ridículo, deseja pelo dia
Em que os encontros superarão as despedidas. Como uma pessoa a quem lhe impõe a ter a sua desgraça.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Epiderme

Dentro de mim habita o verdadeiro terror,
Onde os monstros se escondem sob a pele,
Revelando a verdade que nos abate,
Não se iludam, aqueles que confiam em nós!
Não há cama que os oculte, pois não se escondem debaixo dela,
Mas por baixo dos lençóis e os seres, onde não há certezas,
Não creio em mim, com certeza, sou um monstro, não mártir, nem herói.
Mediocramente humano, foi minha vida, escravo do que nunca serei
A capacidade humana, essa sempre me aterrorizou mais que fantasmas.
Consagro a nós o desprezo, tudo isso seja o que for que sejas
Aqueles que confiam, não se enganem.

Inserida por GabrieldeArruda

(Des)encaixes

⁠Sou uma peça defeituosa neste quebra-cabeça da vida, tão fragmentado. Não tenho um lugar de encaixe, não. Estou desconectado das outras peças. Talvez eu deva cortar os meus excessos, minhas ásperas arestas que me impedem de encaixar-me neste tão cruel jogo.

Estou vencido, talvez tenha desistido ou mesmo nunca tenha tentado coisa alguma. Devo despir-me das ilusões, das expectativas vãs, para poder encontrar uma peça que possa me completar. Devemos lutar para conquistar o nosso espaço, mas tudo isso me pesa.

A pele que visto é errada; rasguei-me e de mim nada restou. Esta é a razão do meu sofrimento e das coisas fugidias. Quem me dera pudesse resolver este grande desafio, montar este estúpido jogo e dar-me por satisfeito.

Às vezes a vida é traiçoeira, e o destino parece um enigma insolúvel. Mas para mim, a vida nunca foi senão uma acompanhante de sentir. Compreendi finalmente que a sua beleza está na futileza. Aproveitar a vida, deixe-me ser azarado no jogo; tenho tido azar na sorte, mas a minha sorte está no amor, ah, e como eu amei.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Parassonia

Estou cansado, é claro,

Porque, a esta altura, a gente tem que estar cansado.

De que estou cansado, não sei:

De nada me serviria sabê-lo,

Pois o cansaço fica na mesma.

Estou cansado de pensar, a toda hora, há tantos anos, desde a minha mocidade.

A minha cabeça já não mais encontra repouso, noite após noite, o sono me escapa, como se temesse adentrar neste caos que é a minha mente.

Quando finalmente o apanho, sonâmbulo, eu converso com as paredes.

E mesmo quando acordado, eu converso comigo mesmo, tenho o hábito de conversar sozinho.

Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto.

Eu penso demais, e a minha cabeça pesa toneladas.

Lembro de coisas que gostaria de ter esquecido e imagino coisas que gostaria que não tivessem acontecido.

Deus, com sua ironia, me amaldiçoou com o pensamento, e me fez inquieto, inquisitivo.

Há um certo prazer até no cansaço que isto me dá,

Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Às vezes, uma tristeza tão penetrante
Invade e arrebata minha alma,
Levando-a para um lugar desconhecido,
Onde me perco e não me encontro,
Onde não existem portas nem janelas,
Apenas uma estrada longa rumo ao mistério da vida.

Inseguro, volto minha atenção para trás,
Com os olhos sobre os ombros,
E o peso das minhas decisões sobre as costas,
Tropeço nas minhas incertezas.
Rendido, me entrego ao chão,
Derramo-me sobre a cama e inicio um novo dia nessa velha rotina.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Sublime

Fiz grandes e nobres propósitos, mas sou tão pequeno,
Sim, tão pequeno e insignificante.
Observo as grandes cidades de concreto e aço,
Entre arranha-céus que roçam o céu,
Vejo pessoas cruzando as ruas, e os carros.
Há vielas estreitas, onde cada pequeno passo
Descobre o encanto revelado pelo tempo,
Que talvez se perca nesta vida vulgar,
Mas permanece gravado em grafites vulgares.
Vida vulgar, vulgar, como um mendigo verdadeiro.

Vou ao campo e vejo os animais, e as crianças,
Nos vastos jardins, entre rosas delicadas e lírios em flor,
O perfume suave que enche o ar, e o vento que acha meu cabelo.
Cada pétala, um juramento de amor...
Assim saibamos valorizar o simples, o modesto, o singelo.

Descobrir o sublime no cotidiano, no ordinário,
Na essência real das coisas,
Encontrar a beleza que transcende o mundano,
A verdade mais metafísica.

Por trás de cada nascer e pôr do sol dourando o céu,
Onde há pequenos planetas distantes,
Sob os verdes tapetes e vastos campos,
E na imensidão divina, onde o céu se alarga no firmamento.

Sempre há pequenos milagres a perceber,
Em cada gesto simples, um mundo descoberto,
Na plenitude do ser e do existir,
Onde a grandeza habita nas igrejas e casas, e nas mentes,
Onde podemos vislumbrar o infinito num beco e ouvir a voz de Deus num viaduto.
Mas sou, e serei sempre, o que não soube, fiz de mim sublime, humano.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Eu acredito em Deus, mas me pergunto se Ele crê em mim,
assim como cremos na Sua chuva, e no seu Sol.

O que é real? As paredes sólidas e frias de concreto,
concreto, a realidade concreta. Ou a memória fugaz
de um abraço quente e terno, terno, visto o terno,
chego ao trabalho, olho-me no espelho, e não vejo nada.

Cego, vejo além do espelho e enxergo através da realidade sensível,
sensível, atravesso as aparências em busca de algo que transcenda o tangível.

Mas então o espelho despedaça-se diante dos meus olhos,
como coisa real, um mosaico de sentimentos e lembranças,
desfaz-se e reconstrói-se a cada instante. Cada caco reflete uma versão minha,
mas, entre tantos, quem realmente sou eu?

Há tantos de mim que não podem tantos estarem certos, e entre tantos, perdi-me.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Eu vivo um dia de cada vez,
Levanto-me cedo, enfrento o trem,
E volto tarde, sem ninguém.

Construo sonhos de papelão,
Como um mendigo,
Mãos calejadas, olhos cansados,
Essência perdida.

Vivo um dia de cada vez,
Como se fosse o último,
Não por querer viver,
Mas por precisar comer.

Construo um lar de solidão,
Como um empregado,
Com tijolos de suor e dor,
E paredes de ilusões.

Vivo um dia de cada vez,
Como se fosse uma prisão,
Não por querer viver,
Mas por não ser ninguém.

Construo uma vida de incertezas,
Enfrento a vida, e me perco,
Sem coragem para lutar...

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Eu tenho o péssimo hábito
de amar tudo aquilo
que me escapa à mão.
Talvez o amor, em essência,
seja um desejo inatingível,
perseguindo incansavelmente
o próprio rabo, como um cão à roda.

Carrego em minha pequenez
a cruel ironia
dos sonhos que, alçados,
se erguem como montanhas firmes,
e que, num instante breve,
se desmoronam em montes de areia.

Soterrado pela rotina,
pela futilidade do dia-a-dia,
sinto o peso da realidade
que escorre entre meus dedos
como areia numa ampulheta.

Talvez esperar que o mundo
se despenhe em barranco,
e morrer deitado à sombra
não seja de toda a má ideia.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Há um buraco negro em meu peito,
um abismo que devora a luz que sou,
deixando a minha alma inquieta, fora da órbita.

Um universo na minha mente se expande,
planetas de pensamentos que colidem e se metamorfoseiam;
tanta imensidão não cabe neste corpo tão diminuto,
que agoniza sob o peso da própria grandeza.

Meus amores e sonhos, infinitos na sua finitude,
são tão distantes quanto as estrelas que piscam longínquas.
Ah... metafísica! Em nenhum mundo encontro disposição,
apenas o fardo de estar indisposto,
cansado de aqui, cansado de lá,
Alá me acuda, ou Deus, que fiz eu aos deuses?
Estou cansado de teologia,
cansado de qualquer lugar que me aprisione.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Estou à procura de algo, o quê? Não faço a mínima ideia,
E isso realmente importa? Sinceramente, tanto faz...
Mas oh, maldito desejo que pulsa!
O tédio de não possuir o que desconheço,
E a ânsia por algo que não se sabe.

Como posso querer o que nunca vi,
Se, talvez, querer nunca foi?
Nem sei se ainda existe,
Ou se apenas existiu, ou se pode existir.

Para onde vou, tudo que encontro
Pertence a alguém, pertence a alguém,
Tudo tem posses e senhores,
E a mim, que restará?

A quem ou a que pertenço? Sei lá!
Tudo tem nome, tudo tem endereço,
mas eu permaneço desconhecido, incerto.
Talvez eu não seja deste mundo, e, sinceramente, tanto faz!

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Sem dúvida, garanto-vos que saber demais
É como tapar os ouvidos, e não saber nada.
Se eu adoecesse, reconheceria isso:
Quem realmente deseja entender também escolhe sofrer.

O que sei sobre os conceitos e as ideias?
De que vale o conhecimento que nasce do fenômeno,
E de que serve a intuição sensível
Em relação ao conceito do intelecto?

É uma razão incondicionada das coisas,
Mas que razão há nos animais e nos homens (que também são animais)?
Não podemos conhecer ou experimentar o mundo todo,
Mas ele é real e existe, como uma totalidade metafísica.
Entre todos os filósofos, creio que tudo isso é falso,
E há razão suficiente no não saber.

Inserida por GabrieldeArruda

⁠Na calçada onde o concreto se racha,
Sob passos apressados, vejo figuras:
Mendigos, esses monumentos esculpidos pela dor e pelo abandono,
Partes da paisagem, sombras de aversas.
Estátuas esquecidas em praças que ignoramos,
Com rostos e histórias, mas nós, indiferentes,
Passamos como se o tempo não os reclamasse,
Mergulhando na rotina, nas horas lentas.

Hoje me interrogo: o que é ser visível?
A roupa que visto, o bem que acumulo,
É só camuflagem, armadura que me isola.
Sob essa fachada, frágil e cativa,
Sinto a tênue linha entre ser e não ser. Vida miserável...
Eu, que me nomeio alguém, sou apenas um rosto entre muitas máscaras,
Um nome sem significado na memória do mundo.
Se eu me apagasse, quantos chorariam a ausência?
A vida seguiria, indiferente às minhas lutas.

Um mendigo cai, e a rua devora o corpo,
Com a mesma indiferença que o ignorou em vida.
Passam as gentes, a calçada permanece,
E a vida avança, sem pausas, sem lamentos.
A invisibilidade é pena pesada;
E eu, tão próximo desse triste destino,
Percebo que o meu endereço é só um nome,
Uma casa, talvez, mas não um lar.
Fernando disse sabiamente: “Hoje não há mendigo que eu não inveje,
Só por não ser eu.” Na imensidão citadina,
Todos somos mendigos, de afeto, de memória, de um sentido,
Buscando ser vistos, mesmo que por um breve instante,
Nessa profunda solidão que é viver.

Inserida por GabrieldeArruda

Eu não estou só, não, definitivamente não estou,
mas a solidão insiste em me ter por companhia.
Sinto-me só, e há uma grande diferença
entre ser e sentir. Não sei como posso
ser útil à sociedade; génio? Não sou, nem quero ser.
Suficiente é ser humano, com todas as minhas
fragilidades, e talvez isso já seja o bastante.
Me deram por louco, e contento-me em ser louco;
deixem-me ser louco!

Dispenso a companhia dos que se acham
cheios de verdades; prefiro a solitude,
ainda que sentir-se só seja um golpe
forte demais. O peso que me foi imputado
ao nascer é grande, e para isso sou fraco
demais.

Sim, estou rodeado de pessoas, pessoas a quem
eu amo e que me amam, acredito eu,
mas como pode um homem nesta posição
não sentir? Como aquele que agasalha,
e agasalho há para quem tem frio,
mas não se sente aquecido.⁠

Inserida por GabrieldeArruda