Terra
Todo paciente é um pacote fechado, um romance não lido, uma terra inexplorada.
Aqui, neste pedaço de terra onde pequenos detalhes importam mais do que grandes acontecimentos, onde o chão de barro é tão marcado quanto o rosto de minha Tia Firmina - ambos esculpidos pelo tempo e pelas mágoas -, onde o destino das mulheres é reto e seco, tal qual um avesso imperfeito da única trama guiada exclusivamente pela nossa vontade: a renda. Já que os demais caminhos não nos pertenciam por inteiro.
Da roça...
Da roça, das mão suja de terra, que é de prantá,
Sô fia do mato, doce quinem água de mina,
Meus véi trabaiva na roça, pra famia sustentá,
O zói enche d’agua do tanto que admira.
Sô poeta lá da grota, dos versim de roça,
Carrego na voiz a sanfona e a viola,
Sô o disco de vinil da veia vitrola,
Minhas rima mantém viva aquelas moda.
Inda lembro do rádio vermeio do meu veio avô,
Da casa de assoaio alto, do chêro das marmita dos trabaiadô,
O café margoso pra curá as pinga de onte enquanto escutava,
Se eu tô aqui é purquê meu povo da roça abriu os camim na inxada.
Só cunverso nos verso cas palavra de antigamente,
Pra honrrá quem veio antes de eu e me firmô nesse chão,
Foi na roça que pai e mãe prantô pros fí coiê mais na frente,
Passano dificudade e guentano humilhação.
Meu povo era brabo demais da conta, pensa num povo bão,
Parece que iscuto a voiz dos meu véi quando iscuto os modão,
Meu peito dói de tanta farta que faiz, oi ai,
Vovô resmungava nos canto e parecia poesia, até dava paiz.
Da roça sim sinhô. Essa poeta aqui é fia do sertão,
Não herdô terra nem fazenda, mais nunca se invergonhô,
E eu vô falá procêis, tentano num chorá, guenta coração!
Eu tenho um orgulho danado doncovim e da muié que eu sô.
Eu percebi a coisa mais estranha hoje. Que mesmo eu estando aqui na Terra, o meu mundo inteiro desapareceu.
Nem sempre somos o sabor da terra em que habitamos, às vezes somos a terra usada sobre os pés de alguns terráqueos como base para sua existência.
Respirei fundo e fechei os olhos.
Estava com os pés descalços. No chão haviam folhas secas, plantas com pequenos espinhos e a terra estava úmida. Mas naquele instante, isso não fazia diferença...
Então em cada passo, o vento tocava o rosto igual algodão.
Isso mesmo! Um algodão doce.
Você pode perguntar o que estou fazendo aqui na Terra convivendo com tanta pessoa má? Esquece que talvez tenha pedido para vir aqui ajudar na construção de mundo melhor.
Não somos seres materiais, estamos apenas matriculados aqui na escola Terra, quando terminar, o nosso curso, retornaremos para casa e viveremos a nossa verdadeira vida.
Que saudade dos tempos bons
de alguém ou de momentos
foi pintada em vários tons
no meu arco-íris de sentimentos
Essa saudade que me invade
com ela posso dialogar
- não vá embora, saudade!
meu coração é seu lugar
Trate a natureza com amor, respeito e gratidão. Pois, a nossa vida e sobrevivência no planeta depende das nossas ações e responsabilidade perante a mãe Gaia.
Rosas
Sim, há rosas naquele jardim.
Beleza invejada por qualquer um
Naquele gramado entre alfazemas
Exalando perfume de fascínio
Há jardineiros invejosos, sim
Sem entender que aquela incomum
Rompe com força torrão e leivas
E desabrocha linda, encanto régio
Entre espinhos e pétalas
Entre lágrimas e sorrisos
Entre dores e prazeres
Venceu todas suas batalhas
À passos firmes e precisos
Deus, como ela tem poderes.
Tudo que está fora do nosso mundo é alienígena. Assim como nosso mundo é alienígena para todo o resto.