Telefone
A história do pato
Ao telefone:
-Boooa noite, amor! Minha deusa adivinha o que estou preparando pra nossa noite de hoje?
-Ownnn marido! Tenho certeza que é algo bem gostosinho. Meu maridinho tem uma mão ótima pra fazer comida!Mas amor vou chegar mais tarde hoje do trabalho. Infelizmente terei de ficar pra corrigir algumas planilhas erradas que a estagiária não soube fazer corretamente.
-Poxa amor, tava pensando em fazer algo diferente pra gente hoje e mais uma vez você vai ter de ficar até mais tarde...
- É meu bem, ossos do ofício.
-Você nem perguntou o que estou preparando...
-Desculpa marido, é tanta coisa aqui no trabalho. Qual a comidinha maravilhosa que vamos saborear mais tarde?!
- Amor, estou preparando um pato ao molho de laranja!! Está supimpa!
-Huuumm!!! Que delícia! Meu cozinheiro preferido! Me aguarda que já chego pra saborearmos esse pato juntos!
- Tá bem amor, estou te aguardando, vem logo senão o pato esfria.
-Ok maridão! Beijo!
Em casa:
-Oi amor, só chegou agora o prato já ta frio.
-Aff meu bem, estou exausta, com fome, eu como assim mesmo. Tinha muita coisa pra fazer lá no escritório.
-Eu compreendo. Vamos comer?
-Vamos sim!
-Amorzinho, depois do jantar a gente pode abrir aquele vinho de ocasiões especiais e estender um pouco mais a noite, o que acha?
- Ai, amor não sei. Estou muito cansada, naquele escritório tem muita coisa pra fazer. Vamos deixar pra outro dia.
O casal janta, a esposa vai se deitar, o marido fica ao lado dela observando ela dormir pensando no quanto sua esposa é dedicada.
O celular da esposa vibra, ele olha.
Mensagem recebida:
“Olá minha delícia, que noite maravilhosa hein?! Rsrsrs. Quero te encontrar mais uma vez. E dessa vez não deixa o pato atrapalhar nossa noite. Rsrsrs. Depois me conta se o pato que o pato cozinhou estava gostoso".
Sabe aquele dia em que você está chateado? Então! Geralmente é nesse dia que toca o telefone de um Banco com aquele velho papo furado, dizendo que você foi contemplado e que esta disponibilizando um dinheiro na sua conta para te deixar ainda mais endividado.Rs rs rs...
Entre um dia agitado, meu telefone vibra. Era um número desconhecido e se um dia foi conhecido eu não me recordava. Atendi normalmente e minha voz estava perfeita até que o passado se identificou. Não tive reação para o inesperado, eu havia aguardando por este momento durante muito tempo que as palavras fugiram e eu só conseguia concordar e aceitar o convite que me foi feito. Fui ao encontro de quem já havia me humilhado. Todas as palavras ditas pra mim naquele momento eram em vão, pois somente no olhar eu conseguia entender que era um desespero pedindo o meu perdão. Eu não sabia o que dizer, não entendia porque depois de tanto tempo, havia resolvido me procurar. E mesmo com meus olhos assustados, eu só respondia que estava tudo bem, mesmo regredindo ao passado eu o pedi que não se preocupasse, pois tudo já estava resolvido.
Neste mesmo momento, foi-me feito um pedido para que matássemos a saudade que nos sufoca durante todo esse tempo. Não posso negar que meu coração bateu forte, as pernas tremiam e as mãos suavam. Viajei em todos os sentimentos bons que havíamos passado juntos antes de responder. Mas ao voltar para a realidade, rejeitei. É muito pouco pra mim. Eu desejava te matar por inteiro e não em um quarto qualquer pela estrada. Você só queria um carinho de uma mulher na qual admirava por estar carente e eu não. Hoje, também quero receber. Não aceito as mesmas mentiras e os mesmos erros, não quero me enganar. Gentilmente me despedi com um forte abraço e fui embora com a alma leve e um sorriso no rosto e talvez, para nunca mais voltar.
Para L.C
Acho que um encontro foi o suficiente e uma conversa ao telefone para que eu apaixona-se,nao sei se foi seu sorriso ou o fato de no primeiro momento em que o vi,meu coração parou não sabia se gostaria mim,mas no momento eu que me puxará e me beijaste,foste ousado rapaz!!!mas me ganhaste,seu ciume tolo mas lindo que me deixaste com sorriso bobo,seus olhos o modo como sorrir o brilho que emitem deles a maneira como é,seu jeito,eu nao sei o que ha de errado comigo,ou eu sei,mas se o errado for você que me deixa assim nao ligo de estar errada,ao me deixar no ponto de escrever meu pensamento e o que sinto nao sei o que pensar quando se trata de voce,e não importa se você esteja longe ou perto.O importante é que você exista para q eu possa sentir sua falta.Você nao parece ser real voce é como um verão indiano,no meio do inverno,como um doce com uma surpresa dentro!Eu queria poder esta olhando dentro dos olhos...
Isso nao é uma declaração de amor so quero que saiba o quanto bom e especial você é e nunca duvide disso nem mesmo por um segundo.
Não ha nada que eu mudaria,pois você é incrível exatamente como você é!talvez goste,ou nao,ligue ou nao se importe ou nao mas precisava ser escrito e dito e você precisa saber preferia que fosse uma carta mas hoje em dia é complicado,nao espero nada em troca...somente que leia e saiba que voce é capaz de tudo e agradeço me fez sentir o que a muito tempo achei impossível mesmo que tenha sido por instante.
Foi uma coisa de momento?não sei dizer mas jamais me arrependerei por ter escrito isso.É simples mas verdadeiro!
Com Carinho
Eu
Eu queria jogar teu telefone fora, trocar de número, de roupa ou de mundo.
Eu queria trocar de rosto, de mão, de endereço. Mas não posso arrancar as partículas tuas-minhas, não posso apagar o toque das mãos suas nas minhas, não posso limpar da mente a imagem do seu semblante em descanso.
Eu queria trocar de pele, de corpo, de voz, de boca. Mas não posso arrancar a marca do beijo teu. Não consigo arrancar os vestígios da tua pele na minha.
Eu queria trocar os olhos, o sorriso, a emoção, o coração.
Porque não me sai a vontade de ver, de ter, de beijar, de amar?
...
Quero te apagar de todo lugar, mas sei que da alma é único lugar do qual não te posso tirar.
Go to Rome
Home alone
Com fome,
Sem nome,
No telefone,
Insone,
Tudo some.
I can feel,
O vento frio,
Do teu assobio,
Nosso encontro no rio,
Teu amor que sumiu,
E o meu que consome.
Looking all the stars,
Na sala de estar,
Jantando o luar,
Bebendo o ar,
Ninguém para amar,
Nem sinal do meu homem.
Your love is over,
Não posso te ver,
Prefiro morrer,
Eu mesma vou ser,
Cansei de você,
Vou para “Rome”.
Home alone I can feel, looking all the stars, that your love is over.
Não posso te ver, cansei de você, vou para “Rome”.
Canção que não toca
Desligamos o telefone.
Meu mundo gira e toca a canção composta pelos agudos e graves da minha esperança, ou pelo fim dela. Talvez querendo te tocar.
Nomes soltos e tortos percorrem o tortuoso caminho da dispersão.
Mártires salvando a própria alma das chamas infortunas é o que são.
Me falta chão, me sobra teto limitando a sede dos sonhos-canção.
Me falta e sobra tudo.
E não entendo porque me rendo, porque sou apenas sendo e nada querendo desse teu mundo.
O som do chicote-razão ecoa frente à tua dó, à tua pena.
Enfeita ainda mais a cena feita de ápices dinásticos e faces de dor serena.
Nas trocas de neologismos para o não, encontramos a mesma resposta:
Na vida não há canção que toque fundo quem não gosta.
O telefone não vai tocar e a porta não vai abrir, o café está frio, amanheceu dia claro e você nunca esteve aqui.
Peguei meu telefone, e naquela hora não sabia se era certo, ou se tinha mesmo a necessidade de fazer aquilo. Não sei explicar, meus dedos começaram se mover descontroladamente em busca dos dígitos do seu celular, e acabaram indo de encontro com a sua voz embarcada de frieza, que faz qualquer coração gelar ao ouvir. Foi sem querer, eu juro. Não queria te ligar. É que meus dedos já percorreram tanto os seus fios de cabelo quando nos amávamos, que acabou buscando outro artifício para te lembrar de que ainda estou por aqui, vagando no poço de esperança que você insiste em jogar água, quando já estava acostumado com a seca faz tempo.
No telefone:
Eu chorando, mas não queria que ela percebesse.
Ela chorando, mas nao queria que eu percebesse.
E assim, passávamos horas no telefone, chorando sem falar nada!
Eu tenho ótima memória... Só me esqueço de datas, de números de telefone, inclusive o meu próprio, nomes em geral, como de ruas, de autores de livros, de atores de cinema, de professores, de fórmulas matemáticas, de recados... e nem me lembro mais do que... Igor Brito Leão
Desapego
O telefone não toca, o silêncio me inquieta,
Sinto sua falta;
Será que é mais do que eu posso suportar?
Será que você não percebe?
O relógio marca meia noite e quinze,
A ausência da sua presença me mata aos poucos;
Quero sair do quarto, quebrar os pratos e te ligar;
Eu preciso de você,
Será que você não percebe?
Estou enlouquecendo...
A razão me diz que está na hora de praticar o desapego
Sinto sua falta!
Engraçado quando o telefone toca e é você. Rastros da sua dependência dos meus atos... "Você vai pra facul?" "Putz, hoje nem vou" "Ah então beleza, eu também não vou" ... Cazzo, vá! Não, não vá! Pra todo mundo é normal me ver sem você, anormal é te ver e não me ver do lado, sorrindo, babando e te agradando o tempo inteiro.
Ainda me perguntam porque eu continuo com isso, me falam ô quanto eu sou idiota e perco meu tempo.
Caracas, deixa meu coração errar, no final a dor é só minha, e pelo menos estar do seu lado preenche 0,1% do vazio da sua ausência.
Deixa eu aproveitar e amar a única pessoa que me fez capaz disso, pessoa que está quase todos os dias do meu lado, mas que não, não anda mais de mãos dadas comigo, e não me liga mais todos os dias pela manhã pra me acordar, e nem me liga a noite antes de eu dormir.
Eu juro que ainda não entendo.
Você ainda aguenta meus xiliques e mais do que isso, compactua com todos eles. Me dá razão, pede desculpas, e faz tudo o que eu peço, inclusive não olhar pra menina do lado.
Não sei me desvencilhar do nosso passado, não sei te ver só como meu amigo de sala mais grudento que não dá um passo sem que eu não esteja guiando. Não consigo, e pior que não conseguir, é não querer.
E eu vou ter que superar por mais um semestre tudo isso, vou ter que te ouvir, como se eu quisesse saber dessa sua vida longe de mim, vou ter que engolir o choro quando você for embora mais cedo sem ser por minha causa, e vou ter que sorrir e te apoiar porque é isso que os amigos fazem.
Vou entrar no seu carro, e não vou colocar a mão na sua perna. Vamos cantar a mesma música, mas vamos jurar que não estamos pensando em nada, vou virar as costas e fingir que meu coração não está despedaçado por você não me dar um beijo na testa, como você sempre fazia antes de eu partir.
Eu vou suportar por mais um semestre tudo isso, e vou perdoar todos os seus enganos, vou costurar as feridas quando você me ferir, calada!
Vou fingir que está tudo bem, e vou te deixar partir... mais uma vez!
Não existe mais tática, estratégia, plano, ou que nome você queira dar.
Eu não vou mais lutar!
Vou fazer o meu papel, e vou tentar superar!
Só por AMOR, eu te deixo ir!
Um pouco de dinheiro, aquela lingerie sexy e o telefone de uma pegada é sempre bom guardar... Nunca se sabe quando você vai precisar!!
Inicio uma ligação no celular e no mesmo momento meu telefone residencial toca, logo penso "liguei pra mim mesma" e assino o laudo de loucura.
Sempre que alguém de meia ou pouca intimidade me pede o número do meu telefone eu desconverso ou invento uma desculpa pra não passar. Já é difícil conversar quando nenhum assunto que vem dali te interessa, imagina sem olhar nos olhos.
Ele: E aí gatinha, qual seu telefone?
Ela: Nokia, e o seu?
Ele: Não, o número do telefone.
Ela: E75 e o seu?
Ele: Não, o número pra eu ligar.
Ela: O pin? Ah é 1892 e o seu?
Ele: Até quando você vai entender até onde eu quero chegar?
Ela: Chegar no que?
Ele: Eu quero o seu telefone, poxa.
Ela: AAAH SOCORRO, UM LADRÃO AAAAAAH SOCORRO!
O telefone tocou...
- Alô?
- Alô. Luciano?
- Sim. Quem é?
- Não conhece mais a minha voz?
- Não estou conseguindo identificar. Quem está falando?
- Nossa, como foi fácil pra você me esquecer... Acho que não tivemos muito significado...
- Nathasha?!
- Oi...
- Que surpresa você me ligar! Pra quem disse que queria me esquecer para sempre...
- Vai ofender? Eu desligo!
- Fique à vontade, querida. Quem ligou foi você mesmo...
- Não, espere, não vou desligar. Desculpe. É que estou aborrecida, só isso.
- Tá. E o que você quer?
- Nada. Eu só queria ouvir sua voz.
- Só? Então já ouviu. Mais alguma coisa?
- Espere, pare de ser grosso. Não, desculpe, não desligue. É que eu estou me sentindo muito sozinha.
- Foi você quem quis assim, querida. Sorva do seu próprio veneno.
- Realmente você não muda. Só sabe acusar...
- Bom, vou desligar. Tchau...
- NÃO, PELO AMOR DE DEUS, não desligue, espere, preciso te dizer algo...
- Fala logo, Natasha. Tenho que trabalhar.
- Eu estava errada. Me perdoe.
- ERRADA? Você estava errada? Tem certeza disso? Será que não é um pouco tarde pra dizer isso?
- Mas agora eu reconheço...Por favor, amor, me perdoe!
- Agora? Depois que você acabou comigo, querida? Até hoje eu pago o mico do papelão que você me fez passar... Convites distribuídos, acampamento alugado, comida encomendada, viagem paga, meu casamento com você, tudo perdido... (Luciano suspira). Sofri, sofri mesmo. Queria matar você! Droga, por que eu tive que amar você? Mas tudo bem. Já faz dois anos... Ah, meu Deus, dois anos...
- Luciano, pelo amor de Deus, me perdoe!
- Pra que você quer o meu perdão? Você nem ligou pra dizer que já estava com outro cara. Pra que perdão? Vai viajar com ele, vai viver com ele, meu bem... Só me deixe em paz, por favor!
Luciano chora baixinho.
Sem se dar conta, Luciano percebe uma pessoa na porta do escritório.
Era ela. Natasha estava olhando pra ele. Ela falava do celular.
Luciano fica perplexo, alegre e triste - ela está linda, belíssima, muito elegante. Mas seu rosto está abatido, cansado, doente. Na mão tinha uma sacola. Aproximou-se da mesa de Luciano, e, com olhos lacrimejantes, desligou o celular, olhou para ele e disse:
- Oi, amor.
- Oi, Natasha. Pare de me chamar de amor. Você tá um caco, filha!
Olhos baixos, Natasha começa a tirar da sacola algumas coisas: uma caixa do correio com um CD do Demmis Roussos, que Luciano havia enviado de presente no aniversário, uma boneca de porcelana numa casinha de papel, um celular pré-pago, alguns livros devocionais, uma bíblia de Genebra e um pacote de fotografias. Luciano a observava, perplexo, triste, e via as lágrimas de Natasha molharem a fórmica da sua escrivaninha. Cada objeto tirado era uma facada no coração sofrido de Luciano. Algumas coisas lhe custaram caro, ele fizera grande esforço para pagá-las. Mas, pensava ele, se era pra ela, valeria à pena o esforço. Quando tudo terminara, ele se arrependera de tanto gasto desperdiçado...
- Pensei que você havia jogado fora as coisas que lhe dei, Natasha...
- Eu nunca me esqueci de você, Luciano. Eu errei. Errei muito, me perdoe...
Luciano, jovem advogado, lutador com as interpéries da vida, sabia que Natasha poderia estar mentindo, como tantas outras vezes, quando namoravam e mesmo quando eram noivos. Mas havia um quê de diferente no olhar vermelho de Natasha.
- Por que você veio hoje aqui, Natasha? Deu a louca? O que te traz aqui?
- Natasha suspirou, chorou, recompôs-se e disse:
- Estou com câncer, Luciano...
- CÂNCER? Luciano petrificou-se.
- Sim, amor, eu vim me despedir. Saí do hospital à força, pra falar com você e pra morrer em casa...
Luciano não esperava por essa. Veio-lhe à memória uma de suas discussões, onde Natasha, na hora do nervoso, dissera: "E daí, Luciano? Que se dane a igreja, que se dane o pastor, que se dane você, e se Deus achar que estou errada, que me castigue..." Nossa, era como se a cena passasse de novo na mente de Luciano.
- Como foi, Natasha?
- Depois que eu deixei você, amor, fui caindo no abismo, afastei-me do Senhor, fui morar com o André, abandonei a Cristo. Eu estava cega. Mas Deus me amava, Luciano. Se eu não fosse dEle, estaria numa boa agora, bem com o André, bem comigo e pronta pra ir pro Inferno. Mas, por amor, Deus veio corrigir-me. Ele repreende e castiga a quem ama. Ele me ama, Luciano! Estou doente. Mas estou bem, porque estou podendo vir até você pra pedir perdão! Nunca fui feliz, nunca tive paz, saí de casa com 3 meses de vida a dois. O André me batia, me traía, eu fugi.
- E ele não foi buscar você de volta?!
- O André foi assassinado, Luciano. Tráfico de drogas.
Luciano estava perplexo.
- Luciano, estou voltando pro Senhor, estou me preparando pra partir. Mas tenho que receber o seu perdão, amor! Sei que nunca irei compensar o que lhe fiz, mas... por favor... ME PERDOA, AMOR!
Luciano olhou para aquele resto de mulher - outrora tão orgulhosa, ostentando tanta beleza e auto-suficiência, confiando tanto em seu corpo e em sua fulgurante beleza, e agora, bonita ainda, mas notadamente pálida, enferma, cheia de hematomas nos braços, pescoço e pernas, e triste, profundamente triste, a implorar-lhe perdão para morrer em paz!
Cena patética! Ali estava quem Luciano mais amara na vida, quem mais o fizera sofrer, a depender de uma palavra apenas, para morrer em paz!
"Hora da vingança", veio-lhe à mente. Claro, agora seria a hora da revanche! Mas Luciano era um moço crente, de bom coração, e seria incapaz de reter a bênção para aquela a quem tanto amara e que, infelizmente, ainda tanto amava e tanto o fazia sofrer...
Quer que eu perdoe você, Natasha?
SIM, PELO AMOR DE DEUS, Luciano! Nunca mais tomei a Ceia do Senhor, nunca mais louvei ao Senhor com alegria, nunca mais fui membro de igreja, não agüento mais! Aceito as conseqüências, mas, por favor, diga que me perdoa!
Enxugando as lágrimas, refazendo-se, Luciano olhou-a no fundo dos olhos, tomou as suas duas mãos, que estavam frias como as de um defunto, e lhe disse, num terno sorriso misericordioso:
Querida: desde que você foi embora eu já havia lhe perdoado. Mas, se você quer escutar e sentir paz, ouça-me: EU PERDÔO VOCÊ POR TUDO QUE ME FEZ. VOCÊ ESTÁ LIVRE EM NOME DE JESUS!
Natasha tremeu. Gritou "aleluia", sorriu, chorou, e caiu desmaiada.
Logo o assistente de Luciano veio ajudá-lo, e, colocando-a no carro, levaram-na para o hospital. Luciano tinha o telefone de toda a família ainda, ligou e avisou. Em uma hora todos estavam ali na recepção, tristes, aflitos, alguns desesperados. Chegou o pastor. A família implorou-lhe que fosse até a UTI orar com ela. O pastor, que conhecia o Luciano, olhou bem pra ele, pensou, fechou os olhos em oração, e, a seguir, falou:
Quem tem que entrar é o Luciano. Vá lá, Luciano. Eu conheço o diretor da UTI, pedirei autorização.
EU, PASTOR?
Sim, filho. Ela é o seu amor.
FOI, PASTOR...
Não, filho. Deus o uniu a ela novamente, ainda que seja na despedida.
Luciano não sabia o que fazer. A família, desconsolada, chorava, mas a mãe, certa do que tinha que ser feito, empurrou o Luciano até a porta, dizendo: "Vai, filho, corre, antes que seja tarde!"
Ah, aquele corredor que dava para a UTI parecia não ter fim! Cada passo dado era uma lembrança: o primeiro beijo, a primeira maçã-do-amor, o primeiro jantar, o primeiro por-do-sol juntos; o dia em que viajaram num encontro missionário, o dia em que foram juntos à praia e que ele deu de presente a primeira rosa! O jantar de noivado, os telefonemas, tudo. Não sobraram recordações da tragédia, da traição, do desprezo. Na verdade quem ama guarda as más experiências numa sacola furada. E Luciano fez assim.
Vestido com o jaleco, a máscara e o sapato de pano, Luciano entrou.
Vários boxes onde pessoas definhavam. Lá estava Natasha, no número 6. Estava no respirador artificial, cuja sanfona funciona como um pulmão e faz um barulho horripilante. Estava linda, mas totalmente ligada a aparelhos, notadamente cansada, em coma, morrendo. Luciano sentiu sua dor. Chorou. Tremeu. Segurou forte a mão de sua amada.
Pensou em Cristo, que dera a vida pela noiva, pensou em Oséias, que aceitou a esposa adúltera novamente, pensou em Deus, que tantas e tantas vezes tratou a Jerusalém com compaixão. Quem era ele para não perdoar? Quem era ele para não acolher?
Então orou.
"Senhor, o que posso dizer? Minha garota está morrendo! Ex-garota, claro. Mas mesmo assim está doendo, Pai! E eu sou impotente diante de tudo isso! Essas máquinas, esse cheiro de éter e de carnes inflamadas, esse barulho infernal, meu Pai, o que posso dizer? Que deixe a minha garota morrer em paz? Sim, Senhor, leve-a para a tua glória! Eu a amo! Mas sei que tu a amas mais do que eu! Abençoa a Natasha. Em nome de Jes...
Subitamente Luciano pensou em completar a oração com o seguinte pedido:
"Mas, Senhor, se ainda houver um espaço para ela viver para ti, recuperar parte do tempo perdido, se na tua infinita misericórdia não for demais, por favor, Senhor, cura a tua serva. Ela já sofreu bastante, ela aprendeu, Senhor. Até eu, que fui o mais ofendido, já a perdoei! Por favor, Senhor, se der, devolve-lhe a vida! Mesmo que não seja pra viver comigo. E agora sim, em nome de Jesus. Amém".
Por favor, me avisem - disse Luciano aos familiares - , me avisem quando tudo terminar. Quero estar presente.
E foi embora. Tirou a tarde para viajar, seu hobby preferido: foi pra uma cidadezinha próxima, ver o pôr-do-sol.
PARTE FINAL
No caminho, ao longo da rodovia, seus pensamentos corriam mais que o vento: por que tudo isso estaria acontecendo? As coisas não poderiam ter sido mais fáceis? E agora? Ele, no carro, ela no hospital, a lembrança daquelas máquinas monstruosas de prolongar a vida não lhe saíam da memória... As lágrimas corriam, misturadas à poeira do vento seco do caminho.
Revoltado com tudo isso, parou o carro no acostamento. Encontrou uma estradinha de terra. Devagar, como a seguir um féretro, entrou pela rota dos sitiantes. Subiu devagar a montanha, encontrou um mirante.
Parou, abriu a porta, e, num grito de dor e lamento, chorou. Ah, como chorou! Seu pranto escorria pela porta do carro. Os pássaros, assustados, aquietaram-se nas árvores, contemplando aquele misto de dor e revolta. Parecia que todo o mundo fazia silêncio em respeito a tanta dor.
Deus, por que? Por que? Por que? Por que tive que amá-la? Por que tive que vê-la? E agora, Senhor, o que fazer? E se tu a levares? O que será de mim? Eu já estava quase esquecendo, Senhor! Agora tudo volta a doer! Senhor, Senhor...
Cansado de tanto chorar, entrou no carro e deitou-se, estendendo o banco para o fundo. Travou a porta, colocou uma fita de música clássica e desfaleceu. Ali estava um moço de valor, que amava e que lutava entre sua vontade e a vontade de Deus.Sonhou durante o sono, no delírio da febre. Sonhou estar na igreja.
Viu o pastor a pregar, e, ao seu lado estava Natasha, bonita e sorridente. Lá do púlpito o pastor dizia: "Aquele que amar mais à sua mulher, mais do que a mim, não é digno de mim - palavras de Jesus!" E, aos poucos, o sorriso de Natasha foi sendo coberto por uma neblina e desaparecia. Assim acordou.
Assustado e cônscio de que Deus falara com ele, pôs-se a orar, dizendo:
Senhor, sei que é difícil, mas tenho que fazer isso. Confesso que estou revoltado, ó, Pai. Quero fazer a minha vontade, não a tua. Eu não estou conseguindo aceitar a tua vontade, caso seja a de levá-la embora! Sei que estou errado, Senhor, e sei que é isso que quisestes me falar. Senhor, sou teu servo e quero te obedecer. Se irás tirar a
Natasha mais uma vez, tira-a, apesar de mim. Por mais que isso doa,
Senhor, prefiro assim: não quero perder-te Senhor. Só me ajude e console o meu coração... Tu sabes o que será melhor para ela, e também melhor para mim. Em nome de Jesus, amém.
Voltou a dormir.
Toca o celular.
Alô?
Luciano?
Sim, sou eu.
Aqui é o pastor, filho. Como você está?
Bem mal, pastor. Mas sobrevivendo...
Eu orei por você, garoto. Pedi a Deus para lhe fazer suficientemente forte para renunciar, se preciso for. Você quer conversar sobre isso?
Pastor - disse, sorrindo o rapaz, - já o ouvi pregar agorinha mesmo no sonho, já renunciei a Natasha. Está doendo, mas estou em paz.
Obrigado.
Ótimo. Então volte pro hospital, Luciano. A Natasha acordou e saiu do estado crítico. Ela quer ver você...
O QUE??? SÉRIO, PASTOR?
Séríssimo. Vem com calma, mas acelera, filho...
Não levou hora e meia e Luciano estava entregando a chave do carro pro manobrista do hospital.
E a Natasha? , perguntou à mãe dela.
Filho, corre, ela está chamando por você! Vai, filho! Deus está agindo! Eu já a vi, mas ela teima que quer ver-lhe!
Agora o corredor do hospital era longo demais para ele. Se pudesse, daria três passos em um, para chegar mais rápido e contemplar o rosto de sua amada. Seu coração estava disparado, pensava no que ouviria e no que diria. O suor lhe escorria pela face e as vistas estavam enfumaçadas. Correu a vestir o jaleco, o sapato de pano, as luvas e a máscara. Box 06. Lá estava ela, e três médicos
palestrando. Ao olharem o rapaz, perguntaram:
Você é o Luciano?
Sim, doutor, sou eu. Por que?
Converse um pouco com ela. Ela gritou o seu nome por mais de meia hora e nos deixou quase loucos! Isso é que é amor! Mas seja breve, ainda não entendemos essa súbita melhora. Temos que medicá-la novamente.
Aproximou-se do leito. Os lábios de Natasha estavam sangrados, a boca ferida, canos haviam saído da garganta, o pescoço estava com fios, braços e pernas com soro, sondas, enfim, uma cena dramática, mas não tanto quanto na última vez. Pelo menos o respirador artificial estava desligado, e em silêncio...
Lu..cia..no.. me.u...a..mor....
Fala, querida, eu estou aqui!
Je..sus....veio..a..qui! Eu..vi!
Luciano deixou as lágrimas verterem de seus olhos, lágrimas quentes e profundas.
Você estava sonhando, querida.
Nã..ão, meu ..a..mor, Je..sus veio...me di..zer.. uma..coi..sa!
Um tanto alegre, mas também incrédulo, Luciano pergunta:
E o que Jesus lhe disse, amor?
Dis.se...que.. vo..cê..me ama..va e..que..es.ta...va... (cof! cof!) es..ta..va. orando lá..num sí..tio.. por..mim...e ..lu..tan..do ...para me renun..ciar..
Luciano gelou. Natasha completou:
E..le.. me..dis..se..que..a.ceitou..a.sua..or.a..ção!
Agora ele estava arrepiado. Não só isso, ele estava com as pernas totalmente moles e adormecidas, num misto de medo e perplexidade.
E sobre você, amor, ele disse alguma coisa?
Dis.se..pa..ra....que..eu não ...pe..casse.. de nno..vo... - Natasha adormeceu.
Natasha!!! Natasha!! Não morra!!!
Calma, garoto - disse o médico - ela só adormeceu. Fique tranqüilo, mas saia agora, temos que seguir os procedimentos necessários.
E assim foi.
Natasha saiu do hospital em 20 dias. Sem explicação convincente, os médicos quiseram impetrar a si mesmos um erro de avaliação e diagnóstico,dizendo que pensaram que havia câncer onde nada existia, mas não sabiam explicar as dúzias de exames, de biópsias, de ressonâncias e de quimioterapias feitas. Claro, grande parte da medicina desconhece o poder de Deus, a misericórdia do Altíssimo. E um câncer desaparecido tem que parecer um mero "erro médico". Mas o milagre acontecera de fato...
Outra tarde, fim de expediente no escritório de Luciano, Natasha de pé em frente à escrivaninha de trabalho dele.
Luciano, de agora em diante eu viverei cada dia como um milagre do
Senhor, e viverei apenas e tão-somente para a glória Dele.
Que bom, Natasha! Espero que você seja feliz! Orarei sempre por você!
Luciano...
Fale, querida.
Quero pedir só mais uma coisa.
Se eu puder atender...
Eu quero me casar com você e ser a sua mulher, a sua companheira, e servir ao Senhor ao seu lado. Eu te amo! Me perdoe por tudo que fiz!
Era tudo o que o rapaz queria ouvir. Sorridente, abriu a gaveta da escrivaninha e tirou uma linda boneca de porcelana, numa casinha de papelão, idêntica à primeira, presenteada quando começaram a namorar. Levantou-se, entregou-lhe a boneca, abraçou sua amada pela cintura, trazendo-a para junto de seu rosto, e lhe disse, com um brilho jamais visto em seu olhar:
Eu perdôo você e quero recebê-la como minha esposa, meu amor. Eu te amo!
Também te amo, querido!
Não se podia descrever o que era mais bonito e brilhante; se o brilho do sol da tarde, clareando toda a sala pelas vidraças, ou se o brilho do beijo de Natasha e Luciano, ao som da mais linda música que o mundo pode ouvir: o palpitar de dois corações apaixonados.
Aliás, apaixonados por Deus primeiramente, e, por causa do Senhor, apaixonados um pelo outro...
Quando vc conta uma mentirinha, do tipo, quando alguem atende o telefone e vc pede: "fala que eu nao estou", a pessoa que atender o seu pedido serah cumplice de sua mentirinha e em seu inconsciente, em muitos casos, passarah a pensar duas vezes antes de acreditar em vc novamente.
Mentir eh um pessimo habito que, alem de desnecessario, eh um flagrante de fraqueza moral, seja por preguica, covardia ou um suposto beneficio proprio, de quem, a cada mentirinha, acaba destruindo a sua propria credibilidade ateh que fique desmoralizado.
Quer ser respeitado, liderar pessoas e crescer como ser humano? Pense sobre isso. Tem muita coisa por ai que apesar de ser muito comum, nao eh normal.