Textos de Tati Bernardi
Não fale, não conte detalhes, não satisfaça a curiosidade alheia. A imaginação dos outros já é difamatória o suficiente.
Perdi muito tempo até aprender que não se guarda as palavras, ou você as fala, as escreve, ou elas te sufocam.
Aprenda a se preservar. A falar pouco ou quase nada. Aprenda que coisas do coração são coisas sagradas, e só devem ser ditas a quem vai ouvi-las com carinho e ficar feliz junto contigo. Alguém que, ao ouvir que algo te incomoda, vai torcer muito pra que isso passe, e que você supere. Desabafo a gente faz a quem torce verdadeiramente pra que os ventos mudem, e os caminhos bons apareçam na nossa frente.
Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente. - Tati Bernardi.
Tenho vontade de te chamar de idiota. Porque é isso que você é. Tá me perdendo e não percebeu ainda. Tá esperando legenda? Eu choro, respiro, tenho medo mas isso não faz a mínima diferença pra você. Mas eu insisto em nós e vim aqui te pedir cuidado. Não me deixa ir embora, isso é quase uma súplica. Cuida do pouco que restou de nós pra ver se ainda vai restar alguma coisa pra contar pros nossos filhos - se eles existirem, claro - Mas não deixe eu sair por aquela porta. Mesmo que seja de mãos vazias. Eu não voltaria pra buscar nada. Porque na verdade, não ficaria nada para trás. Nem roupas, nem jóias. Nem amor. Nem lembranças. E isso vai doer que eu sei. É, eu só lamento, sabe. Lamento ter visto muita coisa numa pessoa que não viu nada em mim.
Tem gente que é muita coisa, mas falta ser de verdade.
Eu sofro sendo assim, eu sofro porque, quando você acha mais da metade do mundo babaca, você passa muito tempo sozinho.
Apesar de todas as tempestades, todos os tropeços, todas as lágrimas a gente sempre tem que acreditar que algo bom está vindo por aí. É essa fé, que brota da gente, que muda nossas rotas e encontra a felicidade dentro de nós mesmos.
Passou pela minha cabeça voltar, mas o vento balançou os meus cabelos e mostrou que o caminho é para frente, reto e sem curvas.
Felicidade é quando a boca é pequena demais pro tamanho do sorriso que tua alma quer dar.
"Por mais que todas as terapias do mundo, todas as auto-ajudas do universo e todos os amigos experientes do planeta me digam que preciso definitivamente não precisar de você, minha alma grita aqui dentro que, por mais feliz que eu seja, a festa é sempre pela metade. É você quem eu sempre busco com minha gargalhada alta, com a minha perdição humana em festejar porque é preciso festejar, com a minha solidão cansada de se enganar!"
“Eu não fumo, eu odeio cigarro, eu odeio atravessar a festa inteira pra chegar até lá fora, eu odeio a amizade instantânea das rodinhas de fumantes que não se conhecem, eu odeio festas em geral, eu odeio papos de festa, eu odeio conhecer gente que não tem nada a ver comigo, e sorrir para os papos mais furados do mundo. Eu sei, eu deveria beber. Mas pra quê? Pra achar essas pessoas legais? Pra suportar o insuportável? Sou cínica demais pra dar esse gostinho ao mundo.”
“A gente alonga a história, nem que seja para dizer que chorou. Porque terminá-la, colocar um ponto definitivo, é duro demais. A gente vira dor para não virar fim.”
“Não consigo ser extremamente discreta. Falo alto, dou risada das desgraças dos outros, adoro falar. Confiante. Contraditória. algumas Cicatrizes. várias Histórias. Dizem que no inesperado Deus abre várias portas. E é disso que eu gosto. Eu me viro. Tudo certo como 2+2=5.”
“Impressionante como a gente sofre por nada.”
“Comédias românticas. Criando falsas expectativas no mundo desde 1959.”
“Antes de dormir orei, pedi a Deus que perdoe tanta ingratidão de minha parte, por não enxergar tudo de bom que a vida me oferece, e continuar aqui me lamentando.”
E deixa para trás o que te magoou, amanhã é outro dia.
É triste saber que falta alguma coisa e saber que não dá pra comprar, substituir, esquecer, implorar. Mas amor, você sabe, amor não se pede.
Vence quem passa por essa vida rindo. E se o preço que se paga por ser um pouco feliz é ser um pouco idiota, dane-se.
“Quando eu parei de procurar ser amada, parece que o mundo começou a me amar mais.”
“Tanto homem por ai, querendo uma mulher interessante igual a você, e você ai perdendo tempo atrás desse menino? Acorda amiga, mulher precisa de homem, e homem precisa de mulher. Meninos só precisam de uma mãe e um playstation.”
“Eu quero que dê certo, não estraga, por favor. Não estraga, não estraga, não estraga.”
Aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cínica com a vida, o que também foi uma pena, mas necessário. Viver pra sempre tão boba e perdida teria sido fatal.
“Eu que gritei para tantas pessoas ficarem, hoje só quero mesmo é que elas sumam de uma vez por todas. E em silêncio, que é pra ninguém ter porque se lamentar.”
“E eu quero muito. Muito. Porque você tem a voz mansinha e só fala coisa inteligente. E você é cínico sem ser maldoso. Mas não, não. Estou morrendo de vontade de ser eu, mas ser eu só tem me feito perder e perder. E eu quero ganhar. Só dessa vez. Chega. E eu quero me dar de bandeja pra você. Chega de fazer tudo errado. E eu te espio da janela, indo embora. E quero berrar o quanto gosto de você. E te pedir em namoro. E rasgar sua roupa. E dormir enroscada no seu cabelo.”
“Não estar apaixonada é a segunda melhor coisa do mundo.”
“Estrago a pessoa amada em sete dias.”
“Eu não fumo, eu odeio cigarro, eu odeio atravessar a festa inteira pra chegar até lá fora, eu odeio a amizade instantânea das rodinhas de fumantes que não se conhecem, eu odeio festas em geral, eu odeio papos de festa, eu odeio conhecer gente que não tem nada a ver comigo, e sorrir para os papos mais furados do mundo. Eu sei, eu deveria beber. Mas pra quê? Pra achar essas pessoas legais? Pra suportar o insuportável? Sou cínica demais pra dar esse gostinho ao mundo.”
“Eu sou feliz, cara. Eu sou feliz demais. Mas eu sou infeliz demais, quando penso em você. Quando penso no que poderia ser, no que poderia ter sido. Eu sei que não dá. Eu nem quero que dê. Não quero mais. Mas não sei o que fazer com esse nó. Vai passar né? Eu sei. Com o tempo eu não vou mais olhar sua foto, nem sofrer, nem pensar o quanto é infeliz tudo o que aconteceu. Tomara que passe logo.”
“Aprende. Aprende. Aprende que dói menos.”
“Existe alguém no mundo, nesse momento, que poderia te ligar agora e te deixar feliz?”
Porque era bom e tal. Aliás, meu Deus, como era bom. Mas não era bom pra ficar junto, certo? Então pronto. Chega.
Estar com alguém errado é lembrar em dobro a falta que faz alguém certo.
Acho tudo um grande porre. Um grandessíssimo porre. De vez em quando, no meio do porre, a gente arruma alguém pra fazer uma coceguinha no nosso coração. Mas aí, depois da coceguinha, a vida volta ainda mais tosca. E tudo volta um porre ainda maior.
Porque ninguém se mantém interessante ou mágico. Mas a gente espera, lá no fundo, perdido, soterrado e cansado, que a vida compense de alguma maneira. E a gente ganha dinheiro, compra roupa, aprende novas piadas, passa protetor labial. Só pra que a vida compense em algum momento. Só pra ganhar a coceguinha no coração. Coração burro, tadinho. Que preguiça desse coração burro.
Alguma coisa deu errado em mim, eu não sei te explicar e eu não sei como arrumar e nem sei se tem ajuda pra isso. Mas meu corpo inteiro se revolta quando gosto de alguém. Me armo inteira pra correr pra bem longe e pra lutar com unhas gigantes quem tentar impedir. Me mata constatar como é ridículo ficar com saudade só de você ir tomar banho. Ter que sentir ciúme ou mágoa ou solidão e sorrir para não ser louca. Eu sinto de um tamanho que eu não tenho e então começo a adoecer, como sempre. Eu não sou louca, eu só não tenho pele pra proteger e quando você toca em mim eu sinto seus dedos e olhos e salivas deslizando por todos os meus órgãos. E você não precisa entender o medo que isso dá, mas talvez um dia possa ter carinho.
Eu não aguento mais começar. Queria tanto continuar. Não sei, não aguento, ainda não posso, mas queria continuar.
“Passo cada segundo do meu dia me jurando ser indiferente com você. Você fala comigo, eu cumpro a promessa. Você não entende, pergunta se eu tô chateada e o que aconteceu. Não foi nada. Só tô cansada de você, de nós, de tudo isso. Tô de partida, malas feitas, mesmo você não acreditando. Pra não me cansar mais ainda, paro no ‘Não foi nada’. E você sai, irritado e com um “tchau” que eu odeio mais que tudo. Mas já não importa, tchau pra você também. Afinal, nada pode ser mais difícil do que ficar na situação que eu tô a tanto tempo. Ser indiferente vai ser fácil. Dor é normal, se não for forte, eu já nem sinto mais. Sempre te tratei melhor que todos os outros, e o que você faz que te torna melhor que eles? Seguindo essa lógica, teria o direito de te tratar até mal. Mas não sou assim, uma pena. Acontece que agora eu não dou mais o meu melhor pra quem me dá pouco. Não corro atrás de quem não dá um passo por mim. Não faço festa quando alguém que sabe que eu tô louca de saudades e não move um dedo pra me ver, vem numa droga de chat e fala “E aí”. Te acostumei muito mal, mas agora vou desacostumar. Porque meu medo de te perder, virou meu objetivo, então nada me prende. E se ir te matando aos poucos levar um pedaço de mim, que leve. Porque a dor de você na minha vida me afeta inteira e eu não aguento mais.”
“Tem palavras que parecem cacos de vidro, mas a gente prefere engolir e se cortar por dentro, do que colocar para fora e ferir alguém.”
Eu fico triste dele estar mal mas ficaria muito pior se ele estivesse bem.
“Passo cada segundo do meu dia me jurando ser indiferente com você. Você fala comigo, eu cumpro a promessa. Você não entende, pergunta se eu tô chateada e o que aconteceu. Não foi nada. Só tô cansada de você, de nós, de tudo isso. Tô de partida, malas feitas, mesmo você não acreditando. Pra não me cansar mais ainda, paro no ‘Não foi nada’. E você sai, irritado e com um “tchau” que eu odeio mais que tudo. Mas já não importa, tchau pra você também. Afinal, nada pode ser mais difícil do que ficar na situação que eu tô a tanto tempo. Ser indiferente vai ser fácil. Dor é normal, se não for forte, eu já nem sinto mais. Sempre te tratei melhor que todos os outros, e o que você faz que te torna melhor que eles? Seguindo essa lógica, teria o direito de te tratar até mal. Mas não sou assim, uma pena. Acontece que agora eu não dou mais o meu melhor pra quem me dá pouco. Não corro atrás de quem não dá um passo por mim. Não faço festa quando alguém que sabe que eu tô louca de saudades e não move um dedo pra me ver, vem numa droga de chat e fala “E aí”. Te acostumei muito mal, mas agora vou desacostumar. Porque meu medo de te perder, virou meu objetivo, então nada me prende. E se ir te matando aos poucos levar um pedaço de mim, que leve. Porque a dor de você na minha vida me afeta inteira e eu não aguento mais.”
Obrigada por me aceitar de volta mesmo depois de tantos erros e traições. Te amo, calça 36.
Nada como um outro após o dia.
Primeiro, você sente muito. Depois, você sente falta. Quando percebe, você sente mais nada.
Homem acelera, acelera, acelera...
Depois puxa o freio de mão e quem roda é você.
Pessoas são interessantes apenas na minha imaginaçao. Depois que passam a ter vida propria, tenho vontade de jogá-las da minha janela.
Primeiro dia sem você
Acordo feliz, nada como acordar triste para não carregar a espera da decepção. Tomo um banho demorado escutando Cake no último volume. Claro que não é para te provocar, você não está lá para ouvir a banda que você tanto odeia apenas porque você tem ciúmes de tudo o que eu gosto, mas é para impor ao mundo que eu voltei, estou única e exclusiva novamente. Eu e o meu mundo. Eu e minha solidão sem preconceitos e sem lições de moral, minha melhor amiga, a solidão, nunca vai me achar estranha justamente porque é filha predileta da minha estranheza.
Tomo café com ela que, assim como eu, não come muito. A solidão precisa manter a forma para me acompanhar eternamente, e eu preciso não vomitar pelo inchaço que ela me causa.
Coloco uma roupa estranha, minha pulseira de dentes que você odeia, minha bota que não me deixa nada feminina e pinto os olhos, adoro não precisar parecer uma moça com dono.
No carro escuto Nação Zumbi no último volume, você não conhece, nunca se interessou, como pode? Um movimento tão charmoso ou, no mínimo, uma música boa pra dançar. Lembro que você escuta o mesmo cd do Bob Marley há vinte anos e só troca quando algum amigo seu te dá alguma dica, as minhas dicas são sempre chatas, meu mundo te encheu, como você disse. Dou graças a Deus de estar tão bem acompanhada dentro do meu universo. Eu e Nação Zumbi, eu e Billie Hollyday, eu e Cake, eu e Frank Sinatra, eu e o silêncio do meu carro, sem ninguém pra me dizer que eu freio muito depois do que deveria.
Se eu quiser, hoje, alugo um daqueles filmes europeus p&b e assisto embaixo da minha coberta com um pijama bem feio e meu cabelo em seu pior estado. Quem sabe eu não tiro umas melecas do nariz, beijo minha cachorra na boca e solto pum. Eu e meus filmes prediletos, eu e minha filha peluda, eu e as extensões do meu corpo.
Faço aula de yoga ou musculação? Encontro o meu novo amigo interessante para um café ou bato papo com a minha nova amiga sobre essa nossa mania de não saber ser feliz, mas impor ao mundo o tempo todo a cartilha da felicidade?
O mundo é enorme sem você, sem o seu amigo que solta fogos de artifício com o cofrinho aparecendo mas me acha uma babaca, sem o seu amigo que nunca nem olhou na minha cara direito mas bate em mulheres, e sem a sua amiga que cheira enquanto o pinto do marido não levanta e a bebê chora. O mundo é enorme sem toda a culpa que eu carrego por não ser a menininha leve e sem preconceitos que curte ver o desenho da Lua no mar e não se abala com tanto amor e nem com o medo e o cansaço que viver causa.
Eu sei que sou pesada, triste, dramática, neurótica, louca, insatisfeita, mimada, carente. Mas você se esqueceu da minha maior qualidade: eu sou só.
Eu era só aos cinco anos quando eu não entendia porra nenhuma do que estava acontecendo e corria para rezar no banho. A fumaça de cigarro tomando toda a casa enquanto meus pais decidiam absolutamente nada em longas discussões que sempre terminavam com a minha mãe jogada em algum canto tremendo e vomitando, e eu com a certeza de que ela morreria cedo. Hoje em dia ela sinaliza o tempo todo que pode morrer por falta de carinho, e eu não consigo dar a mínima.
Eu era só quando descobri que não controlo a vida, primeiro a minha mãe namorando justo no horário do Corujão do sábado, o horário em que eu podia ficar acordada até mais tarde namorando ela num mundo escuro e longe de tudo, depois as uvas lavadas em vinagre me esperando para sempre e meu avô morto no quarto ao lado, as meninas da escola ganhando corpo e charme antes de mim, o meu jeito estranho de ter medo de perder o controle e de multidão.
Eu era só pesando doze quilos a menos, quando o mundo inteiro queria que eu comesse pra não morrer, e eu querendo viver tanto que tinha medo de não conseguir, como tudo que sempre quero muito, e acabo fodendo logo pra não ter que viver com a ansiedade do desejo maior do que eu. Eu quase morri de tanto que queria viver. E eu tô quase acabando com o seu amor por mim, de tanto que eu quero que você me ame. Percebe? Louca. Louca e só, porque ninguém vai agüentar isso.
Eu sempre estou só quando sou tomada por um susto longo e paralisador que dá vontade de me concentrar apenas em mim, e não ver nada e nem ninguém, por isso quis chorar só e escondida atrás da porta, como um rato que todo mundo tem nojo, que causa doenças, que tem um longo rabo deixando tudo entreaberto para trás, mas que no fundo só quer um pouco de queijo, como qualquer criança bonitinha. Carregar nossa alma, com tudo o que ela tem de bom, de mal e de incompreensível, é uma tarefa solitária.
Eu sempre fui só querendo ter uma família grande, café da manhã, Natal, cachorro, e eu continuo só quando te vejo como minha família, mas você me deixa sozinha com duas ou três opções de suco para uma ou duas opções de pão. O mundo é cheio de opções sem você, mas todas elas me cheiram azedas e murchas demais.
Eu continuo só quando quero escrever uma vida com você, mas você detesta meus caminhos anotados e minhas regras. E eu detesto seu sono e sua ausência. Eu detesto seu riso alto e forçado pisoteando o meu mundo de sombras, eu detesto você saindo pela porta e as paredes se fechando, se fechando, e eu sem poder berrar para, pelo amor de Deus, você me resgatar, e me colocar no colo, e me dizer que você me entende e sofre também.
Eu sou só porque enquanto eu pensava tudo isso, você impunha aos quatro ventos, querendo parecer muito forte e macho para seu grupinho muito forte e macho, que você poderia simplesmente abaixar meu som ou mudar de canal, como um programa chato qualquer que passa na sua tv.
Eu hoje fui ao banheiro duzentas vezes para ficar longe do meu celular e do meu e-mail, ficar longe de todas as possibilidades da sua existência. Me olhei no espelho bem profundamente para enxergar minhas raízes e ganhar força, chorei algumas vezes, fiquei sentada no chão do banheiro, para ver se meu corpo esquentava um pouco ou porque estava mesmo me sentindo um lixo. O ar-condicionado hoje está insuportável, mas eu não acho que mude alguma coisa desligá-lo.
Estar sozinha não muda nada, conheço bem esse estado e, de verdade, sei lidar até melhor com ele. O que me entristece, é ter visto em você o fim de uma história contada sempre com a mesma intensidade individual.
Eu tinha visto na sua solidão uma excelente amiga para a minha solidão. Achei que elas pudessem sofrer juntas, enquanto a gente se divertia.
“Primeiro eu queria um lindo, inteligente e fiel. Depois, lindo e inteligente. Agora, só fiel mesmo.”
Me empresta seu sorriso para eu achar graça na vida.
“Ela sabia que precisava dele. Pelo menos naquela noite chuvosa e sem grandes esperanças. Mas tinha medo da compulsão. De querer ele sempre e sempre e pra sempre. E amanhã e depois. E de dia, e tarde, de madrugada. E não saber digerir tanto amor e tanto amor acabar lhe fazendo mal. Só mais um pouquinho, pensou. Uma lasquinha. Pra dormir feliz. Amanhã era amanhã. Depois ela resolvia.”
“Sou uma ferida fechada. Sou uma hemorragia estancada. Tenho medo de deixar sair uma letra ou um som e, de repente, desmoronar.”
“A dor da sua partida trouxe toda a dor do mundo. De uma só vez.”
“Se ele é burro o suficiente para ir embora… Seja inteligente o suficiente pra deixá-lo ir.”
Ao mesmo tempo a gente dá a mão. E dá a outra. E daria uma terceira se ela existisse.
Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, prender, levantar e seguir em frente.
Sou isso hoje...
Amanhã, já me reinventei.
Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim.
Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina... E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar...
Não me dôo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil...e choro também!
" Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer.
Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, será que ele deixa você ficar comigo pra sempre?
Será que ele deixa?"
"Dessa vez, com você, eu queria que desse certo.”
"Quando vai dando assim, tipo umas onze da noite, o horário que a gente se procurava só pra saber que dá pra terminar o dia sentindo algum conforto. Quando vai chegando esse horário, eu nem sei. É tão estranho ter algo pra fugir de tudo e, de repente, precisar principalmente fugir desse algo. E daí se vai pra onde?"
Mas quem disse que eu não posso suportar? Eu vou suportar, vou suportar até não caber mais choro em mim, e um dia eu vou te encontrar e sei que nenhuma terminação do meu corpo vai sentir a sua presença.”
Porque era bom e tal. Aliás, meu Deus, como era bom. Mas não era bom pra ficar junto, certo? Então pronto. Chega.
Passei tanto tempo, me importando, me chateando, ligando, correndo, fazendo das tripas corações para segurar o amor que restava nas costas. Agora eu prometi a mim mesma que não carregaria mais nada, peso nenhum sozinha. Não importo tanto, não me chateio tanto, não ligo tanto, não corro tanto e adivinhem só? Também nem preciso segurar mais amor nenhum, parece que agora ele vive flutuando e me acompanhando sempre. Quando eu parei de procurar ser amada, parece que o mundo começou a me amar mais.
Eu treinei viver sem você. De tanto treinar, me acostumei.
Afinal, sabem meu nome e pensam que sabem a minha vida inteira.
Não é ser fria, é ser cuidadosa. Não é ser grossa, é falar a verdade. Não é ser metida, é ter amor próprio. Não é ser difícil, é ser seletiva. Você precisa ser mais franca e esperta. Tanto homem por ai querendo uma mulher interessante igual a você, e você ai perdendo tempo atrás desse menino? Acorda amiga, mulher precisa de homem, e homem precisa de mulher. Meninos só precisam de uma mãe e um playstation.
Garçom… que dose de mentira você tem?
- Temos: eu te amo, nunca vou te deixar, eu quero você comigo, sinto saudades e também temos uma que anda saindo bastante: ‘pode confiar em mim’.
- Ah… Manda todas que hoje eu quero me iludir!
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O cérebro é o órgão de maior destaque. Funciona durante 24 horas, 365 dias, desde seu nascimento… Até que você se apaixona.
Tudo na vida tem volta. Tranqüilo você pode ficar, riscos de amar sem ser amado, você não há de correr não. Amor de verdade você não sabe diferenciar. Dizer que vou ser feliz agora? Quem sabe? Dizer que você vai se dar bem? Tomara! Aprendizados são pra vida toda, mas amor unilateral na vida da gente uma só vez é suficiente.
Eu preciso disfarçar que não paro mais de rir, mas aí olho pra você e você também está sempre rindo. Eu quero eternizar o seu sorriso lindo – mas eu nunca falei dele pra você. Nem falei do seu cheirinho bom.
Quando ele sorri, doce, imagino meus filhos.
Me empresta seu sorriso para eu achar graça na vida.
E quem diria. Quem diria. Ontem mesmo, conversando com vários amigos, eles me disseram que eu não mais parecia comigo. Eu pareço eu sim, mas vou ganhando o mundo quando abro algumas brechas da minha prisão. E de brecha, vou me ganhando também. E quase vira o estômago mas sou tomada por uma fome boa que eu nem sei o nome. Talvez acreditar assim, sem medo, em algo descontrolado e de alguma forma justo, seja acreditar em Deus. Durmo em paz. Tudo na hora certa. As coisas são como são.
Já se foi o tempo em que tentava ensinar algo a alguém. Antes eu tentava entender, tentava ajudar, compreendia “tadinha, é imaturidade”. Hoje, perdi a paciência. Saí do jardim de infância e fui direto pro mestrado: pra estar comigo, tem que entender do assunto.
“E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim. Coitado.”
“Eu não preciso de você nem pra andar e nem pra ser feliz, mas como seria bom andar e ser feliz ao seu lado”
“Eu achava que era você. Na rua, no supermercado, na fila do cinema. Virei uma caçadora de você em todas as pessoas. Eu queria te ver. Apenas.”
Dias em observação
Ela veio cheirosa e molhada, desfilou por um erro em mesas próximas e caiu bem na minha frente. Foi em um castelo medieval que voltei a comer carne, eu estava com meu modelito princesa mas tinha fome de besta. No princípio, enchi a boca com uma culpa tão vulgar que me fez gostar ainda mais de dançar com seus restos pelo sangue do prato.
Ele parece alto num primeiro momento, mas se você olhar direito, tem o charme cafajeste de quem vê o mundo mais de baixo. Não tem jeito aquela boca cortada, seus olhos são de uma profundidade quase cansada. Vai saber o que ele tem, nem ele sabe. Mas tem. Nem posso dizer que tentei evitar, pois já descobri que se você evitar a vida, ela acontece do mesmo jeito. Foi assim que inaugurei já de partida o maior quarto do mundo. Depois que a gente brincou de milionários na suíte de mil euros por dia, roncamos como pobres alcoolizados. Ele de vinho da casa, eu de esquecimento da casa. Emprestamos o romance de nossas mentes criativas para brindar o momento, só mesmo amigos poderiam se dar a esse luxo. No dia seguinte, para que nem a gente desconfiasse de nada, voltamos a nos tratar como irmãos adolescentes que se odeiam.
Foi quando descobri a cama de casal com vista para os canhões de Napoleão que me dei conta que estava completamente sozinha. Por um instante quis sentir falta de alguém, mas não consegui me lembrar de ninguém. Por outro instante quis inventar uma pessoa, mas eu era tão de verdade naquele momento que me faltou capacidade para ser enganada. Na cidade mais romântica do mundo amei meu medo, meu quarto, minha cama, meu banheiro, minha coragem, minhas próximas horas pelo resto da vida, minha quase morte que agora me enchia de novidades, meu silêncio, a extensão do meu pânico curioso que iluminava toda a cidade, minha tranquilidade madura, toda a bagunça da minha cabeça. Sim, a garotinha magrinha, branquelinha, assustada, sensível, cheia de ódios, cheias de erros e cheia de si, agora apenas recomeçava no corpo de uma mulher invisível. Amei que o mundo estava em festa e meu convite dava direito apenas a uma pessoa.
Só me restava mais uma hora e decidi correr futilmente por todas as salas até que o encontrasse. As pontes borradas, instantâneas e floridas me emocionaram mas não me fizeram desistir da busca, as bailarinas tomaram alguns segundos do meu tempo, Lautrec mereceu minutos. Nos quarenta e cinco do único tempo, ele apareceu, por um desses mistérios da vida a sala estava vazia e eu pude ficar bem de frente e chorar como uma criança. O quarto de Van Gogh, que antes era uma cópia barata em cima da cama do meu primeiro grande amor, agora era autêntico e só meu. Os grandes amores são assim mesmo, eles nos dão o caminho da emoção, mas os sentimentos de verdade são apenas nossos, ninguém copia, ninguém leva, ninguém divide.
Quem diria meu vestido de bolinhas e rendas no meio de tantas calças Diesel e garotas que se chamam e pensam no diminutivo. O homem mais lindo do mundo não sabe terminar uma frase sem espremer o cérebro e cuspir carne com o carro em movimento. A garota mais linda do mundo só sabe sorrir se for ganhar alguma coisa em troca.
Elas torcem para namorar os jogadores do “Barça” e são, em suas cabeças brilhantes de tinta, as primeiras damas da cidade. Eles deixam o cabelo crescer, abrem a camisa até metade do peito e torcem para que alguém os ache bacana, assim, eles realmente podem ser bacanas. Não, ninguém trabalha, estuda ou sabe o que quer da vida. Ainda assim, seus passos são infinitamente mais duros e rápidos que os meus. São passos que de tanto ensaiar para não cair do salto, sempre disfarçam a longa queda. Elas empinam o queixo maquiado, o peito siliconado, a bunda etiquetada e a alma oprimida. Elas sabem de cor os hits do verão europeu, assim como qualquer animal enjaulado dentro de um circo que sintoniza a Jovem Pan.
Elas têm a cor do verão, a roupa da moda, o namorado que a amiga queria, os amigos que interessam, a alegria de um remédio, a paz de uma ressaca.
Eles não sabem fugir para o lugar sagrado do peito, eles não sabem dormir num lençol branco e puro e sonhar com tudo o que é bom na vida, eles não sabem abraçar um amigo de verdade e encontrar um grande amor. Mas nada disso importa, as drogas estão aí justamente porque tudo isso cabe na palma da mão, assim como o dinheiro que os pais continuam mandando. São todos tão lindos mas estão todos tão mortos. Uma linda morte em série porque até para morrer eles precisam andar juntos. Isso me lembra a frase “todo animal fraco anda em bando”.
A lata de lixo piscou pra mim, me convidando a descarregar a porra do papelzinho amassado ali mesmo e, finalmente, respirar um pouco. Nele eu tinha escrito todas as dicas de ruas, cantos, esquinas, museus, restaurantes, parques, cidades, obras e pessoas que eu queria ver pelos próximos infinitos e curtos dias. Chega, lancei longe a obrigação já conhecida e castradora de ser feliz e descansei meu vazio preenchedor num centro qualquer de um bairro sem nome.
Duas crianças me olharam, o Sol fez um triângulo entre meus pés cansados e os pés em nuvens daquelas crianças. Um velho começou a tocar violino, eu lembrei que naquela brincadeira de pensar que instrumento musical a gente seria, eu sempre quis ser um violino. Tinha a alma aguda, triste, fina, rasgada no limite da beleza.
Uma motoca passou gritando que a Argentina tinha perdido, um negro de cueca preta posou imperial e gritou por gritar de alegria, melancolia, vazio, calor e eterna bebedeira. Minha máquina comprada no museu do Picasso, em homenagem a fase azul do artista, tirou lindas fotos azuis daquelas crianças entre o nosso triângulo perfeito e o resto todo que nos circulava.
De dentro do restaurante a mulher que eu nunca seria alimentava metros e metros de pernas com muito presunto e olhares de porcos. Ela era mais forte que o calor, que a sensibilidades das tripas, que a vida que acaba, que o amor que não existe. Ela nem pensa em nada disso, apenas cruza as pernas, come presunto e alimenta quem por causa dela sobrevive mais um minuto sem ser o centro do mundo. Tudo bem, eu preciso dela para ser estranha, ela precisa de mim para virar poesia.
Uma caixa de Lindt para não morrer com a falta que me faz o feijão, uma espirrada de mel e própolis para não sufocar com tanto mundo além do meu mundinho, um simples botão atrás da cama e o Mediterrâneo me engole para que eu nunca mais chore de saudades da pequena prainha que ficava ao lado da casa, um gol sem marcação e meu país chora bem longe de mim, choro também, mas só por estar longe. Um choro de emoção.
Um euro e eu ganho um manto verde para cobrir meu vestido decotado e comprado nas “rebaijas”, agora posso entrar na igreja e rezar um pai nosso, sem nem saber direito o que pedir, parece que tenho tudo. Só agradeço.
Um casal de mãos dadas quase teve pena de mim, depois sorriu de reconhecimento, afinal, eu era parte deles e eles eram parte de mim. Caralho, eu pensei com saudades de falar um bom palavrão na minha língua: eu agora era do mundo e o mundo era meu!
Eu gostei de você porque você é meio ogro, meio doce, você é ogrodoce.
Quando eu gosto de um menino, fico com raiva e trato super mal. Minha prima de nove anos faz igualzinho.
Nenhum homem vai conseguir me diminuir porque eu sou legalzinha pra carambinha.
Eu tô na fila do transplante de esperança
Vocês são lindas? Pois saibam que eu sou bonitinha.Ah, e eu sei fazer um homem rir e não é da minha cara.
Ninguém quer só ajudar. As pessoas querem provocar, foder, maltratar, ensinar, desistir, recuperar, judiar, apertar, trair, enjoar, odiar, rasgar, largar, trocar, mudar, se ajudar.
Milhares de pessoas nascem e morrem, milhares de relacionamentos começam e terminam, um objeto que quebra, a garrafa de café quase vazia, uma amizade de anos que ja nao era a mesma. Tudo, do simples ao inabalável, tudo chega ao fim. E há milhares de finais acontecendo todo dia.
Eu não quero que seja pra sempre, nem que seja o certo. Só quero que seja!
Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer.
Às vezes eu acho que eu amo o vácuo. Porque a pessoa que menos me acrescentou, que menos me amou, que menos me fez rir e que eu menos conheci é a que eu amo, ou pelo menos é a que me mata de saudade todo dia.
Que perda de tempo não me amar absurdamente. Não me validar absurdamente. Que perda de tempo. Eu nunca amei tanto cada defeito e bizarrice minha.
Sensível pra cacete, maldosa na mesma intensidade.
Tenho medo de decepcionar as pessoas, de magoá-las, de faze-las cansarem de mim. Só queria que elas também tivessem esse medo.
Prestar atenção em quem te ignora não é masoquismo, é inconformismo.
Somos damas, somos dramas, acostumem-se.
Ontem depois que você foi embora confesso que fiquei triste como sempre. Mas, pela primeira vez, triste por você. Que outra mulher te veria além da sua casca? A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo é melhor do que a nuca do outro no final do dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida. E você me olha com essa carinha banal de ‘me-espera-só-mais-um-pouquinho’. Querendo me congelar enquanto você confere pela centésima vez se não tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E sempre volta.
Volta porque pode até ter uma coxa mais dura. Pode até ter uma conta bancária mais recheada. Pode até ter alguma descolada que te deixe instigado. Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem.
Porque, quando você está com medo da vida, é na minha mania de rir de tudo que você encontra forças. E, quando você está rindo de tudo, é na minha neurose que encontra um pouco de chão. E, quando precisa se sentir especial e amado, é pra mim que você liga. E, quando pensa em alguém em algum momento de solidão, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, é em mim que você pensa. Eu sei de tudo. Mas chega disso.
Caiu finalmente a minha ficha do quanto você é, tão e somente, um cara burro. E do quanto você jamais vai encontrar uma mulher que nem eu. Mas eu já sou alguém e não preciso mais querer ser. E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim. Coitado.
Tenho muitos amigos homens.
Que me contam como enganam e traem suas mulheres, suas namoradas, suas peguetes da semana.
Adoro meus amigos, mas jamais perderia o tempo namorando com eles.
Adoro vocês, homens, sempre tão espertos, inteligentes, cínicos, piadistas, descolados, sexuais e livres.
Adoro tanto que me tornei uma cópia quase idêntica, não fosse pelo meu útero carente e pelo meu decote que ainda grita, pedindo que eu seja um pouco feminina. Um pouco!
Sim , você me trouxe a vida realmente ,pois estava vivendo por viver , estava ficando por ficar , não tinha sentimento algum em mim mais , você me trouxe a esperança , me trouxe o mundo e se tornou meu pedacinho de tudo , de tudo que eu gosto de tudo que eu faço de tudo que eu sinto , e até de tudo oque eu penso , mais paro e penso será que com você é assim ? por um minuto queria sabe oque se passa na sua cabeça quando ouve meu nome ..
Saca Rolha
Estou cheia do azedo que percorre meu fígado e me enche de medo de vazar, de repente, num fim de tarde, numa certeza qualquer de uma roupa branca e equilibrada, numa alegria despretensiosa, numa felicidade sem cérebro, num silêncio mais cansado do que desejado.
Até a borda de mim. Entupida de tudo o que, passiva em ser, apenas sou. Olhos inchados, boca cheia, coração apertando o peito, língua encharcada, a vida latejando e o corpo pesado demais para voar.
Estou cheia de mim e de tudo que se relaciona ao assunto. Cheia da incapacidade em estacionar em um plano, em enquadrar um sonho feito uma borboleta morta, em continuar acreditando no que acreditei até a morte, em ter paz longe das arestas acolchoadas que criei durante toda uma vida de expectativas assustadas.
Sou filha, mãe e escrava do caos, dele me tiro, sem ele não existo. Estou cheia do caos, mas tenho horror ao equilíbrio. Confiro minhas listas compulsivamente, buscando um pouco de linha reta para que eu possa deitar e esquecer das contorções que me apertam até que eu pingue no mundo.
Sou um trapo sujo que lavo e contorço todos os segundos, mas não o tanto que deveria por falta de força, preguiça e vontade de borrar a existência ao lado. Eu preciso ganhar um sopro de vida em qualquer outra vida, para me enxergar além do espelho construído e imposto. Eu preciso me ver responsável por uma palidez matinal, uma pontada no intestino inflamado, uma trepada no azulejo do chuveiro, uma parte suave e instrumental de uma música, um cheiro de podre e solidão na madrugada sem preenchimentos.
Existo apenas para causar, e juro que amo essa palavra “causar” além da gíria que ela sugere. Existo apenas para mim mesma, o tempo todo, como nos contos do Hermann Hesse, tenho nojo e pânico de grupos que se acolhem para que se aceitar não seja um trabalho tão penoso e se sentir possa tranqüilamente ser vazio.
Estou vazando de tanto que me encho de mim, mas tenho muito medo que alguém que não mereça minha intimidade cate pelos cantos assustadores do mundo as minhas tripas. Tenho muito medo que as pessoas sem profundidade conheçam a minha, e mais medo ainda de que a profundidade do mundo me cuspa. Sou uma sem-terra porque desprezo o superficial, mas dói demais ser intensa o tempo todo, e preciso fazer luzes, compras e sexo casual.
Cheia dos meus preconceitos, da vontade que tenho de cagar em cima da cabeça de todo mundo que faz beiço para insinuar sexualidade, de todo mundo que se enfia num terno para insinuar vitória, de todo mundo que se enfia atrás de uma mesa para insinuar vida, de todo mundo que se enfia atrás de uma garrafa para insinuar alegria, de todo mundo que se enfia num bando para insinuar existência, de todo mundo que se esquece no Sol para insinuar luz.
Até o topo, até o céu, atolada, tô por aqui comigo. Cansada do meu vício de organizar tudo o que sou e de não deixar espaço para o novo, para o que eu poderia ser, para o que eu nem sei que é.
Queria agora que uma asa rasgasse as minhas costas porque, mais do que sentir a dor da liberdade, preciso não ter sexo, nem nome, nem tempo e nem casa. Preciso enxergar e sobrevoar o mundo sem ser eu, para que ser eu não seja este mundo tão pequeno e apavorado. Preciso ser qualquer coisa que eu não saiba.
Quero me chacoalhar e implodir essa rolha que me prende em mim, e me espalhar pelas terras, e banhar bostas, e acolher vermes, e alimentar tudo o que é rasteiro, tudo o que é pequeno, tudo o que não é, tudo o que é chão.
"Eu preciso disfarçar que não paro mais de rir, mas aí olho pra você e você também está sempre rindo. Se isso não for o motivo para a gente nascer, já não entendo mais nada desse mundo. Você me transformou no eufemismo de mim mesma, me fez sentir a menina com uma flor daquele poema, suavizou meu soco, amoleceu minha marcha e transformou minha dureza em dança. Você quebrou minhas pernas, me fez comprar um vestido novo, tirou as pedras da minha mão. Você diz que me quer com todas as minhas vírgulas, eu te quero como meu ponto final."
Mas não faz isso. Não me olha assim e diz que vai refazer o contrato. Não faz o mundo inteiro brilhar porque você é bobo. Não transforma assim o mundo em um lugar mais fácil e melhor de se viver. Não me faz ser assim tão absurdamente feliz só porque eu tenho certeza absoluta que nenhum segundo ao seu lado é por acaso.