Textos de Tati Bernardi
A carência é nossa inimiga número um. Você já parou para pensar nas besteiras que faz por carência? Liga pra relacionamentos falidos, dá bola pra babacas e o pior: se bobear até acaba abrindo as pernas para um deles.
Tá carente? Pega uma amiga sua que também está e passa uma tarde tentando entender por que os homens são tão idiotas e mesmo assim fazem tanta falta. Você não vai chegar a conclusão nenhuma, mas pelo menos passou a tarde com alguém que, assim como você, tem cérebro. E sentimentos.
Essa é uma dica importante, mas a mais importante é a que vem agora. Preste bastante atenção.
E eu, minhas amigas, que vos escrevo textos com pitadas de uma certa experência de vida. Eu que analiso o comportamento humano com paixão e tenho, depois de algumas desilusões, todos os pés atrás com a raça. Eu que gosto de saber aonde estou pisando e apenas me deixo sobrevoar a espécie quando o macho se mostra apaixonante o suficiente para me dar asas. Eu caí no conto do vigário e agora sinto sobras de invasão neste meu território tão sagrado.
Ah, e ele não gosta dos amigos: ele ama os amigos. E ele não comenta que foi com os amigos no futebol ou beber cerveja: ele ama os amigos.
Deixemos clara a putaria minha gente! Pra que gastar dinheiro em jantares românticos, pra que assistir a filmes que vão além da inteligência sufocada num bracinho forte com a tatuagem à mostra? Pra que mostrar fotos da família? Sim, ele é bonito, ele, de boca calada, tem bastante chance de comer uma ou outra mulher mais espertinha que esteja, no momento, sem nada melhor pra fazer e querendo dar uma relaxada.
É simples. Mulher também faz sexo por sexo, não queremos casar e morar numa casa com cerquinha branca o tempo todo. Sejam sinceras. Agora não venha subestimar nossa inteligência com romance barato até levar-nos para a cama. Não nos leve para a cama com promessas e não ligue no dia seguinte. Isso é herança da época em que ficávamos em casa ganhando peso e imaginando nossos maridos com amantes peitudas e não do tempo atual em que somos as amantes peitudas.
Tá dado o recado, tá vomitada a revolta...
O não que tinha alma de sim
Só quem tem o poder de te fazer sentir viva, pode fazer você se sentir morta.
Só quem arrepia cada centímetro do seu corpo e faz você sentir o sangue bombear num ritmo charmoso, é capaz de estragar o mundo quando parte.
Só quem tem o poder de tornar o mundo leve e fazê-la flutuar, também pode afundar sua noite e fazer com que seu corpo se arraste pelos restos que sobraram da festa.
Aonde está a força de negar um desejo se enquanto ele não é saciado continua existindo?
Desejos nascem, ocupam lugares interessantes do seu corpo, e não morrem antes de um formigamento exausto de prazer, uma manhã de arrependimentos e clicks que a vida nos dá, também chamados de momentos de verdade, que em muito se parecem com toques de mágica para você sair do estado encantado e falso da imaginação.
O tempo não se encarrega de matar desejos, apenas de substituir os personagens.
Você pensa que é forte sendo moralista, respirando fundo, contando até mil, rezando, desviando sua atenção, mas o desejo está lá, num bar com amigos, te olhando de longe.
Ele está no vazio que deixou, na dúvida de como poderia ter sido, na esperança do próximo encontro, na consciência leve pela negação e pesada pela cobrança de um tesão ainda latente.
Pecados existem, não os julgados por Deus, não as pecuinhas julgadas pelos humanos. Pecados existem dentro dos corações traidores.
Mas se antes meu coração ardeu e se assustou de pecados, agora ele chora de saudade, de covardia e de aceitação. Ele está puro e nem por isso tranqüilo.
Esse é o maior problema dos desejos, eles não aceitam não como resposta. Você só coloca um ponto final nele se for até o fim. E o fim pode ser um simples enjôo ou, na pior das hipóteses, a morte.
Mas você viveu. Para matar um desejo é preciso viver, nem que depois você morra junto com ele.
Indo embora para casa, segurei o peito, que parecia solto, e abafei uma lágrima. Como eu queria agora estar com ele. Por aquelas horas de delícias e mais meia de arrependimento na hora de se vestir. Por aqueles segundos de esquecimento, mais meses de lembrança. Por algumas palavras idiotas, mais muitas contidas para não parecer idiota.
O desejo me acompanhou até em casa. Muito, muito mais forte que minha nobreza em ter dito não.
Ele está lá. No seu coração, na sua mente, no cheiro que você carrega junto com seu passado. Ele está em cada batimento cardíaco contraído da sua vagina, em cada torção contraída do seu estômago, em cada momento descontraído de seus hormônios.
Você está aqui. Em cada linha que eu escrevo tentando ser boa redatora, em cada momento correto que eu me agarro para não deixar você errar, em cada provocação estratégica para você nunca desistir de insistir em errar.
Você está aonde eu quero chegar, em tudo que eu quero negar, muito presente.
Não quero uma só uma escapadinha, não quero uma vida ao seu lado. Não quero nunca mais te ver. Queria ter dez minutos com você, o bastante para não mudar minha vida em nada. Quero outra vida. Não estou nem aí pra você. Só penso em você. Você é meu amigo, você é um conhecido, você foi a melhor noite da minha vida. Mais do que qualquer certeza, confusão é paixão.
Quis demais que você fosse embora, quis demais que você ficasse pra sempre, quis não pensar, me agarrei numa lógica fria que berrou no meu ouvido que toda ação tem sua reação.
Toda traidora tem seu dia de enganada. Entenda cada som, de cada letra, de cada palavra, de cada frase, de cada sentença, de cada idéia carregada de desejo, como um grito de cada parte do meu corpo que ficou lacônica quando sua presença física abandonou a brincadeira.
O desejo era tanto, que travei. Tive medo que você tirasse minha maquiagem e a roupa que vesti para seduzi-lo. Tive medo da hora de ir embora, a maior solidão é não poder dormir nos seus abraços, pois ele é meu apenas por horas.
Tive medo de ser só desejo, porque para mim já é mais. Prefiro ser perseguida pelo meu desejo, que não tem dia para acabar, do que ser abandonada mais uma vez pelo seu, que dura no máximo algumas horas.
O gigante
Ontem eu ensaquei o Lorenzo, nosso filho que você me deu em uma das nossas milhares de brigas sem fim e sem jeito. Ele me olhou triste, passivo e impotente, assim como eu também olhei para ele e assim como tenho olhado para o mundo.
Dei um abraço forte no nosso urso cinza e chorei que nem uma criancinha de cinco anos que sofre porque está com rinite alérgica e tem que tirar os brinquedos de pelúcia do quarto. A realidade acabando com a brincadeira mais uma vez.
Depois foi a vez das fotos, eu beijei uma por uma e guardei numa caixa, coloquei a caixa num canto escondido e alto do armário, no mesmo canto escuro e esquecido por onde anda meu coração.
Olhei meu lindo vestido novo e pensei o quanto ele era feio porque eu nunca o colocaria para você. Olhei meus sapatos novos e pensei como seria triste usá-los sem nem saber direito para onde ir. Olhei minha velha cara no espelho e tive muita pena do quanto aquele rosto ainda ia esbugalhar os olhos para o teto lembrando que você disse que nunca desistiria.
Vire e mexe tenho essa vontade de cortar alguma parte do meu corpo, para ver se esguicho pra longe esse sangue contaminado que incha meu corpo de dor e me emagrece de vida. Tenho vontade de me fazer feridas porque parece mais fácil cuidar de um machucado externo e curável.
Outro dia desses eu estava numa padaria com um amigo e ele me perguntou se eu queria um chaveirinho de ursinho, eu disse a ele que só queria morrer, se ele poderia me fazer esse favor. Coitado, ele nunca mais ligou. Ainda bem, só você podia me dar chaveirinhos de ursinho, quem esse cara pensa que é?
Outro dia desses eu estava num bar com um amigo e ele começou a falar de todos os filmes, livros e músicas que eu tanto queria que você falasse. No final da noite eu só queria estar ouvindo aquela merda daquele cd do Alpha Blond, esses intelectuais de merda não chegam aos pés do seu sorriso e nunca vão ter de mim esse amor tão puro, tão absurdo e tão sem fim que eu tinha por você.
A fidelidade não é uma escolha e nem um sacrifício, ela é uma verdade. Por mais que eu tente, só sinto nojo. A gente não se fala mais, eu nem sei mais por onde você anda, eu até tenho o impulso de tentar de novo com outros homens, mas eu só sinto nojo.
A Lolita vive cheirando por baixo da porta e olhando triste para o interfone, outro dia minha mãe perguntou notícias suas e quando ela ouviu seu nome, enfiou a cabeça no meio das patas e só ficou triste, ela se parece comigo mesmo.
Depois do passeio na Liberdade com meu amigo tem um encontro da mulherada no café alí do Itaim. Depois tem cinema com outra amiga e depois, se eu estiver a fim, uma baladinha na casa de outra. Eu tenho um milhão de motivos pra fugir de pensar em você, mas em todos esses lugares você vai comigo. Você segura na minha mão na hora de atravessar a rua, você me olha triste quando eu olho para o celular pela milésima vez, você sente orgulho de mim quando eu solto uma gargalhada e você vira o rosto se algum homem vem falar comigo. Você prefere não ver, mas eu vejo você o tempo todo.
Eu torço pra não fazer Sol, eu torço pra não chover, eu torço para acordar no meio do dia, eu torço para o dia acabar logo. Eu torço para ter alguma coisa que me faça torcer, que me diga que eu ainda sei torcer por algo mesmo sem torcer pela gente.
Minha dança é queda equilibrada, minhas roupas novas são fantasias, meu sorriso é espasmo de dor, minha caminhada reta é um círculo que sempre me traz até aqui, meu sono é cansaço de realidade, minha maquiagem é exagerada, meu silêncio é o grito mais alto que alguém já deu, minhas noites são clarões horríveis que me arregaçam o peito e nada pode me embalar e aquecer, o frio é interno, o incômodo é interno, nenhum lugar do mundo me conforta.
Minha fome é sobrevivência, minha vontade é mecânica, minha beleza é esforço, meu brilho é choro, meus dias são pontes para os dias de verdade que virão quando essa dor acabar, meus segundos são sentidos em milésimos de segundos, o tempo simplesmente não passa.
Às vezes tento não ser eu, porque se eu não for eu, eu não sentirei essa dor. Mas o amor é tanto que até as outras todas que eu posso ser também o sentem.
Hoje menos que ontem, amanhã menos que hoje, e por aí vai. Vou implodir esse gigante dentro de mim e soltar seu pó a cada manhã sem fome que faz doer o corpo todo, a cada banho sem intenção, a cada tarde sem recompensas, a cada noite sem magia, a cada madrugada sem paz.
Um dia o gigante vai cair morto igual ao King Kong e chega dessa dor, dessa incerteza, desse silêncio, dos dias se arrastando, do ódio, das imagens doentias na minha cabeça, da saudade espada que furou meu centro e aumenta o diâmetro a cada movimento.
Só vai sobrar uma tristeza eterna em saber, como todos que já viram esse filme sabem, que o rei da selva, o dono do pedaço, o forte, o poderoso, o assustador, o monstro inabalável que bate no peito e destrói qualquer um, só queria ser amado pela frágil mocinha.
Daqui de longe, enquanto escrevo esse texto chorando mais do que cabe no meu rosto, ouvindo pela milésima vez a música do Damien Rice e sem vontade nenhuma de ter vontade nenhuma, eu escuto seu riso alto, exagerado e constante. E eu só consigo ter mais pena de você do que de mim.
Caro coração que lê,
Meus dedos deslizavam na tela do celular a procura de entretenimento, noticias, fotos, comida e de repente parei em uma foto, era um lugar escuro com uma tela de cinema no fundo, uma foto que para outro espectador passaria entre milhares de outra, mas quando vi seu nome, meu coração por um momento congelou e não era de saudade, era de tristeza.
Isso tristeza, era a marcação de uma foto com outra pessoa. Dei zoom, encarei aquela foto por instantes a procura de algo que nem eu mesmo sabia, talvez eu só queria que não fosse você naquela foto.
E em segundos me veio paranoias, talvez no momento do flash ela estava em seus braços enquanto você sentia o cheiro do cabelo dela, era doce? Ou você a abraçava entrelaçando seus braços pelas costas dela enquanto a aconchegava mais para perto do seu pescoço, voce adorava fazer isso.. mas o que estava pensando e que vocês poderiam ser só amigos e que você estava seguindo a vida enquanto eu paraliso na tela desse celular.
Uma vez li em um desses blogs de relacionamentos que no termino a mulher tende a sofrer mais, a explicação era simples, enquanto a mulher procurava entender o por que do fim, o homem simplesmente deletava tudo que fazia lembrar. Engraçado né? Na teoria parece bem simples a arte do esquecimento. Você não liga, não procura coisas que fazem lembrar, se afasta de todos os lugares possíveis que possam topar, e quando pensar em lembrar dela você preenche aquela lembrança com outra coisa - serve ligar para o amigo, sair para fazer algo ou simplesmente ir dormir - tanto faz a regra aqui é fazer backup. Assim o coração não sente falta. E com o tempo isso faz parte da sua rotina e quando for ver já esta em um outro relacionamento.
Pratico? Posha e eu aqui sofrendo por você ate agora! Acho que devo começar a acreditar que o "amor" é um manual. você sofre somente por que quer.
Sabe quando você era pequena que vivia se ralando por conta das brincadeiras ? Aqueles machucados faziam "casquinhas" e o que você fazia com a casquinha? Isso mesmo, você ia lá e cutucava ate expor a ferida novamente.
Não creio que deletar seu passado seja a forma correta de não sofrer, mas talvez se parar de cutucar o machucado e só cuidar dele com carinho ele um dia cicatriza. Vai ficar uma manchinha um pouco mais claro do que a cor da sua pele, e toda vez que você olhar para ele não vai mais lembrar da dor e sim do aprendizado de como evitar machucados.
Concordo com Tati Bernardi quando ela diz que "Neste circo chamado vida de solteira, tem muito palhaço e pouco mágico", porém afirmo que neste mesmo circo há um belo espetáculo que encanta, seduz, provoca sorrisos e te deixa leve.Palhaços à
parte,me reservo aos encantos e toques certeiros e perfeitos de um lindo mágico.Me rendo ao malabarismo e ao domador que me prende o olhar, me excita de medo e prazer em dedicados e delicados atos de tirar o fôlego.
Ah circo, quanto encanto, surpresa e imprevisível me prendem a você!
Eu ando lendo demais textos de Tati Bernardi, e hoje acordei meu lado Tati e resolvi dar a graça de escrever!
Hoje quando acordei e olhei pro lado, vi a unica pessoa que me faz feliz nesse mundo, e fiquei cerca de 2 horas olhando ele dormir, e por muitos momentos deu vontade de abraça-lo forte, isso eu fiz.. mas logo em seguida me deu uma vontade imensa de gritar, e ao mesmo tempo falar baixinho no ouvido, e perguntar de leve, se ele gostava de mim um pouquinho, mas nesse momento aquela parede rosa de hotel de estrada me tirou a atenção, e eu pensei como se pintam paredes de um hotel de rosa, e nesse momento ele se mexeu, e eu focalizei mais uma vez no rosto dele, e quis de novo perguntar se ele não gostava nem um pouquinho de mim, se ele sentia a mesma falta que eu sinto dele, se ele se pega olhando nossa foto do nada, e sorrindo só por isso, se ele sente a mesma necessidade que eu sinto de enviar mensagem todos os dias, se ele, se ele... se ele podia me amar assim como eu sou, com meus defeitos e sorrisos, se ele perdoaria meus erros, e ficaria abraçado comigo nessa manhã e no resto da vida, mas aí a maldita parede rosa tomou minha atenção novamente, e eu não quis acorda-lo, fiquei ali admirando a parede rosa de um quarto qualquer.
Me vejo cheia de parágrafos, mas desconfio das percepções alheias. Tenho medo de que pulem minhas linhas ou cheguem rápido demais ao ponto final. Não sei virar páginas, ainda que tenha as minhas viradas todos os dias. Onde existo inteira é fantasia da minha mente: o mundo não me enxerga e tampouco eu através dele. Sou um conto e nem sei se meu. Me conte aí pra ver se existo.
Eu não tenho um portão para te esperar, como minha avó um dia esperou pelo meu avô e eles ficaram juntos por 70 anos. Talvez eu também seja engolida por esse mundo que cria tantas facilidades para a gente não sofrer. Tenho medo de que tudo seja uma mentira e de verdade sinto que é, mas ainda acordo feliz todos os dias esperando que ao menos você seja verdade.
Nós nunca vamos casar, ele nunca vai conhecer meus pais e eu sei que divido o seu amor com as garotas pagas. Não tem ilusão, não tem meiguices, não tem roupinha rosa com babados. É preto no branco. É sofrimento puro. É o pior namoro do mundo. Mas como diria minha mãe “quando essa menina decide uma coisa...”.
Eu diria: menina, amar a dúvida, o silêncio, a ingratidão, o fim, o atraso, a invenção, a lacuna, o pode ser, as hipóteses, a não resposta, a raiva, o absurdo, o não, a impossibilidade, o depois que foi, o antes de chegar, o difícil, o pode não, amar essas coisas, menina, é amar o mistério e não um homem.
Se você falar que eu sou bonita, pronto, eu acredito. Mas se você sumir por alguma razão, vou achar que é porque sou feia. Simples assim. Ignoro que você possa ser veado, possa ser fraco demais para uma mulher como eu... Possa gostar de mandar e aqui quem manda sou eu, possa ser rapidinho demais, possa gostar de mulher burra, possa não saber gostar.
Meu coração é meio bobo. Me chame de princesa, que eu derreto. Me chame de pequena, que eu me apaixono. Me chama de querida, que eu adoro. Me chama de anjo, que eu cuidarei de você como um. Me chama de doce, e adoçarei a sua vida. Me chame de amor, e eu vou te amar. Me chame de linda, que eu tentarei fazer da sua vida mais bonita. Me chama de sua Julieta, e você será meu Romeu. Me chama de bebê, e eu deixarei que você cuide de mim. Mas me chame de minha, e eu serei somente sua.
"Chore tudo que você tiver que chorar. Lembre de tudo que você tiver que lembrar. Tire um dia só para falar dele. Embriague-se dele. Tenha uma overdose dele. Repita o nome dele dentro da sua cabeça mil e uma vezes. Pense nele antes de dormir, e refaça os seus diálogos. E então, no dia seguinte, acorde para uma vida nova. Deixe ele, e tudo do dia passado, ali, no passado."
Mesmo que eu não quisesse mais pensar em você, mesmo eu tentasse esquecer que você existe, mesmo que eu tentasse com outro amor matar o meu por você. Ainda assim não tem um dia que, mesmo sem eu querer, eu me pego lembrando do seu rosto, dos seus beijos, das suas carícias. Enquanto eu tento te matar um pouco a cada dia dentro de mim, eu percebi que eu morro a cada dia sem você.
É vontade de sentir aquela coisinha misteriosa de "é esse!". Como será sentir isso? Eu sempre sinto que "pode ser esse, ou talvez com algumas mudancinhas possa ser esse ou talvez se ele quisesse, poderia ser esse...". Não, isso tá errado. Quero sentir que "é esse".
(…) Tenho uma vida ótima. Mas nenhuma dessas coisas se comparava ao prazer que eu tinha ao ouvir o barulhinho de uma mensagem dele chegando. Ou de quando o porteiro dizia seu nome e o meu coração disparava tanto que eu tinha medo de morrer antes de o elevador abrir a porta. E olhar para ele, com o seu sorriso misturado de pior e melhor pessoa do mundo. E olhar o brilho dos seus olhos sem saber se vinha da alma ou da lente de contato. Enfim: olhar e me sentir errando tanto e acertando muito. Isso tudo fazia valer os últimos dez, quinze ou quarenta dias sem saber se ele estava ou não vivo. (…) Mas aí resolvi começar o ano fora dessa palhaçada. Essa não parece a história de uma mulher esperta ou que merece uma história melhor. Quem pode cobrar da vida uma história de verdade se fica alimentando uma coisa desse tipo? Chega. (…) Por isso, com muito custo, chacoalhei minhas mangas. E só eu sei o quanto doeu ver a melhor coisa do mundo indo embora. Doeu um, dois dias. No terceiro, a melhor coisa do mundo virou a melhorzinha. Que virou a décima melhor. Que não virou nada.
Não bastasse conviver com um papagaio no meu cérebro 24 horas por dia me dizendo que preciso trabalhar mais, ganhar mais dinheiro, ler mais, me exercitar mais, viajar mais, estudar mais... Ainda tem uma periquita gritando mais alto para ver se abafa todo o resto "Vai dar minha filha! Vai dar que é só disso que você precisa".
Ele parece alto num primeiro momento, mas se você olhar direito, tem o charme cafajeste de quem vê o mundo mais de baixo. Não tem jeito aquela boca cortada, seus olhos são de uma profundidade quase cansada. Vai saber o que ele tem, nem ele sabe. Mas tem. Nem posso dizer que tentei evitar, pois já descobri que se você evitar a vida, ela acontece do mesmo jeito.
Jogado, descabelado, na rede. E você ainda é o homem mais lindo do mundo. No canto da foto dos amigos bêbados, e você é o homem mais lindo do mundo. Com gorro, no meio da confusão do frio. Escondido embaixo de tanta roupa. No fundo do mar. No escuro. De costas naquela festa chata. Meu Deus, como você é lindo.
Eu sei que agora parece que o mundo conspira contra você, mas ele gira e em um giro desse tudo pode mudar. Então, não desiste, sorria. Você é mais forte do que pensa e será mais feliz do que imagina. O medo, a decepção, a tristeza, a raiva… São só sentimentos, são só momentos e momentos chegam ao fim. Isso chegará também. Não tem como encontrar a felicidade sem ter passado pela tristeza. Pense nisso, não é hora de se deixar abalar.