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Os dois testes mais duros no caminho espiritual são a paciência para esperar o momento certo e a coragem de não nos decepcionar com o que encontramos.
Nota: Trecho adaptado do livro "Veronika Decide Morrer", de Paulo Coelho.
– (...) Você está vendo o que eu tenho no pescoço?
– Uma gravata.
– Muito bem. Sua resposta é lógica, coerente com uma pessoa absolutamente normal: uma gravata! Um louco, porém, diria que eu tenho no pescoço um pano colorido, ridículo, inútil, amarrado de uma maneira complicada, que termina dificultando os movimentos da cabeça e exigindo um esforço maior para que o ar possa entrar nos pulmões. Se eu me distrair enquanto estiver perto do ventilador, posso morrer estrangulado por este pano. Se um louco me perguntar para que serve uma gravata, eu terei que responder: para absolutamente nada. Nem mesmo para enfeitar, porque hoje em dia ela tornou-se símbolo da escravidão, poder, distanciamento. A única utilidade da gravata consiste em chegar em casa e retirá-la, dando a sensação de que estamos livres de alguma coisa que nem sabemos o que é. Mas a sensação de alívio justifica a existência da gravata? Não. Mesmo assim, se eu perguntar para um louco e para uma pessoa normal o que é isso, será considerado são aquele que responder: uma gravata. Não importa quem está certo – importa quem tem razão.
– (...) Lembra-se da primeira pergunta que lhe fiz?
– O que é um louco?
– Exatamente. Desta vez vou lhe responder sem fábulas: a loucura é a incapacidade de comunicar suas ideias. Como se você estivesse num país estrangeiro, vendo tudo, entendendo o que se passa à sua volta, mas incapaz de se explicar e de ser ajudada, porque não entende a língua que falam ali.
– Todos nós já sentimos isso.
– Todos nós, de um jeito ou de outro, somos loucos.
– Está frio, mas é uma bonita manhã – disse Zedka. – É curioso, mas minha depressão nunca aparecia em dias como este, nublados, cinzentos, frios. Quando o tempo estava assim, eu sentia que a natureza estava de acordo comigo, mostrava minha alma. Por outro lado, quando aparecia o sol, as crianças começavam a brincar nas ruas e todos estavam contentes com a beleza do dia, eu me sentia péssima. Como se fosse injusto que toda aquela exuberância se mostrasse e eu não pudesse participar.