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AGRESTE AZUL E ALARANJADO

Paz de espírito e clima de Agreste
Com vento bom de fazenda
Num alpendre celeste
E uma rede de renda.

Passarinho assobiando
Junto com o sol de fim de tarde
E o vento perambulando
Desprovido de vaidade.

E o vento... O vento do Agreste é afetivo
Como carinho de avô
Aquele carinho sem motivo
Ou melhor, o único motivo é o amor.

E o cheiro de mato verde
Correndo solto na campina
Aprisionado pelo vento
E pelo perfume... Da morena-menina.

E um gosto alegre de milho verde
Assado e cozinhado
E mesmo sendo do céu
O sabor é um pecado.

E o som da poesia
Musicada com a alegria
Do xote e do baião
Do forró e do xaxado.

E o céu... O céu do Agreste
Cenário azul e alaranjado
Onde a tarde beija a noite
E o sol dorme enluarado.

Eita!... Que saudade do Agreste
Do Agreste que vive em mim
E esse... Esse nunca terá fim!...

Mas como é bom ouvir bom-dia todo dia,
Sentir as mão e semear, plantar, colher...
Dormir ao som de uma viola caipira,
Pisar o barro, dar aos pés o dom de ter!

Adeus, cidade! Eu vou-me embora!
Eu já vou tarde. Eu vou agora!
Choveu na roça! Felicidade!
A terra flora. Bateu saudade!

Poesia do campo

Aqui tem paz, tem ar puro, tem águas limpas. Pela manhã o cheiro do café é um convite para agradecer pelo dia e ser grato por tudo! Aqui os vizinhos dizem "bom dia", "boa tarde" e uma maravilhosa noite! Se ouve ao longe musicas, aqui a gente sai nas noites quentes para ver as estrelas e o luar, e nas noites frias fazemos uma fogueira para aquecer ao som da viola e comemos milho-verde tomando chá de amendoim! Aqui tem alegria porque a alegria está nas coisas mais simples vida. E só aqueles que conseguem ser gratos pelo quem tem consegue enxergar a felicidade na simplicidade.

Ontem, seria feliz apenas com um corte de cetim. Hoje, quero a fazenda toda.

⁠O olho do dono engorda a boiada.

⁠⁠Esteja certo que, o que desejares à minha pessoa, o reflexo em dobro chegue à você.

Há quem queira sair da dependência deste mundo e voltar ao campo e serem direcionados por Deus. Plantar e colher; há muitas verdades nessa curta frase. Tantos outros estão trocando a independência pela dependência e abrindo mão de suas terras em troca de gaiolas de concreto no meio da cidade.

⁠Das terras
De Tanquinho
Sica saiu
Inda menina

Do pau-ferro
Fez fazenda
Sinhá moça
Bailarina

Do rio do peixe
O pescado
Da roça
Travessura

Do monte
A vitória
Da emancipação
A aventura

Uma vila
Um vilarinho
Uma benção
Uma sina

Do recôncavo
Santo Antônio
Índia perolada
A capela ilumina

De santana
Feira escola
Dos santos
Magia pura

Da rodagem
Partiu chegada
De São Paulo
Graça e bravura

Dos anos
Fez sua história
Paixão e trabalho
Auto estima

De menina
Fez-se mãe
Do amor
Que se fascina

⁠O agricultor é o resultado da evolução do homem em seu meio socioambiental. É viver sob o sol e produzir sustentavelmente, dando continuidade ao ciclo da vida. 

Recordar algo triste do passado não é saudade, é apenas dolorida lembrança que não devemos ter.

Inserida por neusamarilda

Criança nascida em fazenda,
junto à natureza foi criada,
só poderia mesmo captar a poesia,
pela qual vivia rodeada

Inserida por neusamarilda

- Quando vier a paz, comprarei uma fazenda. Plantarei, criarei e irei ganhar dinheiro.
O cavaleiro cruzado diz a quem disse: - Eu tenho aqui a minha espada... Não precisarei de arado para ganhar dinheiro...!

Inserida por MauroMartinsSantos

Fazenda.

Nada contra a cidade
que você me compreenda
mas prefiro a liberdade
do que algo que me prenda
e lá não tem nem a metade
das belezas da fazenda.

Inserida por GVM

O Roceiro
Pelas paredes gretadas
Mugidouras vacas deitadas
Paciente e ruminante
Observava, ele via
O amanhecer no horizonte
Lá vem a barra do dia.
Acorda mulher, acorda Lia
O algor cobria de neve o chão
Que frio!... Virgem Maria
Levanta mulher, coragem e opinião
No poleiro, não tem mais galinha
Façamos junto a oração
Salva-nos, ajuda-nos oh!... mãe rainha
Opinião! Opinião! Exclama
Com mãos calejadas o rosto lava
Descalço, pisa n' água, na lama
Se não fosse ele, homem chorava
Sorrindo, alegre, a vida leva
Mulher!... este frio é geada
Mas enquanto o café côa
Amolo minha enxada
Pois, não gosto, não fico a toa
Também trato das bicharadas
Dos porquinhos e da marrôa
Marido o café tá coado
Vem beber senão esfria
O roceiro vem afoitado
Não vim antes, não sabia
Bebe e pega seu machado
Nossa lenha não vai ao dia.
É triste; não sei ler, sou tapado
Amanhã preciso de arrogo
Marido!... me dá licença
Vou por feijão no fogo
Desculpe, arrogo não é doença
Fala logo com seu sogro
Meu pai tem clemência.
A tarefa d' manhã terminada
O roceiro vai sossegado
Cachimbo na boca e na mão a enxada
Também no ombro o machado
Derrubar a matarada
Onde tudo é plantado
Descalço, nos trieiros, na saroba
Alegre, cantando, não tango
Pula, um bicho, é cobra
Foi engano é um calango
Que bela mata e gigante peroba
Roço, queimo e planto morango
O céu, a serra enfumaçada
Dos roceiros a história narra
Árvores deitadas, folhas esturricadas
Por todo lado zumbido de cigarra
É tempo agora de queimadas
Quase tristeza o roceiro agarra
Vamos urgente aproveitar
Chegou a flor do mandacaru
O sol não vai mais esquentar
Que fumaça! Foge o inhambu
Nossa roça vou por fogo, queimar
Essa chuva não vai pegá-la cru
Mulher!... Vamos agora plantar
Arroz, milho, mandioca e feijão
Se o pai do céu nos ajudar
Vamos fazer um farturão
A nossa fé não pode, não vai faltar
Não esquecendo da oração
Na roça tudo é dureza
Lá dá praga pra chuchu
O prejuízo é quase certeza
Corre perigo da cobra urutu
Formiga, cupim é da natureza
Destruidores, passo preto e tatu
Quando planto, sou feliz
O tatu, mandioca e milho ranca
O roceiro não maldiz
E por Deus, não adianta
Formiga nas folhas, cupim na raiz
E vem o sol virgem mãe santa
Chega então a colheita
Houve grande resultado
Labuta, sofre, não deita
Corajoso, alegre vai o coitado
Uma boa cama ele enjeita
Foice no ombro, fazer novo roçado
A história do roceiro
Ela é indeterminada
Bolso limpo sem dinheiro
E a ele não falta nada
Veste algodão e sempre caseiro
Crê em Deus, crendice e fada.

Inserida por AZEVEDODouglas

João e o Oceano

Nasci com o sorriso do meu pai
E nos braços da minha mãe.
Ela teve que ir embora cedo,
Disseram que foi cuidar de uns anjos lá no céu.

Quando criança, aprendi a trabáia,
Aprendi a ser forte até quando o corpo não aguenta o peso do esforço.
Parei de contar as gotas do meu suor
Quando toda aquela água represô e virô um rio.

Meu pai não se demorô pra ir embora
Fiquei triste, mas aliviado em saber que minha mãe tinha uma companhia.
Não aprendi a ler porque não tive tempo,
E o pouco que me restava mal dava pra descansar à noite.

Ai, quando tudo pareceu ficar sem sentido
Apareceu uma companheira, trabalhadeira igual eu.
Não tinha medo de pegar pesado
E o rio dela se encontro com o meu.

A gente era jovem quando arrumamos um emprego
Na fazenda de um sinhô.
Tínha casa e trabaio não faltava.
A pele da cara tava tão grossa que nem o sol a gente sentia mais.
Eu fui feliz e sabia.

A dignidade me deu filhos
E ao contrário dos pais, eles foram para escola,
Depois para a universidade.
Nuunca tiveram que trabaiá até então.
Eu acostumei a dormir pouco e fazer o dinheiro render.

Nas férias dos estudos, eles nem vinham nos visitar
Colocavam a culpa no tédio
Dizem que roça num tem festa
Ficô eu e minha muié, de novo, sozinhos.

Tenho medo do tempo passar
E às vezes penso que meu pai e minha mãe
Estão em algum lugar a me esperar.

Mas sabe de uma coisa?
Nessa altura, juntando todo o meu suor com o da minha muié
Já dá pra fazer um oceano
Que deixo pros meus filhos
E o azul é tão bonito
Que dá até vontade chorar.§

Inserida por geradotinoco

Em uma fazenda dois burros pastavam sossegadamente. Já haviam cumprido a jornada diária de trabalho e descansavam. Traziam em uma parte recôndita do corpo a marca do patrão um "13". E iam na conversa até que surgiu um lindo cavalo pardo trazendo também a mesma marca do patrão. Não tinha a mesmo ar de felicidade dos burros. Falava, mas parece que ninguém o ouvia ou sequer o entendiam. Aquela fazenda era um lugar muito atrasado para ele. Ele se sentia na escravidão. Seu patrão muitas vezes o rebaixava tratando-o como se burro fosse. Não faltava capim no pasto, mas ele sentia que faltava vida. Ele não se sentia feliz. O que fazer?

Inserida por FrancisIacona

Poeta é quem tem uma fazenda de borboletas amarelas.

Inserida por breguedo

Às vezes, penso que o Ministro da Fazenda não dá a máxima para a inflação.

Inserida por josecoutinho

Tempo no mato não tem pressa de passar!

Inserida por FPBahia

Minhas raizes são como troncos fortes e minha ancestralidade são como as estrelas que brilham encantadas no luar. Aqui o bem reina e a maldade não entra. Neste lugar de poder o amor brota, o vento canta, o sol brilha mesmo em dias nublados; e toda a chuva que chega trás a fertilidade no olhar. Neste espaço o fogo crepita e aquece os corações das pessoas, há abrigo, manta quentinha, os alimentos são amorosos e nos faz lembrar da infância e da vida. A água resplandece em sua beleza, as pedras recebem os quatro elementos e alegra os sentidos. Sempre haverá asas de bençãos e de alegria. Os passarinhos cantam e sobrevoam a área procurando um lugar para fazer um ninho; e o mais bonito é que encontram, a dona galinha passeia faceira com seus pintinhos. O galo soa sua cantoria sempre que tem vontade, pois a liberdade é vivida. A Lua aparece majestosa e seu brilho ilumina todo o solo sagrado.
Passear na grama e sentir o cheiro da terra molhada é um ritual de amor e de luz. Aqui multiplicamos o alimento, dividimos as dores, e ampliamos os amores pela vida. Todas as pessoas que por aqui chegam seja criança, adulto ou idoso, sempre serão fecundadas pela magia da gratidão, do amor e da luz. Aqui os espaços são que nem coração de mãe, cada pessoa que você conhece aqui parece no mesmo momento familiar e após alguns minutos você logo a trata como irmão de luz e de jornada. Neste lugar sagrado a criança livre sempre aparece e o mestre interno tem voz ativa, nas nuvens vemos a esperança e nos trovões a energia necessária para Mãe Natureza, a busca é constante e a evolução sempre acontece. Aqui neste lugar se colhe gravetos enquanto se conversa com as plantas, abrindo a visão e a intuição e um chá quentinho é servido para aquecer o frio. Sei que parece muito amor para um só lugar e jamais pense que ele só existe em minha imaginação. Saiba que ele é real como o sol, a lua, as estrelas, a terra, o fogo, a água e o ar, basta esticar um pouquinho as mãos e boa vontade para poder aceitar e alcançar. E quando vier será acolhido com o abraço e sorriso de fada e aprenderá que a alegria da vida e Ser aquilo que se É.

Inserida por giovanabarbosac

⁠Do alto de seu esplendor
de um horizonte qualquer,
chegam os raios de sol
aquecendo o nosso viver
nova manhã, esperança irradia,
refeitos do cansaço, seguimos
para onde o dever anuncia

Inserida por neusamarilda

“ Realitys não é um programa de caridade não é uma clínica de reabilitação, não é uma clínica pra doidos e muito menos um retiro, ali é um jogo e vence que da mais valor e se entrega por inteiro, ainda que pague depois pela consequências. “

Inserida por samsa777

“ O nosso `spread bancário` é alto porque os juros são exorbitantes, ou os juros são exorbitantes porque o `spread` é alto ? É a mesma coisa da bolacha que ninguém sabe afirmar se vende mais porque está sempre fresquinha ou se está sempre fresquinha porque vende mais. “

Inserida por Peralta71

- Lavando roupas -

___ Era sempre manhã na Fazenda São José do Arrudas - localizada no interior de Minas Gerais.
Adorávamos aquela paisagem bucólica do Rio São José do Arrudas, que deu o nome à fazenda. Era calmo e manso e podíamos atravessá-lo à pé, em tempos de seca...
A fazenda tinha lindos Currais em braúnas e plantação de arroz na várzea, onde piavam saracuras... Outras plantações e grandes pastos para o gado ladeavam a sua entrada.
Amava a fazenda porque era tudo que gostávamos de curtir em nossas temporadas por lá. A casa ficava a uns 300 metros da estrada entre as cidades de Serro e Conceição do Mato Dentro e, para chegar nela, uma grande porteira fechava aquele lado do acesso à fazenda.

A saída pela porta da cozinha para o terreiro era uma paisagem especial, pois, abria uma cancela para as áreas dos afazeres cotidianos da casa: fornalhas com um panelão para cozinhar bananas para os porcos e um tacho para ferver as roupas muito sujas e encardidas (a prática era virá-las e revirá-las com uma longa pá de madeira, para maior efeito do calor e das folhas verdes de mamão). Ao lado, o pilão para socar e limpar arroz e pilar café, forno à lenha para assar quitandas, uma engenhoca pequena para moer uma ou duas canas para a garapa do café e,
caminhando em direção ao moinho, tínhamos a bica d'água bem ali, ao lado do quarador de tela de galinheiro e a grama verdinha onde as roupas eram estendidas para quararem ao sol.
Como a gente gostava da rotina naquele retângulo mágico: paiol, galinheiro, serraria, caixa d'água e, ladeado pelo engenho e pelo moinho de pedra, do lado de cá do rego d'água, ficava o chiqueiro.
Os varais de secar roupas, espalhados pelo terreiro, eram nossos labirintos onde bombavam o pude, o pique esconde, quando cheios de lençóis e colchas secando...

E o que mais me encantava, desde pequena, era a bica que nunca se fechava - a água batia, espirrava e brilhava aos raios do sol - o dia inteiro! Ali ficavam o estaleiro para secar vasilhas e as bacias para a lavação de roupas. Adorava ver as lavadeiras se movimentando por lá, ensaboando roupas, esfregando lençóis brancos,batendo-os nas pedras para clareá-los antes de seguirem para
os quaradores. Era um ritual solene, porque em cada etapa tinha-se uma sequência de movimentos dinâmicos e experimentados - lavadeiras são profissionais especialistas em lavação.
Horita, uma moça madura e muito generosa conosco, era também a lavadeira oficial das roupas da fazenda. Mamãe gostava muito dela e a convidou para ser a minha Madrinha de Consagração.
Mamãe faleceu, quando eu tinha apenas 4 anos e éramos uma patota de oito irmãos - de 2 a 14 anos. 'A casa das sete mulheres' e dois homens, meu irmão e nosso pai. Assim, vivemos uns cuidando dos outros e um adulto cuidando da vida da família.
Então, vivia agarrada às barras da saia da Dindinha Horita. Não só eu, pois, ela cuidava da casa e de todos nós, quando estávamos passando os dias na fazenda. Depois que mamãe se foi, todos fomos morar na cidade. E Horita cuidava da roça e das coisas da casa, porque sendo um fazendeiro meu pai não pode se mudar da fazenda.

A rotina da casa era como em todas as fazendas... Um dia, contarei as particularidades que vivemos naquela casa - tempos idos mas lembrados com amor e muito carinho.Viver os acontecimentos diários era prazeroso e fazer gangorras, andar a cavalo, procurar ninhos de galinhas pelo mato, catar pedras às margens do rio e pescar foram lindas aventuras que vivemos naquele paraíso do qual jamais me esquecerei.

Na minha infância, conviver com as lavações de roupas fizeram parte de inúmeros eventos em minha vida. A cultura, hábitos e estilos daquelas rotinas dos trabalhos domésticos faziam parte do regionalismo local. Muitas vezes, eram rituais coletivos, quando as lavadeiras ocupavam os espaços nos cursos dos rios próximos à cidade, onde as pedras, estrategicamente, estavam localizadas e
compunham um ambiente ideal para aquela tarefa tão secular. Como era lindo ouvi-las cantar no batido das roupas! Às vezes, eram festivas e noutras situações eram até melancólicas... Sempre me pegava observando-as absorta e admirando a cadência daquela prática, há anos presente na vida das lavadeiras das bicas d'água e em beiradas de rios. Dias nublados eram diferentes dos dias ensolarados. E os dias não eram iguais. E a vida não não era fácil. Mas elas eram felizes, a gente sentia! Lavar roupas é algo tão sublime que, para mim, sempre fez parte de uma etapa de crescimento e emancipação da vida.

Os dias de lavação de roupas no rio, lá na fazenda, eram dias muito especiais. Levantávamos cedo para não perdermos a agitação - as brincadeiras pelo campo, correr atrás das borboletas que sobrevoavam as roupas quarando sobre a grama, fazer represinhas com pedras para prender girinos - era tanta pintação que os dias passavam sem percebermos - livres e soltas na natureza!
Horita amarrava a trouxa de roupa, punha-a dentro da bacia grande e, na sequência, era juntar o sabugo e as palhas de milho, folhas de mamão, ramas de Melão de São Caetano, Anil Colman e as bolas de sabão preto, feito lá mesmo com a diquadra (água decantada das cinzas de madeiras da fornalha + soda cáustica). O sabão espumava branquinho e botava os lençóis alvos e doendo as vistas. Coisa que nunca entendi...
Chegando ao rio, descansava o pesado fardo perto das pedras - uma para a lavação e outra para se sentar enquanto trabalhava.
As margens do rio eram rasas e ela se enfiava na correnteza com a água batendo no meio das canelas.
Ágil e calma ia separando as roupas brancas das coloridas; as roupas das crianças e dos adultos - roupas mais usadas, mais frágeis e desgastadas - tudo que era do uso cotidiano. As roupas para as missas de domingo e de festas eram lavadas com sabões mais finos e com capricho que não
carecia de quaração ou bateção nas pedras...

Horita ensaboava as roupas já molhadas, esfregava-as e as deixava emboladas sobre as pedras, quarando nas gramas às margens do rio, até porque a bacia era grande, mas era uma só... O revezamento era todo programado, para que a água de sabão já usada, a barrela, pudesse ser reaproveitada também nas roupas mais sujas e que demandavam maior trabalho na lavação. Enquanto catávamos girinos em águas rasas e os encantoava nas margens de areia e do lodo, ouvíamos o bate-bate das roupas. Pá... e pá... e pá de novo. Depois de recolhidas da quaração, ela repetia o processo de bateção nas pedras - pá... e pá... e pá... e com as mãos grudadas nas roupas, o braço subia e elevava-se ao alto - um giro espetaculoso que, num movimento certeiro, descia bem no centro da pedra do rio! E, de novo, pá... pá... e pá! Pronto. Hora de investir nas etapas seguintes. Para as roupas brancas, nunca se esquecia do Anil Colman.

Ali, a liberdade e o entrosamento com a natureza acontecia em perfeita sintonia - seguíamos os movimentos tão cheios de energia da dindinha Horita, que não se esquecia de espichar os olhos e, de quando em vez, parava para ver se estávamos por perto e o que estávamos aprontando - todo cuidado era pouco. _ Meninas? Sempre gritava. Olho no peixe, olho no gato e mãos nas roupas... Ver a dindinha Horita se entregar concentrada na lavação, perder-se em pensamentos quando, entre uma esfregação e outra, parava para descansar e levava o olhar para longe, perdida entre a paisagem e o firmamento, era emocionante! Um momento que me paralisava. Um fascínio por aquela visão que muitos
nem se tocavam. Era fantástico vê-la soltando os lençóis pela calma correnteza das águas do rio, para ajudar na remoção do sabão - sabedoria pura! E a gente até batia palmas!
Num dia daqueles, ela ela me deitou sobre uma trouxa de roupas e disse: - pequena afilhada, suas orelhinhas estão sem brincos, os furos já se fecharam. Pobre bondosa Carmélia (era o nome da minha mãe) deixou vocês ainda precisando de tantos cuidados! Decidida e sem pensar duas vezes, puxou a agulha com linha, que carregava pregada na gola da blusa, para cerzir roupas
rasgadas, fazer os remendos de costuras soltas e para pregar botões que se soltavam mesmo. E já foi dando um nó nas pontas da linha... Mandou-me fechar os olhos e perguntou: - você quer furar as suas orelhinhas, ter lindos brincos e ser a menina mais linda lá da escola? Então, disse-me ela: - não chora... fica quietinha, com os olhinhos fechados, que não vai doer e vai ser como fazem as fadas... uma mágica! Não vai doer, repetiu. Claro que doeu, que chorei e que ela me acariciou e me consolou. Fez dois aneizinhos de linhas em minhas orelhas e não me lembro se sangraram. Quando chegamos em casa, ela passou cachaça pura ... Foi o primeiro furo que tive em minhas orelhas e que estão aqui até hoje.

Com ela aprendi a lavar as minhas roupinhas. Primeiro as calcinhas, as meias e, a cada férias, à medida que eu crescia, aprendia a lavar e cuidar de minhas roupas maiores...Gravei bem muitas lições - cuidar para lavar bem as roupas e nunca me esquecer daqueles gestos tão naturais, espontâneos e perfeitos. Dona de casa, trabalhadora e estudante, às vezes, fora o dia inteiro e criando duas filhas, ainda assim, mesmo na correria diária, sempre me dediquei a lavar roupas à mão; aquelas que avaliava serem especiais, e que precisavam ser lavadas separadamente das peças gerais da casa. Tive lavadeiras muito dedicadas, depois da didinha Horita.

Mas sempre fui adepta da lavação de roupas à mão. Porque as lavadeiras sempre me encantaram neste trabalho tão cansativo, mas também muito prazeroso.
Nunca conheci uma lavadeira que não gostasse de lavar roupas. Isso me tranquilizava porque sempre avaliei ser um trabalho pesado. Até hoje, entregar-me fielmente aos movimentos da lavação e me perder em pensamentos, enquanto esfrego algumas poucas peças de roupas, é uma viagem que acontece comigo. Quando criei as minhas filhas, adorava deixar as fraldas branquinhas e com cara de higienicamente limpas. Eu mesma as embainhava com bordados à maquina,
em linha azul marinho e as lavava à mão, enxaguando-as com Anil Colman, para que ficassem alvas de doer as vistas - como fazia dindinha Horita. Quanta saudade - que Deus a tenha!

Também gosto de fazer sabões - hoje com mais tempo, acesso à variedade de opções no mercado e com a tecnologia, posso pintar e bordar, criar sabões para usá-los em várias cores e essências que trazem energias holísticas e mais naturais, são coisas que posso escolher.
É uma ocupação meio estilo bruxaria - a gente vai adicionando ervas, cores e essências -uma arte muito especial! Assim, entrego-me a esta tarefa de lavação de roupas com amor, disciplina e prazer. Vou me envolvendo, com jeito e energia, revirando as roupas e me perdendo em pensamentos, enquanto vou girando o tecido e buscando ser eficiente na sequência dos movimentos - sempre é um momento novo - cada roupa me cobra uma atitude particular e diferente. Porque lavar roupas é uma arte e uma particular terapia.
Acho que muitas pessoas deveriam experimentar - é uma grande relação com o antes e o depois, sensível e visível, num piscar de olhos. Nunca tive dificuldade em dominar a lavação de roupas, porque aprendi esta atividade quando ainda criança.

Muitos projetos da minha vida eu os formatei quando, na beirada do tanque,
me dedicava, incondicionalmente, à arte de ensaboar, esfregar e enxaguar roupas.
Muito prazeroso perfumar e torcer cada peça com cuidado, enquanto os pensamentos torcem músculos e neurônios, espremendo a mente para que a criatividade e a inspiração possam apontar novos caminhos, saídas estratégicas, decifrar sonhos e transformar desejos em investimentos, até então nunca experimentados... Quantas vezes, em momentos de aflição, me aliviei apalpando os tecidos na espuma, ou, esfregando-os, freneticamente, para fugir das tensões e das situações conflitantes... Já chorei muito com o olhar perdido na espuma e as lágrimas caindo sobre as roupas...
Não obstante, lavar roupas pode ser um exercício de relaxamento e reflexão sobre atitudes, instantes em que o mundo gira a mil pela cabeça, para depois retomar o passo-a-passo das coisas, botar limites e interromper o ritmo desenfreado das ideias. É um tempo propício para a gente esfriar a cabeça ou se entregar a mirabolantes pensamentos, delírios - esquecer as preocupações e até praticar a meditação.
Depois, vem uma calmaria,uma paz e uma tranquilidade inesperadas. Lavar roupas é cuidar da higiene material, física e mental - roupas limpas trazem momentos agradáveis e prazerosos. E mais, ato contínuo - todo cuidado é pouco na hora de pendurá-las para secar, pois, isso facilita passá-las, embora nunca gostei de passar roupas. Eu as sacudo bem para estendê-las e, ao
recolhê-las eu apenas as estico com as duas mãos, dobrando-as à medida em que se desfazem as dobras, marcas de pregadores e amarrotados de quando foram torcidas e dependuradas.
Somos assim também... Quem dera pudéssemos passar e esticar as rugas e cicatrizes adquiridas com a idade e vivências cotidianas - são as marcas externas que mostram muito de nós.
E as internas, que pensamos não enxergar, são as que mais doem e sufocam - são estas que devemos percebê-las para tentarmos desfazê-las. Estas sim, podemos minimizá-las, ou,com vontade e coragem, aboli-las de nossas vidas com corajoso enfrentamento e amor próprio.

Uma roupa mais sensível ao toque pede a delicadeza de mãos se alternando ao redor das sujidades, em leves movimentos de esfregação - uma celebração de respeito para com o tecido, suas fibras, suas cores e as histórias registradas naquele pedaço de pano, que alguém deu formatos tão especiais... Ou, não. Mas, de qualquer forma, enquanto fizerem parte de nossas vidas, serão também registros de lembranças e recordações. Por isso, nunca devemos guardar as roupas sujas ou estragadas, porque, com certeza, elas são parte de um presente e, mais tarde, capítulos vividos, experimentados e avaliados - lembranças caras e especiais. Tenho uma ideia aqui comigo que, enquanto souber lavar minhas calcinhas, cuidar da melhor higiene do meu corpo e das minhas roupas, serei capaz de prosseguir vivendo com independência e auto suficiência.
Coisas que sempre confidenciei com a minha sogra.

Gosto de orientar as pessoas como se lava uma roupa leve, ou, de um tecido mais velho e que seja necessário proteger suas fibras para mantê-las íntegras, em bom estado de firmeza e conservação das cores, ou, ainda que brancas, possam ser protegidas e evitar de manchá-las, quando é o caso.
Não é ensinar, mesmo porque aprendi mais com as lavadeiras do que inventei métodos, mas tenho meu jeito particular de lavar roupas.
Assim, depois de escolher e separar a(s) peça(s), toma-se a bacia ou o balde e coloca-se água suficiente para cobrir todo tecido. Calcula-se o sabão a ser usado sem economizar, mas sem exagero. A seguir, bate-se bem o sabão na água (em pó ou em barra - adoro lavar com sabonetes brancos e cheirosos , ou de coco, ou com os delicados sabões para roupas de bebês). E, enquanto o sabão vai se derretendo, vira-se as roupas para o lado direito, e localiza-se as sujeiras que deverão ser removidas, classificando-se quais serão os cuidados que o estado das peças demandam.

Mergulha-se a roupa na espuma, não se esquecendo dos pontos que sugerem maior esfregação, retirada de manchas ou um molho especial. Daí, pega-se o tecido com cuidado e, com movimentos circulares e definidos, esfrega-se cada peça, todinha, sempre fiscalizando se as sujidades foram removidas com sucesso...Ohummm... Se necessário usar alvejantes e removedores de manchas...
Na sequência, passa-se para as etapas seguintes, enxaguando-as em água suficiente, para retirar todo o sabão, evitando-se que as roupas fiquem encardidas ou impregnadas de resíduos químicos dos produtos utilizados - água sanitária, alvejantes e/ou amaciantes.Assim, a água do enxague deve, ao finalizar o processo, apresentar-se límpida, transparente, levemente perfumada e sem cheiro forte de sabão ou enxaguante.

Da mesma forma é lavar o corpo por fora e a alma por dentro - o nosso interior carece de cuidados especiais, atenção redobrada, leveza da higiene da mente muita dedicação - imprescindível na remoção de sentimentos que nos intoxicam, lembranças que nos deprimem e recordações que despertem tristezas, sofrimentos e negatividades. Roupas bem lavadas e devidamente secas
(se for ao sol, o cheiro é mais gostoso e a aparência é outra), depois de passadas ou bem esticadas nos dão um inexplicável prazer ao tocá-las, usá-las, vesti-las ou, simplesmente, dobrá-las para serem guardadas...
Mentes leves, generosas, livres de ressentimentos, prontas para compartilhar amor, perdão e gratidão pela vida são recheadas de ingredientes para promoverem um corpo são, um coração aberto para as coisas boas e alegres da vida - a felicidade que tanto sonhamos!
____ @DelzaMarques - 2001/2007 - atualizado em 2020.

_______________(Dica de lavagem: A cinza possui uma importante propriedade que é a de branquear, purificar. O sabão de cinzas é ecológico e não polui o ambiente. Sendo assim, se quiser clarear tecidos rústicos é só colocá-los ensaboados de molho e com uma trouxinha de cinza, no dia seguinte é só enxaguar.)

Inserida por DelzaMarques