Tag devia

Encontrados 10 com a tag devia

Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora.

A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(Do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.)

Marina Colasanti
Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.

Nota: Do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

...Mais

ESPELHO:
Lugar onde qualquer pessoa pode encontrar o AMOR.

Inserida por weliomar

Sou um cara que tem muitos óculos, mas só consigo enxergar o mundo usando o amor.

Inserida por weliomar

“Muitas vezes não precisamos de nada complexo para encontrar a verdadeira essência da vida”.

Inserida por weliomar

"Que saibamos perceber o que nos cerca, que ninguém precise nos mostrar o óbvio".

Inserida por weliomar

Permito-me no divã
devo falar do que atormenta
livros que não li
fotos que não fiz
vezes que sorri
do ressentimento
da decepção
das palavras ditas
benditas as que não falei
a gota que faltava eu expulsei

Inserida por jofariash

⁠A gente sempre tem uma boa desculpa para não fazer o que devia.
— E a gente não devia!.

Inserida por laboratoriopensar


“O problema não foi você me 
deixar, Foi como você me 
deixou! Tarde demais,
Devia ter ido há 
muito tempo.”

Inserida por Barros-Silva

Pois é....

Pois é
Meu senhor, Senhor meu...
Parece até que esqueceu
Que ontem choveu
E a terra molhada a absorveu
Hoje, o sol brilhou 
Mostrou toda a sua gloria
E, a plantinha miudinha
Atrevida e fasceirinha
Já ao nascer;
Pensou que devia florescer.

Inserida por EduardoChiarini

⁠Eu não devia falar de amor, não devia falar de algo que por tanto tempo me foi negado, não devia falar de algo que ainda nem sei se conheço por inteiro, não devia falar sobr...Quer saber? FODA-SE, eu vou falar de amor, eu vou falar sobre quanto amo ser amado, sobre quanto é bom me amar, sobre a sensação de viver quando estou contigo, a beleza de seus olhos castanhos e profundos, até suas "falhas" são belas e perfeitas, ou não, calma, desculpa eu sei que ninguém é perfeito, mas sabe em um mundo de imperfeição você ser tão magnífico assim é o mais próximo de perfeição que possa ser encontrado fora do paraíso. Devia ser considerado crime ser tão próximo da perfeição assim afinal depois de te conhecer todos são insignificantes você tira o brilho dos outros, mas não é sua culpa, não é como se desse pra comparar qualquer outro alguém com você.

Inserida por fiaquil