Suspenso
A angústia surge do momento em que o sujeito está suspenso entre um tempo em que ele não sabe mais onde está, em direção a um tempo onde ele será alguma coisa na qual jamais se poderá reencontrar.
O desejo é de alguma forma o ponto de compromisso, a escala da dimensão do gozo na medida em que de certo modo este desejo permite levar mais longe o nível da barreira do prazer. Este é, no entanto, um ponto fantasmático, ou seja, ali intervém o registro da dimensão imaginária que faz com que o desejo seja suspenso a alguma coisa da qual não é de sua natureza verdadeiramente exigir a realização.
Rosto
Rosto nu na luz directa.
Rosto suspenso, despido e permeável,
Osmose lenta.
Boca entreaberta como se bebesse,
Cabeça atenta.
Rosto desfeito,
Rosto sem recusa onde nada se defende,
Rosto que se dá na duvida do pedido,
Rosto que as vozes atravessam.
Rosto derivando lentamente,
Pressentindo que os laranjais segredam,
Rosto abandonado e transparente
Que as negras noites de amor em si recebem
Longos raios de frio correm sobre o mar
Em silêncio ergueram-se as paisagens
E eu toco a solidão como uma pedra.
Rosto perdido
Que amargos ventos de secura em si sepultam
E que as ondas do mar puríssimas lamentam.
BATALHA DE CORPOS NO AMOR
Dá-me o teu gosto, teu cheiro, num momento suspenso.
Dá-me um abraço silencioso, em que só haja o pulsar do coração.
Nada mais exista nesse agora. Só o sentir de almas e corpos.
E mãos que se deixam viajar sem rumo nem pejo.
Dá-me teu olhar. Que ele, em chamas, me esquente o sangue.
Seja sem culpas, sem medos, sem religião nem credos.
Olhar de quem tem fé na revelação daquele instante profundo.
Dá-me tua boca. Faz-me sentir a fome em teu beijo,
O apetite infame do desejo rasgando cada fibra de teu corpo.
Um beijo descortinando o querer sem castidade e sem trégua,
Em línguas devassas e imprudentes, que apontam a perdição do que virá.
Deixa que teus seios se avolumem num abraço grave e constante;
Faze-me senti-los tomados em minha mão sem escrúpulos.
E neste instante delicado, que sejam compreensíveis os botões da tua blusa,
Soldados sem forças para impedir a tomada das torres e cidadela.
E que fartos ante meus olhos, se permitam tragar em demasia,
Sorvidos como fossem morangos maduros saciando um famélico.
E na circunstância indômita, florete já na mão adversária, tudo se permita.
Dá-me, nessa guerra intensa, uma derrota justa, rosto perdido em teus pomares,
Onde sinta o cheiro e gosto de fruta orvalhada por rios que molham tuas planícies.
E me faça morrer de queimadura de primeiro grau, ao invadir teus territórios,
Sem piedadade, em luta corporal insana, desnuda, inopinada.
Seja-me permitida uma pugna até as últimas energias, em que percorra
Todas as tuas instâncias, sem tréguas nem respeito, em idas e vindas profundas.
E assim sendo, que não haja território não percorrido, nem batalha que não tenha sido travada.
Que tua vitória seja absoluta, subjugando meu corpo desfalecido entre tuas pernas.
E num momento de misericórdia, que teu coração de mulher acalante o derrotado,
Tomando-me em teu peito, num último gesto de vitória e piedade.
E assim, em tuas mãos, já dominado, faz-me teu escravo, como espólio de uma guerra consumada.
Deixo-me teu, assim, inteiramente e para sempre, dominado por teus beijos.
(Junho/2018)
Ela riu enquanto alguém falava sobre inferno e paraíso
No seu disco preferido alegria não tinha juízo.
Eu suspenso
Penso em tantas coisas ao mesmo tempo que meus pensamentos se embaralham.
De tanto pensar sou tomado do sentimento de que a vida passou tão rapidamente e eu nem a vi passar.
Tento recuperar o tempo perdido, mas os pensamentos cativos em lugares distantes não me deixam chegar no hoje e quando chego, o hoje já é amanhã.
Quando penso em viver um dia de cada vez é como se eu não estivesse aqui neste dia, então não posso vivê-lo.
Estou sempre desconectado deste tempo, às vezes preso ao passado, outras vezes, na ânsia de chegar corro desesperadamente e passo direto pelo presente me projetando ao futuro.
Não consigo usar o tempo a meu favor, pois muitas vezes me sinto como se estivesse fora de mim me olhando e me analisando tão criteriosamente, com um preciosismo que me diz o tempo todo que não estou pronto para viver com liberdade.
Nesta introspecção me distancio de mim mesmo e daqueles que estão ao meu redor.
Por ter consciência de tudo isso sofro porque queria que fosse diferente, sofro porque mesmo vendo tudo não consigo mudar, pois não estou aqui estou distante monitorando, o quanto é possível, o que chamo de eu.
Penso que, ao olharem pra mim, o que as pessoas veem não é o eu real, mas uma espécie de holograma, pois estou sempre suspenso entre o real e o imaginário.
- MANDEI CAIAR A MORTE -
Mandei caiar a morte
Na Luz dos olhos fundos
No suspenso dos meus lábios
Onde a vida não se esconde
Nem se dá a outros mundos!
E das searas ao vento
Que de lágrimas reguei
Mandei colher a noite
Contra mim e contra a vida
A que afinal nunca me dei!
Nada é inútil, nada é vão
Rios de sombra, rios de lume
Nestas linhas do meu canto
Velas de todos os ventos
A que dei o meu ciúme!
Poeira de ventos, apenas
Que desejo mas não ponho
Na raiz de cada espiga
Ao passar por mim o vento
No olhar de cada sonho!
No meio das palavras
Quando, nos lábios, começa um continente,
suspenso no apelo líquido dos beijos,
há um barco que cresce nos meus olhos
e, entre búzios verdes, escrevo água.
Nunca a brisa se demora entre as dunas,
onde os barcos navegam sobre a espuma.
Tudo é secreto, se maio se repete
nas marcas da pureza recusada.
Um rosto ou um rio me fascinam,
quando a raiva e o sossego
me revelam a nascente
e, no meio das palavras,
procuro apenas um gesto
ou uma sombra.
Graça Pires
Suspenso no espaço
sem chão
numa extasiante
vontade de prosseguir...
Em estado de desalento
como uma desarticulada marionete
sem fios
solta na imaginação
a devagar na imensidão
sem saber onde chegar
alma num corpo em flutuação
que não aprendeu a esperar
Ate que por si só
vai se deteriorando
e despencando como
se não se sustentasse
mais na altura
e na suspensão do ar...
Cada coisa do mundo estava em suspenso, puro risco, e quem não aceitava arriscar murchava num canto, sem intimidade com a vida.
Aquele momento ficou suspenso no ar...
Etéreo, vital, invisível, especial. Virou lembrança de filme. Virei atriz de cinema mudo. Revirei-me.
E nesse papel, juro, ainda ganho o Oscar.
Beijarei a estatueta e beberei vinho olhando meu triunfo e derrota.
Brilho da minha paixão.
Fosse eu imóvel como tu, astro forjente.
Não mais suspenso da noite como a luz deserta a contemplar.
Com a pálpebra imortal aberta, longe da natureza.
E sonho incosciente, não mais firme e imultável sempre.
A descansar no seio que amadura de meu belo amor.
Para sentir e sempre o seu tranquilo arfar.
Desperto e sempre numa inquietação.
Para em seu meio respirar, ouvir de sorte.
E sempre assim viver ou desmaiar na morte.
Beija-flor quer beijar as flores, as mais intocáveis de todas. Brilham num jardim suspenso, deslumbram à luz do luar.
O céu é um jardim, a lua, o sol e as estrelas são flores, rosas de diversas essencias que o arco-íris rega da imensidão do horizonte.
Para fugir da concorrência que a natureza lhe propôs, o Beija-flor bate asas a procura de refúgio, um lar que seja tão doce quanto o néctar das flores. Mas quando dá por si, paira num deserto de espinhos.
SARAU
De todos os poemas que compus!
Uns se fez verso, outros canção
Nesse universo suspenso
Lagrimas, são para os lenços
Só temos motivos pra sorrir
Mas quando se vem da alma e acalanta
Não se espanta,
Algo lindo ou sobrenatural
Traga todas inspirações
Pra recitar hoje no nosso SARAU
Divida conosco a sua alegria
Faça parte dessa historia
Do nosso dia a dia
viva o amor e esqueça os problemas
Faça sempre a vida valer a pena.