Superfície
...Uma série de ferimentos aflorou à superfície da pele. Tudo por causa das palavras."
(A Menina que Roubava Livros)
O fato de o mar estar calmo na superfície não significa que algo não esteja acontecendo nas profundezas.
Tudo o que se vê é a superfície, apenas o resultado final.
Se todos buscassem ver o que existe abaixo da “ponta de iceberg” desta construção social não haveriam tantos conflitos de pensamentos e tantos corações ególatras carregados de razões.
A inspiração é a porta da abstração caótica na superfície enigmática do poeta. Somente quem for louco encontrará a porta certa.
Passei por ti sem que te visse
Vi-te depois de ti não ver
O lembrar traz à superfície
O que o olhar deixa perder.
Quando se escava um pouquinho abaixo da superfície, a vida de qualquer um pode ser original, interessante, cheia de nuances e impossível de encaixar numa definição fácil.
Não procure felicidade na superfície, ela está enraizada nas miudezas, dos pequenos gestos de ternura.
Seguro a pérola na palma da
minha mão e examino sua
superfície iridescente à luz do
sol. Sim, vou ficar com ela. Pelas
poucas horas que me restam de
vida, vou ficar com ela bem
grudada em mim. Este último
presente de Peeta. O único que
realmente posso aceitar. Talvez
ela me dê força nos momentos
finais.
Queria ser menos visceral. Juro, fico alarmada com quem sente a vida apenas na superfície, ao passo que, com poucas palavras, as pessoas podem abalar as colunas que me sustentam. (Livro A verdadeira Bela)
Não espere que eu seja contida. Minhas emoções extravasam minhas bordas, borbulham na superfície, transbordam de mim.
Expresso o que me toca. Não me peça pra ser impassível. Sou feita de sentir. E meu sentir faz bagunça, sobe no palco, salta do peito.
Gosto de viver assim: des-me-di-da-men-te-a-pai-xo-na-da.
Quisera eu, ser feita de silêncios. Daqueles que restauram e espelham. Daqueles que traduzem. Tem muito barulho por aqui. Tem o riso solto, a alegria escancarada, a música alta. Tem a vontade de realizar e uma implicância danada com essa coisa de se bastar. Uma fé infantil no futuro.
Sou feliz e grata com a vida que tenho mas vivo seguindo o conselho de Fernando Pessoa: não acostumo com o que não me faz feliz e revolto-me quando julgo necessário.
Não sei fingir sentimentos. Não sei ensaiar simpatia. Ainda não aprendi a ignorar o que me ofende, me acomodar com o que incomoda, usar o silêncio como suposta superioridade e pseudo-atestado de controle.
Jamais conseguiria, vivo à flor da pele, obedeço o coração. Meu riso será indecente quando surgido, meu questionamento será inevitável quando provocado, meu choro, um convite: me conheça.
Me faça surpresas, me leve para ver o pôr do sol. Sou cativada por detalhes, uma encantada por pequenices. Me escreva qualquer frase que combine com o seu querer, apareça do nada e me presenteie com cheiros, com cores, com vinho, com móbiles e palavras.
Não é difícil me fazer sorrir.
Não me queira cética. Acredito em milagres, em intuições, em abraços e em declarações de amor. Desacreditar seria desistir, seria entristecer. E eu recuso todo e qualquer convite da tristeza. Alegria é o que me inspira. Emoção o que me traduz.
Acreditar é o que explica a minha vida.
Me faça convites, me conte uma história. Vamos deitar numa pedra e admirar o céu sem procurar saber da hora. Meu relógio pára numa prosa em boa companhia.
Espere de mim ideias, perguntas e também respostas. Respostas gentis, atenciosas, debochadas ou tortas. Tem opção para todos os gostos e reciprocidade para todos os gestos. Mas não espere de mim amarguras. Não confunda a minha receita. Tenho doses de doçura e pimenta para muitas porções, mas nunca cultivei o rancor.
Espere de mim o perdão, o pedido e o concedido. Sei reconhecer minhas falhas e acredito em qualquer um até mesmo depois que me prove o contrário. Sei dar segunda chance a quem merece, a quem faz valer a caminhada. E assumo todos os riscos. Prefiro assim do que me confortar com serás. Sou adepta do tentar e também do refazer.
Conte comigo, te dou meu ombro e minha sinceridade. Chegue mais perto, pegue na minha mão. Divido meus sonhos contigo, te empresto meus discos e meus livros. Me dê conselhos, me dê espaço. Repouso no teu colo e te conto a minha história. Tenho essa mania errante de me espalhar por aí.
Não tenho muita paciência, releve esse meu pesar. Não tenho vocação pra viver a conta-gotas. Me instigue mas não me provoque tanto. Me queira serena, quieta, satisfeita. Tenho febres elevadas, desejos insaciáveis, tenho coragens infinitas quando desafiada.
Tenho a mania de deixar o desaforo da porta pra fora. Sabe aquele texto da Martha Medeiros que diz: "Não grite comigo. Tenho o péssimo hábito de revidar"? Pois é. Se eu pudesse, estenderia a mão e diria a autora: bate aqui. Meu maior defeito talvez seja este. Minha defesa primeira.
Conte com a minha bondade, abrace o meu afeto mas não subestime a minha mansidão. Não apronte comigo contando com a minha suavidade. Ainda não aprendi com a sabedoria daqueles que deixam pra lá, não compactuo com aqueles que se contém corroendo por dentro. Nessas horas extravio a educação bonita que mamãe me deu e sigo concordando que respeito é pra quem tem.
Pareço vento e de repente eu seja mesmo. Mas veja, sou simples de se capturar. Meu parecer talvez seja este: eu simpatizo com os urgentes e me recolho na intensidade. Suplico a paciência e enlouqueço na espera. O talvez não me responde, o quase não me convence, o "não sei" me sufoca o peito e me arde toda.
Eu vivo é de quereres, insaciáveis e emergentes. Reciclo minhas coragens e não confiro a temperatura da água. Eu mergulho. Inteira. E descubro que sei nadar.
Lidar com o pensamento profundo, não esses que apenas arranham a superfície do ser e qualquer copo de um belo vinho dissipa, mas aqueles que no recôndito da alma se entranham com realidades paralelas, desenterram dores, trazem a tona, verdades que você enterrou o mais profundo no oceano de tua alma esperando nunca mais confrontá-las. Estupido humanos somos, sempre esquecemos das tempestades.
Ei me diz, agora que a verdade te desnudou o que fará?
Que minha infinitude particular seja sempre superfície para os rasos. Quando pensam que profundo, transbordo.
Me aguarde, estarei aí em pensamento. Deixa eu tocar sua alma com a superfície da palma da minha mão. Sou mulher, sou livramento, sou doce, sou lua, sou do mundo e sou tua. Sou anjo, sou guerreira, sou princesa, domo dragões, sou fada, sou bruxa, sou adulta e sou criança.
Sou entre flor e nuvem. Sou a calmaria duma tarde silenciosa, num tempo tão distante. Sou sorriso e sou lágrimas, sou amor e esperança. ( Eliani Oliveira )
Cheio do vazio. Entediado e esvaziado. Saturado na superfície. O mesmo do mais, o mais do mesmo. Atemporal. Além da compreensão, da imaginação. Imortal. Devaneio no silêncio.
Na superfície da emoção o amor é o melhor regente, então usufrua desse território e explore cada ângulo desse terreno, com certeza encontrarás tesouros
Devemos edificar nosso castelo sobre uma superfície plana, pois não será sobre cacos de construções alheias que teremos uma estrutura sólida...