Suave como a Pimenta
Eu definitivamente cansei de me apaixonar e pensar que alguma coisa iria mudar. Cansei de quebrar a cara e ser forçada a desistir, cansei de criar expectativas, levantar a cabeça e colocar o coração em ordem. Isso tudo já virou rotina, e eu já perdi a crença que tudo isso possa ser real ou verdadeiro, hoje posso dizer que me encontro no modo automático.
A verdade é que, apesar de pedir diariamente aos céus para te esquecer, não sei se estou preparada. Ficará um buraco terrível no peito. Quem é que me fará transbordar apenas com um olhar?
Você liga na quarta me chamando para sair sexta e minha vida vira uma contagem regressiva. Perco a fome. O sono. Mas não reclamo, pelo contrário. Distribuo sorrisos, passeio com o cachorro, lavo a louça do jantar, chego animado no escritório e tudo é festa. A piada sem graça do colega de equipe me faz rir por minutos. Canto com gosto a música chata que toca no bar da esquina e, em vez de reclamar do calor escaldante que faz na noite de quinta, calço os chinelos, saio por aí, caminho pela orla, reparo na lua, sento no quiosque mais pé sujo da praia e tomo uma cerveja barata enquanto converso com alguém que nunca vi antes. Sorrio como se a vida tivesse antecipado meus créditos de felicidade. Daí o dia finalmente chega e, no metrô, todo mundo está animado, sem motivos, porque não precisa, esse dia é tradicionalmente leve, bom, contente, esperado. Mas ninguém sabe que para mim não é uma data qualquer. Torço para que a hora voe. Ela passa devagar. Crio diálogos, imagino abraços, prevejo beijos e, quando a noite cai, basta te ver vindo abrir o portão com o sorriso aberto no rosto, para que eu arremesse no espaço todos os meus ensaios. Aí você me abraça, dá um beijo na bochecha e pergunta como passei a semana com a inocência de quem não faz ideia de que foi dona de todos os meus dias. Eu respondo que correu tudo bem. E sorrio sem saber que esse dia é o mais aguardado do ano até o nosso próximo encontro. Naquela ligação você não me roubou só alguns dias, me roubou inteiro.
Às vezes a gente conhece alguém e logo sente que o perigo mora ali. Que no pequeno caminho traçado para o cumprimento com dois beijos no rosto tem uma mensagem subliminar que avisa “vai dar merda”. Por que não paramos? Por que prosseguimos? Qual é o nosso problema? Contigo, na hora em que nos apresentaram, estritamente no primeiro segundo, foi assim. Eu senti.
Se você não leu os livros favoritos dela e ouviu seu top cinco músicas favoritas para se escutar no carro por no mínimo duzentas vezes no volume máximo orando para que ela passasse pela rua no exato instante em que canta o refrão desejando fazê-la enxergar que existe no universo ao menos um ser humano que realmente se importa com todas essas coisas que ninguém tem interesse, você não tem o direito de querer enfiar na minha cabeça que para esquecer basta querer. O dia tem vinte e quatro horas e eu passo exatamente oito repetindo “ela não é a coisa mais importante da minha vida, ela não é a coisa mais importante da minha vida, ela não é a coisa mais importante da minha vida, ela não é a coisa mais importante da minha vida”. E vou dormir com a certeza de que ela é sim a coisa mais importante da minha vida. Sei que existe toda essa conversa sobre o amor-próprio ter de nos bastar e que devemos sempre vir em primeiro lugar, mas se existe no mundo alguém por quem você morreria, essa teoria besta deve ser jogada no lixo. Todos os dias ela passa por diversos lugares, para, cumprimenta pessoas, mas nenhuma delas a vê da forma que eu a vejo. Olhar para ela me faz misturar reações isoladas, aleatórias. Eu misturo as moléculas agitadas do meu corpo com o sorriso dela. Misturo a minha taquicardia com os cabelos dela. Misturo o vento com o cheiro dela. Misturo o caos do universo com a paz dela.Se você fala do mundo como se ele pudesse ser o mesmo sem ela ou não olha a foto dela a cada quatro horas porque ama os traços do seu rosto ou se esconde das pessoas por medo do quanto o amor pode te tornar patético, você não pode dizer como devo me sentir.
LUPINO
De carne e sangue
cru e em cheiro
uivo amargo
minha solidão pré-fabricada
De fé e instinto
Corro noctívago
Rumo à minha caçada
Confiança é o alicerce de qualquer coisa. A base de qualquer relação que você queira erguer. É o que te conduz a abrir o coração com espontaneidade, mencionar ambições em um lugar seguro, um ouvido leal para confessar segredos. Alicerces eu já achei vários, uns brandos e outros robustos. Encontrei em alguém não só um alicerce, mas também aquele sentimento que faz seu coração bater mais rápido e lento ao mesmo tempo, o tão desejado amor, aquele que extorqui sua consciência e sua aptidão em raciocinar.
A dor é sua e tão somente sua...
Pode ser uma traição ou um pequeno corte na mão.
A dor é só sua...
Só você a sente.
Não seja tão displicente em julgar a dor do outro fazendo dela tão pouco.
A dor é sua e só você a sente...
O certo e o errado são relativos, mas errado mesmo é aquilo que não te conduz a contemplação da felicidade, seja ela momentânea ou eterna.
Pessoas solitárias costumam ser mais solidárias, pois sabem como ninguém o quão péssimo é saber que não podem contar com ninguém além de si mesmo