Sou Besta com a Falsidade de uns
É mais fácil ignorar, cancelar, não tratar as próprias sombras. É mais fácil julgar que compreender e o homem sempre opta por aquilo que lhe poupa energia. E assim, os seres humanos vão ficando cada vez mais superficiais, pois aos poucos vão desprendendo a ouvir. São insensíveis à voz de Deus, à voz dos seus semelhantes, à própria voz. Por falta de conhecimento do Divino e de si mesmos, optam pelo caminho mais fácil, pela porta mais estreita e se destroem.
É quatro horas. Eu já fiz almoço – hoje foi almoço. Tinha arroz, feijão e repolho e linguiça. Quando eu faço quatro pratos penso que sou alguém. Quando vejo meus filhos comendo arroz e feijão, o alimento que não está no alcance do favelado, fico sorrindo à toa. Como se eu estivesse assistindo um espetáculo deslumbrante.
O branco é que diz que é superior. Mas que superioridade apresenta o branco? Se o negro bebe pinga, o branco bebe. A enfermidade que atinge o preto, atinge o branco. Se o branco sente fome, o negro também. A natureza não seleciona ninguém.
O Recreio
Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar ---
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...
--- E um menino de bibe
Sobre ele sempre a brincar...
Se a corda se parte um dia
(E já vai estando esgarçada),
Era uma vez a folia:
Morre a criança afogada...
--- Cá por mim não mudo a corda,
Seria grande estopada...
Se o indez morre, deixá-lo...
Mais vale morrer de bibe
Que de casaca... Deixá-lo
Balouçar-se enquanto vive...
--- Mudar a corda era fácil...
Tal ideia nunca tive...
Sobre a terra
adormecida
e mergulhada
em silêncio e pausa,
prevalecem os murmúrios
harmoniosos das flores
que se sabem belas.
Mãos invisíveis recolhem o viço.
Descolorem o corpo, do fruto,
da folha, da flor.
O tristonho do cinza
se apodera do espaço.
É a maternidade do mundo
recobrando suas crias.
Até o casamento
Trocamos olhares e partir daí, nos conhecemos e fomos dando valor a cada dia juntos como se fosse o último de nossas vidas; a paixão sempre se manteve acesa em nossos corações, com o tempo veio um pacote de verdades, emoções, carinhos, respeito, responsabilidades, então; descobrimos que o amor convivia conosco todos os dias; se passaram anos e veio o nosso entendimento sobre a vida a dois, já era hora de nos apresentarmos para os nossos familiares, amigos e toda a sociedade. Esse dia maravilhoso chegou e nós dois tivemos o prazer de dizer, sim!!!
Ciclo de terror
Sofro, por me ver agora;
Choro, com o gosto amargo da derrota;
Minha mente oferece cenas repetitivas e impiedosas, sem pedir permissão;
Grito com meu coração, por ser tão teimoso;
Me debato na cama com a dor da saudade;
Abraço o cansaço, que neste momento é o único remédio que tenho para dormir por alguns minutos, evitando todo este ciclo.
Resistência
A chuva cai lá fora,
Os ventos fortes continuam golpeando a janela,
O frio teimoso, invadiu a casa,
Mas a vela é rebelde e permanece acesa sem ter hora para apagar.
Céu de nuvens
Muita beleza ao mesmo tempo,
A arte ganhando vida em movimentos únicos,
Entre desenhos formados a olho nu, uma imensidão de cenários pedem passagem,
É esplendoroso ver as nuvens correndo quando olhamos para o céu!
Destino incerto
Uma casa perdida na floresta escondida pela sombra das grandes árvores,
a chaminé acesa dando a posição do nada no meio sereno da solidão,
entre as belezas e as dúvidas do silêncio o charme do barulho do pequeno rio e dos pássaros chamavam a atenção,
escurece lá fora, a lenha queima, o cheiro de chá forte é percebido e comentado pô os animais uivantes,
o frio da selva noturna chega acompanhado da saudade e pedem para se sentar,
mesmo sem plateia as lembranças de um passado próximo começam a dar um show,
olhar parado no tempo, lágrimas secadas pelos ventos, surra bem dada pelos sentimentos, a necessidade e a dor dançando juntas ao relento,
fogueira baixa, chaminé acesa, porta fechada, uma decisão é tomada,
ao amanhecer, mochila nas costas, muitas incertezas, porém muita coragem para caminhar na estrada sem destino.
Um aprendiz perguntou ao mestre:
_ Mestre,quando serei um líder respeitado e reconhecido por todos?
O mestre respondeu:
_ Quando você aprender a obedecer...
Eu deixo-me estar entre o poeta e o sábio.
Vinha a corrente de ar, que vence em eficácia o cálculo humano, e lá se ia tudo. Assim corre a sorte dos homens.
Durante algum tempo ficamos a olhar um para o outro, sem articular palavra. Quem diria? De dois grandes namorados, de duas paixões sem freio, nada mais havia ali, vinte anos depois; havia apenas dois corações murchos, devastados pela vida e saciados dela, não sei se em igual dose, mas enfim saciados.
Quem me pôs no coração esse amor de vida, senão tu?
A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos.
Não há juventude sem meninice.
O marido era na Terra o seu deus.
Primeira comoção da minha juventude, que doce que me foste!
Vendera muita vez as aparências, mas a realidade, guardava-a para poucos.
Amei a outro; que importa, se acabou? Um dia, quando nos separarmos...
O capitão fingia não crer na morte próxima, talvez por enganar-se a si mesmo.
Preferi dormir, que é modo interino de morrer.
Confesso que foi uma diversão excelente à tempestade do meu coração.
Ninguém me negará sentimento, se não é que o próprio sentimento prejudicou a perfeição...
Explico-me: o diploma era uma carta de alforria; se me dava a liberdade, dava-me a responsabilidade.
Eu amava minha mãe; tinha ainda diante dos olhos as circunstâncias da última bênção que ela me dera, a bordo do navio.
A beleza passara, como um dia brilhante; restavam os ossos, que não emagrecem nunca.
O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte.
Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.
Em verdade vos digo que toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas.
Eu, que levava ideias a respeito da pequena, fitei-a de certo modo; ela, que não sei se as tinha, não me fitou de modo diferente; e o nosso olhar primeiro foi pura e simplesmente conjugal.
Verdade é que tinha a alma decrépita.
Talvez cinco beijos; mas dez que fossem não queria dizer coisa nenhuma.
Eram tantos os castelos que engenhara, tantos e tantíssimos os sonhos, que não podia vê-los assim esboroados, sem padecer um forte abalo no organismo.
De amor? Era impossível; não se ama duas vezes a mesma mulher, e eu, que tinha de amar aquela, tempos depois, não lhe estava agora preso por nenhum outro vínculo, além de uma fantasia passageira, alguma obediência e muita fatuidade.
Morreu sem lhe poder valer a ciência dos médicos, nem o nosso amor, nem os cuidados, que foram muitos, nem coisa nenhuma; tinha de morrer, morreu.
Mas, se além do aroma, quiseres outra coisa, fica-te com o desejo, porque eu não guardei retratos, nem cartas, nem memórias, a mesma comoção esvaiu-se, e só me ficaram as letras iniciais.
Se os narizes se contemplassem exclusivamente uns aos outros, o gênero humano não chegaria a durar dois séculos: extinguia-se como as primeiras tribos.
A conclusão, portanto, é que há duas forças capitais: o amor, que multiplica a espécie, e o nariz, que a subordina ao indivíduo. Procriação, equilíbrio.
A valsa é uma deliciosa coisa.
Ventilai as consciências!
Há umas plantas que nascem e crescem depressa;outras são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta, folhuda e exuberante criatura dos bosques.
Uniu-nos esse beijo único - breve como a ocasião, ardente como o amor, prólogo de uma vida de delicias, de terrores, de remorsos, de prazeres que rematavam em dor, de aflições que desabrochavam em alegria - uma hipocrisia paciente e sistemática, único freio de uma paixão sem freio.
Correm anos, torno a vê-la, damos três ou quatro giros de valsa, e eis-nos a amar um ao outro com delírio.
Não há amor possível sem a oportunidade dos sujeitos.
Contou-me que a vida política era um tecido de invejas, despeitos, intrigas, perfídias, interesses, vaidades.
Recordei aquele companheiro de colégio, as correrias nos morros, as alegrias e travessuras, e comparei o menino com o homem, e perguntei a mim mesmo por que não seria eu como ele.
Só as grandes paixões são capazes de grandes ações.
Vi que era impossível separar duas coisas que no espírito dela estavam inteiramente ligadas: o nosso amor e a consideração pública.
Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar...
A intensidade do amor era a mesma; a diferença e que a chama perdera o tresloucado dos primeiros dias para constituir-se um simples feixe de raios, tranquilo e constante, como nos casamentos.
- Repito, a minha felicidade está nas suas mãos - disse eu.
Continuei a pensar que, na verdade, era feliz.
A velhice ridícula é, porventura, a mais triste e derradeira surpresa da natureza humana.
O caso dos meus amores andava mais público do que eu podia supor.
Quem escapa a um perigo ama a vida com outra intensidade.
Esta era a minha preocupação exclusiva daquele tempo.
Verá que é deveras um monumento; e se alguma coisa há que possa fazer-me esquecer as amarguras da vida, é o gosto de haver enfim apanhado a verdade e a felicidade.
Não digo tanto; há coisas que se não podem reaver integralmente; mas enfim a regeneração não era impossível.
Você não merece os sacrifícios que lhe faço.
Eu não, eu abençoava interiormente essa tragédia, que me tirara uma pedrinha do sapato.
Saiu; eu fiquei a ruminar o sucesso e as consequências possíveis.
Meu coração tinha ainda que explorar; não me sentia incapaz de um amor casto, severo e puro.
Era medo e não era medo; era dó e não era dó; era vaidade e não era vaidade; enfim, era amor sem amor, isto é, sem delírio; e tudo isso dava uma combinação assaz complexa e vaga, uma coisa que não podereis entender, como eu não entendi.
Cuido que não nasci para situações complexas.
O tempo caleja a sensibilidade e oblitera a memória das coisas.
Não a vi partir; mas à hora marcada senti alguma coisa que não era dor nem prazer, uma coisa mista, alívio e saudade, tudo misturado, em iguais doses.
Era-me preciso enterrar magnificamente os meus amores.
Era tudo: saudades, ambições, um pouco de tédio, e muito devaneio solto.
Morriam uns, nasciam outros: eu continuava às moscas.
A evolução, porém, é tão profunda, que mal se lhe podem assinar alguns milhares de anos.
Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros.
A vida elegante e polida atraí-a, principalmente porque lhe parecia o meio mais seguro de ajustar as nossas pessoas.
Esse sentimento pareceu-me de grande elevação; era uma afinidade mais entre nós.
Em suma, poderia dever algumas atenções, mas não devia um real a ninguém.
O leitor, entretanto, não se refugia no livro senão para escapar à vida.
Concluí que talvez não a amasse deveras.
Grande coisa é haver recebido do céu uma partícula da sabedoria, o dom de achar as relações das coisas, a faculdade de as comparar e o talento de concluir!
Quero dizer, sim, que em cada fase da narração da minha vida experimento a sensação correspondente.
Nunca me há de esquecer o benefício desse passeio, que me restituiu o sossego e a força. A palavra daquele grande homem era o cordial da sabedoria.
Vida é luta. Vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal.
Não havendo nada que perdure, é natural que a memória se esvaeça, porque ela não é uma planta aérea, precisa de chão.
Por que é que uma mulher bonita olha muitas vezes para o espelho, senão porque se acha bonita, e porque isso lhe dá certa superioridade sobre uma multidão de outras mulheres menos bonitas ou absolutamente feias?
De modo que, se eu disser que a vida humana nutre de si mesma outras vidas, mais ou menos efêmeras, como o corpo alimenta os seus parasitas, creio não dizer uma coisa inteiramente absurda.
Com efeito, era impossível crer que um homem tão profundo chegasse à demência.
Afirmo somente que foi a fase mais brilhante da minha vida.
Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento.
Todo ser humano possui livre-arbítrio. De outra forma, os conselhos, exortações, preceitos, proibições, recompensas e punições seriam todos sem propósito...
É mais fácil o Diabo transformar o Inferno num segundo Paraíso do que uma mulher, dentro de sua imperfeição, perdoar os defeitos de um homem.
"Quando pensar em falar mal de alguém, corra atrás de um espelho, e veja se você tem o direito de julgar alguém"