Sonetos de Saudade
AMANDO ...
Amo estar gostando, espírito ferino
De tanta sensação de lirismo alado
Um bem estar tão poético e divino
Tanto afeto, tanto prazer sagrado
Nele, sublime, de gosto cristalino
Ativando o coração apaixonado
Suspirando tal um ritmado hino
E, então, constante enamorado
Teve, nele, o olhar do paraíso
Ai sim, pode-se dizer há magia
Onde se acha o bem e o riso
Deixa gemer na piegas poesia
Cada verso, o poetar é preciso
Assim, amando, dar cor ao dia! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10/01/2021, 18’15” – Triângulo Mineiro
AMOR PERDIDO ...
Depois que tu foste, só depois, da partida
Notei que do manso amor, o meu é sujeito
O grato sentimento da sensação, da vida
E, se tem maior bem, desconheço o feito
Afeto ardente e forte, repleto e perfeito
Que na emoção a conformidade é diluída
Um olhar, afago, gesto com poético jeito
Que na boa afetividade a ventura é parida
Depois do vazio, só depois, me vi corso
Num aperto no pensamento que tortura
Que conquista a mente dando remorso
Não tem preço, amor perdido, só trava
A sede, a inspiração, suspiros, a ternura
Tu foste! esvaindo o mimo que me dava! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
13/01/2021, 19’18” – Triângulo Mineiro
BAMBO ....
Se o amor bater de novo na sensação
arrependido, para o meu sentimento
hei de dizer-te tudo com cara razão
e poética, quanto rasga o sofrimento
Pouco importa, ter já o entendimento
da dorida dor, sei eu, do luto e paixão
pois bem, nem mesmo o tal momento
do bom, tudo é mais uma recordação
Então, não venha mais virar a tramela
adentrar o meu olhar, e descontrolar
nos caminhos sempre terá outra viela
O amor vezeiro, é amor com alarido
bambo, perdido, tem basta o pesar
(só a morte) e nada mais é sabido! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14/01/2021, 09’01” – Triângulo Mineiro
AGOSTO NO CERRADO ....
Não é sempre está melancolia
o morno mormaço, esta fereza
de agosto, a secura que tristeza
no cerrado, agridoce dura poesia
Bela diversidade a sua natureza
um vendaval de cores e de magia
devaneio, como é vária sua beleza
e seu renovo, insistente teimosia
Dia e noite, noite e dia, feitiça fonte
vencedor de borrasca e de empeço
e lá se tem o pôr do sol no horizonte
Tão inarrável, encarnado, inconfesso
o qual da glória doura-me a fronte
ao arrostá-lo, pasmo e fulvo excesso ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14/08/2020, 18’01” – Triângulo Mineiro
PAIXÃO ....
Eu vi minha paixão. Arrebatada de alegria
em elevada sensação, que no amor ficara
em companhia de uma preciosa joia rara
a fez rica, quando outrora foi triste e fria
Quanto mais amava, quanto mais a sentia
banhada em sentimento de cortesia clara
cheia de ventura, de emoção e cor, ia para
o desejo, como quem vai viver gentil o dia
Pudera assim ter sempre essa primavera
nas manhãs de tais momentos solitários
existidos. Desejo e quero essa quimera!
Foi então que reconheci cada precisão
de um coração: mimos, olhares diários
num rosário para se ter a doce paixão! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17/01/2021, 06’01” – Triângulo Mineiro
INTEGRAL (soneto) ....
É bom que eu viva a cantar, no rumo
Do prazer, em um romântico comitê
Pois se da boa poética eu sou mercê
Da prosa, trovo, declamo e consumo
Num certo verso que venha, presumo
Expressar tudo que minha alma crê
Talvez, assim, então dizer o porquê
E me expor num entusiasmo sumo
E, se chegar a hora em que eu traga
No versar a solidão onde a dor vaga
Que seja a sofrência com solenidade
Já na ventura me darei mais alento
Porque saudade é mais padecimento
E o sentimento nunca é pela metade ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18/01/2021, 09’41” – Triângulo Mineiro
VERÃO .....
Verão... janeiro onde tudo esquenta
Em bando o raio do sol abafa o beiral
É mais triste o jardim na tarde sedenta
Onde as rosas já desmaiam no rosal
O alto verão! A hora é macilenta
Tem lerdeza, estio, sempre igual
Poeta, porque é que te atormenta?
Cá no sertão, é calor, chão tropical
Depois o seu entardecer é encantado
Dum horizonte de nuvem em novelo
Na grandeza do céu árduo do planalto
Verás sim, o abrasado torto cerrado
Em brado, as suas savanas em apelo
No pico da quentura, bafo, ponto alto! .....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18/01/2021, 07’37” – Triângulo Mineiro
ENLACE ....
No cerrado titã e rubro, a sensação pura
Dos galhos tortos, irregular na sua rudez
Sente no cessar o abraço de sua ternura
Que envolve a noite no agreste timidez
Como o entardecer alastra sua formosura
Que para o anoitecer, tão caprichoso, fez,
A lua e as estrelas, entregam-se à belezura
No céu, da graça que vem pela primeira vez
Quando surge, por fim, a tenra alvorada
O sertão, bulido pela sombra orvalhada
Recorda, assim, tal uma luxúria nupcial
E o cerrado, saciado, rubro e gentio
Vai, frente ao dia, divertido e ébrio
Celebrando este feito matrimonial! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
19/01/2021, 05’37” – Triângulo Mineiro
ALUCINA! ....
Aprisiona em teu verso, a sonhar, tudo quanto
Te é encanto: o gesto, o olhar, a rosa ofertada
E canta em gentil amoroso e sempiterno canto
A prosa, a poética, e a inspiração enamorada
Que a rima, vibre e guie, que não seja pranto
E então somente de uma cobiça apaixonada
Onde o sentir pulse e sacuda o seu recanto
E haja aquele ardor no alvor da madrugada
Encarcere cada uma palavra dita ao dispor
Traga do coração a sensibilidade, e faça
Sensação, pra então ter cantigas de valor
E trove a tua paixão num surto de alegria
Gabe-a, exalte-a, alucina, é cheio de graça
Saber musicar a feliz emoção na poesia! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20/01/2021, 15’42” – Triângulo Mineiro
ALVORES ....
No silêncio da aurora carmim de fevereiro
As alvas do cerrado nunca se abrem iguais
O céu azul emoldurando o verdor coqueiro
Num cenário de magia das artes tropicais
Tanta quimera faz crer que, o ar fagueiro
A imaginação poética do show quer mais
Pois, o encantado deslumbra por inteiro
E se sente a brisa dos sabores matinais
Aí, enquanto lá fora tudo é tão reluzente
Cá dentro a vitalidade desperta e escoa
E põe na vida valor, o diverso e poesia
E vais sem perceber o tender da gente
Sem prever o acaso, e que nada é à toa
Que existe o destinto em um novo dia! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22/01/2021, 05’52” – Triângulo Mineiro
18 HORAS NO CERRADO ....
O vento passa e o cerrado murmura
Porém tão achavascado que parece
Um canto, uma suplica, uma prece
Uma poética cheia de acre tristura
No horizonte o pôr do sol adormece
Turba-se a tarde, uma luz já fulgura
No céu, tão alva e farta de ternura
A noite caudalosa sobre ele desce
O silêncio embatuca convulsamente
Varrendo a negror ao peso do poente
Agigantada escuridão! O acme agora!
Tem da coruja o gemido cavo e pesado
Toda a melancolia, através do teu piado
18 horas, a noite no cerrado não demora! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23/01/2021, 18’00” – Triângulo Mineiro
paráfrase Ana Amélia
AMOR QUE NÃO TEM PREÇO ...
Depois que ti vi, só depois, razão na medida
Notei que sentiria amor que não tem preço
A poética maior do mundo, poesia da vida
E, se já apreciei algo igual, eu desconheço
Ardor feliz e casto, sentimento espesso
Abraço e a sensação na emoção diluída
No fiel olhar, cujo o bem e único apreço
É ser, sonhar, numa harmonia incontida
Depois que ti vi, só depois, eu entendi
Como é bom ter o coração na ventura
Invadido pela paixão, depois que ti vi!
De ter, junto a ti, o tal desejo que aporá
A felicidade, os beijos e a doce ternura
Na simpatia do amor amplo que me dá! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
24/01/2021, 07’56” – Triângulo Mineiro
O PRESIDIÁRIO ....
Ó meu coração, meu pobre coração que choras
Os soluços sentidos dum nefasto desventurado
Se a lei do amar te angustia em seguidas horas
Diante do afeto ninguém deve ser condenado
Se tem sede de mimo e se confiante imploras
O suave amparo de o cupido a ti deliberado
Que seja flechado de luz nas suaves auroras
Superando a regra da sorte que a ti é dado
Não há prisão, nem há solidão tão pobre
De um olhar abraçado, cumplice e nobre
Que não possa estar ao lado e ao dispor
Somos todos uma solta sensação serena
Quando o desejo deseja eximir de pena
Safando da sentença o condenado amor! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
24/01/2021, 16’50” – Triângulo Mineiro
VELHO ....
O tempo, e com ele a trôpega velhice
Vai se indo como a vida vai mandando
Gritando, calando, caindo, levantando
Hora austera, e também de sandice
É lenta, silenciosa e cheia de chatice
Ou não, cada qual com o seu mando
Se ainda for viável estar no comando
É o ápice do homem na sua meninice
E no espelho, o cabelo branco, a ruga
Pesando na idade, amadurado fruto
É a juventude numa derradeira fuga
A rua mesma, o sonho outro, apatia
Tudo é frágil em um cuidado bruto
Na chance de velho, madura poesia! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25/01/2021, 14’11” – Triângulo Mineiro
O MAIOR REVÉS DO VIVER
Cá dentro da alma de crer ser poeta
Alma feita de paixão e de imaginação
Sedento de devaneio e de sensação
Quanta coisa, quanta ilusão secreta
Quão querer escrever em linha reta
E, nas rimas aquela rima sem demão
A certeza do canto certo na emoção
A agnição que desejou ser completa
Porque a dor aberta, o que mais dói
E também que a tendência destrói
Não é a saudade do outrora perdido
Pois se foi, se suporta, é inevitável
É bem mais vândalo o irreparável
Do podido viver e não ter vivido!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21/10/2020, 09’27” – Triângulo Mineiro
A CRISTO NA CRUZ
Os olhos meus pregados nessa cruz
O vejo, nu, piedade deste que ti vê
Tolerar, tolereis, meu Deus, por quê?
Se ainda somos pecantes, ó Jesus!
Que, pois, fui um dos que não fiz jus
Ao amor Teu, e da piedade sem crê
O pus na cruz, neste feito do sofre
Cruelmente, fendendo a Vossa luz
Quisesse Vós por nós estar sofrido
E nós ó Pai, um indócil servo vosso
Na dor Vossa, muito por nós sofreu!
Que, pois, por nós estais revestido
No pesar, e pagar-vos não posso
Pois a morte Vós por nós venceu!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21/10/2020 – Triângulo Mineiro
PÔR DO DIA
Na hora silenciosa do sol poente
Na fleuma do cessar em melodia
Encenava a voz da prosa reluzente
Que no ocaso do cerrado ali jazia
No olhar, a divagação presente
Na sensação, a imaginação ardia
E a ilusão em um tom crescente
Rezava no horizonte uma litania
E o depois, sei lá do que o depois
Pois, fiquei comovido, e nós dois
Eu e a noite, admirados, bramia
E na incitação maior do agreste
Apenas sei que o que me deste
Evidente, foi um belo pôr do dia
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21/10/2020, 09’29” – Araguari, MG
INCERTEZA
Este, o soneto de sensação inquieta
Onde, ri e chora as horas de emoção
Chorado no papel, de um caro poeta
A fiel lembrança de cada uma ilusão
Este, canto de uma tenção completa
Que soa no peito com uma pulsação
De sofreguidão, de uma dor secreta
Cravada no sentimento e no coração
Este, que aqui versa o viver profundo
Lamenta a sorte e no mesmo segundo
De incerteza, rima o versejar tal amador
É para ti ó alma de afeto pendente
E a ti, ó paixão, se existe realmente
Vacila, e nem sabe do meu amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22/10/2020, 18’07” – Araguari, MG
INQUIETO SONHO
Quando n’alma do cerrado andei perdido
Desencontros, os encontros e mudanças
A voz do querer sussurrava-me ao ouvido
- O afeto só é bem se existem confianças
Esperanças, e no muito esperar, cansas
E, assim, só o alcanças, sem ser temido
Onde a paixão lhe traz boas lembranças
E o haver o vínculo não lhe é proibido
Todavia, quando o olhar se faz perto
Tornando o incerto em um algo certo
Nessa vaga de encontro me desponho
E, se me proponho a este doce carinho
É porque no peito a afeição eu alinho
E no ter, o amor, é um inquieto sonho
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
23/10/2020, 09’50” – Triângulo Mineiro
TRANSFIGURAÇÃO
Prende na loa as rimas apaixonadas
De tanto afeto, com tanto mistério
Lotando-a de inspiração e critério
As cantigas na fantasia realizadas
Dar-lhe-á o gosto das madrugadas
Enchendo com matiz o verso vazio
Gentio, num valente terno arrepio
De tantas, tantas doses consumadas
E nestas trovas tão cheias de lampejo
Vejo, o versar aquentar-se em brasas
Do sentimento em emoção e ardor
Então, depois da narrativa dum beijo
O desejo, ó criação, se fada de asas
E a poética em transfiguração de amor
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
24/10/2020, 10’28” – Triângulo Mineiro