Sonetos de Mário Quintana
Com a adição de mais um dia nos anos bissextos – esse indesejado 29 de fevereiro – a gente sempre desconfia que na verdade foi vítima de uma subtração.
Havia um tempo em que o céu mirava-se nos meus olhos e não meus olhos no azul do céu, o que não é nenhuma novidade, porque todo o mundo já passou por essa fase: só tem que nem todos se lembram.
A beleza de um verso não está no que diz, mas no poder encantatório das palavras que diz: um verso é uma fórmula mágica.
Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando os escreve e, por último, quando declamam os seus versos.
Poesia não é a gente tentar em vão trepar pelas paredes, como se vê em tanto louco por aí: poesia é trepar mesmo pelas paredes.
Às vezes eu pesco um leitor. Outras vezes o leitor me pesca. Entre uma coisa e outra, as águas vão passando.
A vida era muito mais intensa quando não passava, na média, de quarenta anos. Agora é um longo, um interminável arrastar de correntes: nós somos as almas penadas deste mundo.
Ah, esses livros que nos vêm às mãos, na Biblioteca Pública e que nos enchem os dedos de poeira. Não reclames, não. A poeira das bibliotecas é a verdadeira poeira dos séculos.
O leão é um animal tão belo que ser devorado por ele é melhor do que ser devorado por um crocodilo... Diante da sua arremetida, bem sei que se pode morrer de puro medo... porém nunca de horror.
Por que será que as pessoas virtuosas parece que estão sempre representando?
O primeiro sinal da incompreensão é o riso; o segundo, a seriedade.
Um poema só termina por acidente de publicação ou de morte do autor.
Mas só Deus – que é único, que não tem par – poderia dizer o que é a solidão.
Essas distâncias astronômicas não são tão grandes assim: basta estenderes o braço e tocar no ombro do teu vizinho.
Conversa de velho é cheia de parênteses e esses parênteses são cheios de parentes.