Sonetos de Mário Quintana
Livro bom, mesmo, é aquele de que às vezes interrompemos a leitura para seguir – até onde? – uma entrelinha... Leitura interrompida? Não. Esta é a verdadeira leitura continuada.
O mais triste nas praias de verão é que nos assemelhamos a um bando de focas tropicais.
Um dos motivos que me fazem acreditar em nossa origem extraterrestre é que o homem é o único animal que aprecia olhar os incêndios.
Os clássicos escreviam tão bem porque não tinham os clássicos para atrapalhar.
As que ocultam o rosto quando choram é para disfarçarem que estão rindo.
Os extrovertidos são julgados normais. Quanto aos introvertidos, chegam a submetê-los a tratamento. Mas para curá-los de quê? De não poderem ser chatos, como os outros?
O bom dessas grandes civilizações é que um dia elas se acabam e tudo começa novamente.
Não sou desses que um dia pensam uma coisa e no outro dia pensam outra coisa muito diferente. Eu penso as duas coisas ao mesmo tempo. Duas ou mais. Não tenho culpa de ser ecumênico.
É tal a sua pressa de comunicação que eles se esquecem de aprender primeiro a expressar-se.
Coragem não é documento: os gângsteres também são heróis.
O que há de terrível nos robôs não é como eles se parecem conosco, mas como nós nos parecemos com eles.
Um dia de chuva é bom para a gente comprar livros de poemas... Quem perguntar por que, de nada lhe adianta comprar um livro de poemas.
Não deves acreditar nas respostas. As respostas são muitas e a tua pergunta é única e insubstituível.
Assim devia ser a relação de autor para leitor: uma face nua num espelho límpido. Mas é tão difícil... Ou a face está mascarada ou o espelho embaciado.
Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras.
Se dependesse das mães, não haveria guerras! Mas as filhas preferem os soldados.
Os quadros são janelas abertas para o outro mundo deste mundo.
A vida está cheia de interferências indébitas, de acasos estúpidos, de personagens errados que travam conosco desencontrados diálogos de surdos, a vida está atravancada de pormenores inúteis, a vida parece um romance malfeito!
Um autor, primeiro, é assunto. Mas a glória, mesmo, é quando ele vira falta de assunto.