Sonetos de Mário Quintana
Um dia de chuva é bom para a gente comprar livros de poemas... Quem perguntar por que, de nada lhe adianta comprar um livro de poemas.
Não deves acreditar nas respostas. As respostas são muitas e a tua pergunta é única e insubstituível.
Assim devia ser a relação de autor para leitor: uma face nua num espelho límpido. Mas é tão difícil... Ou a face está mascarada ou o espelho embaciado.
Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras.
Se dependesse das mães, não haveria guerras! Mas as filhas preferem os soldados.
Os quadros são janelas abertas para o outro mundo deste mundo.
A vida está cheia de interferências indébitas, de acasos estúpidos, de personagens errados que travam conosco desencontrados diálogos de surdos, a vida está atravancada de pormenores inúteis, a vida parece um romance malfeito!
Um autor, primeiro, é assunto. Mas a glória, mesmo, é quando ele vira falta de assunto.
Com a adição de mais um dia nos anos bissextos – esse indesejado 29 de fevereiro – a gente sempre desconfia que na verdade foi vítima de uma subtração.
Havia um tempo em que o céu mirava-se nos meus olhos e não meus olhos no azul do céu, o que não é nenhuma novidade, porque todo o mundo já passou por essa fase: só tem que nem todos se lembram.
A beleza de um verso não está no que diz, mas no poder encantatório das palavras que diz: um verso é uma fórmula mágica.
Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando os escreve e, por último, quando declamam os seus versos.
Poesia não é a gente tentar em vão trepar pelas paredes, como se vê em tanto louco por aí: poesia é trepar mesmo pelas paredes.
Às vezes eu pesco um leitor. Outras vezes o leitor me pesca. Entre uma coisa e outra, as águas vão passando.
A vida era muito mais intensa quando não passava, na média, de quarenta anos. Agora é um longo, um interminável arrastar de correntes: nós somos as almas penadas deste mundo.
Ah, esses livros que nos vêm às mãos, na Biblioteca Pública e que nos enchem os dedos de poeira. Não reclames, não. A poeira das bibliotecas é a verdadeira poeira dos séculos.