Sonetos de Mário Quintana
Se alguém acha que estás escrevendo muito bem, desconfia… O crime perfeito não deixa vestígios.
Hoje o que mais se precisa é de silêncios que interrompam o ruído.
Todo poema é uma aproximação. A sua incompletude é que o aproxima da inquietação do leitor. Este não quer que lhe provem coisa alguma. Está farto de soluções.
Tenho uma enorme pena dos homens famosos, que por isso mesmo perderam sua vida íntima e são como esses animais do Zoológico, que fazem tudo à vista do público.
Vivemos conjugando o tempo passado (saudade, para os românticos) e o tempo futuro (esperança, para os idealistas). Uma gangorra, como vês, cheia de altos e baixos – uma gangorra emocional. Isto acaba fundindo a cuca de poetas e sábios e maluquecendo de vez o Homo sapiens. Mais felizes os animais, que, na sua gramática imediata, apenas lhes sobra um tempo: o presente do indicativo. E que nem dá tempo para suspiros...
Não tentes tirar uma ideia da cabeça de outrem porque, examinando bem, verás que em geral não se trata de ideias, mas de convicções. São inextirpáveis. E a causa única de todas as guerras – políticas ou religiosas, paroquianas ou internacionais.
Delícia de fechar os olhos, por um instante e assim ficar, sozinho, fabricando escuro... sabendo que existe a luz!
O que mais me revolta nas matemáticas são as suas aplicações práticas.
Todo esse apego do homem ao cachorro é porque o cachorro considera o seu dono o primeiro homem do mundo...
Se a tua vida não puder ser uma tragédia grega – por amor de Deus! – não a faças um tango argentino...
A única coisa que nos diferencia de peixes num aquário é que temos consciência dos limites de nosso mundo…
Haverá coisa escrita que não seja póstuma? Tudo que sai impresso é epitáfio...
Os chinelos são um par de gêmeos obedientes, sempre juntinhos ao pé da cama, pacientemente à espera do papai, que às vezes custa tanto a chegar.
Preocupar-se com a salvação da própria alma é indigno de um verdadeiro gentleman.
Fazia tanto calor que as sombras se ocultavam debaixo da barriga dos cavalos e da copa das árvores.
O bom das filas é nos convencerem de que afinal esta pobre vida não é tão curta como dizem.