Sonetos de Mário Quintana

Cerca de 667 frases e pensamentos: Sonetos de Mário Quintana

É preciso a saudade para eu te sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

Mario Quintana
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.

Nota: Trecho do poema Presença.

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Inserida por MarcioAAC

O ópio

Dizem os comunistas que a religião é o ópio do povo; outros dizem que o ópio do povo é precisamente o comunismo; se pedissem a minha opinião, eu diria que o ópio do povo é o trabalho.

Mario Quintana
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
Inserida por pensador

Do trabalho

O trabalho é a farra dos velhos.

Mario Quintana
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
Inserida por pensador

As civilizações

As civilizações desabam
por implosão...
Depois,
como um filme passando às avessas
elas se erguem em câmera lenta do chão.
Não há de ser nada...
Os arqueólogos esperam, pacientemente,
A sua ocasião!

Mario Quintana
Quintana de bolso. Porto Alegre: L&PM, 1997.
Inserida por pensador

Não basta saber amar…

Neste mundo, que tanto mal encerra,
não basta saber amar,
mas também saber odiar,
não só servir a paz, mas também ir para a guerra.
Seguiremos assim o próprio exemplo
de Jesus, que tanto amor pregou na Terra...,
quando Ele,
num ímpeto de cólera,
a relhaço expulsou os vendilhões do templo!

Mario Quintana
Quintana de bolso. Porto Alegre: L&PM, 1997.
Inserida por pensador

A mudança

A alegre, a festiva agitação das panelas e tachos
A inútil zanga dos velhos armários de mogno, solenes,
Achando tudo aquilo uma grande palhaçada...
As xícaras e pires fazendo tlin-tlin-tlin-tlin
As gaiolas dos passarinhos cantando em coro com os
próprios passarinhos
Oh! a alegria das coisas com aquela mudança
Para onde? Não importa! Desde que não seja
Este eterno mesmo lugar!

Mario Quintana
Quintana de bolso. Porto Alegre: L&PM, 1997.
Inserida por pensador

Alegria

Não essa alegria fácil dos cabritos monteses
Nem a dos piões regirando
Mas
Uma alegria sem guizos e sem panderetas...
Essa a que eu queria:
A imortal, a serena alegria que fulge no olhar dos santos
Ante a presença luminosa da morte!

Mario Quintana
Apontamentos de história sobrenatural. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Inserida por pensador

Cada palavra é uma borboleta morta espetada na página:
Por isso a palavra escrita é sempre triste...

Mario Quintana
Apontamentos de história sobrenatural. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

Nota: Poema Tristeza de escrever.

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Inserida por pensador

Interrogações

Nenhuma pergunta demanda resposta.
Cada verso é uma pergunta do poeta.
E as estrelas...
as flores...
o mundo...
são perguntas de Deus.

Mario Quintana
Apontamentos de história sobrenatural. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Inserida por pensador

Descobertas

Descobrir continentes é tão fácil como esbarrar com um elefante:
Poeta é o que encontra uma moedinha perdida...

Mario Quintana
Apontamentos de história sobrenatural. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
Inserida por pensador

Se tu me amas...ama-me baixinho.

Mario Quintana

Nota: Versão adaptada de trecho de Link

Idades só há duas: ou se está vivo ou morto.

"Das cartas que me escreve, faço barcos de papel"

Pior do que ser abandonado é ser esquecido.

⁠A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa.

A ignorância rasa e simples é coisa honesta e conserva desanuviado o entendimento.

Despertador só é útil para lembrar de mudar de lado e dormir de novo

“Vale a pena viver - nem que seja para dizer que não vale a pena...”

Não pretendo que a poesia seja um antídoto para a tecnocracia atual. Mas sim um alívio. Como quem se livra de vez em quando de um sapato apertado e passeia descalço sobre a relva, ficando assim mais próximo da natureza, mais por dentro da vida. Porque as máquinas um dia viram sucata. A poesia, nunca.

Mario Quintana
De uma entrevista para o boletim do IBNA. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
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Toda opção é um ato de desespero.

Mario Quintana
A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.