Sonetos de Mário Quintana

Cerca de 667 frases e pensamentos: Sonetos de Mário Quintana

Mas se a vida é tão curta como dizes
por que é que me estás lendo até agora?

Mario Quintana
A vida. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

⁠Eles passarão
Eu passarinho

Foi um Poeta, tradutor e jornalista brasileiro.
@omarioquintana

Inserida por omarioquintana

Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão. @omarioquintana

Inserida por omarioquintana

EMERGÊNCIA

QUEM FAZ UM POEMA ABRE UMA JANELA...

Inserida por IsraelSoler

Tua orelha num frêmito desnuda-se:
O que seria
O que seria que te disse o vento?

Inserida por chico_andrade

⁠Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mario Quintana
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005.
Inserida por marcosarmuzel

Proletário

Sujeito explorado financeiramente pelos patrões e literariamente pelos poetas engajados.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
Inserida por pensador

A memória é um sótão atravancado de objetos inúteis, onde tanto desejaríamos encontrar aquelas coisas perdidas que – de tão perdidas – já nem sabemos mais.
O que sejam...

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
Inserida por pensador

Pensamento para o teu aniversário

Nem todos podem estar na flor da idade, é claro! Mas cada um está na flor da sua idade.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
Inserida por pensador

Aula de filosofia

Eu só te poderia dar uma noção do nada se não tivéssemos nascido. Agora é tarde, é muito tarde, minha filha... Ah, deliciosamente tarde!

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
Inserida por pensador

O poema é um objeto súbito:
Os outros objetos já existiam.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
Inserida por pensador

Meditação para o dia de Natal

Ah! Aquela confiança que tem uma criança rezando... Inocente confiança. Alegria. Quem é de nós que reza com alegria? Parece que só existe mesmo o Deus das crianças... Deus é impróprio para adultos.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
Inserida por pensador

Diálogo inútil

– Mas por que tu não fazes um poema de amor?
– Todos os poemas são de amor.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
Inserida por pensador

Bebê

Coisinha deficiente, inconsciente, inerme, inválida, trabalhosa, querida.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
Inserida por pensador

Bilhete

Ora, como dizia o festejado
arqui-sofista Valerius:
“O Universo é uma nódoa
na perfeição do Não-ser”...
Relembro isto ao tentar mandar-te
– ante a pureza intocada
desta página –
uma mensagem
de Natal. “Mas”,
- diz-me a página, “essa mensagem
foi mandada há muito (pergunta
aos três Reis Magos
se não foi...)”
Ah! Sim, eles tinham a Estrela!
Mas onde é que ela está?
A gente por aqui só encontrou depois
estrelas pirotécnicas
estrelas-do-mar
estrelas de generais.
Melhor não falar e
– em vez de escrever
qualquer palavra que macularia
uma pobre página, ainda nuinha
como a verdade –
será bom apenas desenhar
coisas
sem nenhum conceito
para atrapalhar...
Hoje,
dia de Natal,
eu desenharia pois
– toscamente –
nesta página
a Virgem, o Menino, o burrico...
– imagina
o bem que isso nos faria aos dois...
Porque então,
eu não estaria
te mandando umaideia
apenas...
Eu te mandaria umaVisão!

Inserida por pensador

Tudo tão vago...

Nossa Senhora
Na beira do rio
Lavando os paninhos
Do bento filhinho

São João estendia
São José enxugava
E o menino chorava
Do frio que fazia

Dorme criança
Dorme meu amor
Que a faca que corta
Dá talho sem dor
(de uma cantiga de ninar)

Tudo tão vago... Sei que havia um rio...
Um choro aflito... Alguém cantou, no entanto...
E ao monótono embalo do acalanto
O choro pouco a pouco se extinguiu...

O Menino dormira... Mas o canto
Natural como as águas prosseguiu...
E ia purificando como um rio
Meu coração que enegrecera tanto...

E era a voz que eu ouvi em pequenino...
E era Maria, junto à correnteza,
Lavando as roupas de Jesus Menino...

Eras tu... que ao me ver neste abandono,
Daí do Céu cantavas com certeza
Para embalar inda uma vez meu sono!...

Inserida por pensador

O poema do amigo

Estranhamente esverdeado e fosfóreo,
Que de vezes já o encontrei, em escusos bares submarinos,
O meu calado cúmplice!
Teríamos assassinado juntos a mesma datilógrafa?
Encerráramos um anjo do Senhor nalgum escuro calabouço?

Éramos necrófilos
Ou poetas?
E aquele segredo sentava-se ali entre nós todo o tempo,
Como um convidado de máscara.

Mario Quintana
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
Inserida por pensador

Da sinceridade

Tens um amigo que fala bem
E um cão que nada explica.
Um jura-te amizade… O outro, porém,
Seus bons serviços te dedica.

Mario Quintana
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
Inserida por pensador

Os silêncios

Não é possível amizade quando dois silêncios não se combinam.

Mario Quintana
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
Inserida por pensador