Sonetos de Mário Quintana
Não te abras com teu amigo Que ele tem um outro amigo tem e o amigo doteu amigo possui amigos também...
Desconfia da tristeza de certos poetas. É uma tristeza profissional e tão suspeita como a exuberante alegria das coristas.
Feliz é aquele que sabe abrir os olhos quando acorda, enxergar sempre a manhã numa nuance mais exata.
Qualquer um pode se tornar um poeta quando está amando, o duro é ter que se fazer de um justamente por não estar.
Quando um amigo morre, uma coisa não lhe perdoamos: como nos deixou assim sem mais nem menos, assim no ar, em meio de algo que lhe queríamos dizer ou – pior ainda – em meio do silêncio a dois no bar costumeiro? Que outros hábitos, que outras relações terá ele arranjado? Que novas aventuras ou desventuras de que não nos conta nada?
Acusarem um poeta de ser egoísta é acusá-lo de ser ele mesmo.