Sonetos de Mário Quintana

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O verdadeiro analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê.

A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos...

Mario Quintana
Libertação. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

A psicanálise? Uma das mais fascinantes modalidades do gênero policial, em que o detetive procura desvendar um crime que o próprio criminoso ignora.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Só as crianças e os bem velhinhos conhecem a volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperanças são breves.

"Diabético" é quem não consegue ser doce.

O maior chato é o chato perguntativo. Prefiro o chato discursivo ou narrativo, que se pode ouvir pensando noutra coisa...

A eternidade é um relógio sem ponteiros.

O mais triste de um passarinho engaiolado é que ele se sente bem.

Amigos não consultem os relógios quando um dia me for de vossas vidas... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira.

Nos foram dadas duas pernas para andar, as duas mãos para segurar, dois ouvidos para ouvir, dois olhos para ver…mas por que só um coração? Porque o outro foi dado a alguém para nos encontrar.

Esse estranho que mora no espelho (e é tão mais velho do que eu) olha-me de um jeito de quem procura adivinhar quem sou.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?

A felicidade bestializa, só o sofrimento humaniza as pessoas.

Eu não tenho paredes. Só tenho horizontes...

Mario Quintana
Ora bolas: o humor de Mario Quintana. Porto Alegre: L&PM, 2006.

Voa um par de andorinhas, fazendo verão. E vem uma vontade de rasgar velhas cartas, velhos poemas, velhas cartas recebidas. Vontade de mudar de camisa, por fora e por dentro... Vontade... para que esse pudor de certas palavras?... Vontade de amar, simplesmente.

O despertador é um acidente de tráfego do sono.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

O silêncio é um espião.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Triste de quem não conserva nenhum vestígio da infância.

Só tu soubeste achar-me... e te foste!

A modéstia é a vaidade escondida atrás da porta.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.