Sonetos de Mário Quintana

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Vale a pena viver - nem que seja para dizer que não vale a pena.

Democracia? É dar, a todos, o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, isso depende de cada um.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Nota: O pensamento costuma ser incorretamente atribuído a Fernando Sabino.

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O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Não me ajeito com os padres, os críticos e os canudinhos de refresco: não há nada que substitua o sabor da comunicação direta.

Só se deve beber por gosto: beber por desgosto é uma cretinice.

Se alguém te perguntar o que quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo...

Esses padres conhecem mais pecados do que a gente...

Ah, esses moralistas... Não há nada que empeste mais do que um desinfetante!

Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Maravilhas nunca faltaram ao mundo; o que sempre falta é a capacidade de senti-las e admirá-las.

Mas, afinal, para que interpretar um poema? Um poema já é uma interpretação.

Mario Quintana
Intérpretes. In: A vaca e o hipogrifo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Minha vida é uma colcha de retalhos. Todos da mesma cor.

Quando guri, eu tinha de me calar à mesa: só as pessoas grandes falavam. Agora, depois de adulto, tenho de ficar calado para as crianças falarem.

De um autor inglês do saudoso século XIX: O verdadeiro gentleman compra sempre três exemplares de cada livro: um para ler, outro para guardar na estante e o último para dar de presente.

Quem pretende apenas a glória não a merece.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

Há uns que morrem antes; outros depois. O que há de mais raro, em tal assunto, é o defunto certo na hora exata.

No céu é sempre domingo. E a gente não tem outra coisa a fazer senão ouvir os chatos. E lá é ainda pior que aqui, pois se trata dos chatos de todas as épocas do mundo.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

O tempo é um ponto de vista. Velho é quem é um dia mais velho que a gente...

Se um poeta consegue um dia expressar as suas dores com toda a felicidade como é que poderá ser infeliz?

Mario Quintana
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.