Sonetos de Amor
NOME FLUÍDO NO AMANHECER
Dentro, na esconsa sensação, onde fervia
No coração os sentimentos sussurrantes
Num raio fulvo, brilhante de uma agonia
Espanejando aflição nas dores faiscantes
Senti-a: pulsar na solidão, tão distantes
Capitosa saudade no peito então ardia
E em tédio, duns agrados inconstantes
Enjoo, brado e tristura, dos lábios saia
E eu pensativo, eu lúrido, eu descrente
Curvei-me naquela janela, com tal frieza
Sem o cerrado o quase persentir sequer
Meu lamento, aos poucos, lentamente
Nos olhos lacrimejados de uma tristeza
Daquele nome fluído no amanhecer!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07 de maio, 2021, 09’31” – Araguari, MG
"MEMORY”
Recorda-te de mim quando eu ausente
For do teu alcance, no poente e isolado
Sentimento, sem meu olhar ao teu lado
E a afeição pulsar o que não mais sente...
Quando não mais importar, e de repente
Tudo sem palavra, sem que hás sonhado
O sonho da gente, promessa no passado
Onde a sensação é um vazio inteiramente...
Chora eu, um choro calado, e choro dares
Ao falto, e lembrares de nós novamente!
Aí, deixe o pranto nos aflitivos pesares...
E se houver suspiros, no que não mais existe
Melhor esqueceres a poesia ali tão presente
Nos versos meus, que agora é memória triste!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Maio, 10, 2021, 13’37” – Araguari, MG
SUSPIRO OFEGANTE
Que é saudade sem ter-te? apenas um vão
Dum sentir frio e o vazio sem a face da lua
O desejo sem te ter? Esvaziado na solidão
Emoção que pelo céu a recordação flutua
Passo a passo. O caminho sem ti? Imensidão
Da noite usurpando o dia, grito e agonia nua
Sofrência? Lágrimas, ai! E pranteia o coração
Pra esquecer o encanto, a graça, prenda sua
Que é de meu poetar? Calado e pobrezinho
Sem o teu olhar. São palavras soltas sem lugar
Peregrino solitário, infecundo e sem carinho
Íngreme e pesado fado, sou eu sem instante
Onde o afeto vive perdido e sem poder amar
Na sobra da tristura e num suspiro ofegante!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Maio, 11, 2021, 09’46” – Araguari, MG
INDAGAÇÃO
Pus-me a recordar os amores venturosos
Que eu, poeta, em alguns poemas cantava
E em cada trova, à poética, acrescentava
O nome, a emoção, os agrados generosos
E no fado aqueles momentos portentosos
Anos de minha vida, assim, os comparava
Com doce sabor, a cortesia, que lembrava
Dando aquele amargor de dias saudosos
Sorrindo, eu percebi que o versar sentia
A mesma sensação do coração, a alegria
E, a poesia em tons de espanto e clamor
questionava: então adivinha quem sou?
Uma paixão, argumentei. E a voz tornou
numa prosa clara: Paixão, não. O Amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Maio, 11, 2021, 18’43” – Araguari, MG
MINHAS SAUDADES
As minhas saudades! A todas elas fio
Na poesia, arrendadas da lembrança
Entre os dedos coando o sofrer vadio
Do falto, eis que me vou nesta dança:
- Não queria ver-me, assim, neste estio
De poética rimando o pesar em aliança
Hora por hora, em um sentimento frio
Sem quem me adore, sem esperança...
Pranto e choro! Ó solidão, triste prece
Um poetar no morto papel de fatuidade
Num aperto, que tudo inda estremece!
Ó inspiração, tu que sopras estas dores
nos poemas onde só queria suavidade?
Assim, só trama saudade dos idos amores!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Maio, 12, 2021, 20’46” – Araguari, MG
PASSARÃO
Podes meu eu repudiar, quando quiseres
De súbito, quando a desilusão me crucia
O ideal da má sorte uno, se, assim, preferes
Apressa-te e me asfixie nessa árdua poesia
Ah! deixe então à mercê da vil crueldade
O meu trovejar piegas, e que então fine
Na desilusão a fúria bravia da tempestade
Do desprezo, assim, então o desejo arruíne...
Se me hás de desprezar, afirmo, seja logo
E não depois em que o afeto estiver calado
Desdenhe-me de pronto, assim, me afogo
Na ilusão do ideado tão querido pelo fado
Dores, pranto, suspiros vou ter no coração
Tendo-te perdido eu, mas, eles passarão!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
14/05/2016, 09'35" - Araguari, MG
PERJURO
Busco à noite, o silêncio, exausto de saudade
Pois é justo o repouso do sentimento fatigado
Novo instante, entanto! Lembrança que brade
Na emoção solitária. O desassossego acordado
Penitência ou vigília? Eu sei que n’alma invade
Toma de todo o pensamento, cada um pecado
Nesta disputa do coração, tão dura eternidade
Largando o meu olhar no tormento assustado
Bem aberto, tenho a sensação ali dormente
Na escuridão, cego, sinto mais que um vidente
Cada batida, cada som do suspirar no escuro
Assim, de dia a poesia, e de noite, à traição
Por que hão de me tirar a poética e a paixão
Dum amor que não deu, se era pra ser puro!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
14/05/2016, 13'40" – Araguari, MG
ANSIEDADE
Ando escuro, vago, sensação vazia
Mãos alquebradas de muito poetar
Atrás de uma poética que me sorria
E que em vão inspirei por alcançar...
Busquei por uma encantada alegria
Tive venturas, ilusões, e pude amar
Preso ao versejar puro que me guia
Cantei fascínio, tormentos, e o luar
Venho calado, exausto, sem alento
Porém, nem a tristura ou o lamento
Saem de minha poesia, macerada...
Assim, é o fado, dado, não me iludo:
Contudo, em querer tudo, eu saúdo
O certo amor, exige pouco ou nada!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
15 maio, 2021, 10'40" – Araguari, MG
DE SAUDADES MORRO
Eu senti uma saudade que renderam
sutis recordações ao coração, coitado
e que, doído, assim, se viu assustado
contra mim sofreguidão arremeteram
Me vi na solidão do que prometeram
um prosar do meu destino já cansado
e que, aqui pelas bandas do cerrado
pesar nos versos que um dia elevaram
Remédio ao mal que sofro, sem pista
cresce a dor, no engano então presente
no rendido suspiro: que pede socorro...
Assim, vejo que não há como resista
toda lembrança na saudade presente
E, de lembrar-te, de saudades morro!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2021 maio, 22, 11'09" – Araguari, MG
CERIMÔNIA
Do contente fado na felicidade, quando
meiga sensação vem ao coração da gente
eu vou minha ventura, assim, tão vivente
aos sentimentos à satisfação numerando
Quando o querer agrado vem mostrando
dentre olhares, aquele, auriesplendente
com suspiros, sedução e o ardor fervente
vou os encantadores encantos renovando
Se doira ao desejo em áureo sacramento
do amor, ah! como é doce e bela a poesia
dobra-me a valia numa poética inspiração
Vem o júbilo, então, na sede, alimento
que a alma necessita, de noite e de dia!
E para vida a comemoração e a gratidão...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2021 maio, 23, 08'55" – Araguari, MG
QUESITO
Ao ver-te, saudade, na dor em glória
Altiva, tristonha, dando à vida pesar
Eu lacrimejei todo o meu festo olhar
... também sou parte nesta memória
Engasgada e atada toda essa estória
Tão frios breus, guardado a me sugar
Quem sabe donde saltar desse lugar
Se já ido cada tom, cada dedicatória
Agora sós, e a vaguear por lembrança
Ao léu, somos passados sem o porvir
Trovados na ilusão sem ter esperança
Então, fico detido sempre a refulgir
O olhar, a nossa promessa, a aliança
Por que então tivemos que partir?
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29/maio/2021, 13’34” – Araguari, MG
LIVRAI-NOS...
Oh paixão fumeante, no sentimento imerso
Dai suspiros ao coração e conceitos serenos
Mostra de ti sensações e o benigno anverso
Da afeição. Aos amadores que creem menos
Aquele que só conta com o que é previsível
Sem importar com o olhar que já é indefeso
O abraço carente, e a fúria do beijo incrível
Disfarçados de monotonia, dando desprezo
Piores dores é o desdém da ardilosa dolência
Sem perdão, sem expiração e, nos atrai nus
Na alma, na emoção sem qualquer essência
Molda o querer, ó ilusão, olhai a nós, Jesus!
Que apenas deseja o afeto, sem aparência
Pra só então, amar e ser amado. Livrai-nos!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
02, junho, 2021, 10”29” – Araguari, MG
APRESSA-TE
Basta-te depressa, o tempo é fugaz
A vida passa num piscar, sem temor
Que hoje é viveza e desejo lhe traz
Amanhã, já não mais lhe terá amor
Gostemo-nos agora, o viver é fugaz
Dando laços, vamos, ofertando flor
Agrado leve que ao coração satisfaz
E um querer manso, feliz e sedutor
Vagando serenamente por um olhar
Estar, e no coração sentir a pulsação
Sem que a desdita venha perturbar
Existamos hoje, na sede, na paixão
Mantendo acesa a chama de amar
Que flama, divina, na viva sensação
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
21, junho, 2021, 14’25” – Araguari, MG
SE VOS SENTI...
Ah! Tempos idos! Ah! ido Fado!
Quão duro a sorte por ti decidida
O tempo passa, fugaz, de partida
A candura. Acrescendo o passado
Deixaste-me na ilusão apaixonado
Pranto e choro tu encheste a vida
Então, resta haver a alma garrida
Deixando o êxito, feliz e dobrado
Ah! quanto mais se poetar querer
Se quer mais uma afeição querida
Que fico duvidoso se vos senti...
Então, aquela sensação de perder
Na garganta, na impressão ferida
Lacrimejo o que tolamente pedi!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Araguari, MG - 15/07/2021 - 09'28"
SAUDADE ANTIGA
Há qualquer coisa de saudade antiga
na poesia que suspira e chora agora
alguma coisa tal uma sensação amiga
na trova o brilho de sol posto, outrora
Há a razão de toda a agonia, que diga:
pesar que estrangula e vai noite afora
no sentimento, pensamento, ó urtiga
que pinica, intriga e não vai embora
É dor com alma, é dor humana, dor...
ó Senhor, preenche este verso incolor
com mais agrado e agrado possa ter
Ah! aflijo sem nome, ah! aflijo infrator
que o fado verse com cuidado e amor
prosa suave e, assim, sossego no viver!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG – 24/07/2021, 18’58”
GÉRMEN
Eu te lanço ao coração, ó pequenina semente
de força, germina, surge à sensação, e então
aguardo o sentimento vivo e o anseio ardente
de um amador que na sede deseja a floração
Se desta esta vontade o meu agrado já sente
prazer em te cantar. Eleva desta suave canção
a mais amável emoção na emoção da gente
tal a alegria de um poeta em sua inspiração
Hás de ser a triunfal sedução enamorada
aquela gestação de sonhos, aquele abrigo
a quem vem procurar nesta cortês estrada
Cumprirás com justeza o poético preceito
do amor, fazendo do amor aquele amigo
florescendo uma paixão no açorado peito...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG – 26/07/2021, 12’45”
AFLIÇÃO
Pulsa no cerrado o horizonte imenso
Num entardecer purpúreo candente
No desanimo surges, tão lentamente
Lembranças, molesto e tédio denso
Que eterniza a agonia e sentir tenso
De um passado caprichoso e ardente
Embora aqui presente, está ausente
Na emoção. Turrão ainda é extenso
E o pôr do sol é tormento e nostalgia
Em um acre perfume, árduo expiro
E a uma sensação aflitiva me contagia
Nesse anseio a saudade n’alma arde
És um passado de amor feito suspiro
Suspiro e caro pesar no cair da tarde!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG – 26/07/2021, 18’00”
ESQUECER-TE NÃO PUDE
Ah, esquecer-te não pude, é que quem diria?
teimosas lembranças evocam a finda paixão
as angústias de uma noite, lágrimas na poesia
relembram na prosa infinda suspirosa sensação
Teu amor! em um tempo a que eu amaria
fez pulsar de amor o meu confiante coração
depois, vieram gestos que eu não conhecia:
- o silêncio, a distância, em um feito vilão...
Dói, mas vivem em um presente passado
pulsando desejos que quer ser apagado
insistindo no dia que me deu aquela flor
Ontem, chorei, sim, e me foi tão cruciante
cada saudade me fazia dum eterno amante
marcante... não pude esquecer desse amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG - 28/07/2021, 18’19” -
POR QUE
Por que, em vez do silêncio, não me arraste?
Por que foste tu alvo, a emoção enamorada?
Por que sempre, na lembrança, és tu citada
E em cada verso o teu doce cheiro deixaste?
Por que no olhar aquele olhar com desgaste
Do desejo? por que, ó minha singular amada
Poeto, e suspira uma sensação tão desolada
De uma solidão, ó tomento, amargoso traste
Foste, e no perder não sabia o que perdia
Hoje chora no peito está resistente certeza
Que não teve intuição no que o amor dizia
Agora, vazio e poética sóbria, uma tristeza
Imaginado em que parte estás de cada dia
E, tenho a saudade numa nostálgica dureza
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG - 29/07/2021, 19’06”
BENDITA SEJA!
Uma agitada inquietude, um misterioso
sentimento, como um prazeroso paladar
um íntimo e perturbador próprio lugar
bem que faz bem, e distinguir não ouso
Uma voragem, de um estoiro poderoso
que nos torna sujeito, anexo ao olhar
ao pensamento, onde só se quer estar
cheio de ardor, de afago, júbilo e gozo
Uma contradição, sensação de loucura
aperto e agrado, e na emoção ventura
que faz alucinar no tempo, doce peleja
Qualquer que seja, é toda de alegria
aos poetas sustento, poética poesia
se assim for a paixão... Bendita seja!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
10/08/2021, 14’18” – Araguari, MG