Sonetos de Amor
SUSPIROS PROFUNDOS
Ninguém sentiu o meu choro inseguro
Ó dolorosa dor entre as dores minhas
Embriagada solidão, máculas daninhas
O falto para mim foi silencioso e duro
Permaneceste no pensamento escuro
Vazia e casta, tristes eram as tadinhas
E chegaste a ter mais do que tinhas
Tornando-te em um flagelo impuro
Invisível tornou o meu sofrer inquieto
A minha poesia, o sentimento secreto
Jorrados do sentir, ali tão moribundos
E, neste trágico, pedaço dos pedaços
Ele, que habitou a ter esses embaraços
Fez-me o dono de suspiros profundos
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
26/08/2020, 12’28” – Triângulo Mineiro
AFORA
Passaste como a flor do ipê fugaz
que se desprende na sua aurora
do desvelo só tiveste àquela hora
em que do afeto o emotivo traz
Ter-te e perder-te! sensação voraz
que inunda o peito, e a dor piora
sem ver-te, o poetar por ti chora
em tristes versos, saudade tenaz
Demorou essa presença em mim
minha alma ainda adora, e flora
emoção num sentimento marfim
Neste querer, o querer é outrora
se sonhei contigo, calou o clarim
dessa estória, o amor vai afora!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Setembro de 2020, 02 – Triângulo Mineiro
TORMENTO ANÔNIMO
Há amores não correspondidos, há enganos
mais negros que a noite muito mais escura
suspiros loucos, e o coração com amargura
as horas, segundos mais longos que os anos
E nestes doridos, loucos e alanceados danos
que leva o fado para as bandas da desventura
em um coral de gemido e de uma sorte dura
atraindo aos sentimentos só os rumos tiranos
E, as dores da solidão, sim, ela tão somente
que se cala nos braços deste amor cruento
dói, tal como ferir-se com gladio lentamente
Ah! que penar, esse que só traz tormento
lamentos e, nos ruminando inteiramente
tendo os dias de sofrência como alimento
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Setembro, 02/ 2020 – Triângulo Mineiro
DOR INFINDA
Já no sumido aquele afeto profundo
Só eu, ó pieguice, só eu me lembro
Das noites e dias secos de setembro
Maçadas, e o meu amor moribundo
Desde esse dia, eu ermo no mundo
Atado a solidão e sem deslembro
De ti, e do falto um azedo membro
Não houve fôlego por um segundo
Quando, ainda cria... - hoje perdido
E lastimando no leito a desventura
Tenho a sensação de já ter morrido
Ah! saudade, que a vasca mistura
No peito, e ao aperto tão sofrido...
Dor infinda... e cheia de amargura!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Setembro, 06/2020, 05’46” – Triângulo Mineiro
INFORTUNO
Falas de solidão, eu ouço tudo e calo
Ó saudade! Rude e regateira caipira
É. E é por isto que o vazio me imbuíra
A alma, no silêncio, infortuno vassalo
Viver! Quando virei por ter intervalo
Entre a dor e o sofrer que não espira
No tempo, e me põe nesta mentira
Da esperança dum amor para amá-lo
Pois é agridoce sentimento sagrado
Que leva a noite insone no cerrado
Messalina sensação, refutado fulcro
Falas de amor, e eu me desalento
Paixão na minha sorte é tormento
Intento para eu levar pro sepulcro
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
09/09/2020, 13’43” – Triângulo Mineiro
MÁS SORTES
Minha saudade é uma casa abandonada
por cujos solitários e vastos corredores
volteia o silêncio por toda madrugada
das lembranças e questões dos amores
Certa vez a essa estada mal ajambrada
varrendo o ar pesado e seus horrores
adentraste sorrateira quimera alada
num devaneio aos desejos pecadores
E, então, tão cruento e insistente
querer um afeto cheio de poesia
nessas incertezas, só perguntas!
Ah! o vazio no carma eternamente
na desilusão da paixão erma e fria
a verdade de más sortes conjuntas!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
10/09/2020, 04’47” – Triângulo Mineiro
AVERSO
Quem poeta pelo suspiro sofrido
Em lágrima dum trágico flagelo
É quem se deixou estar perdido
Esquecido dum versar mais belo
É quem do emotivo foi redimido
Expurgado do verso mais singelo
Na emoção se encontra indefinido
Na inspiração tristura em paralelo
É quem se norteia com a navalha
Da dor, em trova ensanguentada
Amortalhado em rítmica mortalha
É quem no choro faz de morada
No coração o amor sofre e talha
Mas, a paixão, sempre sonhada!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
2020, 28 de setembro – Triângulo Mineiro
DOR DO MOMENTO
Há solidão sem fundo, há sofrer tiranos
Mais sufocantes que a cruel desventura
Sentimentos loucos, cheios de amargura
E as saudades mais extensas que os anos
São tormentos sem piedade, são danos
E as sensações na alma vazia de ternura
Eu as renuo... e a está árdua sorte dura
Que augura na poesia versos profanos
Devaneio, sim, e só assim, somente
Saio do algoz versejar tão cruento
Que me fere no tratear lentamente
Oh! gemidos assim jogados ao vento
Que chora e dói na emoção da gente
Leva pra longe todo este sofrimento
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29/09/2020, 10’07” – Triângulo Mineiro
LEVA
Cevando se me vai de traço em traço
O fado, que a mor emoção vai sendo
O sentimento em ensaio despendo
Té que a sorte me dê bem remanso
Amando, quando posso, eu romanço
Sempre na busca, assim, pretendo
Tê-lo, enfim, um fomento tremendo
Onde os abraços tenham descanso
Vendo-me, pois, portanto, carente
Metido nas agruras desses enleios
Eremítico.... me entrego à ventura
Ah! quando a dita me faz contente
De novo o coração em bons meios
Se dispõe: .... com leva de ternura!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
03/10/2020, 21’57” – Triângulo Mineiro
RÚSTICA HORA
A paixão sentida no revés sentimento
arremessa na alma desditosa e solitária
a infelicidade, sensação desnecessária
além, do amar, este, a mim sem alento
O pranto, a correr, e a sorte ao relento
vem do acaso, da solidão, do itinerário
que parece trazer consigo um rosário
sem rumo, que na ventura vai ao vento
Tenta, e tenta, lamenta. Olha em torno
sedento. E o silêncio suspirando lá fora
à meia penumbra, num choro morno...
Do reclamo, o luar alvacento da aurora
com seu reflexo pálido de um adorno
sofrente, murmura essa rústica hora!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06 outubro de 2020 – Triângulo Mineiro
A UMA DESPEDIDA
Agora, que o final me convida
A solidão parte do pensamento
Cada suspiro outro sofrimento
Nas recordações sem medida
E, de pareio com a despedida
Foi-se o bom contentamento
Dentro do leito o tormento
Enfim, dá dó essa dor doída
Pra que era tê-la evocando
As lembranças, do outrora
Se agora, me falta o crer...
Querer, já quiz, até quando
Pude ser, e nesta outra hora
Quero amor no bem querer!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Outubro de 2020 – Triângulo Mineiro
O seu sorriso
Se tudo está escrito e a gente já se viu
Meus olhos encontraram sua boca e caiu
Despencou em seu sorriso cor de mar
E me fez mulher de corpo nu te desejar.
Me entregar mesmo que de pensamento
E desenhar seu corpo sob olhar perfeito
Nas suas curvas me enrolar sem medo
E no seu peito desvendar nosso segredo.
És louco o destino que quer me falar
Te ver todos os dias e nunca te tocar
E em apenas um olhar te pedi pra ficar.
Mesmo que em seu suor me encontrar
Por nós dois juntos me apaixonar e
Por uma noite inteira a cama nos segurar.
Codinome poesia
Renato Russo faria mais sentido se estivesse aqui
Nando Reis me prova que é na saudade
Que devo te encontrar quando não está
Ah se você soubesse minha forma de amar.
O príncipe virou um chato? E o sapo?
Talvez quisesse me dizer que é criança
Pois é assim que te conto que sou poeta
E o tempo que tenho é só para (amar).
Por onde andava? Eu como sempre atrasada
(Será) que o que tentei foi pouco? Em vão
Nesse tempo perdido ganhei sua falta.
Eu não sei dizer o que sinto, o amor real
Sentimentos em um congestionamento
Sou poesia lembrando cada momento.
Sendo... até a luz do dia!
Uiva... mas que sussurro a dor brada
Sofrer desperta.... Que rumor na treva
A solidão, que no avançar da noite leva
Presa, suspirando, na triste madrugada?
É a paixão! Agita a poesia enamorada
Palpita, e a saudade nos versos eleva
E da melancolia nas rimas, tão peva
Vai sacudindo o sono e a ideia calada
Perturbas... nas trovas, o teu cheiro
Soltos na memória, e ei-los, doendo
Doidejantes, no pensamento inteiro
Pinica a inspiração, provoca arrelia
Vê os sonhos pelo desejo correndo
[...] abordo sendo... até a luz do dia!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
24/02/2020, 05’12” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
FASE
Cisma a dor n’alma descrente e fria
De uma emoção solitária e calada
Em sua fronte tristonha e chorada
Pesadas rugas duma sorte sombria
A luz da paixão, vazia de alegria
Carrega a saudade amargurada
Suspira sofrência na madrugada
A solidão, companheira da agonia
Ao pé da lua prateada. Pendente
A boa dita, o bem amigo da gente
Parece que dos céus nada realiza
Geme a brisa no cerrado, agrado
Qualquer, só o penar imaculado
É ventura, fase, o tolerar divisa!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/12/2020. 08’22” – Triângulo Mineiro
APENAS UM SUSPIRO
Na hora melancólica da luz poente
No cerrado, no ocaso do fim do dia
A voz de um desalento impaciente
Na sensação, um engano repetia
Na lembrança o lembrar ausente
Na dor, uma agonia que asfixia
O aperto em um tom crescente
Avivando o sentimento que jazia
E no entardecer o olhar morria
Nos perdemos de nós dois, fria
A saudade, no silêncio a cicatriz
Depois, sei lá depois, tudo calado
Vazio, sem vontade de ser amado
Pois, era apenas um suspiro, infeliz!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12/12/ 2020, 08’59” – Araguari, MG
UM TALVEZ
Sempre quis ter no afeto aquela felicidade
Recanto em que minh’alma estaria pausada
Deparasse, afinal, com a fé da cumplicidade
Demorando em uma longa e jovial jornada
Um sorriso virtuoso, assim, com verdade
Aquela palavra certeira e tão enamorada
Em que o coração pulsa cheio de amizade
E, tem caseira e boa conversa descansada
Ah, como é bom ter o alguém confidente
O que nos dá ouvido, os de beijo ardente
Consolo ao amor, e nele me completasse
Um talvez, mais de um, nenhum exato
Frechado pelo cupido, e fosse de fato
Pleno, sem que eu mais o procurasse!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21/12/2020, 18’57” – Triângulo Mineiro
INTERVALO
Te digo que da saudade que tenho
Toda a agonia para assim trovar-te
Entendas, então, foi só por ama-te
Que neste soneto chorar-te venho
Agora é só o suspiro que detenho
O afeto não é mais doce encarte
No coração, apenas parte a parte
Dum vazio que no olhar contenho
Noutro tempo era muita fantasia
Desfez em engano solto ao vento
Escorrendo pela sofrente poesia
Dor, também, doeu no sentimento
Provando do amor puro de magia...
Aí, notei que não era teu momento
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/01/2021, 13’33” - Triângulo Mineiro
ASSIM SEJAMOS! ...
Dourado sentimento, num querer constante
Em um querer as sensações tão carinhosas
Povoados de sede de emoções fantasiosas
Como uma comichão de apetite, doidejante
E nesta nau do destino eu vou tripulante
Num lago manso e feroz tal espinho e rosas
Ou no dorso das mais quimeras preciosas
Garimpando o reluzente notável diamante
Ao alçar os sonhos mais raros, vai correndo
A imaginação donde jamais imaginamos
Criando algo sedutor e, no peito gemendo
O amor, esse sentimentalismo que amamos
Onde é bom estar, e a ilusão vai movendo
Cada paixão cálida. Então, assim sejamos! ...
12/01/2021, 19’24” – Triângulo Mineiro
ODE AOS APAIXONADOS
a paixão é tudo aquilo que você desejou e não aconteceu
é o sonho interrompido
a conquista que não cedeu
o beijo não ocorrido
tudo que nasceu e não sobreviveu
é feito droga nociva que satisfaz um momento
é o medo
a adrenalinaem pequenos fragmentos
é o prazer pela dor
todos os sete pecados com uma pitada de sofrimento
a versão da história que gostaria de contar
a palavra não dita numa discussão
a pergunta sem resposta
o que sempre quis dizer
o não que quis dizer sim
o que faltou acontecer
o que sequer deixou ser
é o clímax
é o suspense
é o mistério
aquilo que não se sabe
aquilo que não se abre
é a criança perdida numa loja de brinquedos
egoísta feito um segredo
é o sorvete que derramou
o gol que não marcou
é tudo que não houve
é tudo que não coube
é o que deixou subentendido
o que deixou sua essência
e por não ter havido ponto final
se fará para sempre reticências