Sonetos de Amor

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Soneto do amor platônico

Foi na tua ausência que senti
Onde existia você, ficou a dor
Razão pela qual “Je suis ici”
A cumprir mecanicamente meu papel de ator

Tentando não ser apenas um número
Entre tantos moribundos, reconheço meu vazio
Meu amor, desatento, na madrugada de frio
Eu não sei em que rua entro

Rondo, ando, paro e fico
Ganho tempo, mas nada muda
Ouço o vento de melancolia, me ajuda?

Lugar nenhum é seguro com sua ida
Poucos são os espaços para o amor
Entre tantos desejos, a sua volta é a mais querida

VERSOS DE AMOR (soneto)

Os versos de amor não expiram, são eternos
Adoçam a amargura e embala o pensamento
E nestes sentimentos, tão a sensação ternos
Se ilusão ou loucos, não tem arrependimento

São trovas mansas e com vocabulários fraternos
De olhares, gestos, que se espalham pelo vento
Que ao peito trazem afagos e gemidos imersos
São palavras que vão além de um só momento

É canção com sabor que embebe a lembrança
A emoção. Se duvidoso de êxito ou sofrimento
Se o sim ou o não, é reticência, sem conclusão

Os versos de amor são uma variada dança
Que bailam no coração nem sempre atento
Musicados com suspiros e poesia da paixão...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06/01/2020, 16’10” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando

FONTE ÚNICA

Viver com amor é o segredo da vida!
É ter esperanças, é sonhar...
É sentir com o coração, é amar!
É ter pela paixão a alma possuída.

É ter a cada dia uma chama erguida,
É ajudar a quem não pode ajudar,
É servir, sem ao contrário esperar...
É ver a árvore seca e também a florida.

É ter a luz sem medo da escuridão,
É enxergar sem medo do que vai ver,
É ter a verdade, e deixar a ilusão.

Para que, enfim, possa compreender,
É porque foi nos dada apenas uma razão,
Que amemos! Pra poder viver!

O VERBO POETA

Nasceu, conjugou-se, amor
Em tudo que há de perfeito infinito
Na voz, n’alma; n’um só grito
Criou-se d’estrela esplendor...

Mas por nuvens escuras chorou
Triste, desdenhado, restrito:
Poeta de amor aos versos bonito
Que ao cantar, sorriu e amou...

Mas antes que não fosse o chorar,
Quais luas que veria profundo?
Se n’alma que não fosse o sofrer,

O que seria o cantar neste mundo?
De qual verbo seria o amar
Se o amor é cantar, e chorar, e viver...

AMANTES

Tão feliz eu ficaria se ao meu lado
Você me fosse de amor primeiro...
Tão feliz eu ficaria se não pecado
Fosse te amar de sentimento inteiro.

Tão feliz eu ficaria... amor, se você
Também me viesse deslumbrar...
Tão feliz eu ficaria se não perder
Viesse o nosso amor ao desencontrar.

Tão feliz, mas, você sabe, eu também
Que tão amor não podemos ter
Sem o saber findar n’outro alguém.

Tão feliz, mas, sabemos que, depois
Nos será solidão, nos será doer,
Quando só for de lembrar... nós dois.

NOS TEUS ANSEIOS

Eu quero tuas horas tristes e sozinhas
Tão pedinte de amor e noites quentes,
De orgias marcadas, beijos ardentes...
A saciar as infantes vontades minhas...

Eu quero aqueles desejos que tinhas...
Nos meus iguais momentos eloquentes
Onde pregava as insônias dormentes
Na manhã rara do dia que nos vinha...

Tantos instantes perdidos e largados...
Tantas indiferenças, amores amarrados
Pelos enganos que o coração fantasia!

Mas eu hei de ter as tuas horas puras...
E ser dos anseios todos que procuras
O verdadeiro amor a juntar-te um dia!

A FLOR E O POETA

Do teu corpo caído fosse à porta,
Do amor que figura o coração perdido.
Do teu corpo fosse o bem sentido,
Da paixão que perdura a rosa morta.

De o teu semblante o versar suporta,
Em palavras belas o ardor vencido...
Do teu jardim não fora esquecido,
O perfume doce que em mim conforta.

E sepulcros contam a nossa história...
Que ao renascer, traduzem em memória:
Almas benditas e de sonhos infinitos...

Que de esperança o nosso amor fereza!
Que dos caminhos, somos a leveza,
Que das ardências nos já somos mitos...

AMOR INSANO

Por tudo agora eu sei... eu vou
Viver do espanto à realidade,
Vou viver agora, a nossa verdade,
A intensidade do nosso amor...

Por tudo agora eu sei, meu bem,
Vou ser pra você, vou ser em mim
Ao seu prazer intenso assim
Como é pra mim você também...

Vou ser de insano à nossa paixão,
Como é insana ao seu primor,
Como é de estrelas a imensidão...

Eu serei o ardor por ti queimar!...
Pois, se oculto for, de amor,
Por qual paixão haverá de amar?

AMOR ROUBADO
− Viúva-negra

Eu só tentei te esconder da chuva,
Levando-a abraçada comigo...
Fiz dos meus braços teu abrigo,
Tal como a sombrite cobre a uva...

E da tua mão molhada tirei a luva,
Que encharcada era um perigo...
Defrontei-me com um anel antigo,
Tal como fosse de uma viúva...

De repente, do céu veio a calmaria
E o meu amor ardente você levou
Junto à tempestade que caía...

Secou... O meu coração você secou!
Agora só sei sair pela noite vazia...
À procura da paixão que me roubou.

POBRE ILUSÃO

Por toda a vida que hás de viver,
Não encontrarás um amor tão belo
Que sejas digno ao teu querer...
Que sejas puramente tão singelo!

Por toda a estrada que hás de ter,
No teu caminho rude e amarelo,
Jamais irá alguém em ti prender,
Mesmo aquele que diz: “te quero!”

No teu amar levantas o teu sentir,
Nunca te deixa um amor partir
Por cansares das correntes que têm!

Hás de viver desperto por ti um dia,
Se não o abusares em melancolia,
Nas prendas tão raras que contém!

Soneto à tua volta

Voltaste, meu amor... enfim voltaste!
Como fez frio aqui sem teu carinho....
A flor de outrora refloresce na haste
que pendia sem vida em meu caminho.

Obrigado... Eu vivia tão sozinho...
Que infinita alegria, e que contraste!
-Volta a antiga embriaguez porque voltaste
e é doce o amor, porque é mais velho o vinho!

Voltaste... E dou-te logo este poema
simples e humilde repetindo um tema
da alma humana esgotada e envelhecida...

Mil poetas outras voltas celebraram,
mas, que importa? – se tantas já voltaram
só tu voltaste para a minha vida...

(Do livro "Eterno Motivo" " - Prêmio Raul de Leoni, da Academia Carioca de Letras - 1943)

Quase um soneto para ela.

Eu preciso de tudo em você
Do seu choro ao teu sorriso
Para que eu complete o meu ser
E o teu ser conforte-se comigo.

Eu preciso que tu me envolvas em paz
E que seus olhos curem o meu coração ferido
Tu não sabes o bem que me traz
Quando estou fraco e sentindo-me perdido.

Eu preciso ficar em tuas doces mãos
Com teu sorriso que acalma minha alma
E alegra por inteiro meu pobre coração.

Eu preciso do teu amor para sentir
Que será a minha mais bela inspiração
Para que simples assim, eu faça sorrir teu coração.

*Lírico Soneto*

Tum...
Tum tum...
Tum tum...
Assim se faz a mais bela das melodias que um dia eu pude escutar.

O som que vem de dentro do peito, do sublime soneto que me postes a criar.
Quando jovem me criei, por alguém me apaixonei ao primeiro olhar.

Por fim me casei, meus filhos criei sem ao teu lado estar.
Pois por mais bela que seja a vida, tão injusta e corrosiva seu coração ela fez parar.

Até hoje me lembro, o quão calmo se tornou o tempo quando ele pouco a pouco parou de pulsar.

Me debrucei sobre teu peito, afim de ouvir pela última vez este soneto que agora nas estrelas eis de brilhar.

Soneto

Tanta lágrima hei já, senhora minha,
Derramado dos olhos sofredores,
Que se foram com elas meus ardores
E ânsia de amar que de teus dons me vinha.

Todo o pranto chorei. Todo o que eu tinha,
caiu-me ao peito cheio de esplendores,
E em vez de aí formar terras melhores,
Tornou minha alma sáfara e maninha.

E foi tal o chorar por mim vertido,
E tais as dores, tantas as tristezas
Que me arrancou do peito vossa graça,

Que de muito perder, tudo hei perdido!
Não vejo mais surpresas nas surpresas
E nem chorar sei mais, por mor desgraça!

Mário de Andrade
ANDRADE, M. Poesias completas: Volume 2, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014

SONETO AO MEU PAI
DIA DOS PAIS

Pai, eu sei que cresci... O tempo passa;
corre rápido o rio dessa vida!
Eu bem sei quão sofrida foi a lida
que você venceu, sim, com tanta raça!

Também sei quão difícil foi a caça,
com suor toda a vida construída...
Mas eu sou muito mais agradecida
por mostrar-me o caminho, pai, da graça.

Sim, me fez da verdade tão ciente
que hoje vejo esse mundo e me comovo
com o que não mais vê todo esse povo...

Agradeço e confesso, tão carente,
que desejo que volte essa corrente
pra caber no seu colo, pai, de novo...

Doce Lua-de Mel,
paraíso dos desejos
que por enquanto
são só sonetos.

Lua querida Lua,
não vejo a hora
de sentir as mãos
do meu amor
ao redor da cintura.

Doce Lua-de-Mel,
espero pela nossa
em companhia
das estrelas do céu.

Lua querida Lua,
não sei se ele
irá me escolher,
ou será você
que irá me trazer.

Doce Lua-de-Mel,
aguardo pela nossa
colada nos doces
dos tantos beijos.

Lua querida Lua
peço a sua ajuda
com essa dúvida:
não sei se ele é meu,
ou eu que sou dele.

Doce Lua-de-Mel,
vejo galáxias
nos olhos dele,
no meu corpo está
o mapa do garimpo
e a descoberta
do amor mais lindo.

Thalita
Ela entrou sem pedir nada, apenas sorriu.
E como fosse pouco, deu carinho, beijo e abraço.
E cada hora era minuto, se desfez o tempo e o espaço.
E, nos seus braços, algo de bom em mim surgiu.

Mas cada centímetro de distancia é dor, é falta.
E a ausência do teu cheiro é quase inexistência de ar.
E ela, serena, me acalma quando sua presença ressalta.
Menina dos olhos puxados, como não amar?

Abrace-me, como fez no primeiro dia.
Me enlace como se não houvesse outro dia.
E a cada dia eu sei que por você tenho mais desejo.

Pois quando estamos juntos somos apenas um.
Me diga, como não amar uma pessoa tão afetuosa?
Meu anjo, meu bem, antes de dormir, meu beijo.

⁠PARTIU

Foi-se, e a ilusão jogada ao vento
o haver, estar, as românticas luas
quer dizer-te, a todo o momento
que, no falto, tem saudades tuas

E que, no cerrado, o lamento
O sofrer, esquecido, pelas ruas
Chora, e aflige o sentimento
Lacerado, em emoções cruas

Tal o céu cinzento de inverno
O meu amor não mais terno
Branda nesta dor que se tem

Sem ventura, no sentir figura
Pesar, pois, partiu a candura
Contigo e, de mim também!

⁠ÚLTIMA PÁGINA

Chegando à última página da estória
nossa, o que era uma curiosa quimera
agora tão sofrida, e tão vazia de glória
sinto o aroma de quem nada espera

Sensação que chora, que desespera
quanta ilusão perdida, agora memória
sombreada de uma apagada oratória
tal as flores desbotadas da primavera

Pois me perdi no ter-te como deveria
na companhia, lembrança e encanto
o amor é uma necessária doce poesia

Eis o meu maior pesar, tanto... tanto!
não ter querido mais! Como eu queria...
Nesta última página larguei meu pranto!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG - 30/07/2021, 20’06”

Amor frio não é amor, o nome disso é 'costume', amor é fogo que arde sem se ver [...]