Sonetos de Amor

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O NOSSO AMOR

O nosso amor, querida, não morreu!
Secou-se apenas a água que nos tinha
Como secam as flores, oh, alma minha,
Ao inverno, num instante, se perdeu!

Apenas secou-se, querida, não morreu!
O nosso amor não se foi, passarinha,
Voa, oh, amada! Voa como andorinha...
A espera de uma nova era, se rendeu!

Cansado, amor, ele estava tão cansado,
Agora busca um hastear, num jardim
Onde possa refletir o que era amado...

Espera, oh, querida, que entre tu e mim,
O nosso afeto que estava tão esfalfado
Voltará a viver, amor, pra não ter fim!

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SEGREDOS DE AMOR - III

Veja, amor, claramente e sem medo
O tão lindo sentimento que nos mantêm,
Veja as rosas belas, cá também,
No tão belo jardim o nosso segredo.

Assim que cantamos o dia em ledo;
De tão sorrisos às flores que nos contêm,
Quais tantos outros desejos; quem
As terão de odor se as tiver de enredo...

Dia ordeiro, sem quer tristeza, e tanto
Amar... viver; num formoso canto
É tudo o que mais temos de esplendor...

E não há mais grandeza que se aventura
Com tão mais paixão que se perdura
Qual no desvendar tão fácil o nosso amor...

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UM DIA...

Quando vier até mim à morte, Amor,
Quero-te toda branda no teu viver...
Quando o dia descansar de mim, a dor
Também descansará na luz do teu ser.

Quando vier a tu’alma a eu encontrar
Nos pés de Deus empossado de paz,
Quero-te a mim, por morrer nunca mais
O amor que me deste, num fino altar!

O meu coração é um ermo desastrado
Sob o teu querer doce e imaculado,
Que descansar prometeu entre a gente.

Mas deixa-me ir sem levar-te o pranto,
Sem que anoiteça ao teu acalanto
O amar-término dum viver descontente.

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CASTIDADE

Fizeste de mim um arrebol bendito,
Do meu amor um feitiço imaculado...
Da minh’alma de crença o pecado
Fez-se de paixão um cerne erudito...

Fizeste de meu corpo teu bem restrito
Abrasado ao perfume de seu andado...
E do meu sentimento, conspirado,
Notou-me em versos teu feito infinito...

O meu espírito se mantém acesso,
Desde outrora ao notado em que nasci,
Desde que eu vivo a desventurar...

Que sol que nasce, em que sol avesso,
Em que casto tempo, em qual vivi,
Em qual vida, amor, vou te encontrar...

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FÁBULA

Visto-me com os trapos do amor,
Devassando-me com a louca paixão
Dos amores que ferem sem pudor,
Sem pensar no meu pobre coração...

Eu quis ter um amor que não era meu!
Para que, assim, fosse embora a solidão...
Fantasia d’um doido que, então, morreu,
Como essência esparramada pelo chão!

Mas, eu hei-de ter o afeto verdadeiro,
Terno, doce, meigo, assim sisudo...
Que seja o último, porém, o primeiro!

E conhecer um dia o seu conteúdo,
Lhano, amável, leal, assim inteiro...
Sincero! E que me ame mais que tudo!

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CONSTANTE

Por tão mais amor que cresce
Em qualquer outro canto,
É que dos meus sonhos falece
Meu coração ao meu pranto...

Por tão mais paixão que a minha
Em qualquer canto encontrar,
É que de amor passarinha
Meu corpo quente em pulsar...

Por tão mais desejo de instante
Em outr’alma prestante
Haver com mais intensa virtude;

É que o meu sentir endoidado
É dom p’ra pagar o pecado
De amar com tão mais plenitude.

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D’UM CÁLICE DE AMOR

O teu amor me fez sorrir
Quando o dia não mais me tinha cor,
Das luzes o clarão me fez abrir,
Das cores tu vieste em esplendor...

Do seu jardim imenso um furor
Fez-me em alegrias explodir,
E qual o bálsamo intenso duma flor
Fez-me em ar aberto o existir...

O teu amor é qual um cerne apurado,
É qual o vinho branco cintilado,
Qual a loucura do sangue atrevido.

Da sua paixão vivencio novamente
O que é do coração tão simplesmente,
Um cálice aberto enternecido.

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MAIS QUE TUDO É AMOR

O que és de mim tão cedo pranto
Por vez em grande amor me ergue
A fazer da solidão um acalanto
Na estranha razão que me persegue...

Razão alheia que me é um tanto
No amado coração que me prossegue
Mais que tudo um estranho canto
Que o da paixão que o faz entregue.

Solidão oculta, oh, amor estranho,
Que por vez não sabe o seu tamanho,
Que não sabe o quanto vos me fere.

Um instante ausente e amargurado
Que nas noites mortas é meu pecado,
Na imensurável razão que o profere.

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NAS FORMAS DE TI

Espera-me, ó meu Amor, que vou voltar!
Não vês como anda apagada esta paixão?
Tão cansado já está, o meu coração...
Vou ao além de mim p’ra te encontrar!

Espera-me, ó meu Amor, que vou buscar
A chama deste amor, que não foi em vão!
Mas que nos teus braços foi furação,
A estranha forma d’eu querer te amar!...

Não se tem como apagar uma velha chama,
Pode se abrandar quando é um que ama,
Mas nada pode extinguir o teu esplendor!...

Os teus sentimentos são finos e delicados,
São de afetos divinos, não de pecados...
Aos céus eu irei buscar o teu mesmo Amor!

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A ELA

Talvez tudo me pudesse ser
Menos que fosse a mim amor;
Pois aos céus fosse esquecer
Nesse presente a minha dor...

Talvez eu amar jamais você
Poderia a esse meu fulgor;
Como mendigo em merecer
Cem mil estrelas ao esplendor...

Pois tanto que meus versos
São aos ares todos dispersos
Nem são ditos por ninguém...

E sem que amar me poderia
Mesmo que fosse à fantasia;
Que assim eu fosse de alguém.

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ÀS TUAS VAIDADES

Um amor tão mais risonho, assim não vejo!
Quem o diria de felicidade não ter conta...
E nada é tão mais puro, que o desaponta
De tempo algum a lhe ofuscar o meu desejo.

Passam dias e passam noites ao teu beijo...
E nessa era um outro afeto ninguém aponta
Como preciosos risos, que a fizeste pronta
Totalmente a mim, amor, sem quer um pejo!

Ah! Que bem, tudo isso me fosse à verdade...
Que bem, oh, meu amor, sem vaidades
Me fosse esse impossível nunca a morrer...

Esse amor tão mais contente ainda é sonho!
Inda estão nos versos que eu te componho,
Em meio aos infinitos risos, p’ra em ti viver...

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A SAUDADE D’ Ela

Eis o tempo que não há tempo...
Os dias que esperavas, amor!
Terás agora o conhecimento
Das horas perdidas em seu langor.

De almas passadas fez-se o vento...
Trazem em versos a minha dor...
Que hoje de mim é o alento
No agora que vive meu esplendor...

Mas tanto de brilho não vivo ainda
Por antes beijar-te a face linda,
Por antes amá-la aos meus delírios...

Foi-se de mim a própria saudade...
Por hoje nos contos de vaidade
Eis que a ressurge dentre os lírios.

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ÚLTIMO PRANTO

Acaso torto! Hás d’eu, portanto, cumprir
Por esta vida de prantos e de amor:
Existência qual foi traçado o meu porvir,
E glória, qual me foi vista ao esplendor...

O firmamento, que me figura em exaurir
A maldição, o engano sedutor
Que me avaria, em promessas, induzir
A alma em displicência ao meu fulgor...

O qual me invoca em ilusão ao pecado,
Que sem razão, me complexa ao mundo,
Que sem esperança me intui elevado...

E consumado eu me vejo ao sol disposto,
A vencer todo chão de ardor profundo,
Que de triunfos, eu me vejo sorrir o rosto...

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DEPÓS O INVERNO

Aos sóis, num tempo de desventura,
Pregado ao amor e a tristeza,
O lírio ao vento espalha a beleza,
Formando-se paixão sem amargura...

Eleva-se, e cantiga, a lua-ventura
Das noites pratas, e, quanto mais acesa
Clareia aos campos em realeza
Juntando-se as flores sua candura...

E pecados não se ouvem de perverso;
Os bálsamos dispersam o reverso,
O jardim é um só complexo de fulgor...

As estrelas se completam as amadas,
E na fragrância azul das alvoradas
Renasce dentre as cinzas uma nova flor!

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MENDIGO

Posso ser o que me quiserem ser;
Amor... Tortura... Astro pungente!
Aos versos, um grito incoerente,
Ou um tolo mendigo ao se merecer...

Belos segredos d’um vil viver,
Hás em meu peito para toda a gente...
Hás amarguras; dor do que sente,
A minh’alma em vos compreender!

Pregado a cruz de minha estrada,
Podem me ver como luz de alvorada,
Ou como ocaso d’um são pecador!

Posso ser sol, trevas, mutável deserto,
Ser porta fechada, ou lírio aberto
Sob as esmolas d’um só pouco amor!

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A UMA CONSORTE

És como aroma de rosas! Adolescente,
Como uma pomba divina de amor...
És como do céu o sol! Simplesmente,
Como o clarão da lua em esplendor...

Tens sorrisos à face, e, suavemente
O corpo desfila em andares de primor...
Tens anseios que se embalam, docemente
À pele rubra em brados belos e sem dor!

Por existir em chama viva, em queimar
Qual astro poente a procurar
Na noite longa o brilho intenso percorrer,

És como as estrelas de azuis celestes,
Que inteiramente me enriqueces
No infinito do teu amor nunca a morrer...

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EXPRESSÃO

Digo aos versos a voz conspirada,
Qual dispersa amargura e amor...
Que vem quente, outr’ora gelada,
Que vêm trevas e vem esplendor...

Digo de alma, de ternura apagada,
De espírito-luz, de intenso fulgor...
Que digo da esperança fechada,
Que digo da fé a Deus-alto: Senhor!

Voz, que ao mudo, a alma chora...
De palavras frias, coração apavora,
Que apaga estrelas ao céu imenso...

Que ao reverso, perfume se’spalha...
Em primor aceso, do Divo que talha,
Como brisa mansa ao ar propenso...

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O NOME DELA É PAIXÃO

Tão deslumbrante, minha rainha, meu amor.
Pele de seda, cheirosas curvas, quente...
Com teu brasar de atração e de furor
Esquece-me o mundo ao teu beijo eloquente!

Tanto aos deuses eu a roguei... Tão dependente,
Aos meus insanos carinhos de primor...
Que me destes aos teus íntimos, simplesmente,
Como profana de ternuras e de esplendor!

Visão sem olhos, à alma louca fosse outrora...
Pois minha prenda, minha pomba, tu és agora
O meu conforto ao deserto frio de ansiedade...

Como as rosas, eterna tu me seja a deslumbrar...
Pois que o meu corpo tu já fazes exaltar
Desde o princípio em que te vejo à insanidade...

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TRESLOUCADO

Eu sou a-quém vive o amor cantando,
Um pássaro a voejar por céu-além...
Um desdenhado ao tempo sonhando
Por se encontrar no que não me têm...

Os segredos dum vultoso sol-harém...
Sou um vagante, aos poucos buscando
Os de afeição, e sem ser ninguém,
D’outra existência vou desvairando...

Que lua, que fulgor intenso d’estrelas
Acalentará meus céus, por eu de vê-las
No independente mundo em que sou?!

Solidão oculta! Paixão tanta! Perdido,
— Eu sou dos céus um condor ferido
Por um amor que nunca se encontrou...

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INSANIDADE

Por que de vida estranha pôde o amor?
Que sentimento corrompe e engana
Em gume desejado, sem que o fosse dor
Numa vida ardente e de alma insana?

Por que de vida alheia a paixão profana?
Quais eloquentes vozes de condor
Ao brado de anseios duma alma humana
Pôde o coração sem que a fosse ardor?

Antes inspirados em desejos poucos
Os meus lábios ávidos e inconsequentes,
Que fosse a sofrer eu em sonhos loucos...

Móvel no qual me ponho a dormir
Sentindo os castigos das cobiças quentes,
E que nada de insano fosse a eu devir!

Inserida por acessorialpoeta