Sonetos
PASSAGEM
Sem quer ter mágoas dum amor que me passou,
Que não pudera meu coração corresponder,
Bendito ser que ao infinito não pude ter,
Eis a lua com a tua aparência e o teu fulgor...
De luz infinita sua existência qual o sol ficou,
Que navegar ao mar imenso é seu prazer;
Aos jardins dos amores donde passa este ser
Sem quer enxergar a minha vida, esplendor.
Luz bendita que tanto brilha a tua existência,
Vermelho sangue é tu'alma de aparência
Que aos corações é simplesmente um encantar!
Sagrada dor que tão me dói e tanto tive
Sem quer pudor, sem quer chorar, e ainda vive
Sem quer ter mágoas, meu amor eu vi passar...
CÂNTICO DE PÁSCOA
Eu sei que tudo irá passar
Em meio esse tempo de vaidades
Do qual vivemos a fadigar
Buscando esperanças e verdades.
Assim te desejo tempos oportunos
De glórias muitas de muito amor
Paixões intensas e caminhos puros
Oportunidades únicas ao seu favor,
Mas de tudo não se orgulhe amigo
Desencanto terá e eu te digo
A estrada é árdua a todo o viver...
Mesmo os que dizem sem esperança
Sem mesmo amar sem confiança
Nas verdades em Deus nada é sofrer!
O CERRADO
Melancolicamente, árido, vibrando
com o seu vento aflado, ondeante
nos tortos galhos, assim, chiando
o céu amplo e o horizonte distante
De múltipla coloração inconstante
em uma diversidade, espadanando
ao olhar, em um encanto sonante
que cativa com graça, poetizando!
Meu cerrado goiano, afável alento
feiticeiro, tão cheio de cabimento
em seu planalto de cobiças plenas
Diverso, e de um variegado em flor
misterioso, chão de ventura e teor
na complexidade, o sertão apenas!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17, abril, 2022, 16’20” – Araguari, MG
E A POESIA DISSE AO POETA
Ao poeta disse a poesia: “Vai infante,
e rime tua inspiração, tuas jornadas
cante, e que o teu canto seja avante
poético, com narrativas apaixonadas
Vai, prose com teu verbo sussurrante
de amor, tal o rubor das madrugadas
do cerrado, ardente, de belo instante
alucinante, com manhãs encantadas
Apóstolo do fado, e da doce emoção
desfie a tua estória com terna calma
à mercê do romantismo e do coração...
Trove o sentimento e os seus diversos
fascínios, todos tantos, vindos d’alma
e então, ver suspirar os versados versos.”
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18, abril, 2022, 16’48” – Araguari, MG
PERMISSÃO
E escrevo assim: alma chamejando em ânsia
no cerrado sob o olhar das rubras alvoradas
e o pensamento a se devanear na distância
do sonho e poética das prosas enamoradas
Da saudade aquele aperto e a sua fragrância
duma ausência, a esplandecer as faltas dadas
de um peito a suspirar a devida importância
e, bem perto do íntimo as ilusões desejadas
E poeto assim: com sussurrantes caligrafias
da noite, do silêncio, das imaginações vazias
que murmuram os sentimentos e sensações
E da flórea poesia, entre fantasia e realidade
o poeta, que se nutre da imaginosa liberdade
da pluralidade, da permissão e das emoções...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23, abril, 2022, 17’36” – Araguari, MG
ALHEAMENTO
Quase não tenho mais a falta... Enfim,
de ti, um vazio a poetar. Rara a saudade
suspiro, aperto no peito, a dor de festim
no mais brando e favorável alheamento
Se atormento, é mais um pensamento
cá na solidão, a solidão poente, no fim
a escrever sensações, e o sentimento
vai me ensecando d’alma, tão, assim!
Razão não mais tenho pra outro gesto
se o tato foi mentiroso, pouco modesto
não foi de um meu capricho este intento
E, cá no silêncio o olhar, meditabundo
e a emoção partida e levada ao vento
tudo, sustentado apenas num segundo
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
25 de abril, 2022, 22’22” – Araguari, MG
ELA
Todo dia ela sussurra, informal
do profundo, a sensação escoa
com a sua sedução tão virginal
e asas ao vento a ilusão povoa
Literária de matizado de vitral
da caligrafia e, de olência boa
dando cheiro pro sentimental
na graça poética que a coroa
É ela, a poesia, versos que cria
o amor, essência, nada em vão
e que ao poeta o ego acaricia
E, assim, tão emocional e bela
percorre no feito da permissão
varia, e o acaso prosa com ela...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
26 de abril, 2022, 19’40” – Araguari, MG
POEMA, SONHADOR
E vamos assim: olhos cerrados, inspiração
em um sonho poético, encantado e gentio
prosas com asas, desatando a imaginação
e, na ilusão: a sensação e a criação no cio
Por entre as mãos, um versar apaixonado
sussurrante de amor, a muitas horas a fio
onde há de ter uma trova de terno agrado
e supremo aparato com um doce arrepio
Que feliz role o sonho, no poema sonhador
tal qual nas noites românticas com luares
resguardando o verso em um largo sorriso
E que nada altere a este talante sedutor
que seja sentimental apesar dos pesares
pois, sonho, pro poeta, é sempre preciso!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
27 de abril, 2022, 19’36” – Araguari, MG
A DOR DE MARIA
A dor de Maria, por seu filho, árdua a feria
na cruz, Jesus jazia, em pleno sofrimento
suspiros, sussurros, tal a um punhal lento
agudo, amolado, rasgando com vil tirania
E nos céus, um vendaval, então, anuncia
todo o seu sofrer, um sofrer tão violento
a dor de Maria, o soluço do firmamento
pois, seu filho amado, ali, então, morria
E a dor de Maria, imaculada, em pranto
de mãos postas, coração com dor doída
tem nos olhos úmidos, teu pesar, tanto!
Mãe Dolorosa, de sina amargurada e forte
de Deus, Pai, recebe o filho, Cristo, a vida!
Do homem, traição, que Lhe deu a morte!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28 de abril, 2022, 15’00” – Araguari, MG
POSSA EU...
Possa eu na poética assim: tu, comigo ao lado
e, ao sentimento, as sensações resplandecendo
aquele olhar tão sedutor no toque rescendendo
em versos de carinho, dum poetar apaixonado
No mimo me espalhar inteiramente, e aí vendo
os teus gestos, os cuidados, em mim pousado
o teu sussurro baixinho ao ouvido, e eu, calado
sentimental, encantado, alegre, do amor sendo
Que em cada trova, um trovar contigo repartido
e num valioso sentido a terna emoção prosada
a alma, o pensamento, para sempre, sucumbido
Então, o meu destino no canto fosse conteúdo
e cada verso: um detalhe, um sentir, mais nada
e nas entrelinhas, que possa eu, dizer-te tudo!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29 de abril, 2022, 11’31” – Araguari, MG
SONETO
Primai, ó soneto, rimas e refrões
Incendiai de estro o pensamento
Exulte a sensação com fomento
E tenhas fluência nas emoções
Vós, poética, rolai vosso intento
Bardo, cantai as doces canções
Vossas, vindas d’alma, e ilusões
De amor, cheio de encanamento
Num dilúvio de validade, o infinito
Tito, amoroso e de leve calmaria
Ao som do carinho que é bendito
E, então, nestes sonidos divinos
Ter em si as premissas da poesia
Autêntica e hábil, de puros hinos!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29 de abril, 2022, 21’56” – Araguari, MG
ABANDONO
Talvez, tudo, já ti tenhas esquecido
A saudade já não é mais frondosa
Em uma parte do passado, a rosa
E os ternos suspiros já sem sentido
Perdeu-se aquela forma carinhosa
Pois, agora, um vazio enternecido
Aquele palavreado a nós divertido
Se calou, o que já foi a boa prosa
Do olhar, apenas, breve recordar
Da rizada, dos gracejos, um dia
Cá na ilusão, o apesar, contudo
Só, errante, a poesia a murmurar
Sob o céu do cerrado, penosa via
Passado, deves ter esquecido tudo!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30 de abril, 2022, 11’38” – Araguari, MG
MEU NOME É LUCAS
Meu nome é Lucas, iluminado
me vejo de coração virtuoso
e já no ventre me sinto amado
ansioso, sentimento amoroso
meu nome é Lucas, desejado
intuitivo, inspirador, caloroso
um Lucas na vida, tem ao lado,
um amigo, prestativo, vigoroso
sou, e não paro um segundo
curioso, muito perguntador
sou Lucas, de olhar profundo
são os significados: de valor:
de ser Lucas, ser do mundo
de todos nós, Lucas, amor!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
01 de maio de 2022 – Araguari, MG
chegada o sobrinho neto, Lucas Naves Abraham
SABOR DO AMOR
Eu amo amar pelo que é o amor
Pela doce razão simples de estar
Sem me importar se ainda é flor
Ou botão. Nos vale aquele olhar
Eu amo o amor cheio do fazer
Na incerteza vejo o que nos dá
Pureza, ou tanto mais no viver
Sem ter pesar, vivo, o que será
Amar é bom, é doar-se inteiro
Se lambuzar com o seu cheiro
É ter sensação, sentir e confiar
Saber na paixão o que sustenta
Sorrir, se o agrado se apresenta
Amar, amante, amador e perdoar
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
14 novembro 2021, 19'11" – Araguari, MG
QUERO VIVER ASSIM...
Quero viver assim, numa poesia num arrebol
Inebriado com o canto da cigarra no cerrado
Na encantada tarde e aquele lindo pôr do sol
“Bonachado” sem arrependimento ou pecado
Minha vida é uma prosa e tão cheia de anzol
E, também, venturas, tal o som compassado
De um violino, cantante, da poética em prol
Sou um bardo dum presente e dum passado
Quero viver assim, poeticamente, ter valores
Olhar sedutor, rima a favor, as dadas flores
E que a minha maneira não me deixe ao leu
Sobre o meu fado um sentido e uma canção
Na certeza de que tudo é emoção, sensação
Em um renovo. Solto de sentimento cruel!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
15 novembro 2021, 15'51" – Araguari, MG
ESTRANHO PÔR DO SOL
Entardeceu enebriado de agruras
Entristeci e me senti sem diretriz
Arrepelei o choro, as desventuras
E tudo o mais que a tristura quis
Amarguei aflitivo naquele jazigo
O céu pardo e tão melancólico
Entenebrou e suspirou comigo
E o sentimento se tornou eólico
Mirei o horizonte tosco do ocaso
E lá distante os sonhos e o acaso
Escoou pelos olhos a infelicidade
Solitário, o pôr do sol num ritual
De um estranho silêncio colossal
Me fez chorar na alma a saudade
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
18 novembro 2021, 18'55" – Araguari, MG
“Confiteor”
Falar-te de amor que não tive coragem
Ter os gestos de afeição que não te fiz
Por tolice, por detalhe ou por bobagem
Talvez o meu maneio sanasse a cicatriz
E na mesmice duma ilusão, fiz paragem
Na busca desvairada de querer ser feliz
Fui desconexo numa confusa paisagem
E hoje na velhice, no silêncio me perfiz
Tudo passa, tudo fugaz, de breve aspeito
Apaixonado, um amador, é tarde no peito
Se confessar um pecador, de que importa?
Decifre nas entrelinhas duma réu canção
Cada verso, cada rima a minha confissão
Neste falho amor a saudade bate à porta!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
19 novembro 2021, 10'01" – Araguari, MG
Aládiando
CORAÇÃO CAMARADA
Tu sentes meu coração? Está sensação
Num emaranhado de emoção corada
Em meio a felicidade alva e iluminada
Nesta tarde no cerrado cheio de paixão
Festeja-se a vida por estar enamorada
O ardor que aninha, o amor em alusão
Arfa o peito e os lábios em tentação
Delicias tu, meu amigo, e mais nada
Estou feliz, estou acolhido, e achado
Com um perdurável agrado ao lado...
Que vontade de gritar e de compartir
Ó bando sentimento, caro camarada
Contigo quero uma concórdia velada
Protele está ventura no nosso existir!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
20 novembro 2021, 14'07" – Araguari, MG
FELICIDADE
É palavra rimada com sensação inteira
Anda de ventura em ventura no prazer
E quão profundo no sentimento é viver
É aquela razão na sua causa verdadeira
É o sorrir e a doce satisfação parceira
Que contenta a alma da gente pra valer
E no nosso destino nunca é corriqueira
Abraça, acaricia, e faz o coração bater
Felicidade é ser, peculiar e encantada
Complexidade no querer, sensacional
E é, certamente, ao mérito reservada
Basta que o detalhe não seja artificial
Galgar degrau a degrau desta escada
Para a felicidade não nos ser parcial!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
20 novembro 2021, 20'20" – Araguari, MG
NOITE DE INSÔNIA
Sob a rútila luz da lua no cerrado
Nesta noite de primavera, e fria
Meu tratear, sentinela acoimado
Provoca, acossa e ao sono arrepia
Pende do pensamento um passado
Memória, sussurros e louca utopia
Tal um desalento nuvioso e velado
É está minha sensação, de ti vazia
Na janela o vento na fresta, ali chia
Um perfume seco irrompe o quarto
E cá, um aperto, me faz companhia
E a tua lembrança não fala, se cala
Para um trovador que o amor sentia
Noite de insônia e a saudade entala!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
21 novembro 2021, 05'08" – Araguari, MG