Sonetos
VENDAVAL EM CANTILENA PROSA
Cai no cerrado, ó chuva, e nos beirados
Sussurrando sons que o apavorar fiança
Em pingos d’água numa enfada dança
Purgando áridas angustias e pecados
Temporal no sertão, e tão agitados
Escoam nas planícies numa pujança
Deitando melancolias numa trança
De saudades e suspiros desolados
Do teu copioso gotejar, o luzidio
Relampejar, eriçando em arrepio
Que agita a tempestade tão furiosa
Troa lá fora, em um agravo vitupério
Estrondeando e envolto em mistério
De um vendaval em cantilena prosa...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30/11/2020, 20’51” – Triângulo Mineiro
BOM DIA!
Acordo cedo com a passarada
D’alvorada vejo toda a magia
Sacode-me com jeito, a poesia
E abre-me a manhã iluminada
Estremunhado pela madrugada
Vou, louvando a todos mais valia
Afagando meus votos de alegria
Com voz torpor do sono deixada
Senhor! Gratidão por mais este
Avidar! Que seja sem abrolhos
Dá-me amor e agrado por guia
E reserva também, ó Pai Celeste
Ventura, sonhos aos bons olhos
E aos aqui ledores: - o bom dia!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03/12/2020, 08’58” – Triângulo Mineiro
A UMA SAUDADE
Entre as custosas saudades, pobrezinha
Que eu velo, no sentimento, uma existi
Que dói, corrói, inquieta, deveras triste
Que suspira quando a solidão avizinha
E nesta sorte da sensação tão sozinha
Uma carência na poética ainda insiste
Que no trovejar um desalento persiste
De tu, paixão, que não mais convinha
Sabe a lembrança velha abandonada
Que espanca, que não mais acontece
E ainda atucana na emoção acordada
E assim para, a olhar com nostalgia
Faminta de saudade, tal se quisesse
Tê-la vivente na ruminada poesia!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03/12/2020, 15’17” – Triângulo Mineiro
FASE
Cisma a dor n’alma descrente e fria
De uma emoção solitária e calada
Em sua fronte tristonha e chorada
Pesadas rugas duma sorte sombria
A luz da paixão, vazia de alegria
Carrega a saudade amargurada
Suspira sofrência na madrugada
A solidão, companheira da agonia
Ao pé da lua prateada. Pendente
A boa dita, o bem amigo da gente
Parece que dos céus nada realiza
Geme a brisa no cerrado, agrado
Qualquer, só o penar imaculado
É ventura, fase, o tolerar divisa!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/12/2020. 08’22” – Triângulo Mineiro
PRIMAVERA SEQUIOSA
Ó como a primavera caducou
Olha o cerrado, de letarga vida
- Ó chuvada, Vê! a triste ferida
No sertão, que a sorte faltou...
Tudo dorme, a ilusão perdida
Chora em derredor, chorou
A dor doída, que não rematou
E a forração que se fez abatida
Sequioso, que desdém o teu
Ó tempo, sem encanto seu
Sem canto, cor, sem graças
Quão desbotada a primavera
Sem hora, ó chuva em espera!
Ela que floresce quando passas...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06 dezembro de 2020 – Triângulo Mineiro
CERTEZA
Este – o soneto da felicidade completa
Em que, poetando as horas de emoção
Sorri nas delineies, desfastio do poeta
Em um coração fiel e cheio de paixão
Este – o conteúdo de sensação, direta
Festeja, alucina, traz ventura na razão
Pondo a alma na completude, quieta
Cheios de harmonia e boa adoração
Este – o soneto da exaltação maior
Em que a frase terá aquele melhor
De tudo, pois é desprovido de dor
Este – poema dos poemas nascente
Que nos faz enamorados realmente
Este – é o verídico soneto de amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07 dezembro de 2020 – Triângulo Mineiro
paráfrase a João de Barros
8
SONETO TÍBIO
Esqueça, te esquecerei. Qual a serventia?
Duma palavra, um oi, o silêncio e pranto
Te amei, gostava tanto, mas o encanto
Na sua ausência tornou-se sensação fria
Sabíamos que tudo acabaria, certo dia
Ou não, no entanto, pra que o espanto
Dum não, se não mais importa quanto
Se já na estranheza está a companhia
Então, neste soneto tíbio, um desejo
Se não vendo você, nada mais vejo
Ou sinto, bom, é não mais nos ver!
Assim, cada qual anda por sua vida
Se já teve a despedida, comovida
Não tem como perder no não ter....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10/12/ 2020, 09’03” – Triângulo Mineiro
RENOVA
Caliandra, chuveirinho, pequi, lobeira
Florindo no cerrado pós a chuvarada
Maravilhando a renova por inteira
Do sertão pro verão tão camarada
E as águas cantam pela cumeeira
E as flores encantam na alvorada
Embalando a primavera Brasileira
Numa variação mística e encantada
Ao ritmo do rebento faz belo agora
Onde a sequidão vai nos longes fora
Longe da aridez, do vigor ausente
Os tons de esverdeado forte e pleno
Cobrindo o planalto, agora sereno
No ciclo vital de vida contundente
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
11/12/ 2020, 10’13” – Triângulo Mineiro
APENAS UM SUSPIRO
Na hora melancólica da luz poente
No cerrado, no ocaso do fim do dia
A voz de um desalento impaciente
Na sensação, um engano repetia
Na lembrança o lembrar ausente
Na dor, uma agonia que asfixia
O aperto em um tom crescente
Avivando o sentimento que jazia
E no entardecer o olhar morria
Nos perdemos de nós dois, fria
A saudade, no silêncio a cicatriz
Depois, sei lá depois, tudo calado
Vazio, sem vontade de ser amado
Pois, era apenas um suspiro, infeliz!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12/12/ 2020, 08’59” – Araguari, MG
ÁVIDO
Guardo alegria n’alma e na vida poesia
Uma sempiterna empolgação no amor
Cheio de sonho, e de contente fantasia
Que enlouquece, me traçando pecador
Perpasso junto ao destino sem profecia
No jeito de tê-lo, vou e ofereço uma flor
Na romagem da sorte quero companhia
Assim, no sentir estar em um tom maior
E nessa mais furiosa sensação peregrina
No trilho do sentimento nem se imagina
O bem, o bom, sangrando afetos imortais
Então, sempre digo com doçura e calma
Estes versos que vibram de minh’alma
Com paixão, emoção, no querer mais...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14/12/ 2020, 09’28” – Triângulo Mineiro
O JATOBÁ DA PRAÇA
Rasgando o azul do cerrado
Copa densa, beleza colossal
Reina entre todas, encantado
O jatobá, é sombra, é casual
Afinal, o seu porte escultural
É vida, cor, sabor imaculado
Gosto exótico, fruto espiritual
Tem dinamismo, e é arrojado
Há mistério na sua ramagem
Juras de amantes, tatuagem
Entalhadas no tronco, ao léu
Ó jatobá! donairoso, de valia
Mergulha o sol por sua ramaria
Em pique esconde com o céu.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
15/12/ 2020 – Triângulo Mineiro
FELIZ NATAL a toda a gente
Devoção, fé e esperança e na alma refrigério
Professo, o amor do Filho em seu nascimento
É uma alegria maior, é um bem sem mistério
E o que deu causa a isto um valioso portento
Ah! que alegria o seu Natal, divino ministério
Sim, Ele veio por nós! Se doou em sofrimento
Hei de levá-Lo no crer até o desfecho funéreo
E, tê-Lo na devoção e no capital sentimento
É o seu Natal, sejamos perdão e ternura
No escorço de Deus Pai, humilde criatura
Gratidão, e então, glorificá-lo fartamente
E, assim, fiel ao Verbo que foi anunciado
Honrando estes versos plenos ao amado
Menino Deus! Feliz Natal a toda a gente!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
19/12/ 2020, 10’39” – Triângulo Mineiro
UM TALVEZ
Sempre quis ter no afeto aquela felicidade
Recanto em que minh’alma estaria pausada
Deparasse, afinal, com a fé da cumplicidade
Demorando em uma longa e jovial jornada
Um sorriso virtuoso, assim, com verdade
Aquela palavra certeira e tão enamorada
Em que o coração pulsa cheio de amizade
E, tem caseira e boa conversa descansada
Ah, como é bom ter o alguém confidente
O que nos dá ouvido, os de beijo ardente
Consolo ao amor, e nele me completasse
Um talvez, mais de um, nenhum exato
Frechado pelo cupido, e fosse de fato
Pleno, sem que eu mais o procurasse!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21/12/2020, 18’57” – Triângulo Mineiro
INSATISFEITO
Cerrado, vivo tão só, na solidão
Aflige o peito, o peito em pranto
Distante ide o tempo, o encanto
Preso na tristura e na desilusão
Tão longe ando de ti, ó emoção
De ter-te no fado meu, no canto
Da prosa, amando tanto e tanto
Multiplicando, assim, a sensação
Ando calado, e inquieta a poesia
Desses desejos de mim ausente
Pelejo com o silêncio de cor fria
E nada me diz, nem o sol poente
Tudo é cinza e apagada a fantasia
Se sente querer, a força não sente.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22/12/2020, 17’54” – Triângulo Mineiro
O NATAL
Uma comunhão, noite boa e encantada
Noite cristã, e o presépio em distinção
Vem me relembrar toda está emoção
Fascinação, do Cristão em sua morada
Dias de menino, apreensão, a meninada
Mas, também, de virtude, de sensação
Ontem na idade, a magia em repetição
No sempre, noite zelosa, noite dourada
Nestes versos o presente e a lembrança
De hoje velho ao meu tempo de criança
Nasce o Nazareno, Deus Menino, Jesus!
Só me veio então este pequeno canto
Em ofertório ao acontecimento santo
O Natal! Meu ato de amor, fé e de luz.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23/12/2020, 09’14” – Triângulo Mineiro
INTERVALO
Te digo que da saudade que tenho
Toda a agonia para assim trovar-te
Entendas, então, foi só por ama-te
Que neste soneto chorar-te venho
Agora é só o suspiro que detenho
O afeto não é mais doce encarte
No coração, apenas parte a parte
Dum vazio que no olhar contenho
Noutro tempo era muita fantasia
Desfez em engano solto ao vento
Escorrendo pela sofrente poesia
Dor, também, doeu no sentimento
Provando do amor puro de magia...
Aí, notei que não era teu momento
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/01/2021, 13’33” - Triângulo Mineiro
A TARDE
O clarão se esvai, a sombra declina
por sobre o sertão sem um alinho
e o sertanejo vindo pelo caminho
se desata no horizonte, sua rotina
A boiada no curral, mugi, rumina
a lobeira com flor e com espinho
o vento plana em um remoinho
no breu que cai atrás da colina
Flutuam estrelas no amplo céu
O galo canta, triste, no cercado
E a luz da escuridão se faz réu
E passam, as saudades, ao lado
fantasmas de recordação ao léu
na languidez da tarde no cerrado
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06/01/2021, 18”14” - Rio de Janeiro
A SÚPLICA
Inspiração, há um tempo, um certo dia
Ideei amor, que eu ainda não houvera
Ideado, uma paixão que fosse sincera
Na poética, tal a uma emotiva poesia
E eu aqui na tocaia do que não viria
Poetando de primavera a primavera
Crédulo, insistia na furiosa fantasia
Onde meu sonho vive à sua espera
Ó má sorte, porque toda essa sofrência
Na alma que só deseja ter a inocência
Dum amor? E não mandas dos perversos
Sentimentos. Que cava a meta da vida
Numa dor da prosa atroz e desmedida.
Então, suplico por graça, fazendo versos!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07/01/2021, 12”01” – Triângulo Mineiro
BEM ACEITO
Suspira a alma, satisfeita, embriagada
Que brada, que celebra e engrandece
Alegrias assim singulares, as merece
Ornando a emoção de cor enamorada
Ó agrado afeiçoado, ó ventura ritmada
Pulsa o sentimento tal uma doce prece
E então, sensação, que o peito aquece
Causando está melodia tão encantada
Como é sonoro o versar, ao amor feito
É Deus, que tudo vê, assim, abençoa
A devoção, a cumplicidade, o respeito
Sim, o amor, que no bem tem sua sina
Quando no olhar há simpatia... perfeito
Pois, tudo sublima, onde a paixão ecoa
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
03 de maio, 2023, 05’59” – Araguari, MG
POÉTICA QUE ATRELA
Ó verso, que se enfada, ó verso, que brada
D’Alma cansada. Tão inquieto, e pobrezinho
Nunca foste amado, na tua estrofe, sozinho
E vives buscando aquela prosa encantada
Tua poesia anda vazia, deserta sua estrada
Tão frígida cada rima, sem calor do carinho
Ferido. No teu íntimo aquele certeiro espinho
E, a inspiração com o silêncio da madrugada
E, amanhã, quando a luz do sol fulgir, radiosa
Ó poesia sem sorte, importuna, com saudade
Traga em seus versos uma ventura formosa
E então, já não será ignoto, e numa viradela
A solidão será oculta na buscada intimidade
E, dum canto isolado, terá poética que atrela
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
03 de maio, 2023, 19’23” – Araguari, MG