Sonetos
AFLIÇÃO
Pulsa no cerrado o horizonte imenso
Num entardecer purpúreo candente
No desanimo surges, tão lentamente
Lembranças, molesto e tédio denso
Que eterniza a agonia e sentir tenso
De um passado caprichoso e ardente
Embora aqui presente, está ausente
Na emoção. Turrão ainda é extenso
E o pôr do sol é tormento e nostalgia
Em um acre perfume, árduo expiro
E a uma sensação aflitiva me contagia
Nesse anseio a saudade n’alma arde
És um passado de amor feito suspiro
Suspiro e caro pesar no cair da tarde!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG – 26/07/2021, 18’00”
ESQUECER-TE NÃO PUDE
Ah, esquecer-te não pude, é que quem diria?
teimosas lembranças evocam a finda paixão
as angústias de uma noite, lágrimas na poesia
relembram na prosa infinda suspirosa sensação
Teu amor! em um tempo a que eu amaria
fez pulsar de amor o meu confiante coração
depois, vieram gestos que eu não conhecia:
- o silêncio, a distância, em um feito vilão...
Dói, mas vivem em um presente passado
pulsando desejos que quer ser apagado
insistindo no dia que me deu aquela flor
Ontem, chorei, sim, e me foi tão cruciante
cada saudade me fazia dum eterno amante
marcante... não pude esquecer desse amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG - 28/07/2021, 18’19” -
POR QUE
Por que, em vez do silêncio, não me arraste?
Por que foste tu alvo, a emoção enamorada?
Por que sempre, na lembrança, és tu citada
E em cada verso o teu doce cheiro deixaste?
Por que no olhar aquele olhar com desgaste
Do desejo? por que, ó minha singular amada
Poeto, e suspira uma sensação tão desolada
De uma solidão, ó tomento, amargoso traste
Foste, e no perder não sabia o que perdia
Hoje chora no peito está resistente certeza
Que não teve intuição no que o amor dizia
Agora, vazio e poética sóbria, uma tristeza
Imaginado em que parte estás de cada dia
E, tenho a saudade numa nostálgica dureza
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG - 29/07/2021, 19’06”
QUANDO
Quando poeto o amor, as saudades são
estórias n’alma, nostálgico sentimento
a sensação de cada passado, momento
a doce quimera dos tempos que se vão
Quando poeto o amor, saudade em vão
é que nada importou, apenas o fomento
gemido de ocasião, sem um juramento
amor que é amor fortunas no amor são
Quando poeto o amor e, existe um vão
a poética chora, e a recordação aporta
lastimando aquele sentimento tão são
Ah coração, o amor, o que mais importa
um olhar, carinho, o que bem comporta
são versos de amor, que na poesia vão! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG - 30/07/2021, 06’06”
DEPARO COM O AMOR
O seu amor varou-me a sensação amada
Fundiu-se ao coração, e tão meu sentia
Que não sei se aquela qualquer ousadia
Seria mais apaixonada ou mais alucinada
Chegou o vínculo, n’alma fincou a espada
Sobre o sentido do cuidado que florescia
No agrado, e foi intenso desde aquele dia
Total completude, não carecia mais nada
Julguei que nunca o teria, ledo engano
O amor ao ver outro amor é soberano
Redigindo nas estrelas um firmamento
Vi a emoção na inteireza, com ventura
Tudo tão sereno, amigo, sedução pura
Cá no amor agora é poético sentimento
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
02, agosto, 2021, 19’11” – Araguari, MG
PELO CAMINHO
Eu queria ver no silêncio do escuro
O amor puro, o mais que você quer
Que te agrada, em tudo que quiser
Este o prazimento que eu procuro
Te querer, quero! no olhar seguro
De doce paixão. Poesia a lhe dizer
Ser, estar, para enamorado te ter
Assim, que penso em nós, te juro!
Às vezes eu deixo de pensar em ti
E por aí o pensamento vai sozinho
Pensando se ainda está por aqui...
Neste segundo, você é só carinho
Só satisfação, uma sensação rubi
E, então, levo você pelo caminho!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04, agosto, 2021, 15’47” – Araguari, MG
ANDANDO
Passou... o tempo, numa ligeireza
Em um molesto sem parar, foi-se
E o pensamento ainda em lerdeza
Dum susto de se vê levar um coice
Passou... pondo no antes a pureza
Passando, e clarificando a velhice
O passar já não mais uma surpresa
Onde cada agitação é uma chatice
Mas, tive medo, tenho, de loucura
Em viver o tempo querendo demais
E tão ferino, o tempo toma o lugar
Andando, agora quero mais ternura
Estar, aquele doce olhar, mais e mais
Fecho os meus olhos e deixo passar!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06/08/2021, 18’58” – Araguari, MG
SONETO A MARIA
Ó Mãe de candor e esplendor em lume
O amparo no rosário a quem lhe desfiar
Porque és, Maria, Mãe, afeto implume
Razão e fé, do amor que ensina a amar
Tua presença é a sede na vida incólume
Ouvir o Teu Nome é um santo comungar
Quando os Céus a assenta em alto cume
De joelhos os teus filhos se põem a rezar
És Maria, Bendita Mãe de nós pecadores
Bendito fruto entre as mulheres, amém!
A bem aventurada, encimada de flores
Imaculada, Senhora, excelsa Virgem Maria
A constelação que do ceio o bem, provem
És a nossa esperança tão cheia de quantia
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
09/08/2021, 18’00” – Araguari, MG
BENDITA SEJA!
Uma agitada inquietude, um misterioso
sentimento, como um prazeroso paladar
um íntimo e perturbador próprio lugar
bem que faz bem, e distinguir não ouso
Uma voragem, de um estoiro poderoso
que nos torna sujeito, anexo ao olhar
ao pensamento, onde só se quer estar
cheio de ardor, de afago, júbilo e gozo
Uma contradição, sensação de loucura
aperto e agrado, e na emoção ventura
que faz alucinar no tempo, doce peleja
Qualquer que seja, é toda de alegria
aos poetas sustento, poética poesia
se assim for a paixão... Bendita seja!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
10/08/2021, 14’18” – Araguari, MG
“XONADO”
Agitado, tal uma chama dum pavio
Ardume que arde n’alma do prazer
No enrabichado és um grato atavio
Que alinda a sensação e a faz valer
E, do trato aquele sedutor arrepio
Fulgor que causa impar alvorecer
Um fastígio, e um agrado gentio
De ternura, loucura e acaso viver
E, da sua falta a inquieta tortura
Suspiro que aperta o peito vazio
Quando, só se quer um bocado!
E, pra se ter o amor com doçura
Paixão, o apreço deve ser luzidio
Pois, só assim se achará “xonado”.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
11/08/2021, 15’10” – Araguari, MG
RIMA PEQUENA...
Fascina-me a paixão de imposição serena
sensações quinhoadas são as mais bonitas
esboçada na emoção ... - tão mais infinitas
um desejo cercado de terna ventura plena
Como a satisfação de uma desejada cena
as sinas de amar, por certo, são escritas
nas estrelas, porém, são sortes benditas
do idear, onde o querer é vontade amena
Me prestaria tudo, assim, humildemente
a paixão livre do que uma falta condena
pra ter-te afinal no meu poetar presente
E, não te ter fosse, então, a minha pena
ter-te no silêncio seria dor eternamente
duma poesia carente e de rima pequena
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG – 12/08/2021, 09’58”
SONETEAR
Uma constante inspiração de agrado
Por ti, soneto, o meu versejar sente
Que outra, tal como tu, indiferente
É. Somente em ti eu fico inspirado
Como em um estímulo imaculado
Com os versos da ilusão da gente
A cada poesia o poema reluzente
De beijos, desejos, e sonho alado
Em ti não tenho sombria fronteira
Pois em ti confio a quimera inteira
Nas horas tristonhas e de encanto
E nos jardins dum poetar majestoso
Esvoaçam, o tal sonetear impetuoso
Das tantas fantasias do meu canto!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Araguari, MG – 13/08/2021, 11’58”
UMA SAUDADE
Saudades sinceras a tristura sincera
Quando há solidão no coração, dor
Do vazio que a lembrança não altera
Transtorna, amorna e torna rancor
Saudade é um agridoce instante
Que escadeira a alma e a tortura
É pesar que norteia e vela errante
Cuja a lágrima na sensação figura
Saudade não teme o tempo, a hora
Embora na noite ser uma imensidade
E, com inquieta perturbação sonora
E quem se afirma não ser verdade
Se isso é fingido, e fingido passou
Não amou, e da saudade não provou...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14/08/2021, 05’58” - Araguari, MG
ALVOROÇO
Rouba, sim, meu sossego, ó alvoroço, eles todos
O que acaso fiz eu, nos desencontros de outrora
Sonhos sonhados, ideados, nenhum, só engodos
Amor suspirado do meu coração não tenho agora
O amor que amei, meu romantismo me tomaste
E por sentir e viver o roubo não posso culpar-te
E de amor eu permaneço. Qual amor me baste?
Se qualquer não me basta, e me deixaste à parte
E para ter o perdão como eu posso ser gentil?
Se meu coração tremulo chora com tal frieza
Que nem mesmo o meu afeto sabe ser sutil
Nesta aflição, dos enganos, meu amor é presa
Verdadeiros amadores, ao amor não trapaceia
Nesta ilusão minha alma de poética está cheia
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
16/08/2021, 18’58” - Araguari, MG
Shakespeareando
A VIDA ESCREVE
O fado meu contente, que a vida escreve
Vivendo de amor, um desejo tão ingente
Vive em uma poética, e tão eternamente
Canta cá no soneto, tão puro e tão leve
Se lá no assento do coração, tudo breve
Não tem aquele olhar e, se não consente
Sente não poetar o que não será ardente
Sim, desencontros, triste sina prescreve
E se vires que dele podes então merecer
Não verseje a coisa duma dor que ficou
Viva o momento, assim, verseje pra ser
Rogue ao fado, pela sede que acreditou
Traga pra ti a poesia no melhor querer
O amor, a sensação do que não acabou.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
20 de agosto de 2021, Araguari, MG
SONETO DE APEGO
Esse amor que se lança, em melodia
lúdico aos meus braços, tão sedutor
me arrebata, e me acaricia e balbucia
sensações no desejo, agradável ardor
Esse amor, inteiriço, alma e poesia
que suspira paixão e põe a compor
emoção, única a que dei os, alegria
e mais e mais, então, mais eu daria
Esse amor que a predileção ganha
a grandeza de repartir a quem ama
e guarda aquele sentimento singelo
Esse amor é inocente. Tão donzelo
talvez, mas ao toque que se flama
é amor que se derrama, rijo e belo!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
22, agosto, 2021, 06’21’ - Araguari, MG
SOU RÉU DE POESIA
Sou réu de poesia! Confesso a minha sina
Porém não me penalizo desse ditado fado
Sublime, o poetar é também feita contina
Jeito tão mais gostoso e tão quão amado
Por certo o que nos redime, nos faz alado
Arte! A quem quer ter a poética inquilina
Eu cedo, e está fortuna, assim, me defina
Se eu portar, por acaso, e for um sorteado
E nesta ação, tão incrível, embora fique
Meu poetizar espalhado em mil pedaços
Eu rogo que a inspiração tenha o clique
Sou réu de poesia, mas também indefeso
Na criação, da geração e dos teus passos
Assim mesmo, da prosa quero ser preso!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
22/08/2021, 05’58’ - Araguari, MG
DESLIZE
Eu da saudade sou quem chora
Da ausência, ilusão, desencanto
Se eu caminho na solidão agora
São motivos de trovar em pranto
A saudade é dor, volúpia ardente
Viva sensação, um remorso vão
Dá-me emoção amarga e quente
Injetada gota a gota no coração
E nessa saudade tão fria e feroz
Da tua privação, a aflição corre
Rimando versos tristes e tão sós
Vivo a suspirar como quem morre
E a lamentar se assim vale a pena
Essa saudade do amor de te amar
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
22/08/2021, 15’18’ - Araguari, MG
SONETO À GOIÁS
Saudação cerrado! Bom dia alvorecer!
Ouço o vento árido numa brisa quente
Que vem do planalto numa só vertente
Circunvalando os galhos num retorcer
Ipês amarelando o chão, ali cadente
Que divinal, a arte do desigual a ser
Numa beleza que o diverso é prover
Dum céu apinhado de estrela luzente
Boa noite! Pôr do sol da cor do açafrão
Da caliandra que enfeita todo o sertão
Onde a gente vai do cinzento ao lilás
Águas cascalhadas, de som e canção
Timbrando o capim santo em exalação
Numa superfície, num só lugar: Goiás!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Agosto de 2016 - Cerrado goiano
UM BEIJO
Teu beijo, fostes a minha doce emoção
O melhor, o mais intenso e tão sedento
Contigo à alma elevou do firmamento
E devorei-te na boca a grata sensação
Apoderaste, a minha ideia não te olvida
Sente-te, arde, é imortal no pensamento
E o meu querer é desejo, é meu sustento
Com ele fui pela fervente paixão contida
Beijo ímpar, lascivo e precioso abrigo
Escravo, me sinto servo de tal instante
Por que, dado, não o deixei contigo?
Esputas-me, o gosto, de tão macio fruto
Beijo absoluto! afável, veludo delirante
Na constante presença daquele minuto!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
24, agosto, 2021, 15’17’ - Araguari, MG
Olavobilaquiando