Sonetos
EM BRANCO ...
Olho-te devaneando, arranjando, e aí tento
No vácuo do teu vão, da palidez e alvura fria
A poesia que transvaze do meu pensamento
E, somente rabisco uma fisionomia tão vazia
Mas, insisto no carente, inteirar o anseio lento
Com feito, fantasia: - nessa sensação sombria
E assim, então, criar solenidade no momento
Para ver se abranda a minha solitária melodia
Em branco, a imaginação no papel em agonia
Escreve e apaga, retira e devolve, cria e recria
Que zombaria, e a desordem devora o escrito
Ó solidão, fala alto, deslustrando cada ensejo
Tudo revelado, nada mostrado, e pouco vejo
Neste curto desejo, só um versar mais aflito! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
13/02/2021, 11’42” – Triângulo Mineiro
EXPLOSÃO ...
Se o cerrado é imensidão, seja então
Mais vida, e a diversidade fomento
Ao diferente, inclusão em comunhão
Um só instante de puro sentimento
Ele hoje morre ao sabor do contento
Progressiva a sua leviana destruição
Se em combustão ou não, violento
Quando a mão do avança é em vão
Açula-se, a tristura em um dolo frio
É destruição que provoca arrepio
Choro e pesar, tal chaga duma dor
Que na extinção que se olha aqui
Os versos enturvam e não mais ri
É uma explosão de vil desamor! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07/01/2021, 17’39” – Triângulo Mineiro
GRAÇA ...
Eu que exclamo esquecer-te, e proclamo
desprezar-te, com raiva e assim transpor
no odiar-te, mal sabes tu como, te amo
venero, nesse meu cenário tão sofredor
Quem lê o fel que no versar eu escamo
que contamina o estro, o verso pecador
a cada estrofe, por ti, e por ti que tramo
desesperado de ser emocional amador
Porém tu, meu amor, se fizer presente
ao acaso, novamente ter-te no carinho
donde nunca deveria ter sido ausente
Eu, serei perdão, esquecendo qual razão
aí então, sortirei de vivo afeto o alinho
e juncarei o caminho com pétalas de paixão ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
08/01/2021, 15’32” – Triângulo Mineiro
IMPERADOR ....
Esse teu chão mais parece arte
Retorcido em tons da natureza
És pluralidade e de te faz parte
Antigo sertão, feérica grandeza
Em grosseiros traços, dessarte,
Um painel feito com tal firmeza
Que abre a admiração à parte
Vigor! O valor maior de beleza
Um pôr do sol encarnado, revelador
Céu imenso dum azul cheio de sabor
Vários os encantos, enfim, revestidos
Em cada foco, prenhe de sentidos
Uma epopeia! De sonhos contidos
Cerrado soberano, o imperador! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
09/01/2021, 09’12” – Triângulo Mineiro
AMOR E PAIXÃO ....
Amor: sentimento de ideal sentimento
Afeto, evento, uma constante sensação
Crisol, joia para se compor a doce união
Tudo em sua alquimia é acontecimento
Senhor da emoção, lógica e argumento
Elemento que converte a especificação
O acordo que dá valimento a precisão
A estrita e bela norma de um portento
Ao amado oferece o altar em prosa:
Dor e glória, agrado, espinho e rosa
Duas premissas e aquela certa razão
Então, sonhar ter custa apenas isto
Imolar, assim, (tal os passos de Cristo)
Dedicação, doação: amor e paixão! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10/01/2021, 08’53” – Triângulo Mineiro
AMANDO ...
Amo estar gostando, espírito ferino
De tanta sensação de lirismo alado
Um bem estar tão poético e divino
Tanto afeto, tanto prazer sagrado
Nele, sublime, de gosto cristalino
Ativando o coração apaixonado
Suspirando tal um ritmado hino
E, então, constante enamorado
Teve, nele, o olhar do paraíso
Ai sim, pode-se dizer há magia
Onde se acha o bem e o riso
Deixa gemer na piegas poesia
Cada verso, o poetar é preciso
Assim, amando, dar cor ao dia! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10/01/2021, 18’15” – Triângulo Mineiro
AMOR PERDIDO ...
Depois que tu foste, só depois, da partida
Notei que do manso amor, o meu é sujeito
O grato sentimento da sensação, da vida
E, se tem maior bem, desconheço o feito
Afeto ardente e forte, repleto e perfeito
Que na emoção a conformidade é diluída
Um olhar, afago, gesto com poético jeito
Que na boa afetividade a ventura é parida
Depois do vazio, só depois, me vi corso
Num aperto no pensamento que tortura
Que conquista a mente dando remorso
Não tem preço, amor perdido, só trava
A sede, a inspiração, suspiros, a ternura
Tu foste! esvaindo o mimo que me dava! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
13/01/2021, 19’18” – Triângulo Mineiro
BAMBO ....
Se o amor bater de novo na sensação
arrependido, para o meu sentimento
hei de dizer-te tudo com cara razão
e poética, quanto rasga o sofrimento
Pouco importa, ter já o entendimento
da dorida dor, sei eu, do luto e paixão
pois bem, nem mesmo o tal momento
do bom, tudo é mais uma recordação
Então, não venha mais virar a tramela
adentrar o meu olhar, e descontrolar
nos caminhos sempre terá outra viela
O amor vezeiro, é amor com alarido
bambo, perdido, tem basta o pesar
(só a morte) e nada mais é sabido! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14/01/2021, 09’01” – Triângulo Mineiro
AGOSTO NO CERRADO ....
Não é sempre está melancolia
o morno mormaço, esta fereza
de agosto, a secura que tristeza
no cerrado, agridoce dura poesia
Bela diversidade a sua natureza
um vendaval de cores e de magia
devaneio, como é vária sua beleza
e seu renovo, insistente teimosia
Dia e noite, noite e dia, feitiça fonte
vencedor de borrasca e de empeço
e lá se tem o pôr do sol no horizonte
Tão inarrável, encarnado, inconfesso
o qual da glória doura-me a fronte
ao arrostá-lo, pasmo e fulvo excesso ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14/08/2020, 18’01” – Triângulo Mineiro
PAIXÃO ....
Eu vi minha paixão. Arrebatada de alegria
em elevada sensação, que no amor ficara
em companhia de uma preciosa joia rara
a fez rica, quando outrora foi triste e fria
Quanto mais amava, quanto mais a sentia
banhada em sentimento de cortesia clara
cheia de ventura, de emoção e cor, ia para
o desejo, como quem vai viver gentil o dia
Pudera assim ter sempre essa primavera
nas manhãs de tais momentos solitários
existidos. Desejo e quero essa quimera!
Foi então que reconheci cada precisão
de um coração: mimos, olhares diários
num rosário para se ter a doce paixão! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
17/01/2021, 06’01” – Triângulo Mineiro
INTEGRAL (soneto) ....
É bom que eu viva a cantar, no rumo
Do prazer, em um romântico comitê
Pois se da boa poética eu sou mercê
Da prosa, trovo, declamo e consumo
Num certo verso que venha, presumo
Expressar tudo que minha alma crê
Talvez, assim, então dizer o porquê
E me expor num entusiasmo sumo
E, se chegar a hora em que eu traga
No versar a solidão onde a dor vaga
Que seja a sofrência com solenidade
Já na ventura me darei mais alento
Porque saudade é mais padecimento
E o sentimento nunca é pela metade ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18/01/2021, 09’41” – Triângulo Mineiro
VERÃO .....
Verão... janeiro onde tudo esquenta
Em bando o raio do sol abafa o beiral
É mais triste o jardim na tarde sedenta
Onde as rosas já desmaiam no rosal
O alto verão! A hora é macilenta
Tem lerdeza, estio, sempre igual
Poeta, porque é que te atormenta?
Cá no sertão, é calor, chão tropical
Depois o seu entardecer é encantado
Dum horizonte de nuvem em novelo
Na grandeza do céu árduo do planalto
Verás sim, o abrasado torto cerrado
Em brado, as suas savanas em apelo
No pico da quentura, bafo, ponto alto! .....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18/01/2021, 07’37” – Triângulo Mineiro
ENLACE ....
No cerrado titã e rubro, a sensação pura
Dos galhos tortos, irregular na sua rudez
Sente no cessar o abraço de sua ternura
Que envolve a noite no agreste timidez
Como o entardecer alastra sua formosura
Que para o anoitecer, tão caprichoso, fez,
A lua e as estrelas, entregam-se à belezura
No céu, da graça que vem pela primeira vez
Quando surge, por fim, a tenra alvorada
O sertão, bulido pela sombra orvalhada
Recorda, assim, tal uma luxúria nupcial
E o cerrado, saciado, rubro e gentio
Vai, frente ao dia, divertido e ébrio
Celebrando este feito matrimonial! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
19/01/2021, 05’37” – Triângulo Mineiro
ALUCINA! ....
Aprisiona em teu verso, a sonhar, tudo quanto
Te é encanto: o gesto, o olhar, a rosa ofertada
E canta em gentil amoroso e sempiterno canto
A prosa, a poética, e a inspiração enamorada
Que a rima, vibre e guie, que não seja pranto
E então somente de uma cobiça apaixonada
Onde o sentir pulse e sacuda o seu recanto
E haja aquele ardor no alvor da madrugada
Encarcere cada uma palavra dita ao dispor
Traga do coração a sensibilidade, e faça
Sensação, pra então ter cantigas de valor
E trove a tua paixão num surto de alegria
Gabe-a, exalte-a, alucina, é cheio de graça
Saber musicar a feliz emoção na poesia! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20/01/2021, 15’42” – Triângulo Mineiro
AMOR DESFEITO ....
No sentimento esquio e acre, a saudade pura
Suspirando, arfando, a procura de um talvez
Sente a emoção vagar e sem a fulcral ternura
Que larga a sensação numa silenciosa surdez
Enquanto o lacrimejar escorre pela fissura
Do olhar. Há aperto, dor no peito outra vez
São as lembranças tão cheias de amargura
Dum afeto que se vai e ali então se desfez
Quando surge, então, a poética derrocada
A quimera pela janela se afasta desfolhada
E o sentir se faz delicado igual a um cristal
E o sentimento desamparado, acre e esquio
É ante o querer: - apático, indiferente e frio
Então, no amor desfeito, o irrefreável final! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21/01/2021, 19’52” – Triângulo Mineiro
ALVORES ....
No silêncio da aurora carmim de fevereiro
As alvas do cerrado nunca se abrem iguais
O céu azul emoldurando o verdor coqueiro
Num cenário de magia das artes tropicais
Tanta quimera faz crer que, o ar fagueiro
A imaginação poética do show quer mais
Pois, o encantado deslumbra por inteiro
E se sente a brisa dos sabores matinais
Aí, enquanto lá fora tudo é tão reluzente
Cá dentro a vitalidade desperta e escoa
E põe na vida valor, o diverso e poesia
E vais sem perceber o tender da gente
Sem prever o acaso, e que nada é à toa
Que existe o destinto em um novo dia! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
22/01/2021, 05’52” – Triângulo Mineiro
18 HORAS NO CERRADO ....
O vento passa e o cerrado murmura
Porém tão achavascado que parece
Um canto, uma suplica, uma prece
Uma poética cheia de acre tristura
No horizonte o pôr do sol adormece
Turba-se a tarde, uma luz já fulgura
No céu, tão alva e farta de ternura
A noite caudalosa sobre ele desce
O silêncio embatuca convulsamente
Varrendo a negror ao peso do poente
Agigantada escuridão! O acme agora!
Tem da coruja o gemido cavo e pesado
Toda a melancolia, através do teu piado
18 horas, a noite no cerrado não demora! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
23/01/2021, 18’00” – Triângulo Mineiro
paráfrase Ana Amélia
AMOR QUE NÃO TEM PREÇO ...
Depois que ti vi, só depois, razão na medida
Notei que sentiria amor que não tem preço
A poética maior do mundo, poesia da vida
E, se já apreciei algo igual, eu desconheço
Ardor feliz e casto, sentimento espesso
Abraço e a sensação na emoção diluída
No fiel olhar, cujo o bem e único apreço
É ser, sonhar, numa harmonia incontida
Depois que ti vi, só depois, eu entendi
Como é bom ter o coração na ventura
Invadido pela paixão, depois que ti vi!
De ter, junto a ti, o tal desejo que aporá
A felicidade, os beijos e a doce ternura
Na simpatia do amor amplo que me dá! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
24/01/2021, 07’56” – Triângulo Mineiro
O PRESIDIÁRIO ....
Ó meu coração, meu pobre coração que choras
Os soluços sentidos dum nefasto desventurado
Se a lei do amar te angustia em seguidas horas
Diante do afeto ninguém deve ser condenado
Se tem sede de mimo e se confiante imploras
O suave amparo de o cupido a ti deliberado
Que seja flechado de luz nas suaves auroras
Superando a regra da sorte que a ti é dado
Não há prisão, nem há solidão tão pobre
De um olhar abraçado, cumplice e nobre
Que não possa estar ao lado e ao dispor
Somos todos uma solta sensação serena
Quando o desejo deseja eximir de pena
Safando da sentença o condenado amor! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
24/01/2021, 16’50” – Triângulo Mineiro
VELHO ....
O tempo, e com ele a trôpega velhice
Vai se indo como a vida vai mandando
Gritando, calando, caindo, levantando
Hora austera, e também de sandice
É lenta, silenciosa e cheia de chatice
Ou não, cada qual com o seu mando
Se ainda for viável estar no comando
É o ápice do homem na sua meninice
E no espelho, o cabelo branco, a ruga
Pesando na idade, amadurado fruto
É a juventude numa derradeira fuga
A rua mesma, o sonho outro, apatia
Tudo é frágil em um cuidado bruto
Na chance de velho, madura poesia! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25/01/2021, 14’11” – Triângulo Mineiro