Sonetos
ORGULHO
Meus são os versos do chão cerrado
Poética acre, puro céu e denso mato
No galho tortuoso o poema trançado
Escrafunchado de um singular recato
Eu entendo o sentimento acentuado
O luar que prosa inspiração e trato
E ao meu versar, o versar fascinado
Com um perfume ao sensível olfato
Nas minhas mãos, a poesia orgulhosa
Se te poeto, sertão, na sua imensidão
É com a imaginação e tons especiais
E, então, pressintam a quão formosa
Natureza, que suspira, pulsa, é paixão
Neste imenso dom de poder ser mais!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
01 novembro, 2022, 17’37” – Araguari, MG
INDECISÃO
Possa lá prosseguir amargurado!
Andar com uma sensação poente
Se uma apertura atroz e sofrente
Enche de bruma o verso poetado
Se o sentimento cá tanto povoado
Que tenta impor está dor ardente
Logo este pesar assombra a gente
Tão pungente e tão determinado
Seja a poesia doce ou então salina
Sempre há aquela inspiração afim
Sempre há rumo em cada esquina
Sei lá qual dos versos é razão, enfim,
Se é o perdão ou é a justiça divina...
Ou se é a sedução dizendo que sim!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
02 novembro, 2022, 14’24” – Araguari, MG
CHAMO
Sou eu! Não me ouves, poesia? Piedade
Sinta está sensação que pulsa no pranto
Olha este sentimento que me pesa tanto
Que brada, dói, que me faz pela metade
Pois, não vês a poética que traz saudade
E meus versos com versos sem encanto
E que o canto traz tristura no seu canto
Portanto, ouça-me, e não seja maldade
Quero prosa e agrado, não de centavos
Quero bravos, ver o verso maravilhado
E em cada versar um versar com ardor
Eu tenho mais que somente os agravos
Tenho o ritmo na alma tão cadenciado
E no coração a exatidão doce do amor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
05 novembro, 2022, 17’20” – Araguari, MG
BARCOS DE PAPEL (soneto)
Na chuva da temporada, pela calçada
A enxurrada era um rio, e o meio fio
O teu leito, com barragem e desafio
Na ingênua diversão da meninada
Bons tempos felizes, farra, mais nada
Ah! Os barcos de papel, inventivo feitio
Cada qual com um sonho e um tal brio
Navegando sem destino, a sua armada
Chuva e vento, aventura e os barquinhos
Tal qual a fado nos mostra os caminhos
E a traçada quimera no destino velejada
Barcos de papel, ah ideais, são poesias
Que nos conduzem nas cheias dos dias
No vem e vai, no balanço, da jornada...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27/06/2020, 11’05” – Triângulo Mineiro
FASCÍNIO (soneto)
Beija-me! O teu beijo ardente e brando
Entra-me o sentimento, intenso e forte
De arrepios e de suspiros, vivo, entrando
No afeto, e assim, acontecendo a sorte
Olha-me! O teu olhar, na alma radiando
Felicidade, luz, em um cálido passaporte
De ter-te aqui, e no querer ter-te amando
Onde a poesia e o poeta têm o seu Norte
Fala-me de sonho, de um límpido recanto
Onde o trovar conversa com a lua cheia
E o teu fascínio adentra em meu verso
Beija-me! Olha-me! Fale-me! Ó encanto:
- de amor... de paixão. Prenda-me na teia
Do teu magnético e tão delicioso universo
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07/07/2020, 05’45” – Triângulo Mineiro
Olavobilaquiando
A ETERNA MUSA D'UM POETA
Depois que eu a vi surgir, bela assim
À luz dos instantes, a me enamorar
Sob as estrelas, na alma, à terra e ao mar
– Vinde borboletas a poisar em mim...
Depois de tantos anseios, por fim
Deixou saudades do meu peito a chorar
Agora em alegrias, e a te conjulgar
Eis o meu coração, frenético, flor-carmim.
Mas por perfumes, tão enlouquecido,
No vaguear neste mundo eu sou perdido
Nas falsidades vis dos meus amores...
Sim, és tu, a mariposa da minha ilusão,
Que dentre às trevas me é fulgor, mas é vão
Dentre a paixão eterna das minhas dores...
Estou partindo...
Eu fui o teu amigo,
eu fui o teu professor,
eu fui um aliado contra seus inimigos,
mas mesmo assim você não me deu valor!
Sempre foi eu quem lhe ajudou,
sempre foi eu quem "carregava sua bateria"
e quando tudo mudou...
era eu quem lhe dava alegria!
Estou lentamente partindo,
mas você é muito cego para perceber,
da sua vida estou saindo!
Eu fui o teu amigo,
eu fui o teu professor,
mas agora só lhe digo: Adeus meu ex amor!
CÁRCERE DA DESPEDIDA
De que vale as lágrimas se no lamento
Levas a saudade de inevitáveis dores?
Se o afeto perdido lhe ainda é tormento
Com sensação tão cheia de amargores
De que vale prosar, tal poéticos autores
Pra acalmar a sofrência do sentimento?
Se os apertos ainda lhes são sofredores
E no peito ainda um aflitivo sangramento
O que me move é ter comigo a emoção
Um desejo flagrando o aturado coração
É saber que me doei a quem indiferente
E que no pesar, o cárcere da despedida
Encarcera, sova, com uma tal dor doida...
Mas, vale a pena, ao amor que se sente!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
15/03/2023, 16'42" – Araguari, MG
ETERNO POETAR
A poesia, em seu eterno encanto
Deixou-me os versos a encantar
Por isto no âmago de seu canto
Fiz prosas para a sofrência aliviar
Quando a dor não pude suavizar
Fiz da palavra um cerne acalanto
E agora, num sentimental versejar
Me amimo em um poético recanto
Na agonia escondida, e suspirada
Sinto sensação do tudo e do nada
Vibrando no verso, dando emoção
Então, escorre o doce licor do criar
Nas linhas da estrofe, eterno poetar
Tendo a sina em poética transfusão
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
16/03/2023, 19'28" – Araguari, MG
BENDITOS
E o velho leme da vida, guia
A nau cambaleante garrida
Traçando no tempo ousadia
E fato de chegada e partida
Flui e seca, a bamba poesia
É o espírito em sua corrida
Doce encanto, pura valeria
Numa diversidade incontida
E pelo rumo, a vida e morte
Palmeando a face da sorte
Qual cativos nos seus delitos
E o velho leme do fado, rege
Catando ser ardiloso, herege
Mas eleitos, somos benditos!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
19 março, 2023, 15'06" – Araguari, MG
SONETO QUE SENTE
O aperreado soneto descontente
Vive a soluçar inspiração sofrida
Chora, sente. Afia simplesmente
Uma ilusão e sensação incontida
É infeliz, tão descrente, carente
Com uma emoção, assim, perdida
Transforma o tudo em dor doída
Insolente, vive a suspirar na vida
Os versos são vãos, sem glória
Em uma poética e nobre escória
Que pela sofrência, reina, tirano
Mas, o meu soneto que sente, sabe
Que no olhar, no tempo, tudo cabe
Quando se tem um coração humano
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
25 março, 2023, 16'41" – Araguari, MG
POETA A VERSAR
Nos muitos versos dum Poeta a versar
Se vê o acaso sob o seu olhar. Floresce
Sentimentos a pulsar, sedução a cantar
E íntima sensação do que lhe acontece
Muitas vezes são lágrimas que padece
E outras, sorrisos que lhe vem abraçar
Todos trançados em prosas, em prece
Rezadas da alma do peito a sussurrar
Um desejo que vai além, perenemente
Que faz deste pormenor ser diferente
Tão somente, o teu ar, cheio de sabor
Ah! o Poeta a versar: magia e fantasia
Vive e sorve ilusões, suspira nostalgia
E sente o sagrado deste poético ardor.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
26 março, 2023, 18'07" – Araguari, MG
SOFRÊNCIA II
Sofrência! Ponto eterno da poesia
Indistinto, de inspiração truculenta
Algoz n’alma, composição sedenta
Uma tal prosa cheia de melancolia
Tem prazer de afligir em demasia
De arrancar aquela lágrima doída
Nas poéticas sofrentes, pela vida
Verso carente, significação vazia
A dor dá, ao poeta, o verso viçoso
Pra que sintas a atenção do gozo
Que da emotiva entranha, emana
Enigmático estacar sedutor, inciso
Que avida sensação de improviso
Dando emoção: ambígua e insana
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27 março, 2023, 21'17" – Araguari, MG
EM TOADA DE POESIA
Oh! Seu pudesse em cadência e ternura
Dizer-te o que no peito me é um estrondo
Se em poéticos sons vibrando de doçura
Pudesse ao sentimento estar compondo
Se o versar falasse, o que, enfim, procura
Que a tempos no olhar o prazer escondo
Uma sensação atraente de terna loucura
Aonde cada verso o amor está propondo
O poema seria a paixão com um sentido
Cheio de emoção, sem coração partido
Trazendo o que no verso de amor traria
Seria um canto, divino canto de estima
Cristalino som e tão cheio de pura rima
Um cântico d’alma em toada de poesia
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
31 março, 2023, 18'33" – Araguari, MG
CONTINUA
E o versar poético da poesia continua
A sua magia na mesma rota, destino
E, na ventura, várias sensações tatua
Há verso, prosa, rítmica canção, hino
É o compor eterno sobre a alma nua
Os encontros e desencontros, divino
Fado. E no coração a emoção estua
Num cântico de sentimento genuíno
E pelo verso, imerso uma narrativa
Dum acaso e sorte, em expectativa
Entrançado, o qual nunca é restrito
E, o versar continua na sua romaria
Numa intrincada agitada travessia...
Que vai além do poeta, pro infinito!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
01 abril, 2023, 12'46" – Araguari, MG
NOSSOS OLHARES
O teu olhar tão posto, tão formoso
O teu olhar afeito ao doce acalanto
O meu olhar sedutor, tão malicioso
O meu olhar inquieto, tanto... tanto!
O teu olhar me olha com qualidade
O meu olhar te afaga, sem segredo
O teu olhar no meu sentido brade
Meu olhar, teu olhar, terno enredo!
O teu olhar no meu, uma imensidão
Imaginação, sentimento, sensação
O que seria do meu sem o teu olhar
Por isso ter o teu olhar eu agradeço
Poema ao meu coração, reconheço
Que em outro olhar não pude estar!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
02 abril, 2023, 15'12" – Araguari, MG
CADA TANTO
Cada tanto que a poesia se abre, plena
E tatua o branco do papel com primores
Tenho sensação nesta tão poética cena
De atraentes sentir com criados vigores
E vou versando. A paixão não é pequena
Inspiração da alma, encantados louvores
Ali, repousados em uma sagrada patena
E, tão repleto de sentimentos amadores
Sim, eu, um casto sonhador, emocional
Dum coração, devaneador, sentimental
Enredado de uma sedutora imaginação
Na minha prosa, eu, conto o quotidiano
Se triste, o alegro, se pranto, do engano
Assim, canto, cada tanto, duma emoção
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
05 abril, 2023, 14'00" – Araguari, MG
O AMOR, NA VOZ DA POESIA
De repente, não se sabe quando, o amor
Cheio de voz, de poesia, onde há magia
Carnaval que flama o sentimento, ardor
Num olhar em chama, sedutora energia
Dos seus versos aquela paixão derrama
Tem prosa, emoção, caricia em sinfonia
Em cada estrofe um fascínio sem drama
Em toada com terna harmonia e euforia
E na poética serenata, o som da aurora
Compondo gestos, beijos, a grata hora
O abraço que consola, o marcante teor
Assim, projetando no horizonte do viver
Criando sentido, enredos, de um querer
O amor na voz da poesia é em tom maior
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06 abril, 2023, 14'02" – Araguari, MG
SE, CORAÇÃO ESTREITO
Se, por ventura com aspereza estares
O coração suspiroso, coração estreito
Tu, não tomes o caminho dos pesares
Procura aos sentimentos do bem feito
Lá, tem afagos, venturas aos milhares
Que se encontra nos apreços, perfeito
Encantador. De imaginações salutares
E, que lateja sensação dentro do peito
Dizem que, assim, se tem inteiramente
Tem gesto, toque, em forma de poesia
Afinal... ter magia faz a gente diferente
Depois... é dar o valor a prenda tocada
Podes ser, e também, ter a companhia
Aí, é partilhar da cortesia encontrada!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07 abril, 2023, 13'41" – Araguari, MG
Sexta Feira Santa
REDENÇÃO
Depois que passou, só depois, desta dita fadada
Notei que a sensação e o quesito não têm preço
O melhor agrado, aquela leve emoção encantada
Brota n’alma, se há sentimento igual, desconheço
Aquele gesto manso e casto, ao silêncio confesso
O repouso, a calma, aquele sossego e mais nada
Tudo é poesia, cuja a poética é singular endereço
Hoje vejo quão a intensão não é mais enamorada
Depois que passou e, só depois, desta redenção
Me tive novamente vivente, cercado de aventura
É que o pensamento tem satisfação na libertação
Dei-te o meu eu, com intensão, o exato, e forjavas
Condição que não sentia. Uma desafinada mistura
Pois, nesta gorjeta rala, as tuas restas me davas! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Abril 2023, 11, 10’23” – Araguari, MG