Sonetos
INSÔNIA
O dia se faz frio sob o sol intenso,
A noite sobre a luz branca se faz casta.
Tudo esplêndido, mas nada me basta,
Nada me é na alma tão imenso!
A minha sede inda é maior, insana...
Tudo me é morto, a minha lua é extinta!
O meu desejo é d’uma luz profana,
Que digna a me clarear... Não minta!
Eu amo como ninguém tem amado,
Como um maldito ser endoidado
Que tão pequeno se sente no mundo...
Quero anoitecer no calor aberto do dia,
Mas nada me faz queimar! Imensa agonia,
Esfria-me a alma num sono profundo!
MEU SONHAR
Aos sonhos eu despertei com a tua voz
Dentre à noite a um luar romântico;
Os sonhos, eu edifiquei ao seu algoz
Desfalecendo o teu entoado cântico...
Parecia a noite um mistério alheio
Desconhecendo a encantada escuridão
Dentre o meu peito. Que feliz e cheio
Desconhecia a tristeza o meu coração.
Uma ilusão do nada. Tanta euforia
Sentindo em minh'alma que já não sorria
Ao perceber o teu adeus tristonho...
Ao luar tão belo, que a vejo estar comigo
Ao dormir, sonhar; fazer amor contigo
Que n'alma, eu desperto, e deliro e sonho...
POETAS MORTOS
Ensandecidos: Vagueando à multidão
Eu vejo alegria, ansiedades e chorar...
E dentre o meu peito falta vida, me falta ar
Por sentir os temores da ilusão...
Insanidades, eu vejo a toda alma o coração
Por falsidades que os fazem fadigar,
E, ensandecida, navegando sobre o mar
Eu vejo a minh'alma à solidão...
Versos entoam dos meus sentimentos:
Tão Igual é nosso sonhar, nossos lamentos
Por virtudes nosso luar ser de alegria...
A sofrer sinto-me brando, sou louco?
Eu sou d'um Poeta o fogo intenso e absorto
A mentir o nosso amor: Que fantasia!
Lusco fusco
Fechado é o espetáculo do dia
Aplausos para o Sol que desce lento
Num lusco-fusco igual sala vazia
Aturde a imensidão do pensamento
Suspenso por dois fios, qual magia
Aquele amor em Chamas, num momento
Acende a derradeira estrela guia
Na noite da saudade e do tormento
Afastem-se, tristezas, não mais firam
As almas que em cânticos suspiram
E juntam-se onde os corpos não alcançam
Paixão que tem sabor a vinho tinto
Suor embriagado de absinto
A escorrer da pele enquanto dançam
Soneto de
Etischa Dewes
FILHA DOS ALFOBRES
Pois, que antes, aos meus dias de dor:
Pecador das trevas refugado;
Distanciando-me do sentimento-amor,
Vinde o meu tempo à luz do ornado...
Eis aquela rosa em botão, sem falsado,
Abutre da escuridão e do rancor,
Sem vida, nem perdão ao seu dispor;
Haverá por os teus atos ser julgado!
Sem sentimentos nem mesmo compaixão,
Julgo à tua memória dias em vão,
E aos céus dos santos, o enternecer...
Pois, agora, ventura tanta me abraça!
E antes que sejam teus dias à desgraça,
Peço a Deus perdão à vida, ao teu viver...
Dolandmay Walter
In sinopse: (do livro Além-Mundo)
SONETO VAZIO
O quê ter sem pertencer
o teu sentir de explosão
em mim p'ra poder ter
ao meu ser seu coração?
O quê ter sem pertencer
a tu'alma sem que vão
de intenso o seu prazer
viver d'amor à imensidão?
O quê ter sem o sentir
em mim o explodir
tua paixão ao peito meu?
O dia se vai e a noite vem
No teu sonhar meu bem
sem o pulsar do cerne seu.
A ETERNA MUSA D'UM POETA
Depois que eu a vi surgir, bela assim
À luz dos instantes, a me enamorar
Sob as estrelas, na alma, à terra e ao mar
– Vinde borboletas a poisar em mim...
Depois de tantos anseios, por fim
Deixou saudades do meu peito a chorar
Agora em alegrias, e a te conjulgar
Eis o meu coração, frenético, flor-carmim.
Mas por perfumes, tão enlouquecido,
No vaguear neste mundo eu sou perdido
Nas falsidades vis dos meus amores...
Sim, és tu, a mariposa da minha ilusão,
Que dentre às trevas me é fulgor, mas é vão
Dentre a paixão eterna das minhas dores...
As folhas em branco
Preenchem o vazio persistente
Em habitar o meu ser;
Vazio deixado por você;
Quase impossível preencher;
Uma falta que sufoca;
Na esperança da sua volta;
Rabisco folhas, contando histórias;
Vívidas com você.
No fascínio do teu ser;
Meu eu se perde em teus encantos;
Revejo teu rosto em cada canto;
Meu coração despedaçado, cai em pranto;
Revivendo memórias contracenadas com você.
Escrever sobre nós dois, é a forma diferente de te ter: sem nada exigir, sem nada de te ter, basta apenas uma folha, em segundos, sem perceber, ao meu lado está você.
A CHUVA
O dia é tão mais nobre. Nesse dia,
Rompendo o pulsar tremente...
E sobre o luminar, o sol ardente
É n'alma um beijar de alegria...
Lágrimas dispersam ardentia
Ao tempo, olhos de toda a gente...
Vida pós vida, completamente
Em ricas horas de infante magia.
No horizonte há pássaros ao hino...
Erguem-se o cantar, que pequenino,
Alegra-se ao silêncio do arrebol.
Ao dia dourado, despercebido,
Risos de esperança são concebidos
Únicos, perfeitos, ao glorioso sol.
POESIA CEGA
(O Ledor)
Não entendeu? -Sim, compreendi, amigo!
Sei o que sublimas tua mente desponjosa,
Pois que mais ousados que uma rosa
São os teus ouvidos aos meus sentidos.
Hipócritas palavras, cabeça maldosa
Habitas em seu corpo como um perigo
Daquele que ouvir asnos, mas bem contigo
Está tão brilhante alma, e magestosa.
Que nesta sagrada vida, da literatura,
Há quem não entende sabendo ler
Tantas coisas mais complexas e conjuras,
Que, quem não lê, sabe entender
O que vós digo, palavras vis, palavras puras
Sem que haja sentimentos a lhes dizer...
PASSAGEM
O amor contigo, talvez, um dia se vai
Rompendo a estrada em desventuras;
Cumprindo ao tempo os nossos ais
Na paixão dolente, complexa e pura.
O amor contigo, talvez, imortal se fica
Sem dias amargurados, em prazer,
A ermo dos sentimentos, que suplica
O infinito do teu caminho a romper...
Quem sabe dentro d'alma nossas vidas
De graças maculadas, nossas lidas,
O nosso peito, que de pulsar lucidez
Ao coração miserável, tão profundo,
O nosso amor simplesmente no mundo
Nada é do que é, passagem... Talvez!
PECADOR
Espírito imortal, escuro, rastejante...
Alma maligna, deixa-me viver,
Minha vida miserável a percorrer
O caminho do meu sonho, doente.
A cura dos meus pés haverá de ser
Nas trevas da estrada, coerente,
Que insana minh'alma descontente
Já é dor, já é queimar, a não morrer...
Vida que pós vida será amor, será?
Ser deslumbre, quem há de amar
Se lágrimas estende pelo caminho?
Deixa-me viver sem mesmo amor
Que a ti suplico o esplendor,
Triste e curvado, mesmo sozinho...
EXCELSA
Para Luciene Soares
O meu coração que ama
Consegue visualizar
Um universo na chama
Do brilho do teu olhar
A beleza que exclama
Tanta coisa sem falar
Uma paixão que inflama
Largamente feito o mar
E os teus lábios poéticos
Feito canção de Neruda
Ditam poemas ascéticos
Falam do salmo que ajuda
Constroem versos estéticos
Fogem da coisa miúda
FANTASIA
Minha flor de perfume delicado
Quem me dera romper formalidades
E viver para sempre ao teu lado
Em folguedos e em festividades
E o tempo boníssimo parado
Contemplando as sensibilidades
Que despertam o olhar apaixonado
Sob um céu de suaves amenidades
E teríamos um só coração
Ideal, objetivo e gosto
Teus beijos serviriam de ração
Abraçados versando o sol posto
Se vivo no parnaso essa ilusão
Acrescento mil cheiros no teu rosto
A ESTRELA MAIS BELA
Para Luciene Soares
A estrela mais bela, especial
Intelecto fluente, invejável
Descobriu nesta vida o essencial:
Depender de Jesus, Deus adorável
E eu ‘muso’ do ser sensacional
Vou sorvendo o seu verso palatável
E a beleza da letra musical
É carinho suave, nota afável
Se a riqueza traduz felicidade
Sou mui rico, sem ter nenhum milhão
Ter você, meu amor, festividade
Poesia, prazer, paz, coração
E o olhar que vem desde a mocidade
Insuflando o meu rio da paixão
VASTI
Paraíba, celeiro de beleza
Que a mão do Senhor aqui criou
A mulher desta plaga – natureza
É o retrato que Deus Pai caprichou
O olhar feminino é a lindeza
Que o poema mais hábil decantou
E a boca traçada na nobreza
Pra afeição do poeta é que ficou
A ternura na face estampada
Contagia quem olha e faz feliz
Esse meio sorriso e a tez corada
Enaltecem a mulher Vasti Diniz
Feito flores plantadas na estrada
E o cantar mavioso do concriz
UM NOVIÇO NA ARTE DE BAILAR
Entre luas forjei a minha tenda
E pintei com as cores mais ‘hermosas’
E de lá fico olhando a minha prenda
Com andar das gazelas caprichosas
É de cirros a sua linda renda
De canções as nuances angulosas
E a brisa esperando que ascenda
O perfume dos versos e das prosas
Caminhei inseguro no folguedo
Um noviço na arte de bailar
Para o meu coração não há segredo
Se o ofício é compor, rir e versar
Mas às vezes pra tenda me escafedo
E me ponho somente a observar
A MINHA BÊNÇÃO
Vida nua... mariposa das noites, fria
Qual um rio corrente, sem nada,
Sem destino e desvairada,
De caminho torto... de ardentia...
Vagueando curvas de pecados, fugidia
Em preces dolentes, maculada
Rompendo o sol, e desgraçada
Como as rochas vagas... de agonia...
Silêncio de bênçãos... branca alma
Arrastando saudades... sem talma
Poisando os pés descalço em dor...
Vida além... Ah, pobre vida além...
A vaguear no mundo... sem ninguém...
No mendigar dum só pouco amor.
Estou partindo...
Eu fui o teu amigo,
eu fui o teu professor,
eu fui um aliado contra seus inimigos,
mas mesmo assim você não me deu valor!
Sempre foi eu quem lhe ajudou,
sempre foi eu quem "carregava sua bateria"
e quando tudo mudou...
era eu quem lhe dava alegria!
Estou lentamente partindo,
mas você é muito cego para perceber,
da sua vida estou saindo!
Eu fui o teu amigo,
eu fui o teu professor,
mas agora só lhe digo: Adeus meu ex amor!