Soneto da Separação
O mundo é o cenário de sua história. Viva o filme da sua vida, e não esqueça de fazer um teste de elenco para escolher quem irá participar desse filme.
Ganho assim o tempo necessário para o distanciamento e desapego, porque o que fica longe da vista se vai inexoravelmente afastando do coração.
Sei agora o que nunca soube – que o amor encontra o seu estado mais puro quando julgamos que o fim chegou; finalmente entendo que o amor pode ser precisamente essa ausência, o deixar de estar, ser capaz de apreciar cada minuto da nossa memória como se segurássemos, entre as mãos, um punhado de brasas num deserto de gelo.
É impossível saber se éramos uma coisa boa que se estragou de alguma forma ou uma coisa ruim que acabou se expondo. Mas de qualquer maneira, se eu pudesse voltar agora para o que éramos, voltaria. Eu o faria, sem um momento de hesitação. Se eu pudesse apenas deitar em seus braços uma última vez, eu poderia viver com uma ilusão pelo resto da minha vida. Se eu pudesse, faria isso.
Por mais louco que seja, a gente ainda se ama, só não estamos mais juntos. A gente ainda se ama, só decidimos seguir caminhos diferentes, sozinhos. A gente ainda se ama, só que agora, sem dormir juntos, sem trocar experiências, sem ensinar e aprender um com o outro. Não que eu não tenha aprendido com ela. Aprendemos bastante juntos, mas nem tudo chega ao fim porque a gente quer. Às vezes é só porque precisamos colocar um ponto final.
Há muito tempo, dragões e homens eram um só. Então o homem, que desejou posses, escolheu a terra e o mar. Dragões, que queriam liberdade, escolheram o vento e o fogo. Desde então, homens e dragões permanecem separados.
Cansei de insistir em você e continuar me machucando. Se tem uma coisa que eu aprendi nisso tudo foi a ir embora quando o amor começa a terminar...
Existem momentos em que devemos seguir caminhos diferentes dos escolhidos por aqueles que amamos. Não se trata de sendas opostas, mas sim paralelas. Estradas afastadas o bastante para que nosso ego não colida e próximas o suficiente para que possa-se estender-lhe a mão quando tropeçares.
Como eu não sabia onde ele estava, a cidade parecia maior, e parecia entrar direto no meu quarto: ele estava em algum lugar, ainda que desconhecido para mim, estava presente na minha mente e era uma coisa grande e escura dentro de mim.
Tenho imagens dele na minha memória, fragmentos de coisas que disse, e impressões, algumas contraditórias, talvez porque ele era inconsistente, talvez por causa do meu próprio humor de agora: se estou brava, ele parece superficial, cruel e arrogante; se estou mais gentil e terna, me parece confiável, honesto e sensível. O centro está faltando, o original sumiu, tudo o que tento formar em volta desse centro pode não se parecer muito com o original.
A despedida é contraditória, é triste e dolorida. Ao mesmo tempo em que é restauradora, pois traz à tona todos os sentimentos que alimentamos por quem amamos. Todas as palavras não ditas durante o tempo de convivência saem com facilidade neste momento de separação.
Hoje, aprendi que o momento da desilusão amorosa pode ser muito breve. Não é sempre aquela desintegração arrastada que a gente imagina ser comum na vida adulta, pedacinhos de amor e conforto se soltando aos poucos durante anos até que não exista nada mais a ser dito. Pode acontecer num piscar de olhos, pegar a gente de surpresa, sem tempo de se preparar antes. Alguém para na sua frente, cara a cara, e diz que está indo embora, que já não te ama mais, que encontrou outra pessoa, que você não é suficiente, e você pensa: “Ah, então é assim que eu vou morrer. Não tem a menor chance de eu superar isso.” Alguma coisa em algum lugar do seu corpo se rompeu violentamente e você só consegue se deitar no chão e esperar ser convidada para seguir pelo inevitável túnel com uma luz no fim.