Soneto da Separação
Ontem J. veio me visitar. Em conversa reclamou que minha resposta à carta que ele me escreveu fora muito cruel. Fiquei assustada, pois não tive a intenção de magoá-lo, mas disse apenas o que penso sobre a amizade e a sua transformação com a ausência. E estava com razão, tudo ficou confirmado. Onde o amigo de há alguns anos atrás? O que agora tinha na minha frente era um conhecido apenas, que não sabia mais de mim e nem eu dele. Arrastamos a conversa pela noite adentro, o seu reencontro não me deu nenhuma emoção, está morto, ou, estamos mortos um para o outro. Nada fará reviver o que foi antes. Podemos começar uma amizade nova, como se fôssemos estranhos, mas o que passou está acabado, morto.
Sábado, várias pessoas em casa. É difícil conversar com muita gente reunida. Prefiro duas, três no máximo, o ideal mesmo são duas. Em grandes rodas me sinto triste, a reação exterior, entretanto, é completamente outra. Agarro os assuntos com toda avidez, não paro de falar, receosa de um silêncio que possa mostrar como realmente me sinto. Hoje pensei em H. Quero-lhe um bem imenso, pelo muito que me deu, pelo que sou atualmente. Sem o meu amor por ele não seria o que sou. Que importa tenha me esquecido se deixou enormes riquezas comigo? Nunca poderei agradecer-lhe. Antes vivia como uma cega e o meu amor por ele me ensinou a ver o mundo, a Deus. Devo-lhe muito. Me fez sofrer e se não tivesse acontecido assim não teria chegado ao caminho certo.
Nunca paramos em pessoa alguma e "cada amor novo é apenas o elo de uma longa cadeia cujo fim é o Amor único", em busca do qual estamos todos. Em cada pessoa fazemos uma parada de um, dois anos, de mais, de menos tempo, mas em ninguém nos detemos verdadeiramente, já que o nosso fim é o Amor Eterno, que se realiza somente em Deus. Nossa vida é breve e o corpo demasiado pequeno e frágil para, sem romper-se, abrigar tamanha imensidade. Só a morte nos libertará, nos dará proporções suficientes para suportar sem riscos a realização daquilo que é a única razão de ser, o Amor, de Deus.
Eu sofria demais longe dele, o mundo perdia seu caráter vibrante para mim, meu corpo sentia a distância do seu.
Acho que isso faz parte de amar as pessoas: você tem que abrir mão de algumas coisas. Às vezes você tem que abrir mão até mesmo delas.
O tempo passava como uma mão que acena de um trem no qual eu gostaria de ter embarcado. Eu espero que você nunca tenha que pensar sobre algo tanto quanto eu penso sobre você.
Eu acho que dizer adeus é sempre assim - como pular de um abismo. A pior parte é escolher fazê-lo. Quando estiver no ar, não há nada que você possa fazer, só se deixar ir.
Amor é como um papel dobrado, podendo ganhar variadas formas. E mesmo que se desdobre para outros caminhos, ainda assim permanece sua marca.
Nem sempre um relacionamento é só alegrias. Criticar e brigar faz parte de um namoro ou casamento saudável.
Vou dormir sozinha, e acordo sozinha. Dou caminhadas. Trabalho até estar cansada. Vejo o vento brincar com o lixo que esteve debaixo da neve todo o inverno. Tudo parece simples até pensarmos nisso. Por que o amor se intensifica com a ausência?
Vamos parabenizar os pais, que mesmo separados, estão juntos ajudando um ao outro cuidarem de seus filhos, dividindo tarefas importantes aos seus pequenos. Pais e mães devem ser únicos na vida das crianças. Assumir a responsabilidade de ter um filho, e assumir o fato de ter gerado um ser que carrega um pedaço seu é como assumir realmente qual é sua identidade enquanto pessoa honesta ou caloteira. Cada um dá aquilo que traz em sua essência. Antes de se envolver com pessoas separadas e com filhos busque verificar a frequência que esse pai ou mãe necessitam dessa vinculação. Pais que só colocam filho no mundo pode se comparar a pessoas frias, manipuladoras e egoístas. Um dia a pensão de cada um retorna, um dia o afeto escasso também tem seu preço!
Como é difícil manter uma brasa acesa só de um lado, enquanto do outro o que era parte de uma aquecida união está jogando água fria...