Soneto da Saudade

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SONETO DOS BEIJOS MOLHADOS DE MALDADE

Era uma vez um amor
Que fez da dor sua morada
Um amor que desamou
No desamor de uma estrada

E no desamor fez história
E dela uns mil poemas
De cada poema brotou
Mil lágrimas, dez mil dilemas

E as lágrimas por pura vaidade
Na boca molhada beijaram
Por desamor e maldade

E o beijo por pura maldade
Nas bocas tão doces que esteve
Deixaram salgadas saudades

Soneto de Exatidão


Eu serei a que mais ouve do que fala,
No meu olho, não verás nem mais um cisco.
Do que guardo? ... Tenho eu chave da mala.
O que falas? ... Corre apenas por teu risco.

Quero ver-me e ver-te do tamanho exato,
Nem tu comandante, nem eu comandada.
Meu espaço hei de manter, e isto é fato,
Minhas asas não serão por ti cortadas !

Compreendo o porquê me controlaste,
E o poder que exerceste sem critério,
Me retendo qual se eu fora teu fantoche.

Eu relevo os teus enganos e contrastes,
O teu medo implodido e tão sério,
De tornar-se tão somente o meu deboche.

Soneto de amor não correspondido

Amo e não sou correspondido,
sei o quanto isto é patético,
por mais que soe poético,
estar assim tão deprimido...

Me sinto incompreendido,
tal amor nem chega a ser hipotético,
a dor é o que me faz cético,
a pensar no que poderia ter sido...

Não quero viver sonhando acordado,
mas fico a mercê de meu coração,
a caminho do fogo sabendo que serei queimado

cego, louco, entorpecido de paixão...
Triste sina, amar sem ser amado...
Sofrer, sofrer; sofrer... Em vão.

Ainda tua lembrança...(soneto)

Há no ar certo cheiro de maresia,
Na bruma, toques de irrealidade,
Na brisa, um tanto de nostalgia,
Em mim...solidão, fragilidade...

Nas ondas, um vaivém de melancolia,
No horizonte, laivos de saudade
Sentimento, que as vezes, acaricia,
Em outras, traz dor e infelicidade...

Nas pesadas nuvens, um tom cinzento,
No imenso mar, sonhos naufragados
Na branca areia, pela espuma, espalhados...

Olhar ao longe, na direção do vento,
Na alma, mágoa e desesperança,
No coração, ainda tua lembrança...

ESPAÇO VAZIO (soneto)

Há ilusão seca tão desfolhada
No apertado do amor ignorado
Nas lágrimas no olho chorado
No vento de uma dor soprada

Assim, tão só e tão esgotado
Com a alma ao vento, levada
A revelia, e sem mais nada
O olhar vai ao chão, atado

Só se vê silêncio no peito
Sem rima, sem poesia, leito
Apenas o ritmo com arrepio

E neste tal suspiro tão sujeito
Que fala, respira, tira proveito
A emoção é um espaço vazio...

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano

Soneto do novo amor

Amo-te tanto e canto com o coração mais humano, a minha vontade
Amo-te não como a um amigo , tão pouco como uma amante
Amo-te com tamanha docilidade, é a realidade

Amo-te além e sem que seja insignificante
Toda a forma de amor é gratificante
De prestante, insigne, dou-me à sua alma, aos prantos

E te amo assim, nessa presente saudade
Amo-te, dou-te a liberdade
Mesmo que não tenhamos a eternidade, apenas esse instante.

Amo-te sem ser bicho,
Simplesmente amo, sem mistério,
Com a virtude que me resta desse desejo frequente,

Amar-te assim, sobejamente, é o que me faz crente
De em seu corpo, um dia, adormecer calmamente.
Keyla Fogaça

Último Soneto

Que rosas fugitivas foste ali!
Requeriam-te os tapetes, e vieste...
--- Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste!
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi...

Pensei que fosse o meu o teu cansaço ---
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...

E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?...

Acontecimento do Soneto
.
A doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude encontro abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros.
.
versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.
.
Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião,
.
irei, levando uma mulher comigo,
e serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo.
.

Soneto XXIX

Amor é crível que sente sem se morrer;
é um sentimento eterno e perfeito;
é uma beleza que ama sem se esqueçer;
é um amor eterno que encanta,querida!

É um bem querer mais que mal querer;
é um bom coração que encanta sem se ver,
é um cuidar que ganha sem se perder;
é uma aurora que sente sem se machucar.

O coração é querer estar preso,querida!
é uma vida eterna que vive e morre;
é um bom carinho que ama e desamar.

Amar é nossa vida perfeita e fiel,
é minha bela sedução entre a gente;
como pode seu favor causar amizade?

Vagarosa

Em todos os cantos encontro um soneto,
Palavras lapidadas, de amor,
Adjetivos que esquentam o corpo,
Numa forma ardente, como uma porção
De sensações, indo ao mesmo encontro.
Mulheres, que apaixonam a vida de um homem,
É capaz de torná-lo um cavalheiro,
Um grande buquê para a querida amada,
Uma pitada de vinho para adoçar o dia.
Escuta o cantar dos jograis,
Que cantam as composições dos trovadores,
Poemas a se espalharem por todos os cantos,
Sensibilizando no ar, todo o relento
Que vaga para o coração dos humanos.
Bate no peito, o calor profundo,
Um corpo em forma de escrita,
Curvos traço, corto palavras
Para mostrar a vida,
Os jovens podem viverem mais,
Eles sabem buscarem o amor,
E transformar tudo em poesia.

SONETO DE MARTA

Teu rosto, amada minha, é tão perfeito
Tem uma luz tão cálida e divina
Que é lindo vê-lo quando se ilumina
Como se um círio ardesse no teu peito

E é tão leve teu corpo de menina
Assim de amplos quadris e busto estreito
Que dir-se-ia uma jovem dançarina
De pele branca e fina, e olhar direito

Deverias chamar-te Claridade
Pelo modo espontâneo, franco e aberto
Com que encheste de cor meu mundo escuro

E sem olhar nem vida nem idade
Me deste de colher em tempo certo
Os frutos verdes deste amor maduro.

Vinicius de Moraes
Álbum "Antologia poética"

SONETO AO MEU PAI
DIA DOS PAIS

Pai, eu sei que cresci... O tempo passa;
corre rápido o rio dessa vida!
Eu bem sei quão sofrida foi a lida
que você venceu, sim, com tanta raça!

Também sei quão difícil foi a caça,
com suor toda a vida construída...
Mas eu sou muito mais agradecida
por mostrar-me o caminho, pai, da graça.

Sim, me fez da verdade tão ciente
que hoje vejo esse mundo e me comovo
com o que não mais vê todo esse povo...

Agradeço e confesso, tão carente,
que desejo que volte essa corrente
pra caber no seu colo, pai, de novo...

Soneto

Santa amizade, que habitar imitas
neste baixo, fingido, e térreo assento,
mas q tens por morada o firmamento
coas essências angélicas benditas.

De lá, por dó das térreas desditas
sonhosnos dás de alegre fingimento,
imitações do céu por um momento,
fugaz consolo ás regiões proscritas.

Volta, volta dos céus, pura amizade,
ou proíbe que a amável aparência
te usurpe a deslealpervercidade.

Confundida coa nobre e infame essência,
breve reverte o mundo á prisca idade;
volve o caos, é morta a Providência.

Soneto do Teu Corpo

Juro beijar teu corpo sem descanso
Como quem sai sem rumo prá viagem.
Vou te cruzar sem mapa nem bagagem,
Quero inventar a estrada enquanto avanço.

Beijo teus pés, me perco entre teus dedos.
Luzes ao norte, pernas são estradas
Onde meus lábios correm a madrugada
Pra de manhã chegar aos teus segredos.

Como em teus bosques. bebo nos teus rios.
Entre teus montes, vales escondidos.
Faço fogueiras, choro, canto e danço.

Línguas de lua varrem tua nuca.
Línguas de sol percorrem tuas ruas.
Juro beijar teu corpo sem descanso

Soneto à Desconhecida



Quem é essa mulher, que ao doce encanto
do olhar... do sorriso... me acalenta a alma.
E que, ao passar, meu olhar não se acalma,
querendo, buscando-a, em todos os cantos?

Quem é essa mulher que eu desejo tanto?
de gestos, de atitudes, de flertar diferentes

SONETO (acróstico)

Às vezes penso num discreto amigo
Erguendo as mãos a indicar-me a estrada,
Lembrando de minha alma abandonada,
Vem dar-me a sorte de encontrar contigo.

Irei assim, seguindo sem abrigo,
Na esperança de só te ver, mais nada;
A sombra que me segue na jornada
Oculta a tua imagem quando eu sigo!

Feliz, no entanto, se encontrar-te um dia
Enfeitiçada por cruel magia,
Representando a esfinge do oriente!

Então, eu pediria ao meu destino:
Conceder-me esse dom, também divino,
E ser petrificado eternamente.

SONETO DO ESPELHO DE DEUS
(ao mar de Fernando de Noronha)

Mar que reflete o céu
Colírio do triste olhar
Onde a onda faz-se véu
Na união íntima entre terra e mar.

Onde o mar tem a cor de Deus
E Deus tem a cor do mar
Que não se cansa de batizar
O paraíso no meio do mar.

De um mar que é espelho
E perpetua-se a banhar
Um arquipélago no meio do mar.

Mar de Noronha, espelho de Deus
Hei de te amar, ó divino mar
Presente que Deus nos deu.

SONETO MCCXXIV

A que devo contemplar este templo
Se o mal não destrói a primavera
Se pode julgar este exemplo
Então meu ódio por mal se venera
Em tão triste verão
Que não será contado a derrota
Belo é viver em vão
Pelo bem do amor que amarrota
Entro no campo de batalha
Vejo aquela cena
A regra é sair glorioso
Ou perder e cumprir tua pena
Se tu nota até o barulho do vento
Sabe que das palavras esqueci o acento

Soneto do amor platônico

Foi na tua ausência que senti
Onde existia você, ficou a dor
Razão pela qual “Je suis ici”
A cumprir mecanicamente meu papel de ator

Tentando não ser apenas um número
Entre tantos moribundos, reconheço meu vazio
Meu amor, desatento, na madrugada de frio
Eu não sei em que rua entro

Rondo, ando, paro e fico
Ganho tempo, mas nada muda
Ouço o vento de melancolia, me ajuda?

Lugar nenhum é seguro com sua ida
Poucos são os espaços para o amor
Entre tantos desejos, a sua volta é a mais querida

Há uma primavera em cada vida
é preciso cantá-la assim florida.
(Em "Charneca em flor: sonetos – Fonte: Templo Cultural Delfos)