Soneto da Saudade
SONETO DAS ROSAS
Rosas, poemas da natureza, poetadas
Por mãos, que também oferecem rosas
Cativantes, ao amor tornam suspirosas
E ao desafeto são tristes e desfolhadas
Já as vermelhas para paixão, afanadas
Ornando o olhar, se dando primorosas
Cheias de significado, e tão formosas
Também, bem às emoções esfalfadas
És cheiro nas lembranças silenciosas
Lágrima infeliz nas perdas passadas
Sois trovas alfombradas às amorosas
Ah! Belas damas várias e tão encantadas
As primeiras, as derradeiras, carinhosas
Só tu rosas, para coroar nossas estradas
Luciano Spagnol
Junho de 2016
Cerrado goiano
SONETO DO AMOR POETA
O amor que poeta unicamente
para ti, luzente verso incisor
tão exclusivo em trova maior
e de inspiração total e ingente
É compendio tão integralmente
do coração, pulsando estertor
no peito forte e lugubremente
deste humilde, ao seu dispor
Poeta, outrora independente
agora prisioneiro e pecador
deste querer-te impaciente
Ao receber-te este poema flor
leia com o olhar complacente
é uma confissão do meu amor
Luciano Spagnol
Junho de 2016
Cerrado goiano
SONETO DA SOLIDÃO
Eu estou completamente solitário
Passa o dia, vem a noite, agonia
A tarde entristece, cinzenta e fria
E eu aqui no cerrado, destinatário
O por do sol, de belo, virou nostalgia
Numa clausura da saudade... Unário
Eu, vejo o tempo não mais temporário
Tal folha de outono sem a autonomia
Nesta sequidão aumenta o itinerário
Do místico e algoz retiro em infantaria
Avançando firme, sendo um breviário
A solidão na vida, tornou-se relicário
Onde o tempo ora neste árido sacrário
Em cadência nas contas da melancolia
Luciano Spagnol
30/06/2016
Cerrado goiano
SONETO DUM AMOR
Na cata dum amor, sincero
Nos rogos sempre andei
De vários, muitos esbarrei
E no acontece, eu espero
Se para além do ficar, olhei
No tempo eu não desespero
Na sinceridade sou austero
E de tudo muito encontrei
Agora, será assim, mero
Um amor convim, eu sei
Se não, eu não quero...
E assim vou, e assim irei
Se eu não tiver amor vero
No fado. Pertinaz buscarei.
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
SONETO NA MADRUGADA FRIA
Madrugada fria, no cerrado, lua no céu
Confidente, luzente, criando imaginação
Que faz do vazio, menestrel desta solidão
Nostálgica, que rascunha pesar no papel
Com duas estrelas ali caídas ao chão
Uma pulsando a saudade ao peito fiel
A outra querendo memorar feliz cordel
E assim, as duas, ditando a sua versão
Então, nas linhas, somente verso infiel
Chorando dos dedos, suspiros em vão
Já no tempo, perdidos, em veloz tropel
Oh, madrugada fria, consinta a emoção
Sair desta letargia de estar aqui ao léu
E dê ao versejar doce e leve inspiração
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
SONETO DE POUCA FÉ
Oh! Alma conturbada, assim desolada
É tão pouca a tua fé, oh filho ingrato
Prende-te à esperança, sejas sensato
E a confiança em Deus, onde guarda?
Ele te assiste, te olha dos Céus, é fato!
Com paternidade impávida, e iluminada
Jamais cansa ou desiste, nunca é nada
De amor estoico, âncora, firme vicariato
Porque assim, me cambaleia, na morada
Nele tudo se alcança, é afeto imediato
Inteiro, como na morte, é terna estrada
Paladino de lança em riste, superiorato
Não fiques assim triste, ouça a chamada
Deus te clama, no conflito, Ele é exato!
Luciano Spagnol
06 de junho, 2016
Cerrado goiano
SONETO SOLENE
Memorar. Um ano. Que importa o ano? Talvez
somente para lembrar os suspiros de tua ida
do silêncio invasor na casa após a tua partida
pra morte, igual, desfolho outonal em palidez
Fatal e transitório, a nossa viveza é vencida
pelo sopro funesto, ao sentimento a viuvez.
Julho, agosto, setembro, vai-se mês a mês
ano a ano e outro ano a recordação parida
Da saudade filial, que dói numa dor doída
de renovação amarga e de vil insipidez
que renasce na gelada ausência sofrida
No continuar, o vazio, traz pra alma nudez
chorada na recordação jamais esquecida...
Neste soneto solene: - a bênção outra vez!
Luciano Spagnol
julho, 2016
Cerrado goiano
Um ano de morte de meu pai.
SONETO PRO SONETO
Caro soneto, de refúgio confortante
Que traz na trama a rama do agrado
À lágrima, que na face tenha deslizado
Em dor ou ventura, por algum instante
A minha reverência o meu obrigado
Por tua canção com emoção vibrante
Que canta e encanta a todo o instante
Aos olhos leitores, ao belo consagrado
És acordes de fascinação em harmonia
Nas rimas a estima duma tal sabedoria
Que acolhe, afaga e nunca és obsoleto
Pois, em tua imortalidade, imortalizam
Os sonhos, os devaneios, que deslizam
Da alma, desembocando em ti: SONETO
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
POESIA, POETA, LEDOR
Eu poeto!
Ele poema!
Poesia em soneto
Soneto em dilema
Prosa do alfabeto
Rima no teorema
Teorema secreto
Trova suprema...
Poesia sem ledor
É verso sem gema
Poeta sem amor!
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
SONETO VAZIO
Meu cerrado, distante dos amores
Que me vê chorar no teu chão árido
Singrando entre cascalhos, e flores
Em uivos de dor no peito afluído
Em tal saudade, que tira os vigores
Da alma solitária e coração ferido
Imersos na tristura e pesares tutores
Da falta do afeto no passado perdido
Aqui na soleira do cerrado, temores
Com um assustado olhar esvaído
Olhando o horizonte que exala odores
De um velho sonhador de sonho diluído
Na solidão de secos sabores, incolores
Duma nostalgia, aqui pelo vazio fruído
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
SONETO MAL TRAÇADO
Nestas linhas mal traçadas
Um soneto quer ser parido
De longe ouço seu gemido
Parece mágoas anunciadas
Ainda nestas linhas, alarido
Das angústias acumuladas
Das ilusões das dores criadas
E neste soneto assim diluído
São de partidas ou chegadas
Cheios de um poetar sofrido
E todas da saudade derivadas
Perdido ainda na rima, crido
Em doçuras a serem citadas
Pois, o amor ao bem é unido
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
SONETO MINGUANTE
Procurei por ti, ó lua, neste anoitecer
E tu estava sem sair à rua, silente
Nenhuma estrela estava reluzente
Tal qual a solidão aqui no meu viver
Noite de inverno, um vazio ingente
Cerrado seco, melancolia a verter
O silêncio no quarto a transcender
E a saudade ousando ser confidente
Escuto o vento na vidraça a bater
Querendo vir me abraçar contente
Se possível fosse sua privança ter
Neste minguante sentimento poente
Nas lembranças eu tento me aquecer
Pois, até a ilusão de mim está ausente
Luciano Spagnol
Julho, 23 de 2016
Cerrado goiano
SONETO INDIGNADO
Estes do profundo da indignação
Escritos com o verso suado
Saem dos gemidos do coração
Em tosco lamento articulado
A quem, senão a ti, oh emoção
Objeto do sentido privado
Pode escorrer pela devoção
Dum amor para ti devotado
E se notares são tão rebuscado
Aqui perfilado num certo cuidado
Do afeto que foi centro dos pesares
Saiba que neste indgnado soneto
A ânsia, a lágrima aqui no cerrado
Jamais será reza em teus altares
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
SONETO EM FRUSTRAÇÃO
Eu queria compor um soneto diferente
daqueles com harmonia na melodia
que nenhum outro já o tenha na poesia
onde ele possa ser o pódio da gente
Assim quero a inspiração com energia
e que no tempo possa ser ingente
tão e tanto que seja bem inteligente
e a todos reconhecido como ousadia
Tento escrever e só tem rima inocente
num papalvo poetar, sem a tal magia
e no complexo o inopinado ausente
Vendo que da mesmice ele não sairia
fico no comum e do belo pendente
e assim me conformo com sua amorfia
Luciano Spagnol
Julho, 2016, final
SONETO EM PRECE
Chia o dia na vida afora o muro
Num barulho no seu vai e vem
Tinindo o relógio o som também
Num soar seco e deveras duro
Passa a hora e no tempo refém
As saudades, realidade e futuro
E nesta velocidade fico inseguro
Aí eu me agarro no que se tem
Parto em busca do que procuro
Nada sei e não é nenhum desdém
Pois, como cego trilho no escuro
E nesta de cair, levantar, ir além
Vou com fé e prece, então, aventuro
Assim, quem sabe, diga: Amém!
Luciano Spagnol
01 de agosto, 2016
Cerrado goiano
TOLERÂNCIA (soneto)
Não venho aqui me desculpar com perdão
e nem tão pouco desfiar verso plangente.
Aqui declamo o que o coração deverás sente
onde há mais que tesa regra ou justificação
Não façamos ouvidos surdos a toda gente
no cada qual com a sua escolha ou razão.
Gratuita é a liberdade ofertada na emoção
tal qual cor na aquarela se faz diferente
Se amar é gesto que nos traz comunhão
porque assombra o fluxo contracorrente?
Pois na sombra não se erigi plena visão
É aflitivo crer que desafeto seja recorrente
da intransigência na diversidade de opinião.
Pois, a quem ama, a tolerância é presente...
Luciano Spagnol
Agosto, de 2017
Cerrado goiano
INCERTEZAS (soneto)
A paixão é como um denso nevoeiro
que deixa a visão sem o ver cristalino
tem um avanço lépido, feroz e ligeiro
ficamos à deriva, à mercê do destino
Nela, o momento se faz prazenteiro
nos levando ao extremo do desatino
acreditando ser o único verdadeiro
instante, sem ver o constante ensino
E vem, então, diversa outra direção
norteando com questão a emoção
que o curso é incerto, difícil chegar
Tenhamos, pois, no lasso coração, paz
nos desafios, pois o desatino é incapaz
de saber quando na paixão vai-se amar
Luciano Spagnol
02 de Agosto de 2017
Cerrado goiano
SONETO ATORMENTADO
Fere o silêncio da áspera madrugada
no cerrado, um árido vento plangente
que golpeia minha alma ali presente
com saudade em mácula mal curada
Busco iludir-me que o zunido em toada
nada mais seja que ilusão descontente
daquela que põe angústias na gente
para deixar solitário e a ventura calada
E o vento insiste, persiste e não desiste
cortando a paz da noite com ruído triste
avivando a dor em suspiro redundante
Se soubesse quanta nostalgia desgarra
o vento teria dó e não seria tão fanfarra
e muito menos nesta solidão tão falante
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
VIDA EM APRECIAÇÃO (soneto)
Lancei minha sorte aos ventos
Escrevi no reverso varia poesia
Tive amor, devaneios e fantasia
Nas aventuras, radicais eventos
Que nem sempre foram tirania
Ou tão universais sentimentos
E de cada um eu fiz momentos
Não soube lhe dar com vilania
E assim, nas ramas dos lamentos
No meu quintal plantei harmonia
Para alastrar somente portentos
Então, nesta hera de ter ousadia
Féis e fecundos foram os alentos
Na desventura, novo foi outro dia
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano
Ronda (soneto)
Esta noite com a lua vou confidenciar
As minhas lembranças mais secretas
Numa vigia nas memórias prediletas
Que na vida me fizeram assim sonhar
Nestes eflúvios aos sons de trombetas
Do crepúsculo do cerrado, quero poetar
Nos braços da emoção, então devanear
Em suspiros, delírios em cores violetas
Sim, serão sensações na alma a enlear
De um amar nos jardins das borboletas
Das ilusões, assim, ter vontade de voltar
E aí, então, neste cenário de profetas
Quero nesta ronda poder eternizar
O soneto: em linhas, curvas e retas
Luciano Spagnol
Agosto de 2016
Cerrado goiano