Soneto da Espera
TÉDIO (soneto)
Sobre minh’alma, no cerrado ao relento
Cai tal folhas ao vento, dum dia outonal
Um silêncio mortal, dum vil argumento
Tão brutal, o aborrecimento, tão fatal!
Oh solidão! Tu que poeta no momento
Abandono, no mundo, a mim desigual
Me dando ao pensamento o lamento
Num letargo sentimento descomunal.
Só, sem sonho, sem um simples olhar
Deixar de sonhar, como então fazê-lo?
Se é um aniquilamento assim estar...
Deixar o enfado num desejo em tê-lo
O que não vejo! Porém, estou a ficar.
Ah! Dá-me a aura da ventura em zelo.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto, 23 de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
LONGE DE TI (soneto)
Longe de ti, se lembro, porventura
Do teu olhar, que outrora me fitava
O teu afago na sede é de só tortura
E ter-te agora da saudade é escrava
Tal aquele, que, escuta e murmura
O teu cheiro, que a poesia escava
Já uma sorte maviosa e tão pura
Tristemente, a expectativa forjava
Porque a inspiração tem seu nome
Nos versos com a parva alma calada
Cuja a recordação só me consome
E como o desejo assim não quisera
O destino riscou uma penosa cilada
E aqui, ainda, o meu amor te espera!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
REQUIESCAT IN PACE (soneto)
O amor é apenas uma negativa
Se eu um dia com ele já fui teu
Omitamos está outra alternativa
Pois, desta, o nosso já morreu
Ah! Porque alegação subjetiva
Nada mais em mim sobreviveu
Se hoje o senso está à deriva
Não és meu bem nem eu o teu
Não diz nada, se ali amamos
Nossas almas estão separadas
Não lembres mais, esqueçamos!
Deixemo-lo ir repousar em paz
As lembranças estão enterradas
E no coração, hoje, é tanto faz! ...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, outubro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
A UM TRISTE (soneto)
O meu destino é talvez a do azar
Jurando as venturas... de maneira
Que com o acaso se possa sonhar.
Vidas de má sorte várias, herdeira!
Outros êxitos talvez já pude gastar
Fui, um aventureiro na tranqueira
Do fado. E infausto agora a chorar
Ou pesado no sortilégio, na beira...
É brado num temor sem tamanho
Num luto da felicidade: permitidos
Mártir na dor, um desígnio estranho
Por isso, lamento aflição e pranto
Sentimentos dos heróis vencidos.
E com a alma cartada no recanto...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro, 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
À SOLIDÃO (soneto)
Oh! jornada de inação. O silêncio em arruaça
Arde as mãos, o coração, aperreado arrepia
O olhar, tremulo e ansioso, tão calado espia
O tempo, no tempo, lento, que ali não passa
No cerrado ressequido, emurchecido é o dia
E vê fugir, a noite ribanceira abaixo, devassa
E só, abafadiço, o isolamento estardalhaça
No peito aflito de uma emoção áspera e fria
Pobre! Se põe a sofrer, nesta tua má sorte
No indizível horror de um sentimento vão
Quando silenciosa e solitária é a morte...
Bem à tua paz! Bem ao teu “às” sossego!
Melhor na quietude, ao espírito elevação.
Se na solidão, viva! E saia deste apego!...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, 11 de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
DENTRO DA NOITE (soneto)
A luz da lua no quarto me banha
No canto do sonho a noite palpita
As estrelas, no céu no breu agita
O silêncio na escuridão entranha
O cerrado se cala, a treva vomita
Quimeras na imaginação, manha
No ouvido e no olhar, e barganha
Com as ilusões, vestida de chita
E a sombra continua a jornada
Como que, o sossego que canta
A caminho da alta madrugada...
Baralha, mistura na cor prateada
Encantada, que então se agiganta
Dentro da noite, a lua enamorada
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
OCASIÃO (soneto)
A coerência lá se foi tão espantada
por um tropel de vândalos da rudeza
E mesmo o depois de tanta clareza
quedam robóticos, sem mais nada...
No escarcéu disperso, contos de fada
O veras, sem exatidão, e sem defesa
expõe toda a burrice e a estranheza
do revelado na dada outra jornada...
Sobra “Inania verba”, nenhum intento
ao mourejar hercúleo do lhano cidadão.
Indiferentes, só importa o seu contento!
Mas não é meu. Se afasta da tal meta
de parceiro, de irmão, fazer a ocasião
Cria-se curvas, e não a essencial reta...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
MESSALINA (soneto)
Lembro, ao ter-te, as épocas sombrias
Dum outrora. A saudade se transporta
À tempos de prazer, e não dor à porta
De meninices, abarrotadas de alegrias
E nestas felicidades de glórias luzidias
Que a mostra era viço, não ilusão morta
O pouco era muito, e no pouco importa
O estorvo, a mais valia, eram as orgias
Tolas, e não só imaginação em ruína
De quimeras incolores e, assim impura
Num cortejo de recordação messalina
Ó saudade, acostamento de loucura!
Suspirando nostalgias tão cristalina
Tinta de tristura, que no peito segura...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
PROFISSÃO DE FÉ (soneto)
Sempre, uma crença mal afamada
Vives na letargia, duma farsa matula
No eco do inferno que ali especula
Só a sorte, sem querer mais nada
E neste amar que referve e ulula
A alma sem sonhos vai na estrada
De dores, egoísmos, invejas e gula
Devorando a piedade em derrocada
E assim, a vida abominanda, chora
Implora aos céus por este hórrido
Vazio, por um sustento sem demora
E nos íncubos e súcubos agarrido
A profissão de fé, é que faz a hora
Sem que faça ter o crédito iludido.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
PER VIVERE DI NUOVO (soneto)
Se aos iguais pesares me convidas
Com as mesmas dores dilacerantes
Para mim saudosar pelas horas idas
Na lembrança de tempos vibrantes
Não me digas nada! Já são perdidas
As recordações. Ilusões dissonantes
Desvanecidas pelas outroras vidas
E à emoção, outras razões de antes
“Per vivere di nuovo”, - o que importa!
Desatrele do passado… - vida nova!
Pois a nossa estória já trancou a porta
Amei-te! Mais que os amores tantos
E se apartado, resta está única trova
Não mais por ti evocarei meus prantos...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
OS SESSENTA (soneto)
Os sessenta anos duma alma inquieta
Cabelos brancos, a face vivida, poente
Os olhos no qual se trova inteiramente
Bagatelas, onde mora a emoção poeta
Um sonhador de sentimento profeta
De palavras que falam, inda inocente
Versos que do peito saem de repente
Docemente, em uma parição secreta
Uma determinação tão só, tão largada
Que o silêncio urge, no invento venta
A sorrir, e ou a chorar, lhe é camarada
E se na parada se senta, pouco tenta
Aquieta, numa má sorte da derrocada.
São os encantos de se ter os sessenta...
UM AMOR (soneto)
Foste o amor maior de minha existência,
ou talvez o danado... o pior ou o gentio,
glória e tormento, a escuridão e luzidio,
contigo fui poesia sem uma reverência!
Morreste, e a minha solidão é residência :
ardes-me o suspiro, enches-me de vazio,
e o meu anseio tem gosto de doce arrepio,
e rolo-te no pensamento com insistência.
Amor extremo, árvore de insano fruto,
foi o tempo, muito mais que só instante
por que, feito, eu não vesti o teu luto.
Sinto-me o beijo, e no abraço te escuto,
triste olhar rútilo! e desejo tão delirante,
na ferida saudade deste amor irresoluto.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
30 de janeiro, 2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
A VOZ DA POESIA (soneto)
Em uma imaginação onusta e calada
Refúgio ignoto e sacro da inspiração
A ampla magia da ilusão em sedução
Sangra o verbo de uma agrura velada
E quando a privação se faz desvairada
Se embebe às vezes de total solidão
Dela rompe uma voz, arcana, um tufão
Que murmura quimeras entrecortada
É a voz da poesia, que, assim falando
Na audição da criação em manuscritos
Narra as histórias dos distintos causos
E traz com eles, atuardas e infando
Amores sumidos, sucedidos aflitos
Vendavais de sensações e ausos...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2019, 05 de fevereiro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
ÉS O CERRADO COM UM LAMENTO TRISTE (soneto)
És o cerrado com um lamento triste
escorre o entardecer na melancolia
e tua alma bela no encanto insiste
na ilusão tens uma banzar alegria
se o gemido dos sons angustiados
e desafinados, tonteia o teu ouvido
toque com os olhos os feitiços alados
deixes o prazer, então, ser nascido
Vê que o diverso há sedução, também,
e ambos se fazem de encantamento
num ordenamento de bem e paz
que todos, num, são congraçamento
É música sem letra, e afoito audaz
uníssono: do feio e do belo vai bem além
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
fevereiro de 2019
cerrado goiano
OLHO-TE: (soneto)
Olho-te - o espanto de meus olhos salta
- Da tua boca o beijo num delicado cheiro
De tuas mãos aquele cuidado prazenteiro
Tudo de tua poesia sinto uma grande falta
Toda a nossa estória: - aqui nesta pauta
Do meu primeiro: - olá, o nosso primeiro
Encontro; - me completando por inteiro
Tudo neste poema é som de doce flauta
Sinto o palpitar no peito não mais calado
Quanto mais escrevo, mais de te anseio
Mas olho-te, em ti o meu destino amado
Ouço nas lembranças cada tal passeio
Cada sorriso, sempre aqui ao meu lado
Incitando comigo cada desejo que freio
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Fevereiro de 2019
cerrado goiano, 05'20"
Olavobilaquiando
AURORA NO CERRADO (soneto)
Admirar-te enlevado na tua hora
És parida no horizonte do cerrado
És tu oh virginal e formosa aurora
Silenciosa no céu titã e encarnado
Entre nuvens forasteiras, senhora
Alavam-me pensamentos tão alado
Na áurea nascente que me aflora
Anuindo devaneio pro encantado
Num arpejo de harpa por ti sonora
Aos olhos, num observar alumiado
Surgis em glórias e sem penhora
E a emoção neste plural batizado
Saúda, pois ufanar lhe é anáfora
No teu fulgor angelical pavonado
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, 17/05, 04'35"
Cerrado goiano
ATO (soneto)
A felicidade que ventura, ao teu lado
Juntinho, no bem que a sentir me vejo
Basta neste simples afeto e sagrado
Com que nos sonhos aqui eu solfejo.
Como é bom saber que estou amado
Que neste desejo do teu amor, desejo
Poder estar nos teus laços, acordado
E assim cercado no teu adusto beijo.
Ter-te nos abraços que me consomem
Delicada sensação duma doce beleza
Não há prazer maior do que te amar.
E mais eleva a paixão de um homem
Ter emoção no olhar, olhar de pureza
Que deixa o coração sempre a desejar.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
03/06/2019
São Paulo, SP
Olavobilaquiando
ACHANAR (soneto)
Deixe que a dor da saudade enfim passe
Soltando d'alma o que é teu maior enfado
Deixe-a nas entranhas secas do cerrado
Para que nos maçantes reclamos se cale
Em um grande pesar não se é prolongado
Basta! Se todo afeto que sentes se sovasse?
Desafie os medos, e os ponha face a face
Com coragem, e os tenha como teu agrado
Sabe: eu já cansado! Ando tão com receio
Na ventura, que o meu amor se consome
E o encantamento no revés submerso...
Sinto em tudo está ilusão... Tudo custeio!
E, derreado de embatucar este cognome
Achanando este infortúnio do meu verso.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
30 de julho de 2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
SONETO "X"
Como o talho do punhal numa emoção
A perfídia escorre do peito num sofrer
Num fio navalhado dentro do coração
Que no sentimento se põe a morrer
Mora em mim o teu "x", tão mutilação
Que o amor não mais pode entender
Vida e morte em uma una conjunção
Que o meu ser se cansou de ceder
Viver a presença e não a solidão, sorte
Pois o suporte não se acha pelo chão
E tão pouco para paixão é um aporte
Então, domine o teu querer, tua ilusão
Viva a vida, tão breve, com total porte
E tenhas equilíbrio no sôfrego coração
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, outubro
Cerrado goiano
ALVORECER DO CERRADO GOIANO (soneto)
Alvorece de nuvens o céu do cerrado
Numa alvacento tal penugem a nublar
O Sol tão luminoso no adeus ao luar
Radiante, pro dia assim ser anunciado
Ouve-se o vento que se põe a soprar
Os buritis revoltos no charco estacado
Tal magos, num feitiço tão encantado
Despertando toda a passarada no ar
Num novo acordar, horizonte alumiado
Surge a vida com a sua harpa a tocar
Em um tom de um devaneio prateado
Sobre a indomável vastidão a avivar
Sucupiras e jatobás no chão tão árido
O Goiás se abre em um sedutor raiar
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano