Solitude e Solidão
Nada me prende,
a não ser duas fortes
coxas femininas.
Nada me prende,
a não ser as cordas
do ringue.
Nada me prende,
a não ser o sofá
e a escuridão da minha sala.
Nada me prende,
a não ser uma
garrafa de Whisky.
Nada me prende,
a não ser um bom
livro de romance.
Nada me prende,
a não ser Bukowski e
Mozart.
Nada me prende,
a não ser o amor
de uma mulher.
Nada me prende,
a não ser a escrita
de um poema.
Nada me prende,
sou livre.
A pressa em que a sociedade caminha
é a mesma pressa em que o predador encontra a sua presa.
A velocidade em que a sociedade caminha
é veloz como a mordida do predador.
É forte, é voraz,
é mortal.
Ninguém enxerga,
ninguém quer ver
mas a morte está
vindo contra você.
Você será consumido por ela
da mesma forma em que a
presa é consumida pelo
predador.
Normal,
natural,
e ninguém vai perceber.
Gostaria de escrever
sobre as belezas
que é conviver
em sociedade.
Como nós,
meros seres humanos,
vamos encontrar todos
o mesmo fim.
Mas quanto mais experiência
adquiro,
mais observo,
que nosso objetivo
é fazer das pessoas,
objetos.
Uma verdadeira comédia,
deveríamos todos nos amar,
mas o objetivo
é outro.
Sentado,
é que o homem
começa a pensar em toda
a sua existência.
Sentado em seu sofá
ou em uma cadeira qualquer,
o homem começa a viajar para
o futuro ou relembrar seu passado,
mas esquece de vivenciar
seu presente.
Sentar pode ser mais prejudicial
para o homem,
do que qualquer
cigarro ou
qualquer copo de bebida.
Sentado.
Sentar pode ser
o ato de puxar o gatilho,
e ouvir o estrondo
de sua mente.
Deve ser por isso
que fazemos a maioria
das coisas sentado.
Trabalhamos sentados,
comemos sentados,
assistimos sentados,
aprendemos sentados,
e talvez
pensamos de mais,
sentados.
Não existe atalho para tornar-se 100% empreendedor da própria vida. E essa matemática fecha simplesmente porque a solitude jamais será sinônimo de felicidade plena.
Quarentena: dia 431
O recado do tempo é desacelerar: se a pademia tivesse durado apenas seis meses ou um ano eu teria retornado "ao normal" como se não houvesse amanhã, tirando o atraso do isolamento, talvez.
Fique Zen, adapte ao seu "né me quitte pas" ou se deixe raptar para uma cama boa.
Mas, o que fazer com as bactérias em formato humano que ficam mais evidentes e fazem par com o vírus pandêmico espalhando dissabores? escolha não associar-se a eles, modo soneca neles até que se autodestruam, fodam-se entre si, redundatemente, os maus darão sempre no próprio peito o último tiro. Paciência!
Não é sobre cessar fogo, é sobre nunca ter dado o primeiro ou segundo tiro e apenas desviar-se dos ataques.
A solitude é o azimute da vez e é preciso ficarmos bem de corpo, mente, consciência e alma consigo até que venha a nova era pós pandemia, com novas surpresas.
Só por hoje atraversiamo, acreditando na loucura da alegria e da paz, com ou sem voz!
Agora acho que entendo o porquê de certas pessoas encontrarem preferência em bichos de estimação e hobbies do que em romances e relações interpessoais: a frustração é menor.
Todos estão vivendo o hoje, enquanto eu ainda vivo no passado.
Esquecida fui.
Não faz mal.
Só vão lembrar de mim quando eu não estiver mais aqui.
No meu íntimo intenso, penso que carrego comigo o espírito de um lobo solitário, que não é compreendido na sua plenitude, que passa um certo tempo adormecido, mas quando desperta, faz eu querer estar acompanhado apenas da minha amada solitude ao som causado por meus pensamentos, principalmente, aqueles bons que conversam e motivam o meu imaginário, festejam com o meu senso poético.
Talvez seja justamente esta a razão da tranquilidade que sinto à noite, da grande atenção que dedico a lua, encantadora de várias formas em todas as suas fases, que transforma marcante a mais simples ocasião, que me traz uma sensação muito cativante, singular como deve sentir um lobo que caminha tranquilamente sob a forte luz do luar sem nenhuma companhia desgastante, sem ninguém que eu possa incomodar.
Para a saúde do meu bem estar, graças a Deus, isso representa um fragmento da minha complexidade e este espírito de hábitos noturnos sente a necessidade de adormecer, o que me permite aproveitar outras companhias, deixar a solidão pelo menos descansar, poder saborear também a simplicidade e outros benefícios do dia claro, caloroso, frio, chuvoso ou nublado, uma vida não tão solitária, um sono bastante necessário.
Certas pessoas são raras por terem a capacidade de fazer os nossos olhos brilharem de uma maneira muito singular com uma genuína felicidade, pra quem damos os nossos sorrisos mais sinceros, que conseguem nos animar com simples gestos, principalmente, naqueles momentos que achamos que não iremos suportar, assim, é salutar mantê-las por perto.
Não se trata apenas de uma presença física, até porquê nem sempre é possível, também precisamos do nosso espaço, temos nossos compromissos, entretanto, não devemos esquecer de tratá-las com um zelo expressivo constantemente, apesar de alguns empecilhos.
Este lembrete em versos também serve para mim que muitas vezes transito entre a solitude e a solidão então, precisamos mudar e melhorar algumas atitudes para que o nosso existir não venham a ser em vão.
Quando se encontrou a Cristo, o diabo lhe vem logo ao encalço.
Feliz daquele que não anda nas pegadas de outrem. O bom caminho é solitário.
Não me importo em andar sozinho.
É um favor toda distância recíproca.
Não sou ponto de unidade, amarração e encontro. Sou solidão.
Faça um bem a si mesmo quem não me quer bem: Ande ao largo e me esqueça!
Quem atravessa o meu caminho, não soma e não me quer bem queira, ao menos, a si mesmo e vá embora!
Padrões repetitivos, estereótipos, ninchos fomentadores de egos, redes sociais, grupos, caixas agrupadas, previsibilidade.
Todos estão nessas perspectivas de vivência na sociedade.
Pessoas ditas "fora dos padrões" também formam um padrão. Eu entendo, todos querem pertencer algo, ter afagos, elogios, jogos comportamentais.
Sair da matrix é algo doloroso e extremamente solitário, mas quem sabe também não exista um padrão nisso? Apenas difícil de ser identificado à primeira vista.
A existência intrínseca de ter meu mundo num abraço
Por disfrutar de minha permanência metodicamente solitária
Por onde meus devaneios faço meu abrigo
Não há vislumbre melhor de paz
Se não a solitude interna em suma alcançada
Ontem fui caminhar sozinha à beira-mar. O entardecer estava curiosamente especial, o sol levemente me tocava a pele com seu calorzinho, e o vento trazia um frescor necessário para manter a temperatura agradável. É interessante observar as pessoas correndo, caminhando com seus cachorros, jogando vôlei na praia, deitadas na areia tomando uma cerveja, ou lendo um livro. As crianças brincando como se não houvesse amanhã. Sentei-me em meio às pedras para escutar o mar, as ondas quebrando nas rochas, e senti aquele momento, à paisana com minha solidão. O que será que ela poderia me dizer daquela experiência única da minha vida?
Foi quando algo no mar me chamou a atenção. Um pássaro se divertia mergulhado no oceano. Apesar de poder voar, ele se permitiu estar em meio aquele plano. Analisei e senti profundamente aquele momento. Ele, inteiramente sozinho, não havia nenhum outro pássaro por ali, mergulhava e depois voltava a colocar sua cabecinha para fora. Talvez procurando por algum peixe, ou somente para se divertir em meio às águas, parecia tão entretido em seu objetivo. Às vezes, vinham ondas bravas e o mar ficava mais revolto, às vezes ele somente ficava a boiar no mar tranquilo. E mergulhava e voltava. Por alguns momentos se permitiu ir mais longe e mais a fundo, e às vezes voltava próximo às pedras para se assegurar de não se perder no caminho. Ele parecia tão despreocupado, tão sozinho, mas tão cheio de vida, apenas sentindo o movimento do mar, a dança das águas, e o entardecer a chegar. Poderia ficar por horas ali, só a observar.
Foi aí que parei para pensar. Alguns animais vivem suas vidas inteiramente solitários, como é o caso do lobo-guará, do urso polar, ou do ornitorrinco. Aquele pássaro poderia até viver em bando, mas naquele momento permitiu-se cuidar de si mesmo sozinho, a se aventurar. De vez em quando, a vida irá nos trazer momentos assim. E é preciso parar para refleti-los, pois acredito que a vida nos traz aquilo que realmente estamos carecidos. É preciso colocar nosso barquinho no mar, e passar pelas tempestades, fortes ondas, ou aproveitar os momentos de calmaria. Em nossa própria companhia. É preciso descobrir-se em nossa profunda força, nossa inteligência e capacidade de nos cuidarmos, e de nos revelarmos a nós mesmos como seres únicos e singulares que somos. Gostamos de cuidar dos outros, mas é tão difícil cuidarmos de nós mesmos com o objetivo de exclusivamente nos agradarmos de nós. Estamos sempre precisando de um motivo exterior, ou de um movimento de outrem, de um elogio, ou incentivo, estamos sempre querendo dividir-nos. E assim, nunca nem nos construímos, nunca nem escutamos as nossas próprias necessidades, ou o nosso próprio coração. Vivemos, muitas vezes, aos pedaços, ou levados pelo deslocamento das multidões. É necessário nos entretermos de nós mesmos, rirmos de nossos tropeços, ou nos alegramos de nossas vitórias. Sem precisar dos aplausos de alguém, pois duas mãos já podem se tocar e produzir o som de nossa própria aprovação. Mergulhados em nosso mar de solidão, podemos traçar nosso próximo plano de voo, mais direcionados e conectados com o profundo de nosso próprio coração.