Solidão e Saudade
Lendo uns garranchos antigos percebi que tinha muito de “você” no meio das palavras. Deveria ter escrito “nós” ou “eu”, nós que embolaram, eu que fiquei.
Tenho visto meu mundo mudar, enquanto me desapego das obsessões inúteis da vida. Digo com clareza que cansei de buscar por respostas, entendendo que as velhas perguntas já não servem mais. Não há nada para se arrepender, muito menos adorar. Aliás, arrependimento é uma palavra que os vivos conhecem? Pois sinceramente, falamos de possuir uma história, ser honestos e entender alguém, mas o que fazer com essa batalha interna que existe em nós? Só há um jeito, superar. Se as pessoas desejam partir, elas que escolham o sentido contrário, pois de tanto dar voltas, sempre acabam se encontrando diante do mesmo caminho. E olhar com desprezo não resolve, se odiar também não. Em vez disso, o chão torna-se o tão aguardado consolo, pronto para dizer o que os olhos insistem em negar: sua falta foi superada e as lacunas de solidão se fecharam. Agora seu amor não tem sentido algum, você foi uma covarde, a antítese de um amigo. E eu decidi partir antes que fosse tarde demais, sem cartas, nem lágrimas, tudo secou, e as poucas palavras aprisionadas revelam o sacrifício que eu faço: sobreviver.
Errou? Tudo bem. As pessoas sempre odeiam umas as outras tirando conclusões precipitadas. As verdadeiras ficam e vasculham um pouquinho mais a beleza das coisas.
Você conhece alguém e pergunta para si mesmo: nossa, onde essa pessoa esteve antes? Ou ainda: qual a razão dessa pessoa estar na minha vida? Mas eu te digo a resposta: seus questionamentos chamam-se superação. Amor por quem ficou, força por quem continua amando. Vai por mim, se apegar causa sofrimentos inevitáveis. Quanto mais a pessoa faz você sorrir, mais ela fará você sofrer na hora do adeus, e o fato das pessoas ficarem relembrando algo que as feriu torna as coisas ainda mais insuportáveis do que a própria razão que as fez chorar.
Sentir a falta de alguém é horrível, dói e não é pouco. Em determinado momento, sua alma se sente letárgica, praticamente adormecida pelo peso do abandono. Em seguida, quase explode ansiando por algo a mais, um sustento, uma liberdade, um sinal qualquer capaz de demonstrar vida. E sim, você permanece de pé, vivenciando essa descrença vergonhosa, sabendo que algo se foi e que agora, não volta mais.
A vida costuma embrulhar nossa orientação numa caixa de papel e devolver a lugar nenhum. E para encontrar o que foi perdido é simples: basta procurar, compreender algumas palavras, perguntar por pessoas, sobreviver às curvas do acaso e revirar a complexidade de existir. Em algum momento ou outro, você sempre encontra os embrulhos perdidos por aí. A questão é, para onde a orientação leva um ser humano?
Cuidado, as pessoas respeitam o que lhes parece convincente até quando não precisarem mais. Pensamos que somos a torre principal do castelo, mas nunca sabemos o que se passa na imaginação de alguém. Quando menos esperamos, as pessoas vestem as máscaras de lobo e implodem o edifício da confiança, sem dó nem piedade.
Joguei-me dentro do vão da alma, enquanto contemplei cuidadosamente um sudário de sombras. Por um instante, considerei a hipótese de ouvir alguém gritando meu nome. E certamente, alguém gritava meu nome. Prossegui ao leste, admirando os cacos que surgiam no chão. Depois de duas horas, descobri meu próprio ser aprisionado num gancho, feito uma verdadeira marionete humana. Seu rosto estava coberto por uma pele de tristezas e costurado por medos. As costuras sangravam, enquanto eu pensava… coitado, apenas outra vítima da vida. Assustador? É pode ser. Mas antes de julgar eu sugiro que faça uma coisa: tente olhar para si mesmo…
Quando pensamos em pessoas, cada uma irá agir de uma forma única e especial, talvez egoísta. Não existem tradutores para expressar as diferenças existenciais. O inferno de alguém pode ser apenas o pedaço do céu em outra pessoa, nunca se sabe. E claro, nesses becos da alma nem nós nos entendemos por completo. Mas o que custaria alguém chegar e arrumar um pouco da nossa bagunça?
Alguém chega, faz você acreditar que é única, diz coisas bonitas no seu ouvido e depois de um tempo essa pessoa bate a porta da saída deixando uma bagunça interminável. Então, você se pergunta enquanto as lágrimas correm diante dos olhos: é uma bela bagunça, não é? Sim meu bem, é uma bela de uma porcaria.
Sou chato e me desapego nas piores situações, mas se por acaso eu disser que gosto de você: confie, fique e sobreviva no meio do caos. Sempre mudamos após a falta ou o nascer de um sentimento, nunca sendo os mesmos aguardando um amanhã que pode nunca chegar. O que eu preciso ganhar com a sua pessoa não importa, desde que eu saiba o que eu significo para você. Ainda que eu veja estrelas caindo do céu e o sol nascendo no leste, nada mais importará, pois eu sei que você é tudo que vale a pena viver.
Iludiu o mundo com uma bravura fosca, mas por dentro, sabia muito bem que precisava de alguém para se apoiar.
Não dá para confiar nos seus olhos, no que você fala, na forma como me faz rir, nos minutos que me pego pensando em nós, nos poréns que nunca eternizam, nos abraços que criam uma felicidade passageira e muito menos, nas bobagens que viram paranoias. Definitivamente, não dá para confiar nem no que estou sentindo por você.
Continuo criando expectativas, enquanto tento me encontrar nos olhos de outra pessoa. Uma fraqueza que não me completa, algo que me cega, inviável para amores que são embrulhados e devolvidos sem correspondência alguma. Ótimo, que os pacotes se percam na ilusão, já que sou incapaz de entender a humanidade. Não irei procurar pela chave do coração de alguém, eu sei que isso nunca funcionou. Em contrapartida, talvez seja o momento ideal de pegar um clips e destrancar à tentativas… Nunca se sabe.
Não irei procurar pela chave do coração de alguém, eu sei que isso nunca funcionou. Em vez disso, talvez seja o momento ideal de pegar um clips e destrancar à tentativas… Nunca se sabe.
Não consigo negar o que sinto por algumas pessoas, mas não irei falar. Irei me mutilar por dentro, esperando que elas não percebam o quão triste eu estou por elas não estarem aqui.
Um dia eu ainda voltarei a te ver e direi ao coração: cuidado, se segura ai, nada de sair correndo e se apegando. Ir atrás de quem não te deu valor não presta, guardar essa saudade dentro do peito também não. Então você se pergunta: tá, mas e agora? Agora você reflete e se acalma. Perder alguém é um prejuízo do qual não sabemos os danos, mas na vida, quem disse que precisamos recuperar todos os bens perdidos? Às vezes, é bem melhor seguir em frente, apagando uma memória do que nunca fomos.
Depois de um tempo é praticamente impossível não conviver com si mesmo. O espelho do seu quarto reflete uma prisão da qual você não pode fugir, apenas admirar. Seus olhos tornam-se respostas confusas, com certezas praticamente abstratas. É inegável deixar de lado o pouco que te faz feliz, aprendendo que o pouco na verdade, pode não ser tão suficiente assim. E claro, você sente falta de algo, num sentimento âmago que se arrasta pelo insuportável, desejando os lábios de alguém.
As pessoas magoam umas às outras todos os dias sem sequer perceber, e esperam que o peso da verdade não sufoque dentro do peito do outro.