Sociedade poesia
Eu uso outro nome agora, Ahmed. Joguei meus vestidos fora. Cortei meus cabelos. Estou desaparecendo. Estou entrando no país dos homens.
Quando o poder corrompe, ele mantém um registro de seu progresso, escrito no dispositivo de memória mais sensível, o rosto humano.
Adultos agindo como o pior tipo de criança, crianças agindo como se soubessem o que está acontecendo. ..
Considerando as conquistas que tivemos nos últimos anos, o desafio para as gerações mais novas é pensar o que fazer para sustentar o que conquistamos. Parece que temos uma dificuldade de narrar a partir da conquista, do sucesso e da realização, que sempre precisamos tratar nossa história de dor, miséria e desgraça antes, porque abrir mão de narrar isso seria trair princípios importantes.
O desafio que temos hoje é como produzir conhecimento de negros autônomos dentro de um espaço de supremacia branca, para não se confinar a um lugar onde precisamos estar sempre provando que a ciência é um lugar das mulheres negras.
O pessoal da orientação sexual não vai retroceder em suas lutas, as mulheres não vão recuar nas suas agendas; nós não vamos voltar para a senzala. E isso está colocado. Vai ter luta!
A mulher negra da periferia sempre foi feminista. Por que? Porque a gente faz tudo, mas só não temos consciência disso. Minha mãe criou quatro filhos, de quatro homens diferentes. Ela sempre foi independente, sempre fez as coisas dela. Ela nunca se submeteu a nada, ela nunca ficou, nas palavras dela, sob o pé de ninguém. Ela criou três filhas dessa forma. Somos três mulheres e um homem. Às vezes lutamos de uma forma mais silenciosa, outras vezes a gente vai pra cima, mas a gente luta.
Sou eu quem carrega essa bandeira há anos no Brasil, durante toda a minha trajetória. Não tem ninguém mais que fale de mulher, de negritude. E não falam porque é uma doença, uma doença chamada “medo”.
Quando tem um guarda me seguindo no supermercado do Pão de Açúcar, eu posso sentir o que é o racismo. Porque lá, não sou consulesa, sou uma mulher negra. Então eles me seguem pra ver se vou roubar alguma coisa.
Agora, eu vejo que minha voz tem eco, mas eu fiquei quieta por 38 anos. Cada pessoa tem uma história para contar, um episódio de superação. É importante sonhar grande e ir atrás dos sonhos.
Eu acho muito interessante como o Brasil me deu um palco para falar deste assunto, como se eu fosse mais válida a falar sobre isso porque sou estrangeira e mulher negra da elite. É interessante ver isso porque vejo muito mais mulheres brasileiras militantes, ativistas, que são muito mais experts na causa negra do que eu, mas elas não estão presentes na mídia. Estão basicamente ausentes.
Quando falamos das habilidades do futuro, uma das barreiras na periferia são os termos do empreendedorismo. Você fala em flexibilidade, proatividade, empatia. Já ouviu falar? São todas habilidades que todo mundo na periferia já tem de forma compulsória. Somos proativos porque temos que buscar oportunidades, uma mãe solteira é flexível por ter que cuidar da família e trabalhar. Mais criativo que periferia não existe, mas aí é chamado de gambiarra. Na verdade, é a inovação da quebrada, a inovação do improviso. Então, é preciso se preparar para o futuro. Eles já têm as qualidades e precisam estudar a técnica para entrar no mercado. Falta juntar o talento com o conhecimento técnico.
Representatividade para mim é disputar sentido, criar referência, narrativa. O mundo em que vivemos é muito plural e cada vez mais a gente vai ter que lidar (ainda bem) com essa questão. Não vai dar para impor padrões goela abaixo sem alarde, sem luta!
Eu desejo que meninas negras e indígenas possam sonhar com outros futuros e não só aqueles que estão socialmente dados para nós.
Se a gente não estimular que mais pessoas possam se apropriar das tecnologias e não apenas por um viés consumista, corremos o risco de aumentar as desigualdades, uma vez que as tecnologias são capazes de impactar muitas pessoas em grande escala. Ou seja, pessoas diferentes, com backgrounds diferentes pensando, criando, e moldando futuros possíveis onde caiba mais gente.
A gente traz um olhar diferente do que é o padrão. E isso é inovação também. Quando você consegue reunir olhares diferentes para pensar alguma coisa você provavelmente vai ter algo inovador.
A masculinidade não é um rótulo ou um interruptor de luz, acho que é uma jornada, e quando paramos essa jornada, estamos estragando tudo.
Elogie mais, critique menos. O lado positivo das pessoas deve ser valorizado em detrimento do negativo. A sociedade já está repleta de toxidade para ficar trazendo mais negatividade para vida das outros. A mais sábia atitude quando não se tem nada de bom a dizer, é permanecer calado. Embora exista críticas construtivas e necessárias, na maioria das vezes, o ato de criticar é desprovido de boas intenções. Parar de apontar os defeitos alheios é um passo essencial para notar os próprios defeitos, potencializando, assim, a possibilidade de aperfeiçoamento pessoal a partir de uma análise crítica de si mesmo. A autocrítica, sim, é necessária e imprescindível para o aperfeiçoamento das qualidades pessoais e desenvolvimento de um convívio social saudável e construtivo.
Eu sou co-criadora, um agente ativo neste universo que faz as coisas acontecerem. Se quero que o mundo mude, tenho que mudá-lo.
A solidão, por outro lado, não tem faixa etária. Eu costumava pensar que países emocionantes poderiam mantê-lo feliz e entusiasmado apenas com a novidade. Agora eu sei: você pode se mudar para Paris, deliciar-se com a cidade, beber seu café com leite, mas por mais bonitos que sejam os prédios e as varandas, você se encontrará abraçando os postes de luz para ter companhia, como se estivesse em "Os Miseráveis".