Sobre a Velhice
E eu ainda vou me lembrar de você mesmo que o tempo passe e nos traga os sinais da velhice.
E eu ainda vou me lembrar de você mesmo que a chuva volte e a vida te deixe marcas que nem o tempo consiga apagar.
"O ciclo da vida se encerra ou deveria se encerrar por velhice ou por doenças de causas naturais. Nunca por morte no trânsito. Nunca por assassinatos em via pública que não são reconhecidos como tal e tratados com tamanha indolência e aceitação pela sociedade que para tais crimes atribui penas brandas que não intimidam mais. As vidas dessas pessoas acabam sendo trocadas por cestas básicas. Por uma latinha de óleo, arroz e feijão. Isso não mata a nossa fome de justiça, senhores homens das leis."
Seria uma agonia tremenda a antessala da morte, se não tivéssemos o estágio da velhice, com mil motivos, para desejar morrer.
SESSENTA
Já fiz sessenta
Agora sou adulto
com formação de velhice e tudo.
É... Cheguei aqui, estou vivo sim!
E tudo que aprendi...
Aprendi com o mundo.
Apanhei de palmatória...
Meu pai, mina mãe, não passavam
a mão sobre a minha cabeça,
e hoje eu agradeço-os, pois com isso...
Aprendi a ser da hora
e não dá cesta.
Penei com meu indulto de vida, mas
aqui, poderei ampliar a maluquice
... Ser velho, é querer ser jovem criança...
Até brinco de esconde-esconde
pena que hoje, a minha
parceira, é a tão esperada saúde.
Aprendi a temer a esperança,
voar na paranóia...
D'aquilo que hoje tornou-se grude.
Recebi um bilhete do presente...
Usando óculos de graus,
e mãos tremulas...
Eu li as cláusulas dos meus apegos...
Minhas manias
meu tempero curto
o silencio p'ro meu pensar...
E o chorar pelo viajar
dos novos defuntos.
O bilhete me chamou de museu
e ainda disse que as coisas...
As minhas coisas!
São misturas, mais que eu.
Ora bolas... Mas que bilhete audacioso!
Eu já fui criança, jovem feliz,
Ao comer, já mordi, pedaço de carne
segurando-o com, as minhas mãos...
Já brinquei de bola de gude,
já tive pião, estilingue, bola peteca
já pulei corda muro amarelinho
já rascunhei o mundo
apenas com um pedaço de giz.
É... Já fui feliz, sim, sim!
Muito feliz.
Antonio Montes
Na adolescência e na velhice, o ser humano é guiado por objectivos moldados à base das lembranças da juventude e da sua infância.
deve ser bom chegar até a velhice com espírito de criança, só não pode chegar até a velhice pensando que os desenhos estão atrás da tela.