Só sei dizer que te Amo

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Abro o jogo!
Só não conto os fatos de minha vida:
sou secreta por natureza.

Há verdades que nem a Deus eu
contei. E nem a mim mesma. Sou
um segredo fechado a sete chaves.
Por favor me poupem.

Clarice Lispector

Nota: Os pensamentos costumam aparecer unidos na internet, mas pertencem a obras diferentes. O primeiro é de "Água viva" (1998) e o segundo é um trecho do conto Brasília, e está presente no livro "Todos os contos" (2016).

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A saudade é um parafuso
que quando a rosca cai
só entra se for torcendo
porque batendo não vai.
Mas quando enferruja dentro
nem distorcendo não sai.

Antonio Pereira

Nota: Apesar de muitas vezes atribuído a Raul Seixas, o poema é da autoria do poeta popular pernambucano Antônio Pereira.

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Um homem só encontra a mulher ideal quando olhar no seu rosto e ver um anjo e, tendo-a nos braços, ter as tentações que só os demônios provocam.

Deus não fez tudo num só dia; o que me faz pensar que eu possa?

Talvez meu amor tenha aprendido a ser menos amor só para nunca deixar de ser amor.

Tudo tem começo e meio. O fim só existe para quem não percebe o recomeço.

O amor só é amor se não se dobra a obstáculos e não se curva à vicissitudes... é uma marca eterna... que sofre tempestades sem nunca se abalar.

LET ME TRY AGAIN

Você viveu um grande amor que terminou meses atrás. Está só. Nada nesta mão, nada na outra. A sexta-feira vai terminando e, enquanto seus colegas de trabalho aquecem as turbinas para o fim-de-semana, você procura no jornal algum filme que ainda não tenha visto na tevê. Ao descobrir que vai passar Kramer vs. Kramer de novo, não resiste e cai em tentação: liga para o ex.

Tentar outra vez o mesmo amor. Quem já não caiu nesta armadilha? Se ele também estiver sozinho, é sopa no mel. Os dois já se conhecem de trás para frente. Não precisam perguntar o signo: podem pular esta parte e ir direto ao que interessa. Sabem o prato preferido de cada um, se gostam de mar ou de montanha, enfim, está tudo como era antes, é só prorrogar a vigência do contrato. Tanto um como o outro sabem de cor o seu papel.

Porém, apesar de toda boa intenção, nenhum dos dois consegue disfarçar o cheirinho de comida requentada que fica no ar. O motivo que levou à separação continua por ali, escondido atrás do sofá, e qualquer hora aparece para um drinque. O fim de um romance quase nunca tem a ver com os rompimentos de novela, onde a mocinha abre mão do amado porque alguém a está chantageando ou porque descobriu que ele é, na verdade, seu irmão gêmeo. No último capítulo tudo se esclarece e a paixão segue sem cicatrizes. Já rompimentos causados por incompatibilidades reais não são assim tão fáceis de serem contornados.

Toda reconciliação é precedida por uma etapa onde o casal, cada um no seu canto, faz idealizações. As frases que não foram ditas começam a ser decoradas. As mancadas não serão repetidas. As discussões serão evitadas. Na nossa cabeça, tudo vai dar certo: o roteiro do romance foi reescrito e os defeitos foram retirados do script, ficando só as partes boas. Mas na hora de encenar, cadê o diretor? À sós no palco, constatamos que somos os mesmos de antigamente, em plena recaída.

Se alguém termina um namoro ou casamento, passa um tempo sozinho e depois resolve voltar só por falta de opção, está procurando sarna para se coçar. Até existe a possibilidade de dar certo, mas a sensação é parecida com a de rever um filme. Numa segunda apreciação, pode-se descobrir coisas que não haviam sido notadas na primeira vez, já que não há tanta ansiedade. Mas também não há impactos, surpresas, revelações. Ficamos preparados tanto para as alegrias como para os sustos e, cá entre entre nós, isso não mantém o brilho do olho.

Se já não há mais esperança para o relacionamento e tendo doído tanto a primeira separação, não há por que batalhar por uma sobrevida deste amor, correndo o risco de ganhar de brinde uma sobrevida para a dor também. É melhor aproveitar esta solidão indesejada para namorar um pouco a si mesmo e ir se preparando para o amor que vem. Evite a marcha a ré. Engate uma primeira nesse coração.

Martha Medeiros
Crônica "Let me try again", 1999.

Nota: Texto originalmente publicado na coluna de Martha Medeiros, no website Almas Gêmeas, a 27 de setembro de 1999.

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Aprendi uma coisa: só se conhece realmente uma pessoa depois de uma discussão. Só nessa altura se pode avaliar o seu verdadeiro caráter.

Só olhar para ele, sentar ao lado, ouvir a voz, faz tudo ficar mais feliz. Algumas pessoas simplesmente valem a pena.

SONETO ANTIGO

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.

...mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado comigo: um dia encontro.

Caio Fernando Abreu
ABREU, C., Os Dragões Não Conhecem o Paraíso

E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nesta saudade
Que eu sinto de tudo
Que eu ainda não vi.

Renato Russo

Nota: Trecho da música Índios.

Eu só preciso levar a vida, eu só preciso desfocar do sonho que me deixa míope e enxergar além.

A maioria das pessoas só aprende as lições da vida depois que a mão dura do destino lhe toca no ombro.

Juro que se eu pudesse voltaria no tempo só pra descobrir, de novo, como é gostar de você

Só que homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade - voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ou não ter genitália igual, e isso é detalhe. Mas não determina maior ou menor grau de moral ou integridade.

Mas quero ter a liberdade de dizer coisas sem nexo como profunda forma de te atingir. Só o errado me atrai, e amo o pecado, a flor do pecado.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Amei-te e por te amar
Só a ti eu não via...
Eras o céu e o mar,
Eras a noite e o dia...
Só quando te perdi
É que eu te conheci...

Quando te tinha diante
Do meu olhar submerso
Não eras minha amante...
Eras o Universo...
Agora que te não tenho,
És só do teu tamanho.

Estavas-me longe na alma,
Por isso eu não te via...
Presença em mim tão calma,
Que eu a não sentia.
Só quando meu ser te perdeu
Vi que não eras eu.

Não sei o que eras. Creio
Que o meu modo de olhar,
Meu sentir meu anseio
Meu jeito de pensar...
Eras minha alma, fora
Do Lugar e da Hora...

Hoje eu busco-te e choro
Por te poder achar
Não sequer te memoro
Como te tive a amar...
Nem foste um sonho meu...
Porque te choro eu?

Não sei... Perdi-te, e és hoje
Real no [...] real...
Como a hora que foge,
Foges e tudo é igual
A si-próprio e é tão triste
O que vejo que existe.

Em que és [...] fictício,
Em que tempo parado
Foste o (...) cilício
Que quando em fé fechado
Não sentia e hoje sinto
Que acordo e não me minto...

[...] tuas mãos, contudo,
Sinto nas minhas mãos,
Nosso olhar fixo e mudo
Quantos momentos vãos
Pra além de nós viveu
Nem nosso, teu ou meu...

Quantas vezes sentimos
Alma nosso contacto
Quantas vezes seguimos
Pelo caminho abstrato
Que vai entre alma e alma...
Horas de inquieta calma!

E hoje pergunto em mim
Quem foi que amei, beijei
Com quem perdi o fim
Aos sonhos que sonhei...
Procuro-te e nem vejo
O meu próprio desejo...

Que foi real em nós?
Que houve em nós de sonho?
De que Nós fomos de que voz
O duplo eco risonho
Que unidade tivemos?
O que foi que perdemos?

Nós não sonhamos. Eras
Real e eu era real.
Tuas mãos - tão sinceras...
Meu gesto - tão leal...
Tu e eu lado a lado...
Isto... e isto acabado...

Como houve em nós amor
E deixou de o haver?
Sei que hoje é vaga dor
O que era então prazer...
Mas não sei que passou
Por nós e acordou...

Amamo-nos deveras?
Amamo-nos ainda?
Se penso vejo que eras
A mesma que és... E finda
Tudo o que foi o amor;
Assim quase sem dor.

Sem dor... Um pasmo vago
De ter havido amar...
Quase que me embriago
De mal poder pensar...
O que mudou e onde?
O que é que em nós se esconde?

Talvez sintas como eu
E não saibas senti-o...
Ser é ser nosso véu
Amar é encobri-o,
Hoje que te deixei
É que sei que te amei...

Somos a nossa bruma...
É pra dentro que vemos...
Caem-nos uma a uma
As compreensões que temos
E ficamos no frio
Do Universo vazio...

Que importa? Se o que foi
Entre nós foi amor,
Se por te amar me dói
Já não te amar, e a dor
Tem um íntimo sentido,
Nada será perdido...

E além de nós, no Agora
Que não nos tem por véus
Viveremos a Hora
Virados para Deus
E n'um (...) mudo
Compreenderemos tudo.

Fernando Pessoa
Pessoa Inédito

Há pessoas que desejam saber só por saber, e isso é curiosidade; outras, para alcançarem fama, e isso é vaidade; outras, para enriquecerem com a sua ciência, e isso é um negócio torpe; outras, para serem edificadas, e isso é prudência; outras, para edificarem os outros, e isso é caridade.