So Queria ser Ouvido
A gruta é úmida escura fria. Não tenho roupa, não tenho fome, não tenho sede. Só tenho tempo, muito tempo, um tempo inútil, enorme, e este farrapo de folha de livro. Não sei, até hoje não sei se o príncipe era um deles. Eu não podia saber, ele não falava. E, depois, ele não veio mais. Eu dava um cavalo branco para ele, uma espada, dava um castelo e bruxas para ele matar, dava todas essas coisas e mais as que ele pedisse, fazia com a areia, com o sal, com as folhas dos coqueiros, com as cascas dos cocos, até com a minha carne eu construía um cavalo branco para aquele príncipe. Mas ele não queria, acho que ele não queria, e eu não tive tempo de dizer que quando a gente precisa que alguém fique, a gente constrói qualquer coisa, até um castelo.
Só às vezes piso com os dois pés na terra do presente: em geral um pé resvala para o passado, outro pé resvala para o futuro. E fico sem nada.
A única coisa que me faz prosseguir é a certeza de que não és feliz. Temos mentido tanto, e tanto sofrido por mentir, que não há grande risco em tentar a cura através da sinceridade.
Eu só quero uma coisa: que baixe um disco-voador e me leve pra bem longe desta mesma ci-vi-li-za-ção de pessoas cinzentas.
A sua história não é nem melhor nem pior do que a de ninguém que está aqui. Ela só é a sua história.
Você já teve algum sonho que parecia ser real, e quando vai acordar, você só quer ficar na cama, mentindo com os olhos fechados para se prender a isso?
Só me prometa que vai me segurar quando eu cair. Que vai estar comigo até mesmo quando eu não merecer. Que vai me esperar […] E que não vai me deixar.
Naquela época, se pudéssemos ter ouvido as vozes um do outro, tudo teria sido muito melhor.
(Shouya Ishida)