Sim nós dois

O grande prazer que nos dá falarmos de nós próprios deve fazer-nos recear não darmos nenhum aos que nos ouvem.

Todos nós temos a ideia pervertida de que o cérebro humano é um órgão para pensar. Nada está mais longe da verdade.

Não ha coisas úteis ou inúteis: a medida do seu valor está em nós.

A fatalidade não é senão aquilo que nós queremos.

Chamemos, pois homens de gênio os que fazem depressa o que nós fazemos devagar.

Normalmente, convencem-nos com mais facilidade as razões que nós próprios encontramos do que as que vieram ao espírito dos outros.

Nós não o conhecemos, mas sentimos: existe um irmão barco para a nossa vida que leva uma rota completamente diferente.

Um livro desagrada-nos em tudo onde se nos assemelha.

Se o Estado é forte, esmaga-nos. Se é fraco, perecemos.

A obra que trazemos em nós parece-nos sempre mais bela do que aquela que fizemos.

Acontece muitas vezes que somos estimados na proporção em que nos estimamos a nós mesmos.

Aflige-nos a glória alheia contrastada com a nossa insignificância.

Nós não ficamos a querer menos a quem conhece os nossos defeitos do que a nós próprios por sofremos deles.

A glória consiste em tornarmo-nos um assunto, ou um substantivo comum, ou um epíteto....

A evolução da técnica chegou ao ponto de tornar-nos inermes diante da técnica.

Sem eu’s nunca existirá nós. O nós é feito de eu’s.

A arte dos loucos pode tocar-nos; enriquece-nos porque encontramos em nós essas estranhezas.

Nós só conhecemos as paixões dos outros, e o que chegamos a saber das nossas, é deles que podemos aprender.

Quando desejamos pomo-nos à disposição de quem esperamos.

Às vezes desperdiçamo-nos: o nosso verdadeiro desejo é deixar de viver exclusivamente para nós próprios.