Sim nós dois

O momento em que pensamos ter compreendido tudo dá-nos ar de assassinos.

É sempre melhor que quem nos incute medo tenha mais medo do que nós.

Há tantos vícios com origem naquilo que não estimamos o suficiente em nós, como no que estimamos mais.

Consolamo-nos facilmente das desgraças dos nossos amigos quando estas servem para manifestarmos a nossa ternura por eles.

A felicidade consiste principalmente em acomodar-nos com a nossa sorte.

Acredito ter achado o elo perdido entre o animal e o homem civilizado: somos nós.

É mais fácil cumprir certos deveres, que buscar razões para justificar-nos de o não ter feito.

Ao planearmos para a posteridade, deveríamos lembrar-nos de que a virtude não é hereditária.

A principal prudência consiste em desconfiarmos de nós próprios mais do que dos outros.

É muito mais fácil arrependermo-nos dos pecados que cometemos do que daqueles que pretendemos cometer.

Nunca devemos regozijar-nos com o nosso dia antes de havermos posto a touca de dormir.

Palavras não existem
fora da nossa voz as
palavras não assistem
palavras somos nós

(A doença, Poemas Reunidos, Publicações Dom Quixote, 1999)

Ou nós nos fazemos miseráveis, ou nós nos fazemos fortes. A quantidade de esforço é a mesma.

Na mesma noção de corpos em arte
Nós somos um símbolo
Mistério de ser.

Atormentamo-nos menos para ser felizes do que para mostrarmos que o somos.

A felicidade e a infelicidade vêm de nós próprios.

Em cada um de nós existe um pouco de nós todos.

Consideramo-nos puros enquanto desprezarmos aquilo que não desejamos.

Mais vale agir na disposição de nos arrependermos do que arrependermo-nos de nada termos feito.

Assim como as crianças, que no escuro tremem de medo e temem tudo,
nós, na claridade, às vezes temos receio de certas coisas
que não são mais terríveis do que aquelas que as crianças temem
no escuro e pensam que acontecerão a elas.