Sim nós dois

A coisa mais importante no mundo não é tanto onde nós chegamos, como em qual direção estamos nos movendo.

Há muitas ocasiões em que a mesma prudência recomenda o aventurar-nos.

Um pouco de internacionalização afasta-nos da pátria, muito reconduz-nos a ela.

Antes de o homem se tornar cidadão, a grande natureza tornou-nos homens.

Queixarmo-nos de morrer é queixarmo-nos de sermos homens.

Os costumes daquele que não fala convencem-nos mais do que os seus raciocínios.

Os homens inventaram a guerra para lá estarem sem nós e apenas entre homens.

Quando temos muita luz, admiramo-nos pouco; mas, quando ela nos falta, acontece o mesmo.

É muito provável que a posteridade, para quem tantos apelam, tenha tão pouco juízo como nós e os nossos antepassados.

E se fosse isso perder a vida: fazermos a nós próprios as perguntas essenciais um pouco tarde de mais?

Deem-nos as coisas supérfluas da vida e nós as dispensaremos mais as suas necessidades.

Desesperamo-nos dos outros para não esperarmos demasiado de nós mesmos.

O mesmo mal que possuimos dentro de nós é aquele que possuímos mais severamente nos outros.

Só a instituição durável fez subsistir o que há de melhor em nós.

O casamento é feito justamente para cortar as asas da imaginação e trazer-nos à terra.

Nós somos mais velhos do que a nossa vida.

A compaixão ocupa-nos tão exclusivamente que nada resta para socorro.

Os grandes homens, ao ensinarem os fracos a raciocinar, colocaram-nos sobre a estrada do erro.

Quando elas nos amam, não é de fato a nós que amam. Mas é bem a nós que, um belo dia, elas deixam de amar.

O casamento que se faz entre os homens e nós deveria fazer-se entre os seus pensamentos e os nossos; era essa a intenção dos deuses; ela não foi concretizada e aí está a origem da imperfeição das leis.