Silêncio

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As palavras são manchas desnecessárias sobre o silêncio e o nada.

O silêncio, eu descobri, é algo que você na verdade ouve.

PEÇO SILÊNCIO

Agora me deixem tranquilo.
Agora se acostumem sem mim.

Eu vou cerrar os meus olhos.

Somente quero cinco coisas,
cinco raízes preferidas.

Uma é o amor sem fim.

A segunda é ver o outono.
Não posso ser sem que as folhas
voem e voltem à terra.

A terceira é o grave inverno,
a chuva que amei, a carícia
do fogo no frio silvestre.

Em quarto lugar o verão
redondo como uma melancia.

A quinta coisa são os teus olhos,
Matilde minha, bem-amada,
não quero dormir sem os teus olhos,
não quero ser sem que me olhes:
eu mudo a primavera
para que me sigas olhando.
Amigos, isso é quanto quero.
É quase nada e quase tudo.

Agora se querem, podem ir.

Vivi tanto que um dia
terão de por força me esquecer,
apagando-me do quadro-negro:
meu coração foi interminável.

Porém porque peço silêncio
não creiam que vou morrer:
passa comigo o contrário:
sucede que vou viver.
Sucede que sou e que sigo.

Não será, pois lá bem dentro
de mim crescerão cereais,
primeiro os grãos que rompem
a terra para ver a luz,
porém a mãe terra é escura:
e dentro de mim sou escuro:
sou como um poço em cujas águas
a noite deixa suas estrelas
e segue sozinha pelo campo.

Sucede que tanto vivi
que quero viver outro tanto.

Nunca me senti tão sonoro,
nunca tive tantos beijos.

Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.

Me deixem só com o dia.
Peço licença para nascer.

Pablo Neruda
Presente de um poeta

"Tudo tem suas maravilhas, até a escuridão e o silêncio... e eu aprendi que, seja qual for o estado em que eu me encontre, nele estarei contente".

Silêncio de outono.
Nem o grito do carteiro...
cochicho de folhas.

Rio seco
silêncio sob a ponte
apenas o vento.

Ah! claro silêncio do campo,
marchetado de faiscantes
pigmentos de sons!

Os faladores não nos devem assustar, eles revelam-se: os taciturnos incomodam-nos pelo seu silêncio, e sugerem justas suspeitas de que receiam fazer-se conhecer.

O silêncio não existe; viver é mantermo-nos no centro de um fluxo que só a morte interromperá.

Na soleira do sítio
a graúna canta
ao silêncio do sol.

No auge do verão
Rã saltou na cacimba
Silêncio no sertão

Igreja repleta:
o silêncio dos fiéis
nos dedos do antúrio.

O silêncio, sim,
interrompendo o canto
dos pássaros.

Capela em ruínas.
As aranhas tecem véus.
Cobrindo o silêncio.

ave calada -
ninho em silêncio
na madrugada

Fundo de quintal...
Silêncio. No velho muro,
uns cacos de sol...

neva lá fora
gato à lareira
silêncio na vila

Avaras sejam as tuas palavras e eloquente seja o teu silêncio.

as nuvens vermelhas,
o sol sumindo no rio
- silêncio noturno

Marchando no tempo,
antes de tudo e após tudo,
soberbo, o silêncio.